Avanço no meio da escuridão, minha mão apertada na mão de Morgan.
— Como faz para enxergar alguma coisa?
— Conheço o caminho.
— Deve conhecer muito bem.
— Agora cuidado com a escada. Coloque um pé de cada vez e fique perto de
mim. Vai dar tudo certo.
Continua a repetir isso, mas não me sinto tão tranquila assim. Andar no escuro
num lugar como esse é uma coisa que não desejo a ninguém. Tenho medo de pisar,
de uma hora para outra, num rato morto. Começo a entender o que significa ser
cego.
Nem as teias de aranha me dão folga e tocam meu rosto como uma carícia de
morte.
— Essa escada não acaba nunca? — protesto. Estou ficando cansada. E com frio.
— Mais um último esforço e estaremos lá.
— Já disse isso uns mil degraus atrás.
Mas dessa vez era verdade. Percorremos um pequeno trecho plano e pegamos
outra escada. Bato com o pé numa coisa que sai rolando fazendo um barulho
metálico.
— Desculpe.
— Não tem problema, mas agora temos que nos apressar.
Agora? Por quê? O que mudou agora?
Aceleramos o passo. Fico grudada nele e tenho a impressão de que estamos
caminhando no gelo: não consigo dar um passo com segurança e os degraus parecem
não ter fim. Transpiro, mas ao mesmo tempo sinto frio, a testa cheia de gotinhas
geladas. Finalmente, uma claridade distante aparece no meio da escuridão e consigo
ver o final da escada.
— Uma luz! — exclamo.
Desço os últimos degraus com uma nova energia.
Estamos num subsolo. O ar é mais quente e sufocante, como se estivéssemos
centenas de quilômetros debaixo da terra.
Dobramos uma esquina e me deparo com um corredor tão comprido que parece
impossível. Tenho dificuldade para acreditar no que meus olhos estão vendo. A meu
lado, Morgan para um pouco para eu me habituar. Mas como é possível se habituar a
um lugar como esse?
A perspectiva, cada vez mais estreita, parece quase infinita, iluminada por um
fio do qual pendem, como lagartas em seus casulos, lâmpadas fluorescentes que
espalham uma luz fantasmagórica e vacilante.
— O que é... isso? — pergunto.
— O que acha?
— Não sei... parece um lugar irreal, como se estivéssemos dentro de um
quadro.
Ele aperta minha mão. Está fria.
Por um momento, um só, sou assaltada pela dúvida mais terrível e se ele não
estiver do meu lado? Se tiver me trazido aqui para me fazer mal? Não sei quase nada
de Morgan, apenas que me deixou sozinha e que vive numa casa desprovida de
memória. Penso no que aconteceu com Naomi, em como fiquei furiosa com ela por
sua ingenuidade.
Largo sua mão. Ele me fulmina com um olhar de pura decepção. Morgan é um
cara muito estranho: alterna momentos de afeto caloroso com outros de gelo
absoluto. Não sei qual das duas coisas faz parte de sua verdadeira natureza.
— Não pode interromper o contato — diz ele.
— De que contato está falando?
— Do nosso. Embora eu estivesse longe, nós dois sempre estivemos em contato.
— Pois não notei nada.
— Não poderia, não ainda.
— Por favor, Morgan, pare de falar como um profeta! Estou exausta! Para onde
está me levando? E por que? Não tenho a menor intenção de ficar aqui ouvindo suas
frases misteriosas. Fala de coisas que não conheço, repetindo sem parar que
entenderei em breve! Pois bem, quero entender agora, não daqui a uma hora ou um
dia. Agora!
Morgan segue seu caminho pelo corredor e não posso fazer outra coisa senão ir
atrás dele: a última coisa que quero é ficar sozinha aqui dentro. Ou aqui embaixo.
Enquanto avançamos, ouço o zumbido das luzes sobre nossas cabeças e o ar fica
cada vez mais pesado e úmido. Parece uma caverna. Percebo que vários corredores
secundários saem do corredor principal, todos igualmente tétricos, estendendo-se a
perder de vista, como longos braços. Um verdadeiro labirinto subterrâneo. Morgan
caminha na frente com a segurança de quem sabe aonde vai. A certa altura, dobra à
esquerda num corredor lateral, depois pega outro, o segundo à direita, acho eu.
— É muito fácil se perder aqui. O eco de minha voz ressoa entre as paredes
úmidas.
— Muito mais do que você pensa.
Leves gotas de um líquido que parece água começam a cair do teto. Quando a
primeira atinge minha testa, levanto os olhos e noto que a rede está cheia de grandes
manchas esverdeadas com rachaduras profundas como feridas. Grossos canos
enferrujados passam junto a nós na rede da direita, borbulhando rumorosamente.
— O aqueduto ainda funciona? — pergunto curiosa com todo aquele
movimento.
— Num certo sentido, sim. — É a sua milésima não resposta.
— Tudo bem, já entendi. Não vou perguntar mais nada até você resolver me
explicar tudo isso. Se continuar, vou acabar me irritando.
— Só queria dizer que algumas funções ainda estão ativas, mas que a cidade não
usa mais esse aqueduto.
Imagino que também vou entender isso em breve.
Ele concorda, sorrindo como quem está diante de uma criança que finalmente
aprendeu a lição.
Dobramos algumas esquinas e pegamos um corredor um pouco mais largo que
o anterior. De repente, o barulho da água corrente fica mais forte, mas é impossível
descobrir exatamente de onde vem. E um n primitivo, terreno, apavorante.
Uns 20 metros depois, encontramos uma porta. É de ferro, avermelhada e meio
enferrujada. Morgan segura a enorme maçaneta em forma de garra e puxa para si.
Assim que a porta se abre, como se jorrasse de uma garrafa que ficou muito tempo
fechada, um jato de água estagnada cai em cima de mim e me deixa sem fôlego.
Tapo o nariz instintivamente e estico o pescoço para olhar para dentro.