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O Velho Aqueduto está deserto.

Os corredores vazios devolvem o eco dos nossos passos. A água está imóvel nos

canos, o Refúgio vazio.

— Estão atrasados.

Vamos nos sentar, mas a espera é desgastante.

Observo a superfície impenetrável da piscina e tenho a impressão de que o

tempo simplesmente não passa. Morgan também está começando a ficar preocupado,

mas tenta não dar na vista.

Depois, finalmente, ouço o barulho da fechadura da porta blindada. O pessoal

chegou.

Levanto e vou ao encontro deles, mas meu entusiasmo dá de cara com o rosto

pálido do Professor K.

O professor está sorrindo. Tem dentes pequenos, regulares, como se tivessem

sido lixados. Seu sorriso é enigmático, com um tom levemente irônico.

— Oi, Alma. Morgan... não parecem muito contentes em me ver.

— Estamos esperando por Raul, Christian e Anel. Aconteceu alguma coisa?

Explicamos a história resumidamente.

Mas antes que consiga terminar a explicação, Anel, Raul e Christian entram no

Refúgio. Tento ler em seus rostos se trazem boas notícias ou não. Mas a expressão

dos três é impenetrável, como aquelas placas de pedra com inscrições antigas numa

língua já esquecida.

— Encontramos a casa — limita-se a dizer Raul, sucinto. Nenhum sorriso,

nenhum sinal de satisfação.

Mas eu, ao contrário, me sinto aliviada. Ainda não evitamos o pior, mas é

sempre um ponto de partida.

— Ótimo trabalho, pessoal — cumprimenta o professor.

— Aqui está o endereço — diz Anel, estendendo uma folha de papel a Morgan.

— Como nos organizamos para hoje à noite?

— Acho que todos devemos ir — observa ele. — Será mais fácil pegá-lo.

Querem prender o assassino?

— Concordo — diz Raul.

— Eu também — dizem os outros dois em coro. Com um olhar duro e

determinado que chega a dar medo.

Começamos a elaborar um plano bem básico e de repente Morgan vira para o

meu lado:

— Você se sente em condições de vir conosco, Alma?

— Claro que sim! Acha que ia conseguir ficar aqui esperando? Além disso, acho

que posso ser útil.

— Não acham que é gente demais? — observa Raul.

— Eu fico no Refúgio — diz o professor.

— Se necessário, também posso ficar — diz Christian, mudando de ideia.

Morgan olha para nós um instante.

— Tudo bem. Está decidido.

♦♦♦

A noite cai no final do dia, como sempre, desde que o mundo é mundo. Mas

não é uma noite como todas as outras. Deixamos o carro estacionado não muito longe

da casa da magnólia.

Depois, vamos nos aproximando a pé.

Finalmente, nos instalamos perto do objetivo que temos que vigiar, Morgan,

Anel, Raul e eu. Uma tensão sutil e contínua flutua entre nós. O ar tem perfume de

flor, das primeiras que tiveram coragem de brotar. Fico olhando os galhos da

magnólia, tão fortes na base e mais delicados e flexíveis à medida que se aproximam

da extremidade. Energia que se transforma em leveza, que alimenta a vida.

Esperamos.

Pacientemente.

Tenho medo, mais do que nunca tive em toda a minha vida. Anel, ao contrário,

ostenta tranquilidade. Raul é como um robô à espera de que alguém lhe dê a ordem

de entrar em ação.

E a ordem chega, clara e imediata, assim que vemos uma sombra se

aproximando do jardim da casa. É veloz e muito ágil. Deixa atrás de si um rastro de

fumaça branca que se espalha rapidamente no ar. O cara do maço de cigarros. Pula o

portão como um felino e se confunde com o gramado escuro e úmido.

Sinto o cheiro do meu medo misturado com a fumaça: é como um musgo

antigo, verde e picante, como a água das piscinas do aqueduto.

Morgan faz um sinal com o braço. Vamos atrás dele, em fila, velozes e

silenciosos. O assassino desaparece na parte de trás da casa, onde fica o quarto da

pequena Elsa.

Damos a volta na casa, espremidos contra a parede áspera e fria.

Nossas jaquetas deslizam contra a pintura amarela que deixa uma esteira de

poeira no tecido.

De repente, Morgan, que abre a fila, se detém. Sinto a respiração dos outros se

unir à minha numa estranha sinfonia. Olhamos uns para os outros pela última vez.

O assassino está pronto para subir na árvore. Um pouco mais acima, a janela

entreaberta.

Morgan levanta a mão e conta até três com os dedos: um dedo, dois dedos se

levantam. Quando o terceiro dedo vem ocupar sua posição, partimos. Ocupamos o

espaço decididos, em direção ao nosso objetivo. Raul agarra o sujeito quando está

subindo no tronco. Puxa para si com energia e consegue arrastá-lo para o chão. Ele

começa a se contorcer como um doido. Seus movimentos são frenéticos, mas ele não

grita. Conhece as regras dos Não Nascidos: o mais importante é não deixar que o

vejam. É uma luta sem tréguas, mas silenciosa. Voam os primeiros socos: Morgan

está em cima dele de um lado, Raul do outro. Conseguem imobilizá-lo. Mas ele

consegue acertar Morgan em pleno rosto e, tomando impulso com as costas, levanta e

joga Raul para trás. Então, se vira para Anel e para mim, encarando-nos com dois

olhos que dão medo. São azul-gelo, luminosos, capazes de perfurar a escuridão. Olha

para nós, mas tenho a impressão de que não nos vê: para ele, representamos apenas

um obstáculo em seu caminho de fuga. Mas eu o vejo muito bem e reconheço. É ele

mesmo, o cara da estação. É só um instante, antes que Raul caia em cima dele de

novo e consiga imobilizá-lo com um golpe. Mas ele consegue acertar uma cotovelada

muito violenta entre o queixo e o ombro de Raul, que resiste e não larga. Morgan

também se adianta e acerta um chute em seu estômago. Ele se dobra sobre si mesmo.

Raul o joga no chão. O quase assassino, de cara na grama, não se mexe mais.

Anel e eu nos aproximamos.

— Desmaiou. Vamos amarrá-lo — ordena Morgan. — Pegue a corda na minha

mochila. Ande!

Obedeço com as mãos tremendo.

Tento entregar a corda a Morgan, mas Raul arranca de minha mão, corta um

pedaço com uma faca que não sei de onde veio e enrola os punhos do assassino. Anel

faz o mesmo com os tornozelos. Agora ele está amarrado como um animal selvagem

capturado por caçadores. Seus olhos ainda estão fechados.

Raul e Morgan carregam seu corpo nos ombros e vão em direção ao portão.

— Vão levá-lo para onde?

— Para o Refúgio.

Antes de segui-los, dou uma última olhada na janela do primeiro andar e

imagino Elsa dormindo seu sono tranquilo, que ninguém mais vai interromper.

Sorrio: não se vê nenhuma fumaça do lado de fora da janela.

Ela não será vista nunca mais.