pensar nessas coisas.

Está realmente pensando em ir com a Marcie?

Um sorriso apareceu nos lábios dele. Acha que deveria ir com você ao invés

de ir com ela?

Acho que você deveria ir com a Vee.

Antes que pudesse sondar a reação de Scott, Marcie disse:

- Vamos juntas a loja de fantasias, senhora Grey. E depois poderiamos passar

pela papelaria pra gente comprar convites. Quero uma coisa horripilante e festiva, mas

também sentimental. - Ela balançou os ombrou e gritou. - Isso vai ser muito divertido.

- Quem você vai convidar pra festa, Nora? - Perguntou minha mãe.

Eu pressionei os lábios, incapaz de pensar na resposta certa. Scott já tinha um

par, Dante iria, isso ajudaria a alimentar o rumor sobre a nossa relação, mas eu não

estava com humor, e minha mãe detestava Patch. Pior, a suposição era que eu odiava

ele até a morte. Éramos inimigos mortais, até aonde as pessoas sabiam.

Não queria estar em uma festa. Tinha problemas maiores. Tinha um arcanjo

vingador atrás de mim, era líder de um exército, mas precisava de uma direção, apesar

do meu pacto com os arcanjos, estava começando a sentir que a guerra não so seria

inevitável, mas podia ser o passo certo; minha melhor amiga estava guardando

segredos e saber quais eram esses segredos estavam me mantendo acordada a noite

toda e agora isso. Uma festa de Halloween. Na minha própria casa. Onde esperam que

eu banque a anfitriã.

Marcie sorriu.

- Anthony Amowitz tem uma queda por vc.

- Oh, me conta mais sobre esse Anthony. - Minha mãe pediu.

Marcie amava boas histórias, e se lançou justo nessa.

- Ele estava na nossa turma de educação física ano passado, toda vez que

jogávamos Softbol, ele jogava como recebedor e ficava olhando de boca aberta pras

pernas de Nora o tempo todo enquanto dava as rebatidas. Ele não pegava nenhum

lançamento, de tão distraído que estava.

- Nora tem umas pernas lindas. - Minha mãe brincou.

Ergui o polegar apontando a escada.

- Vou pro meu quarto bater a cabeça na parede algumas milhares de vezes.

Qualquer coisa é melhor do que isso.

- Você e Anthony poderiam ser Scarlett e Rhett. -Gritou Marcie atrás de mim. -

ou Buffy e Angel. E Tarzan e Jane?

Essa noite deixei minha janela fechada e logo depois da meia noite, Patch se

arrastou pra dentro. Cheirava a terra, como os bosques, euqnato deslizava

silenciosamente pra minha cama perto de mim. Ainda que preferisse encontrar com ele

ao ar livre, havia algo inegavelmente sexy sobre os nossos encontros secretos.

- Eu trouxe uma coisa pra você. - Ele disse colocando uma bolsa de papel

marrom na minha barriga.

Sentei e olhei dentro do saco.

- Uma maçã de caramelo da praia de Delphic. - Sorri. - Ninguém faz melhor. E

ainda conseguiu uma polvilhada com flocos de coco, minha favorita.

- É um presente, pra que você fique melhor. Como está a ferida?

Levantei minha camiseta, mostrando eu mesma a boa notícia pra ele.

- Muito melhor. - A última coloração de azul tinha desaparecido ha algumas

horas, e assim que isso aconteceu, a ferida tinha cicatrizado quase que

instantaneamente. Só ficou um pálido risco de uma cicatriz.

Patch me beijou.

- Essa é uma boa notícia.

- Alguma notícia de Blakely?

- Não, mas é só uma questão de tempo.

- Você o sentiu te seguindo?

- Não. - Uma pontada de frustração deslizou pela voz dele. - Mas estou certo de

que ele está me vigiando. Ele precisa da faca de volta.

- O Devilcraft está mudando todas as regras, né?

- É o que me obriga a ser criativo, e vou fazer isso.

- Você trouxe a faca de Blakely com você? - Procurei em seus bolsos, mas

pareciam vazios.

Ele levantou a camisa alto o suficiente para mostrar o punhal sobressaindo

sobre o seu cinto de couro.

- Nunca perco de vista.

- Você tem certeza que ele vai vir atrás disso? Pode ser que seja só um blefe.

Talvez ele saiba que os arcanjos não são tão puritanos como todos pensávamos que

eram e sabe que pode escapar com o Devilcraft.

-É uma possibilidade, mas não acho. Os arcanjos são bons ocultando coisas,

sobre tudo os Nephilins. Acho que Blakely tem medo, e acho que ele vai fazer algum

movimento logo.

- E se ele trouxer apoio? E se somos só nós dois contra vinte deles?

- Ele vai vir sozinho. - Disse Patch com confiança. - Ele meteu os pés pelas

mãos, e agora vai tratar de corrigir essa bagunça sozinho. Sabendo quão valioso ele é

para os Nephilins, de maneira nenhuma seria permitido que ele assitisse um jogo de

futebol sozinho. Aposto que Blakely fugiu. Pior, deixou pra trás uma faca encantada

com Devilcraft. Ele tá morrendo de medo, e sabe que tem que consertar o erro antes

que alguem fique sabendo. Vou usar o medo e o desespero dele a nosso favor. Ele

sabe que estamos juntos. E vou fazer ele jurar que não vai dizer nada ninguem sobre o

nosso relacionamento e não vou dar a faca até que ele faça.

Afrouxei o nó do saco da maçã de caramelo e mordi pela metade. Lutei com

uma boa falsa calma.

- Alguma coisa a mais? - Perguntou Patch.

- Huuumm... sim. Durante o treinamento dessa manhã, Dante e eu fomos

interrompidos por alguns anjos caídos malfeitores. - Eu encolhi os ombros. - Ficamos

escondidos até que eles fossem embora, mas posso dizer que Cheshvan tem

esquentado o sangue de todo mundo. Não conhece um anjo caído com marcas em

todo o peito, né? Essa é a segunda vez que eu vejo ele.

- Não. Mas vou manter os olhos abertos. E você está bem?

- Sim. Por outro lado, Marcie está fazendo uma festa de Halloween aqui.

Patch sorriu.

- Estilo drama familiar Grey-Millar?

- O tema são os casais famosos da história. Poderia ser menos original? Pior,

está colocando a minha mãe nisso. Hoje elas foram fazer compras procurando as

decorações. Durante 3 horas inteiras. É como se já fossem melhores amigas. - Comi o

outro pedaço da maçã e fiz uma careta. - Marcie está arruinando tudo. Queria que

Scott fosse com Vee, mas Marcie já convenceu ele a ir com ela.

O sorriso de Patch se alargou. Fiz a minha melhor cara mau humorada pra ele.

- Isso não é lindo. Marcie está destruindo a minha vida. De que lado você está

afinal?

Patch levandou as mãos em sinal de rendição.

- Eu vou ficar fora disso.

- Preciso de um encontro. Tenho que chamar a atenção de Marcie. - Inspirei. -

Quero o cara mais quente nos meus braços, e quero uma fantasia melhor. Vou

conseguir alguma coisa um milhão de vezes melhor do que Tristão e Isolda. - Olhei pra

Patch esperançosa.

Ele simplesmente me olhos.

- Não podemos ser vistos juntos.

- Você vai estar disfarçado. Pense nisso como um desafio pra passar

desapercebido. Tem que admitir que toda essa história de nos vermos escondido é

bastante quente.

- Eu não vou a festas a fantasia.

- Por favor, por favor, por favor. - Pisquei os olhos.

- Você está me matando.

- Só conheço um cara que é mais bonito que Scott... - Deixei que a idéia

tentesse seu ego.

- Sua mãe não vai me deixar colocar um pé dentro dessa casa. Já vi a pistola

que ela guarda dentro da dispensa.

- Mais uma vez, você vai estar disfarçado, bobo. Ela não vai saber que é você.

- Não vai deixar passar, né?

- Não. O que você acha de John Lennon e Yoko Onno? Ou Sansão e Dalila?

Robin Hood e Lady Marian?

Ele levantou uma sobrancelha.

- Você já pensou em Patch e Nora?

Entrelacei os dedos ao meu estômago, e olhei para o teto.

- Marcie vai morrer.

O celular de Patch tocou e ele olhou a tela.

- Número desconhecido. - Ele murmurou e o meu sangue congelou.

- Acha que é Blakely?

- Só tem uma forma de saber. - Ele atendeu, sua voz calma, mas não

acolhedora. Imediatamente, senti o corpo de Patch tenso junto ao meu e sabia que era

Blakely. A ligação durou só alguns poucos segundos.

- É o nosso homem. - Ele me disse. - Quer conversar. Agora.

- Isso é tudo? Quase parece fácil.

Patch me olhou nos olhos e eu soube que tinha alguma coisa a mais. Não

consegui interpretar sua expressão, mas o modo como ele me olhava, fez com que a

ansiedade borbulhasse dentro de mim.

- Se dermos a ele a faca, ele nos dará o antídoto.

- Que antídoto? - Perguntei.

- Quando ele te apunhalou, ele te infectou. Não disse com o que. Só disse que

se não conseguissemos o antídoto logo... - Interrompeu, engolindo um pouco de

saliva. - Disse que você ia lamentar, nós dois iríamos.

CAPÍTULO

17

-“ELE ESTAVA BLEFANDO. ERA UMA ARMADILHA. Ele está tentando nos fazer

entrar em pânico então vamos estar muito ocupados nos focando em qualquer doença

fictícia que ele colocou dentro de mim jogando dessa forma inteligente.” Eu saltei da

cama e passeei pelo meu quarto. “Ele é bom. Muito bom. Eu digo que devemos chama-

lo e dizer-lhe que ele vai pegar a faca de pois que ele fiz um juramento de parar de

usar devilcraft. Essa é uma troca que eu vou concordar.”

- “E se ele não estiver mentindo?” Patch perguntou quietamente.

Eu não queria pensar nisso. Se eu pensasse, eu estaria direto nas mãos de

Blakely. “Ele está,” Eu disse com mais convicção. “Ele era pupilo de Hank, e se Hank era

bom em uma coisa, era mentir. Tenho certeza de que a imoralidade o contagiou. Ligue

de volta para ele. Diga que não há nenhum acordo. Diga a ele que minha ferida estava

curada, e que se havia algo de errado comigo, nós queremos saber agora.”

- “Nós estamos falando de devilcraft. Isso não joga conforme as regras.” Havia

preocupação e frustração por trás das palavras de Patch. “Eu não acho que nós

devemos fazer suposições, e eu não acho que devemos nos arriscar subestimando ele.

Se ele fez alguma coisa que machucou você, Anjo...” Um músculo do maxilar de Patch

se contraiu com a emoção, e eu temi que ele estava fazendo exatamente o que Blakely

queria. Pensando com a raiva e não com a cabeça.

- “Vamos esperar isso. Se nós estivermos errados, e eu não acho que estamos, mas se

esse for o caso, Blakely ainda vai querer a faca de volta dois, quatro, seis dias a partir

de hoje. Estamos segurando as cartas. Se nós começarmos a suspeitar que ele

realmente me infectou com alguma coisa, nós vamos ligar pra ele. Ele ainda vai nos

encontrar, porque ele precisa da faca. Nós não temos nada a perder.”

Patch não parecia convencido. “Ele disse que você iria precisar do antídoto em breve.”

- “Observe o quão vago ‘em breve’ soa. Se ele estivesse dizendo a verdade, nós

teríamos um período de tempo mais específico. Minha coragem não era uma

representação. Nenhuma parte de mim acreditava que Blakely estava sendo honesto.

Minha ferida tinha curado, e eu nunca tinha me sentido melhor. Ele não tinha injetado

uma doença em mim. Eu não iria cair nessa. E me frustrava que Patch estava sendo tão

cauteloso, tão ingênuo. Eu queria me fixar no nosso plano original: arrastar Blakely e

cortar a produção de devilcraft. “Ele estabeleceu um lugar de encontro? Onde ele quer

fazer a troca?”

- “Eu não vou te dizer.” Patch falou num tom calmo e medido.

Eu vacilei confusa. “Desculpe. O que você disse?”

Patch caminhou e colocou suas mãos em volta do meu pescoço. Sua expressão

era imóvel. Ele estava sério – ele pretendia me segurar. Ele poderia muito bem ter me

dado um tapa, a traição era ruim assim. Eu não podia acreditar que ele estava contra

mim nisso. Eu comecei a me afastar, muito enfurecida para falar, mas ele me pegou

pelo pulso.

- “Eu respeito sua opinião, mas eu venho fazendo isso há muito mais tempo,” ele disse,

sua voz baixa, séria e cordial.

- “Não me proteja.”

- “Blakely não é um cara legal.”

- “Obrigada pela dica.” Eu disse sarcasticamente.

- “Eu não deixaria passar ele infectar você com alguma coisa. Ele está bagunçando por

aí com o devilcraft muito tempo para ter qualquer resto de decência ou humanidade

sobrando. Isso tem endurecido seu coração e colocado ideias em sua cabeça – astúcia,

más intenções, ideias desonrosas. Eu não acho que ele esteja fazendo ameaças vazias.

Ele parecia sincero. Ele parecia determinado à realização de todas as ameaças que ele

falou. Se eu não me encontrar com ele hoje a noite, ele vai jogar o antídoto fora. Ele

não está com medo de nos mostrar que tipo de homem ele é.”

- “Então vamos mostrar para ele quem nós somos. Me diga onde ele quer se encontrar.

Vamos arrastá-lo e trazê-lo para um interrogatório,” eu desafiei. Eu olhei para o

relógio. Cinco minutos tinham se passado desde que Patch encerrou a ligação. Blakely

não iria esperar a noite toda. Nós tínhamos que ir andando – estávamos perdendo

tempo.

- “Você não vai encontrar Blakely hoje à noite. Fim de papo.” Patch disse.

- “Como você pode dizer isso? Você o está deixando chamar os tiros! O que aconteceu

com você?”

Os olhos dele prenderam os meus. “Eu pensei que fosse bastante óbvio, Anjo.

Sua saúde é mais importante do que obter respostas. Haverá outra chance de pegar

Blakely.”

Fiquei boquiaberta e sacudi minha cabeça de um lado para o outro. “Se você sair daqui

sem mim, eu nunca vou te perdoar.” Uma ameaça forte, mas eu acreditava que eu quis

dizer aquilo. Patch prometeu que nós éramos um time de agora em diante. Se ele me

tirasse agora, eu veria isso como uma traição. Nós tínhamos passado por muita coisa

para ele me mimar assim agora.

- “Blakely já está no limite. Se algo parecer desligado, ele corre, e lá se vai nosso

antídoto. Ele disse que queria me encontrar sozinho, e eu vou honrar esse pedido.”

Eu sacudi minha cabeça ferozmente. “Isso não é sobre Blakely. Isso é sobre eu e você.

Você disse que nós éramos um time de agora em diante. Isso se trata do que nós

queremos – não do que ele quer.”

Houve uma batida na porta do meu quarto, e eu retruquei, “O quê?”

Marcie abriu a porta e ficou parada na entrada, braços dobrados rentes sobre o

peito. Ela estava usando uma velha camiseta folgada e um bermudão. Não o que eu

imaginei que Marcie usasse para dormir. Eu esperava mais rosa, mais rendas, mais pele.

-“Com quem você estava falando?” ela quis saber, esfregando o sono para fora dos

seus olhos. “Dá para ouvir você gritando por todo corredor.”

Eu voltei minha atenção para Patch, mas estávamos apenas eu e Marcie no meu quarto.

Patch tinha desaparecido.

Eu peguei um travesseiro da minha cama e atirei-o contra a parede.

Domingo eu acordei com uma estranha, insaciável fome arranhando minha

barriga. Eu me empurrei da cama, passei pelo banheiro, e fui direto para a cozinha. Abri

a geladeira, olhando as prateleiras avidamente. Leite, frutas, sobras de strogonoffe.

Salada, pedaços de queijo, salada de gelatina. Nada disso parecia remotamente

atraente, e ainda assim meu estômago revirou de fome. Com minha cabeça presa na

despensa, eu passei meus olhos para cima e para baixo nas estantes, mas cada item

que eu passava tinha o apelo de gosto de poliéster. Meus desejos inexplicáveis se

intensificaram com a falta de comida, e eu comecei a me sentir enjoada.

Ainda estava escuro lá fora, alguns minutos antes das 05:00 a.m. e eu me

arrastei de volta para cama. SE eu não poderia corroer minhas dores, eu iria dormir

com elas. O problema era, que minha cabeça se sentiu empoleirada com um turbilhão,

vertigens me cambaleando em sua loucura. Minha língua estava seca e inchada de

sede, mas o pensamento de beber algo tão suave como água fez as minhas entranhas

ameaçarem um refluxo em revolta. Eu brevemente me perguntei se isso poderia ser

algum efeito colateral da facada, mas eu estava muito desconfortável para pensar

demais.

Eu passei os próximos vários minutos rolando, tentando achar a parte mais

fresca dos meus lençóis para alívio, quando uma voz sedosa sussurrou no meu ouvido.

“Adivinha que horas são?”

Eu deixei sair um gemido autêntico. “Eu não posso treinar hoje, Dante. Estou

doente.”

- “A desculpa mais velha do mundo. Agora saia da cama,” ele disse, batendo na minha

perna.

Minha cabeça pendia para o lado do colchão e eu olhava os sapatos dele. “Se eu

vomitar nos seus pés, você vai acreditar em mim?”

- “Eu não sou tão rabugento. Quero você lá fora em 5 minutos. Se você se atrasar, você

vai me compensar. Mais 8 quilômetros para cada minuto que você atrasar parece

justo.”

Ele saiu, e precisei de toda minha motivação e então algo para me arrastar para

fora da cama. Eu amarrei meus sapatos vagarosamente, presa numa batalha com a

fome furiosa me atacando de um lado, e a vertigem afiada de outro.

Quando eu consegui chegar à entrada da garagem, Dante disse, “Eu tenho uma

atualização sobre seus esforços de treinamento. Um dos meus primeiros atos como

tenente era atribuir oficiais para nossas tropas. Espero que você aprove. O treinamento

dos Nephilins está indo bem,” ele continuou sem esperar por minha resposta. “Nós

temos nos focado em técnicas anti possessão, truques de mentes, ambas como

estratégias defensivas e ofensivas. E um rigoroso condicionamento físico. Nossa maior

fraqueza é recrutar espiões. Nós precisamos desenvolver boas fontes de informações.

Nós precisamos saber o que os anjos caídos estão planejando, mas nós não obtivemos

sucesso até este ponto.” Ele olhou para mim com expectativa.

- “Uh... ok. Bom saber. Vou pensar em umas ideias.”

- “Sugiro que você pergunte ao Patch.”

- “Para espionar para nós?”

- “Use seu relacionamento em sua vantagem. Ele deve ter informações dos pontos

fracos dos anjos caídos. Ele deve saber qual dos anjos caídos merece uma sacudida.”

- “Eu não estou usando Patch. E digo a você: Patch está fora dessa guerra. Ele não está

do lado dos anjos caídos. Eu não vou pedir para ele espiar para os nephlins,” eu disse

quase friamente. “Ele não vai se envolver.”

Dante deu um breve aceno. “Entendido. Esqueça que eu pedi. Aquecimento padrão. 16

km. Empurre-se na metade do caminho – quero você suando.”

- “Dante – “ Eu protestei fracamente.

- “Esses quilômetros extras que eu te avisei? Eles valem para desculpas também.”

Apenas passe por isso, eu tentei me encorajar. Você tem o resto do dia para dormir. E

comer, e comer, e comer.

Dante trabalhou duro comigo; depois do aquecimento de 16 quilômetros, eu

pratiquei saltando sobre pedra do dobro da minha altura, corri pelas encostas

íngremes de um barranco, e repassei pelas lições que eu já havia aprendido,

particularmente os truques mentais.

Finalmente, no fim da segunda hora, ele disse, “Vamos chamar isso de um dia.

Você consegue achar seu caminho de volta pra casa?”

Nós tínhamos vindo bem longe dentro da floresta, mas eu podia dizer pelo nascer do

sol que era a leste, e eu me senti confiante de que poderia voltar sozinha. “Não se

preocupe comigo,” eu disse, e saí.

A meio caminho da casa da fazenda, eu encontrei uma pedra que havia sido

depositada em nossos pertences – o blusão que eu joguei depois do meu aquecimento

e a bolsa de ginástica da marinha de Dante. Ele a trazia todo dia, carregando vários

quilômetros dentro da floresta, que não deve ser apenas pesada e desajeitada, mas

também pouco prática. Até agora, ele nunca a havia aberto nenhuma vez. Pelo menos,

não na minha presença. A bolsa poderia estar abastecida com uma infinidade de

instrumentos de tortura que ele podia empregar em mim em nome do meu

treinamento. Mais provavelmente, guardava roupas para trocar e sapatos de reposição.

Possivelmente incluindo – eu ri com o pensamento – um par de cuecas apertadas ou

boxers com pinguins estampados e eu poderia atormentá-lo interminavelmente sobre

isso. Talvez até mesmo pendurar em uma árvore próxima. Não havia ninguém por

perto para ver, mas ele ficaria envergonhado o bastante sabendo que eu tinha visto.

Sorrindo secretamente, eu puxei o zíper alguns centímetros. Assim que eu vi

garrafas de vidro cheias de um líquido azul alinhadas dentro, a dor no meu estômago

revirou ferozmente. As garras de fome passaram por mim como algo vivo.

Uma necessidade insaciável ameaçava explodir dentro de mim. Um grito

estridente rugiu em meus ouvidos. Em uma onda avassaladora, lembrei-me do sabor

potente do devilcraft. Horrível, mas mesmo assim vale a pena. Eu lembrei do surto de

poder que ele tinha me dado. Eu mal conseguia manter meu equilíbrio, eu estava tão

consumida pela necessidade de sentir aquela grandeza incontrolável de novo. Os

saltos estratosféricos, a velocidade, a incomparável agilidade animalesca. Meu pulso

estava tonto, batendo e vibrando com preciso, preciso, preciso. Minha visão estava

embaçada e meus joelhos caíram. Eu quase podia saborear o alívio e a satisfação que

viria com um pequeno gole.

Eu rapidamente contei os vidros. Quinze. De modo algum Dante perceberia que

um estava faltando. Eu sabia que era errado roubar, como eu sabia que devilcraft não

era bum para mim. Mas esses pensamentos eram argumentos maçantes flutuando sem

rumo atrás da minha cabeça. Eu percebi que prescrição médica em doses erradas

também não era bom para mim. Mas eu precisava. Assim como eu precisava de um

pouco de devilcraft.

Devilcraft. Eu mal podia pensar. Eu estava tão ferida que essa era a ‘erva’ que eu

sabia que me daria poder. Um pensamento súbito me pegou – eu morreria se não

tomasse, a necessidade era potente assim. Eu faria qualquer coisa por isso. Eu precisava

me sentir daquele jeito de novo. Indestrutível. Intocável.

Antes de saber o que eu tinha feito, eu peguei um frasco. Senti fresco e

reconfortante em meu domínio. Eu ainda não tinha tomado um gole, e minha cabeça já

estava clareando. Sem mais vertigens, e em breve, sem mais desejos.

O frasco se encaixava perfeitamente na minha mão, como se devesse estar lá o

tempo todo. Dante queria que eu tivesse essa garrafa. Afinal, quantas vezes ele tentou

me dar devilcraft para beber? E ele não havia dito que a minha próxima dose era por

conta da casa?

Eu levaria um frasco e seria o suficiente. Eu sentiria a adrenalina e o poder só mais uma

vez e estaria satisfeita.

Só mais uma vez.

CAPÍTULO

18

MEUS OLHOS SE ABRIRAM DIANTE DE UMA BATIDA REPENTINA NA PORTA.

Sentei, desorientada. A luz do sol passava pela janela, indicando que já era tarde da

manhã. Minha pele estava úmida de suor, e meus lençois estavam enrolados na minha

perna. Na minha mesa de cabeceira, uma garrafa vazia estava inclinada para o lado.

A lembrança veio de novo.

Apenas consegui chegar a minha casa antes de tirar a tampa, jogando ela

depressa para o lado, e acabar com o devilcraft em segundos. Me afogava, me sentindo

como se fosse sufocar enquanto o líquido obstruia minha garganta, mas sabia que

quanto mais rapido tomasse, mais rapido acabaria. Uma onda de adrenalina, como

nunca tinha sentido, se expandiu dentro de mim, levando os meus sentidos ao

estimulo máximo. Havia tido a urgencia tentadora de correr e levar o meu corpo ao

limite, correndo, pulando e desviando de tudo no meu caminho. Como voar, só que

melhor.

E então, tão rápido quanto o impulso se alastrou dentro de mim, acabou. Nem

mesmo me lembro de ter caíso na minha cama.

- Acorda dorminhoca! - Minha mãe chamou da porta. Sei que é fim de semana,

mas não vai dormir o dia todo. Já são mais de 11 horas.

<< 11? Eu fiquei inconsciente durante 4 horas?>>

- Já vou descer em um segundo. - respondi, todo o meu corpo estava tremendo

pelo que deveria ser um efeito secundário do devilcraft. Tinha tomado muito, muito

rápido. Isso explicava por que o meu corpo apagou durante horas, e a sensação

peculiar e nervosa pulsando dentro de mim.

Não podia acreditar que tinha roubado o devilcraft de Dante. Pior, não podia

acreditar que tinha tomado. Estava envergonhada. Tinha que achar uma maneira de

corrigir isso, mas não sabia por onde começar. Como poderia dizer a Dante? Ele já

pensava que eu era tão fraca como um humano, e se eu não podia controlar o meu

apetite, isso só provava que ele estava certo.

Deveria só ter pedido. Mas era horrivel ele pensar que eu estava roubando.

Havia um pouco de emoção em fazer alguma coisa ruim. Do mesmo jeito que tinha

sido emocionante me exceder com o Devilcraft, bebendo tudo imediatamente me

recusando a guardar um pouco.

<< Como pude ter esses pensamentos horríveis? Como pude agir assim?

Essa não era eu.>>

Jurando que essa manhã seria a última vez que usaria o Devilcraft, enterrei a

garrafa no fundo do lixo, e tratei de tirar o acidente da minha cabeça.

Achei que por causa da hora tomaria o café da manhã sozinha, mas encontrei a

Marcie na mesa da cozinha, vendo uma lista de números telefonicos.

-

Passei a manhã toda convidando o povo para a festa de Halloween. – explicou –

Fique a vontade para convidar quem você quiser.

-

Pensei que os convites iam pelo correio.

-

Não vai dar tempo. A festa é na quinta.

-

Uma noite de escola? O que tem de errado com a sexta?

-

O jogo de futebol americano. – minha expressão deve ter ficado confusa,

porque ela disse: - Todos os meus amigos vão estar no jogo, ainda por cima, é um jogo

fora de casa, então não podemos convidar eles para depois do jogo.

-

E o sábado? – Perguntei, não acreditando que iriamos fazer uma festa durante a

semana. Minha mãe nunca concordaria. Mas, Marcie tinha um jeito de convencer ela de

qualquer coisa.

-

No sábado seria o aniversario dos meus pais. Não faremos no sábado. – disse e

empurrou a lista de telefone para mim. – Estou fazendo todo o trabalho e realmente

está começando a me deixar irritada.

-

Não quero ser responsável pela festa. - Lembrei a ela.

-

Só está irritada por que não tem um par.

Era verdade. Não tinha um par. Já tinha falado sobre levar Patch, mas isso iria

pressupor que eu tinha perdoado ele por ter ido se encontrar com o Blakely na noite

anterior. A lembrança do que tinha acontecido veio rapidamente. Entre dormir a noite,

treinar com o Dante essa manhã e ficar inconsciente por várias horas, esqueci

completamente de verificar as mensagens no meu telefone.

A campainha tocou, e Marcie deu um pulo.

- Eu atendo.

Queria gritar: << Para de agir como se você morasse aqui! >>, mas ao invés disso,

passei por ela devagar e subi as escadas de 2 em 2 degraus até o meu quarto. MInha

bolsa estava pensurada atrás da porta do meu armário, procurei nela até encontrar o

meu celular.

Respirei fundo. Nenhuma mensagem. Não sabia o que isso significava, e não sabia se

deria ficar preocupada. E se Blakely tivesse feito uma armadilha pro Patch? Ou o

silencio dele era por que a gente tinha brigado na noite passada? Quando eu estava

chateada, eu gostava de espaço e Patch sabia disso.

Enviei uma mensagem de texto rápida pra ele. << Podemos conversar? >>

Lá embaixo, ouvi Marcie conversando nervosa.

- Disse que iria por ela. Tem que esperar aqui! Eii! Não pode entrar sem ser convidada.

- Quem disse? - Vee respondeu a ela, e eu ouvi o barulho na escada.

Me juntei a elas no corredor do lado de fora do meu quarto.

- O que tá acontecendo?

- Sua amiga gorda, entrou sem ser convidada. - Reclamou Marcie.

- Essa vaca mafrela está agindo como se fosse dona desse lugar. - Vee me disse. - O

que ela tá fazendo aqui?

- Moro aqui agora! - disse Marcie.

Vee soltou uma risada.

- Sempre engraçada. - Ela disse, negando com o dedo.

O queixo de Marcie se levantou.

- Eu moro aqui sim, vai, pergunta pra Nora.

Vee me olhou e eu suspirei.

- É temporário.

Vee se sacudiu em seus calcanhares como se tivesse sido atingida por um punho

invisível.

- Marcie? Morando aqui? Eu sou a única que se dá conta de que toda a lógica foi

embora?

- Foi idéia da minha mãe. - Eu disse.

- Foi idéia minha e da minha mãe, mas a Sra. Grey estava de acordo que isso era o

melhor a ser feito. - Corrigiu Marcie.

Antes que Vee fizesse mais perguntas, peguei ela pelo cotovelo e arrastei até o

meu quarto. Marcie veio atrás, mas fechei a porta na cara dela. estava tentando com

todas as minhas forças ser civilizada, mas deixar ela entrar em uma conversa particular

com a Vee era levar a idéia de ser amigável muito longe.

- Por que motivo realmente ela está aqui? - Vee exigiu, sem se importar em falar baixo.

- É uma longa história. Encurtando... não sei o que ela está fazendo aqui. - Evasiva, sim,

mas honesta também. Não tinha idéia do que Marcie estava fazendo aqui. Minha mãe

tinha sido amante de Hank, e eu era fruto desse amor, e o racional seria que Marcie

nada com nenhuma de nós duas.

- Bom, tudo está claro agora! - Disse Vee.

Era hora de dar a ela uma distração.

- Marcie vai fazer uma festa de Halloween aqui. É obrigatório vir com um par, do

mesmo jeito que é obrigatório vir fantasiada. O tema é "Casais famosos da história".

-E? - Disse Vee, sem se importar.

- Marcie está de olho no Scott.

Vee cerrou os olhos.

- Claro que está.

- Marcie já perguntou a ele, mas ele não parecia muito comprometido com ela. - falei

amavelmente.

Vee juntou seus dedos.

- É hora de fazer a mágica da Vee antes que seja tarde demais.

Meus celular vibrou com um texto. << Tenho o antídoto. Temos que nos

encontrar.>> Era uma mensagem de Patch.

Ele estava bem. A tensão nos meus ombros foi embora.

Discretamente, coloquei o telefone no bolso e disse a Vee: - Minha mãe precisa

que eu coloque a roupa na lavanderia e que devolva alguns livros na biblioteca. Mas

posso passar na sua casa mais tarde.

- E então podemos planejar como roubar Scott da puta. - disse Vee.

Dei a Vee uma vantagem de 5 min. e logo levei o Volkswagem de volta pro caminho.

<< Deixando a fazenda agora. >> Escrevi pra ele. << Onde você tá? >>

<< Chegando em casa. >> Ele respondeu.

<< Te vejo aí. >>

Dirigi até Casco Bay. Muito ocupada formulando o que diria a Patch para poder

aproveitar a impressionate paisagem do entardecer. Era somente a água azul escura

brilhando com o sol e as ondas respingando e formando e as ondas respingando e

formando espuma quando se chocavam com os penhascos íngremes. Estacionei a

poucas ruas do lugar onde ia encontrar com Patch e entrei. Fui a primeira a chegar e fui

para a varanda organizar meus pensamentos uma última vez.

O ar era frio e pegajoso com sal, apenas o suficiente para deixar a pele

arrepiada, esperava que isso acalmasse a minha raiva, e a persistente sensação de

traição. Eu gostava do fato do Patch ter a minha segurança sempre em mente, me

comovia a sua preocupação e eu não queria parecer mal agradecida de ter um

namorado que faria qualquer coisa por mim, mas um acordo era um acordo.

Concordamos em trabalhar em equipe, e ele havia quebrado a minha confiança.

Ouvi a porta da garagem deslizar ao se abrir, seguido pelo barulho da moto de

Patch entrando. Um momento depois, ele apareceu na sala de estar. Ele manteve

distancia, mas os seus olhos estavam sobre mim. Seus cabeloS estava sendo arrastado

pelo vento e uma barba escura salpicava a sua mandibula. Ele usava a mesma roupa

que usava quando eu o vi pela última vez, e sabia que ele tinha estado fora a noite

toda.

- Uma noite ocupada? - Perguntei.

- Tinha muitas coisas na cabeça.

- Como está Blakely? - Perguntei a Patch com a indignação necessária para que ele

soubesse que não tinha esquecido nem perdoado.

- Ele fez um juramento para deixar a nossa relação em paz. - Ele fez uma pausa. - E me

deu o antídoto.

- Assim dizia a mensagem.

Patch suspirou e passou a mão pelo cabelo.

- É assim que vai ser? Entendo que você está chateada, mas você pode voltar um

minuto e ver as coisas do meu ponto de vista? Blakely me disse pra ir sozinho, e eu não

confiava em como ele reagiria se eu fosse com você ao meu lado. Não me oponho a

me arriscar, mas não quando as possibilidades estão claramente contra mim. Mas ele

tinha vantagem dessa vez.

- Você prometeu que seŕiamos uma equipe.

- Também jurei fazer tudo que estivesse ao meu alcanse para proteger você. Quero o

melhor pra você. Isso é tão simples, anjo.

- Não pode continuar querendo manter o controle, e depois dizer que é pra minha

segurança.

- Ter certeza de que você está segura é mais importante pra mim do que a sua boa

vontade. Não quero brigar, mas se você tá decidida a me ver como o malvado da

história, que assim seja. É melhor do que perder você. - Ele encolheu os ombros.

Dei um grito diante da arrogancia dele e cerrei os olhos rapidamente.

- É isso o que você realmente sente?

- Alguma vez você me viu mentir, especialmente quando se trata dos meus

sentimentos por você?

Peguei a minha bolsa no sofá.

- Esquece isso. Estou indo embora.

- Faz o que você quiser. Mas você não vai dar um passo pra fora desse lugar antes de

tomar o antídoto. - Para provar que estava falando a verdade, ele se apoiou contr a

porta principal, cruzando os braços sobre o peito.

Olhando fixamente para ele , disse: - Pelo que sabemos, o antídoto poderia ser veneno.

Ele sacudiu a cabeça.

- Dabria analizou. Está limpo.

Apertei os dentes. Controlar meu temperamento estava oficialmente fora de questão.

- Você levou pra Dabria? Suponho que vocês dois são uma equipe agora. - Alfinetei.

- Ela se manteve suficientemente longe do radar de Blakely para não alertar ele, mas o

suficientemente perto para ler fragmentos do seu futuro. Nada ali indicou uma jogada

suja com respeito ao antídoto. Ele fez um trato justo. O antídoto é bom.

- Por que você não tenta ver as coisas do meu ponto de vista? - Eus estava furiosa. -

Tenho que suportar que o meu namorado escolha trabalhar perto da sua ex... ela

continua apaixonada por você, e você sabe disso!

Patch manteve o olhar fixo em mim.

- E eu estou apaixonado por você. Mesmo quando você é irracional, ciumenta e

intencional. Dabria tem uma pratica mais substancial nos truques mentais, as retiradas

e a luta dos Nephilins em geral. Cedo ou tarde vai ter que começar a confiar em mim.

Não temos uma grande quantidade de aliados e precisamos de toda a ajuda que

possamos conseguir. Enquanto Dabria estiver contribuindo, estou disposto a manter

ela a bordo.

Meus punhos estavam apertados tão fortes, que as minhas unhas estavam começando

a cortar a minha pele.

- Em outras palavras, não sou boa o suficiente para ser sua companheira de equipe.

Diferente de Dabria, não tenho nenhum poder especial.

- Não é isso. Já falamos sobre isso. Se algo acontecer a ela, não vou me considerar

infeliz, mas por outro lado, se acontecer alguma coisa com você...

- Sim, bom, suas ações já dizem tudo. - Estava ferida e chateada e decidida a mostrar

ao Patch que ele estava me subestimando, e tudo isso me levou a seguinte declaração:

- Levarei os Nephilins a guerra contra os anjos caídos. É o certo. Me encarregarei dos

arcanjos depois. Posso viver com medo deles, ou posso superar e fazer o que é melhor

para os Nephilins. Não quero outro Nephil jurando lealdade para sempre. Já tomei a

minha decisão, sendo assim, não se incomode em me dissuadir. - Disse

categoricamente.

Os olhos negros de Patch me observaram, mas ele não disse nada.

- Eu tenho me sentido assim por um tempo - disse impulsionada pelo silencio

incomodo e ansiosa para provar o meu pont de vista. - Não permitirei que os anjos

caídos continuem intimidando os Nephilins.

- Estamos falando dos anjos caídos e dos Nephilins, ou de nós dois?- Finalmente Patch

perguntou em voz baixa.

- Estou cansada de jogar na defensiva. Ontem um grupo de anjos caídos veio até mim.

Isso foi a última gota. Os anjos caídos precisam saber que nós estamos cansados de

sermos irritados. Eles já nos assediaram tempo suficiente. E os arcanjos? Não acho que

eles se importem. Se fosse assim, já teriam feito um intervenção e teriam colocado um

ponto final ao devilcraft. Temos que assumir que eles sabem e estão procurando outra

saída.

- Dante tem alguma coisa a ver com a sua decisão? - Patch perguntou, sem abalar a

sua postura calma.

A pergunta dele me irritou.

- Sou a líder do exército dos nephilins. Tomo as decisões.

Esperava que a próxima pergunta dele fosse: << E como nós ficamos? >>, mas

suas palavras me deixaram surpresa.

- Eu quero você do meu lado, Nora. Estar com você é a minha prioridade. Tenho estado

em guerra com Nephilins por muito tempo. Isso tem me levado por um caminho que

eu gostaria de mudar. As enganações, os truques baratos, até mesmo a força bruta.

Tem dias que eu dsejo poder voltar atras e pegar caminhos diferentes. Não quero que

você se arrependa da mesma coisa que eu. Preciso saber que é suficientemente forte

fisicamente, mas também preciso saber que você se manterá forte aqui. - Ele tocou na

minha testa suavemente. Então acariciou minha bochecha, sustentando meu rosto na

palma da mão dele. - Você realmente estende no que está se metendo?

Me separei dele, mas não tão forte quanto pretendia.

- Se você deixar de se preocupar comigo, vai ver que eu sei.

Pensei em todo treinamento que ja tinha feito com Dante. Pensei em como ele

pensava que eu era talentosa com os truques mentais. Patch não tinha nem idéia do

quão longe eu já havia chegado. Era mais forte, mais rápida e mais poderosa do que

nunca poderia ter me imaginado. Também tinha passado por coisas suficientes nos

últimos meses para saber que agora estava firmemente em seu mundo. Nosso mundo.

Sabia no que estava me metendo, mesmo se Patch não gostava da idéia.

- Você pode ter me impedido de me encontrar com Blakely, mas não pode deter a

guerra que se aproxima. - Assinalei.

Estávamos na ponta de um conflito mortal e poderoso. Não ia endoçar, e não

estava disposta a olhar de outra forma. Estava pronta pra brigar. Pela liberdade dos

Nephilins. E pela minha.

- Uma coisa é pensar que está pronta. - Disse Patch em voz baixa. - Pular para uma

guerra e ver tudo na primeira fila é um jogo diferente. Admiro a sua valentia, anjo, mas

estou sendo honesto quando penso que você está se precipitando sem pesar as

consequencias.

- Acha que não pensei nisso? Sou eu quem dirige o exército de Hank. Já passei muitas

noites sem dormir pensando nisso.

- Dirigir o exército, sim. Mas ninguém disse nada sobre brigar. Pode cumprir o seu

juramento e ao mesmo tempo se manter longe do perigo. Delegar as tarefas mais

poderosas. Para isso você tem o seu exército. Para isso eu tô aqui.

O argumento dele estava começando a me irritar.

- Não pode me proteger pra sempre, Patch. Gosto que você pense assim, mas eu sou

uma Nephilim agora. Sou imortal e preciso menos da sua proteção. Sou um alvo dos

anjos caídos, dos arcanjos e de outros nephilins, e não tem nada que você possa fazer

a respeito. Exceto também aprender a brigar.

Seu olhar era sereno, seu tom nivelado, mas senti um pouco de tristeza por trás

da sua fachada.

- Você é uma garota forte, e é minha. Mas ser forte, nem sempre se refere a força bruta.

Não tem que chutar alguns traseiros para ser uma lutadora. A violencia não é o

equivalente a força. Por exemplo: liderar o seu exército. Tem uma resposta melhor pra

tudo isso. A guerra não vai resolver nada, mas vai separar nossos mundos, e haverá

vítimas, incluindo humanos. Não tem nada de heroico nessa guerra. Isso vai levar a

uma destruição pior do que qualquer outra que já temos visto.

Engoli a saliva. Por que Patch sempre tem que fazer isso? Dizer coisas que só

me faziam entrar mais em conflito. Ele estava me dizendo isso por que honestamente

acreditava nisso, ou estava tentando me tirar do campo de batalha? Queria confiar nas

intenções dele. A violencia nem sempre era a saída. Na verdade, na maior parte do

tempo não era. Eu sabia disso. Mas via a coisa do ponto de vista de Dante também.

Tinha que lutar. Se passasse por tudo isso sendo fraca, só teria um alvo ainda maior nas

minhas costas. Tinha que demonstrar que era forte e que poderia fazer algumas

retalhações. Em futuro previsível, a força física era mais importante do que a força de

caráter.

Pressionei os dedos em minhas temporas, tentando acabar com a preocupação

que soava como uma dor surda.

- Não quero falar sobre isso agora. Só preciso... de um pouco de tranquilidade, ok? Tive

uma manhã agitada, e vou lidar com isso quando eu me sentir melhor.

Patch não parecia covencido, mas não disse nada mais sobre o assunto.

- Te ligo mais tarde. - Disse com cansaço.

Ele tirou um frasco com um líquido branco, leitoso do bolso e extendeu para mim.

- O antídoto.

Estava tão absorta na nossa discussão, que tinha esquecido completamente

disso. Analisei o frasco com desconfiança.

- Eu consegui que Blakely me disse que a faca com a qual ele te acertou era o

protótipo mais poderoso que ele já criou. Isso colocou 20 vezes mais de Devilcraft no

seu sistema, do que aquele que o Dante te deu para beber. Essa é a razão por que

precisa do antídoto. Sem ele, você vai desenvolver um vício inquebrável pelo devilcraft.

Em doses suficientemente altas, alguns protótipos de devilcraft vão te apodrecendo de

dentro pra fora. Vai embaralhar seu cérebro como qualquer outra droga letal.

As palavras de Patch me deixaram surpresa. Eu tinha acordado essa manhã com um

apetite insaciável por Devilcraft, por que Blakely tinha feito que eu ansiasse isso mais

do que comer, beber e até mesmo respirar?

O pensamento de acordar todos os dias, movida pela fome, colocava uma

sensação queimante em minhas veias. Não tinha me dado conta do quanto estava em

jogo. Inesperadamente, me peguei agradecendo a Patch por ter conseguido o

antídoto. Faria qualquer coisa para não sentir essa necessidade invencível de novo.

Destapei o frasco.

- Algo que que eu deveria saber antes de tomar isso? - Passei o frasco por deibaixo do

meu nariz. Sem odor.

- Não vai funcionar se você tiver o devilcraft em seu sistema pelas últimas 24 horas,

mas isso não deveria ser um problema. Já passou mais de um dia desde que Blakely te

apunhalou. - Ele disse.

Tinha o frasco a centímetros dos meus lábios, quando me detive. Só essa

manhã tinha tomado um frasco inteiro de Devilcraft. Se tomasse esse antídoto agora

não iria funcionar. Continuaria viciada.

- Tampa o nariz e toma. Não pode ser tão ruim quanto o devilcraft. - Disse Patch.

Queria contar a ele sobre o frasco que tinha roubado de Dante. Queria explicar.

Ele não ia me culpar. Isso era culpa de Blakely . Era o Devilcraft. Eu tinha bebido uma

garrafa inteira quando eu tive a oportunidade. Estava cega pela necessidade.

Abri minha boca para confessar tudo, mas alguma coisa me deteve. Uma voz

obscura, e estranha plantada no mais profundo de mim, que me murmurava que não

queria ser livre do devilcraft. Não. Não podia perder o poder a força que vinha com

ele... não quando estávamos perto de uma guerra. Tinha que manter esses poderes

perto, se caso precisasse. Não se tratava do devilcraft. Se tratava de me proteger.

A ansiedade começou a lamber minha pele, umedecendo a minha pele, me

fazendo tremer de fome. Coloquei os sentimentos de lado, orgulhosa de mim mesma

quando fiz isso. Não agiria da mesma forma que agi esta manhã. Roubaria e beberia

devilcraft quando realmente necessitasse fazer isso. E manteria o antídoto comigo

sempre , e assim poderia acabar com o habito quando quisesse. Faria do meu jeito.

Tinha uma opção. Estava no controle.

Então fiz uma coisa que nunca imaginei que pudesse fazer. O impulso se

incendiou na minha conciencia, e agi sem pensar. Cravei meus olhos em Patch por um

breve instante, convocando toda a minha energia mental, sentindo ela se desprender

de mim como um grande poder, desencadeante e natural e enganei Patch

mentalmente o fazendo pensar que tinha bebido o antídoto.

<< Nora bebeu. >>, sussurrei enganosamente na mente dele, plantando uma imagem

como suporte da minha mentira, << até a última gota. >>

Então, coloquei o frasco no meu bolso. Todo o assunto tinha terminado em

questão de segundos.

CAPÍTULO

19

DEIXEI A CASA DE PATCH COM A INTENÇÃO DE DIRIGIR ATÉ A MINHA CASA, o

tempo todo lutando com uma dor violenta no meu estomago que era metade culpa e

metade doença. Não conseguia me lembrar de nenhum outro momento na minha vida

que me senti tão envergonhada.

Ou mais faminta.

Meu estomago se contraiu, de fome. Era tão intenso que fazia com que eu me

contorcesse contra o volante. Era como se eu tivesse engolido pregos e eles estivessem

rasgando dentro de mim até deixar em carne viva. Tinha a estranha sensação de sentir

os meus órgãos murchando. E eu me perguntava se o meu corpo comeria ele mesmo

para se nutrir.

Mas não era comida que eu precisava. Parei no acostamento e liguei pra Scott.

- Preciso do endereço do Dante.

- Nunca foi a casa dele? Você não é namorada dele?

Me irritava que ele estivesse prolongando a conversa. Precisava do endereço de Dante

e não tinha tempo de conversar.

- Tem ou não?

- Vou te mandar po mensagem. Aconteceu alguma coisa? Você parece ansiosa. E tem

estado assim por alguns dias.

- Estou bem. - Disse a ele, voltei para o carro. Tinha gostas de suor nos meus lábios.

Segurei o volante tentando afastar o desejo que parecia me agarrar pelo pescoço e me

sacudir. Meus pensamentos estavam agarrados a umA única palavra: Devilcraft. Tratei

de acalmar a tentação. Tinha tomado o Devilcraft essa manhã. Uma garrafa inteira. Eu

podia vencer toda essa ansia. Eu decidiria quando ia precisar do Devilcraft. Quando e

quanto.

O suor se extendeu pelas minhas costas, pequenas gotas correndo por baixo da

minha camiseta. A parte inferior das minhas coxas, quentes e úmidas, pareciam estar

grudadas a almofada do banco do motorista. Ainda era outubro, aumento no máximo

o ar condicionado.

Girei o volante para voltar para a estrada, mas o barulho ensurdecedor da

buzina de um carro que estava passando me frear. Uma van branca acelerou para

passar, o motorista olhou pela janela e fez um gesto obsceno pra mim.

Se controla, eu disse pra mim mesma, presta atenção!

Depois de algumas respirações para controlar a mente, conferi o endereço de

Dante no meu celular. Estudei o mapa, dei uma risadinha ironica e dei a volta em U.

Dante, ao que tudo indicava, morava a menos de 8 KM da casa do Patch.

Dez minutos depois, tinha passado por baixo de um arco de árvores que coroavam a

estrada, ceuzei uma ponte e estacionei o carro em uma rua pitoresca e curvilinea cheia

de árvores.

As casas eram vitorianas e brancas, com detalhes de gengibre e telhados

íngrimes. Tudo era extravagante e excessivo. Identifiquei a de Dante, número 12 na rua

Shore, que era tudo de parafuso, torres e empenas. A porta estava pintada de vermelho

com uma grande aldrava de bronze. Ignorei a aldrava e fui direto para a campainha,

apertando várias vezes. Se ele não se apressasse pra atender a porta...

Dante entreabriu a porta, demonstrando surpresa.

- Como encontrou esse lugar?

- Scott.

Ele franziu a testa.

- Não gosto que as pessoas apareçam na minha casa sem me comunicar antes. Muito

entra e sai soa como algo bem suspeitoso. E eu tenho vizinhos bem intrometidos.

- É importante.

Ele indicou a estrada com o queixo.

- Aquele monte de lixo que você dirige parece uma monstruosidade.

Não estava de bom humor para trocar insultos espirituosos. Se não conseguisse

colocar devilcraft pra dentro do meu sistema logo, pelo menos algumas gotas, o meu

coração ia sair do peito. Tanto que o meu pulso estava acelerado e estava ficando

dificil respirar. Estava tão sem ar que parecia que eu tinha passado a última hora

subindo uma montanha.

Disse a ele: - Mudei de opinião. Quero o devilcraft. como precaução. -

Acrescentei rapidamente. - Caso eu esteja em uma situação de inferioridade numérica

e precise.

Não conseguia me concentrar o suficiente para saber se meu raciocinio soava

meio lento. Manchas vermelhas centelhavam diante dos meus olhos. Desejava

desesperadamente secar o meu rosto, mas não queria atrair mais atenção pra minha

sudorese abundante.

Dante me deu uma olhada questionadora, que não consegui entender, por que

ele logo me levou para dentro de casa. Fiquei parada na entrada, olhando para as

paredes impecavelmente brancas e os exuberantes tapetes orientais. Um corredor

levava até a cozinha. A sala de jantar ficava a minha esquerda e a sala de estar, pintada

do mesmo vermelho que aparecia como manchas em frente aos meus olhos, a direita.

Pelo que podia ver, toda a mobília era antiga. Um lustre de gotas de cristal estava

pendurado em cima.

- Lindo. - Consegui dizer com uma voz engasgada, entre o meu pulso que batia

nervosamente e as minhas extremidades dormentes.

- A casa pertencia a alguns amigos. Eles me deixaram como testamento.

- Lamento que tenham morrido.

Entrou na sala de estar, e inclunou para o lado uma enorme pintura de um

celeiro revelando um cofre escondido na parede. Ele apertou o código e abriu a caixa.

- Aqui. É um novo protótipo. Incrivelmente concentrado, então tem que beber em

pequenas doses. - Ele advertiu. - Duas garrafas. Se decidir começar a tomar agora, deve

durar umas duas semanas.

Assegurei com a cabeça, tentando ocultar que a minha boca estava cheia de

água enquanto eu agarrava as garrafas com um azul intenso.

- Tem uma coisa que quero te dizer, Dante. Vou levar os Nephilins pra guerra. Então se

eu precisar de mais duas garrafas, eu posso usa-las. - Eu tinha toda a intenção de

contar a Dante sobre a minha intenção de ir para a guerra. Mas isso não significava que

eu fiz isso com a intenção de que ele me desse mais devilcraft, parecia uma manobra

arriscada, mas estava muito faminta para sentir algo mais do que uma pontada de

culpa.

- Guerra? - Repetiu Dante, parecendo surpreso. - Tem certeza?

- Pode dizer aos Nephilins superiores que eu estou elaborando alguns planos contra os

anjos caídos.

- Essa é... uma notícia genial. - Disse Dante ainda parecendo confuso, equanto colocava

uma garrafa extra de devilcraft nas minhas mãos. - O que te fez mudar de opinião?

- Uma transformação do coração. - Disse a ele, por que pensei que soava bem. - Não

só estou liderando os Nephilins, como sou uma deles.

Dante me acompanhou até a porta, e caminhar calmamanete até o volkswagem

tomou cada grama de controle que eu tinha dentro de mim. Fiz uma despedida curta, e

logo dei a volta na esquina, estacionei imediatamente e tirei a tampa da garrafa. Estava

quase tomando quando meu telefone tocou com o toque de Patch e me assustou,

espirrando o líquido azul no meu colo.

Se evaporou em um instante, subindo no ar como a fumaça de um fogo

apagado. O amaldiçoei em voz baixa, furiosa por perder algumas gotas preciosas.

- Oi? - Respondi, as manchas vermelhas beiravam a minha visão.

- Não gosto de te encontrar na casa de outro homem, anjo.

Imediatamente olhei para os dois lados da janela. Coloquei o devilcraft embaixo do

banco do carro.

- Onde você tá?

- Três carros atrás.

Meus olhos voaram para o espelho retrovisor. Patch se balançou para fora da

moto e veio na minha direção com o telefone na orelha. Limpei o rosto com a manga

da camisa.

Abaixei o vidro.

- Está me seguindo? - Perguntei pra ele.

- Dispositivo de rastreamento.

Estava começando a odiar essa coisa. Patch apoiou o braço no teto do carro, se

inclinando para frente.

- Quem mora na rua Shore?

- Esse dispositivo de rastreamento é bastante específico.

- Só compro as melhores coisas.

- Dante mora no numero 12 da rua Shore. - Não tinha sentido mentir quando parecia

que ele já tinha feito sua própria investigação.

- Não gosto de te encontrar na casa de outro homem, mas odeio te encontrar na sua

também. - Sua expressão era tranquila o suficiente, mas sabia que ele queria uma

explicação.

- Precisava confirmar nosso horário de treinamento para amanhã de manhã. Estava

perto e pensei que podia dar uma volta por aqui. - A mentira saiu fácil, fácil. Tudo o

que eu podia pensar agora era me livrar de Patch. Minha garganta se enchia com o

sabor do Devilcraft. Suspirei com impaciência.

Gentilmente, Patch empurrou meus óculos de sol por cima do meu nariz , se

inclinou pela janela e me beijou.

- Estou indo investigar mais algumas pistas daquele chantagista do Pepper. Precisa de

alguma coisa antes que eu vá embora? - Neguei com a cabeça. - Se precisar conversar,

sabe que eu tô aqui pra você. - Acrescentou em voz baixa.

- Falar sobre o que? - Perguntei na defensiva. Será que ele sabia sobre o devilcraft?

Não, não sabia.

Ele me estudou por um momento.

- De qualquer coisa.

Esperei até que Patch fosse embora para beber um ganancioso gole de cada

vez, até que estivesse satisfeita.

CAPÍTULO

20

A NOITE DE QUINTA CHEGOU, E COM ELA, A COMPLETA TRANSFORMAÇÃO DA

CASA DA FAZENDA. Guirlandas de folhas de outono em vermelho, dourado e castanho,

derramadas fora do beiral. Sacas de espigas de milho secas emolduravam a porta.

Parecia que Marcie tinha comprado cada abóbora de toda Maine, e as alinhou ao longo

de toda calçada, a garagem e cada centímetro quadrado da varanda. Foram esculpidas

algumas lanternas de abóbora, piscando luz de velas em suas expressões assustadoras.

Uma parte vingativa de mim queria dizer que uma loja de artesanato tinha sido jogada

em nosso gramado, mas na verdade ela tinha feito um bom trabalho.

Dentro, música assombrada tocava do aparelho de som. Caveiras, morcegos,

teias de aranha e fantasmas se confundiam com os móveis. Marcie tinha alugado uma

máquina de gelo seco – como se nós não tivéssemos neblina de verdade o suficiente

no jardim.

Eu tinha duas sacolas de papel nos meus braços cheias de itens que última hora

que estavam faltando, e eu os levei até a cozinha.

- “Voltei!!” eu gritei. “Copos plásticos, um saco de anéis de aranha, dois sacos de gelo,

e mais confetes de esqueleto – como você pediu. A soda ainda está no porta malas.

Algum voluntário pra me ajudar a trazê-las para dentro?”

Marcie escorregou do quarto, e eu fiz meu queixo cair. Ela usava um sutiã de

vinil preto e calças legging correspondentes. Nada mais. Suas costelas apareciam

através de sua pele e ela tinha coxas que nem palitos de picolé. “Coloque a soda na

geladeira, o gelo no freezer, e espalhe os confetes de esqueleto na mesa de jantar, mas

não deixe cair na comida. Só isso por enquanto. Esteja por perto caso eu precise de

mais alguma coisa. Eu tenho que terminar minha fantasia.”

- “Bem, isso é um alívio. Por um minuto, eu achei que isso fosse tudo que você estava

planejando usar.” Eu disse, gesticulando para o vinil acanhada.

Marcie olhou para baixo. “E é. Eu sou a Mulher Gato. Eu só preciso colar as

orelhas de feltro preto na minha cabeça.

- “Você vai usar sutiã na festa? Só sutiã?”

- “Um top.”

Oh, essa vai ser boa. Mal posso esperar pelo comentário da Vee. “Quem é o

Batman?”

- “Robert Boxler.”

- “Então isso significa que Scott se salvou?” Essa era mais uma pergunta retórica.

Apenas para dar uma facada notória na uma reviravolta.

Marcie deu de ombros numa caminhada pouco pomposa. “Que Scott?” ela

disse, e marchou escada acima.

- “Ele escolheu Vee ao invés de você!” Eu disse triunfantemente atrás dela.

- “Eu não ligo.” Marcie cantou de volta. “Você provavelmente fez a cabeça dele. Não é

segredo que ele faz tudo o que você diz. Coloque a soda na geladeira antes da virada

do século.”

Eu dei língua para ela, mesmo sabendo que ela não podia ver. “Eu tenho que me

aprontar também, você sabe!”

Às 19:00 os primeiros convidados chegaram. Romeu e Julieta, Cleopatra e Mark

Anthony, Elvis e Priscila. Até mesmo vidros de ketchup e mostarda passeavam pela

porta da frente. Eu deixei Marcie bancar a anfitriã e fui para a cozinha, empilhando no

meu prato ovos cozidos, coquetel de salsichas e milho doce. Eu estava muito ocupada

concedendo as ordens pré-festa de Marcie para jantar. Isso, e a nova fórmula de

devilcraft que Dante tem me dado, parecia reduzir meu apetite após as primeiras horas

que eu tomava.

Eu tinha feito um trabalho razoavelmente bom racionando isso e ainda tinha o

suficiente para os próximos dias. Os suores noturnos, dores de cabeça e estranhas

sensações de formigamento que me apanhavam nos momentos mais estranhos

quando eu comecei a tomar a nova fórmula tinham ido embora. Eu tinha certeza que

isso significava que os perigos do vício tinham passado e eu tinha aprendido a usar

devilcraft seguramente. Moderação era a chave. Blakely pode ter tentado me ligar ao

devilcraft, mas eu era forte o suficiente para definir meus próprios limites.

Os efeitos do devilcraft eram inacreditáveis. Eu nunca tinha me sentido tão

excepcional fisicamente e mentalmente. Eu sabia que eu teria que parar de tomar isso

eventualmente, mas com o estresse, perigos do Cheshvan e a guerra iminente, eu

estava alegre de eu estar sendo cautelosa. Se mais algum dos meus duvidosos

soldados nephilins me atacasse, dessa vez eu estaria preparada.

Depois de me encher de aperitivos e Sprite servida em um caldeirão preto, eu

acotovelei o caminho até a sala de estar, procurando ver se Vee e Scott tinham

chegado. As luzes tinham esmaecido, todos estavam fantasiados, e eu tinha dificuldade

em encontrar rostos na multidão. Mais, eu espiei a lista de convidados. Foi fortemente

ponderada em favor dos amigos de Marcie.

- “Adorei a fantasia, Nora. Mas você não passa de um demônio.”

Olhei para o lado para Morticia Addams. Eu olhei confusa, e depois sorri. “Oh,

hey, Bailey. Quase não te reconheci com o cabelo preto.” Bailey sentava do meu lado

na aula de matemática, e nós éramos amigas desde o ginásio. Eu peguei minha cauda

de diabo, com uma pequena pontinha no fim, para salvá-la do cara atrás de mim, que

ficava acidentalmente pisando nela, e disse, “Obrigada por vir esta noite.”

- “Você terminou o dever de matemática? Eu não entendi nada do que o Sr. Huron

tentou nos ensinar hoje. Toda vez que ele começava a resolver um problema no

quadro, ele parava na metade, apagava o que tinha feito, e começava de novo. Eu acho

que ele não sabe o que está fazendo.”

- “Yeah, provavelmente vou passar horas fazendo isso amanhã.”

Os olhos dela se iluminaram. “Nós devíamos nos encontrar na biblioteca e fazer

juntas.”

- “Eu prometi pra minha mãe que limparia o celeiro depois da escola.” Eu encobri.

Verdade seja dita, dever de casa tinha se esvaído da minha lista de prioridades para

fazer mais tarde. Era difícil me preocupar com a escola quando eu temia que qualquer

dia agora o sinistro cessar fogo entre anjos caídos e nephilins estourasse. E eu daria

qualquer coisa para descobrir qual.

- “Oh. Talvez da próxima vez.” Bailey disse, soando desapontada.

- “Você viu Vee?”

- “Ainda não. De quem que ela vem?”

- “De babá. Seu par é Michael Myers de Haloween.” Eu expliquei. “Se você a vir, Diga

que eu a estou procurando.”

Quando eu atravei a sala de estar, eu esbarrei em Marcie e seu par, Robert,

Boxler.

- “Como está a comida?” Marcie me perguntou autoritariamente.

- “Minha mãe está cuidando disso.”

- “Música?”

- “Derrick Coleman é o DJ.”

- “Você está trabalhando na multidão? Todos estão se divertindo?”

- “Acabei de terminar a ronda.” Mais ou menos.

Marcie me olhou com criticismo. “Onde está seu par?”

- “Isso importa?”

- “Eu soube que você está namorando um cara novo. Fiquei sabendo que ele não vai à

escola. Quem é ele?”

- “Quem te disse isso?” O boato sobre Dante e eu estava rolando afinal de contas.

- “Isso importa?” ela repetiu sarcasticamente. Ela torceu o nariz em desgosto. “Do quê

você está vestida?”

- “Ela é uma diaba.” Robert disse. “Tridente, chifres e vestido vermelho de vampiro.”

- “Não esqueça as botas pretas de combate,” eu disse, mostrando-as. Eu tinha que

agradecer a Vee por elas, assim como pelos laços vermelhos de glitter.

- “Estou vendo.” Marcie disse. “Mas o tema da festa são casais famosos. Um diabo não

sai com ninguém.”

Foi quando Patch apareceu na porta da frente. Tive que conferir duas vezes para

ter certeza de que era ele. Eu não esperava que ele viesse. Nós não tínhamos resolvido

nossa briga, e eu orgulhosamente me recusei a dar o primeiro passo, me forçando a

trancar meu celular em uma gaveta toda vez que eu era seduzida a ligar para ele e me

desculpar, apesar da minha crescente angustia dele nunca ligar também. Meu orgulho

imediatamente se transformou em alívio quando o vi. Eu odiava brigar. Eu odiava não

ter ele por perto. Se ele estava disposto a consertar isso, eu também estava.

Um sorriso iluminou meu rosto quando vi a fantasia dele: jeans escuros, camisa

preta e máscara preta. Este último ocultava tudo menos seu semblante fresco e

taxativo.

- “Lá está meu par.” Eu disse. “Elegantemente atrasado.”

Marcie e Robert se viraram. Patch me deu um pequeno aceno e colocou a

jaqueta de couro em uma pobre novata que Marcie tinha enganado com a tarefa de

pegar os casacos. O preço que algumas garotas pagariam para ir a uma festa dos

populares era quase vergonhoso.

- “Não é justo,” Robert disse tirando sua máscara de Batman. “O cara não se aprontou.”

- “O que quer que você faça, mas não chame ele de ‘cara’.” Eu disse para Robert,

sorrindo para Patch enquanto ele fazia seu caminho.

- “Eu conheço ele?” Marcie perguntou. “Quem ele deveria ser?”

- “Ele é um anjo,” Eu disse. “Um anjo caído.”

- “Não é com isso que um anjo caído se parece!” Marcie protestou.

Mostra o quanto você sabe. Eu pensei, enquanto Patch pendurou seu braço em volta

do meu pescoço e me puxou para um beijo leve.

‘Tenho sentido sua falta, ’ Ele falou nos meus pensamentos.

‘Sinto o mesmo. Não vamos mais brigar. Podemos deixar isso pra trás?’

‘Considere feito. Como está indo a festa?’ Ele perguntou.

‘Eu ainda não quis pular do telhado.’

‘Estou feliz em ouvir isso.’

- “Oi,” Marcie disse para Patch, o tom dela mais galanteador do que eu poderia

imaginar com o par dela a centímetros de distância.

- “Hey,” Patch retornou, estendendo o reconhecimento com um breve aceno.

- “Eu conheço você?” ela perguntou, inclinando a cabeça curiosamente para o lado.

“Você vai ao Coldwater High School?”

- “Não.” Ele disse sem elaborar.

- “Então como você conhece Nora?”

- “Quem não conhece Nora?” ele retornou suavemente.

- “Esse é meu par, Robert Boxler,” Marcie disse a ele com um ar de superioridade. “Ele é

o quarterback do time de futebol.”

- “Impressionante.” Patch respondeu, seu tom educado o suficiente para retornar se

estivesse interessado. “Como está a temporada, Robert?”

- “Nós temos tido uns jogos difíceis, mas não é nada que não possamos nos

recuperar.” Marcie cortou, dando tapinhas no peito de Robert consoladoramente.

- “Qual academia você frequenta?” Robert perguntou a Patch, olhando o físico dele

com admiração. E inveja.

- “Não tenho tido muito tempo ultimamente para academia.”

- “Bom, você está ótimo, man. Se você quiser levantar pesos com alguém, me chame.”

- “Boa sorte com o restante da temporada,” Patch disse a Robert, dando a ele um

daqueles apertos de mão complicados que todos os garotos parecem saber

institivamente.

Patch e eu fomos vagamos para dentro da casa, nos enrolando através dos

corredores e quartos, tentando encontrar um canto isolado. No fim das contas ele me

puxou para o lavabo, chutou a porta fechando-a, e a trancou. Ele se inclinou para mim

contra a parede e passou o dedo em uma das minhas orelhas vermelhas de diabo, seus

olhos profundamente negros com o desejo.

- “Bela fantasia,” ele disse.

- “Idem. Posso dizer que você pensou muito na sua.”

Ele curvou a boca em divertimento. “Se você não gosta, eu posso tirar.”

Eu bati no meu queixo pensativamente. “Essa deve ser a melhor proposta que eu tive

esse noite.”

- “Minhas ofertas sempre são as melhores, Anjo.”

- “Antes da festa começar, Marcie me pediu para amarrar a parte de trás de seu traje de

Mulher Gato.” Eu levantei e abaixei minhas mãos com um gesto de peso. “Entre as duas

ofertas, é uma decisão difícil.”

Patch tirou a máscara dele e sorriu suavemente no meu pescoço, colocando

meu cabelo atrás dos meus ombros. Ele tinha um cheiro incrível. Ele era caloroso,

sólido e muito próximo. Meu coração batia mais rápido, espremendo com a culpa. Eu

tinha mentido para Patch. Eu não podia esquecer. Eu fechei meus olhos, deixando a

boca dele explorar a minha, tentando me perder no momento. Durante todo tempo, as

mentiras batiam, batiam, batiam, em minha cabeça. Eu tinha tomado devilcraft, e tinha

enganado a mente dele. Eu ainda estava tomando devilcraft.

- “O problema da sua fantasia é, que não esconde sua identidade muito bem.” Eu disse,

me afastando. “E nós não deveríamos ser vistos juntos em público, lembra?”

- “Apenas parei por um minuto. Não podia perder a festa da minha garota.” Ele

murmurou. Ele abaixou sua cabeça e me beijou de novo.

- “Vee ainda não está aqui,” eu disse. “Tentei o celular dela. E o de Scott. Fui

encaminhada para o correio de voz nas duas vezes. Eu devo me preocupar?”

- “Talvez eles não queiram ser incomodados,” ele falou no meu ouvido, sua voz

profunda e grave. Ele puxou meu vestido mais pra cima da minha perna, acariciando

seu polegar sobre minha coxa nua. O calor se sua carícia anulou o peso da minha

consciência. A sensação me fez estremecer. Fechei meus olhos de novo, dessa vez

involuntariamente. Todos os nós soltos. Minha respiração era um pouco mais rápida.

Ele sabia como me tocar.

Patch me levantou para a borda da pia, com as mãos espalmadas sob meus

quadris. Eu fiquei calorosa e tonta por dentro, e quando ele colocou sua boca na

minha, eu podia jurar que saíram faíscas. O toque dele me queimava com paixão. O

palpitante, inebriante calor líquido de estar perto dele nunca envelhecia, não importa

quantas vezes nos tocamos, flertamos ou beijamos. Se qualquer coisa, que se

intensificou com essa faísca elétrica. Eu queria Patch, e eu não confiava em mim mesma

quando eu queria.

Eu não sei quanto tempo a porta do banheiro ficou aberta antes que eu

percebesse. Eu me afastei de Patch, com a boca aberta. Minha mãe ficou como uma

sombra na entrada, resmungando sobre como a fechadura nunca tinha funcionado

corretamente, e ela estava querendo consertar há séculos, quando seus olhos se

ajustaram à escuridão, porque ela parou a meia desculpa.

Sua boca se fechou. Seu rosto empalideceu... então corou em um profundo,

vermelho escaldante. Eu nunca a havia visto tão enfurecida. “Fora!” ela apontou seu

dedo longe. “Fora da minha casa nesse instante, e não pense em voltar, ou tocar na

minha filha de novo!” ela sibilou para Patch, pálida.

Eu saltei da pia. “Mãe – “

Ela se virou para mim. “Nenhuma palavra de você!” ela balbuciou. “Você disse

que tinha terminado com ele. Você disse que esse – esse lance – entre você e ele –

tinha acabado. Você mentiu para mim!”

- “Eu posso explicar,” eu comecei, mas ela tinha se voltada para Patch.

- “É isso que você faz? Seduz moças jovens em suas próprias casas, com as suas mães a

metros de distância? Você deveria se envergonhar de si próprio!”

Patch entrelaçou sua mão na minha, agarrando-a firmemente. “Pelo contrário, Blythe.

Sua filha é tudo para mim. Completamente e totalmente. Eu a amo – é simples assim.”

Ele falou calma e seguramente, mas seu maxilar estava tão rígido como se fosse

esculpido de pedra.

- “Você destruiu a vida dela! No momento que ela te conheceu, tudo desmoronou.

Você pode negar o quanto quiser, mas eu sei que você estava envolvido no sequestro

dela. Saia da minha casa.” Ela rosnou.

Eu me agarrei à mão de Patch ferozmente, murmurando ‘Sinto muito, muito

mesmo’ de novo, e de novo, na mente dele. Eu passei a vista trancada contra minha

vontade numa cabana distante. Hank Millar foi o mentor da minha prisão, mas minha

mãe não sabe disso. A mente dela ergueu uma muralha em volta das lembranças dele,

prendendo tudo de bom, e jogando fora o resto. Eu culpava Hank, e culpava o

devilcraft. Ela colocou na cabeça que Patch tinha sido responsável pelo meu sequestro,

e isso era tão verdade para ela como o nascer do sol de manhã.

- “Eu deveria ir,” Patch me disse, dando em minha mão um aperto tranquilizador. ‘Te

ligo mais tarde’, ele adicionou privadamente em meus pensamentos.

- “Eu acho que sim!” minha mãe retrucou, os ombros subindo com o esforço de

respirar pesadamente.

Ela deu um passo para o lado, permitindo que Patch saísse, mas fechou a porta antes

que eu pudesse escapar.

- “Você está de castigo.” Ela disse com voz de ferro. “Aproveite a festa enquanto ela

dura, pois este vai ser seu último evento social por um bom, bom tempo.”

- “Você está mesmo interessada em me ouvir?” eu atirei de volta, enfurecida pelo

modo como ela havia tratado Patch.

- “Eu preciso de um tempo para esfriar. É de seu interesse me dar algum espaço. Posso

estar com espírito para falar amanhã, mas essa é a última coisa em que estou

interessada agora. Você mentiu para mim. Você agiu pelas minhas costas. Pior, eu tive

que encontrar você tirando sua roupa com ele no nosso banheiro. Nosso banheiro! Ele

quer uma coisa de você, Nora, e ele vai levar para onde quer que possa conseguir. Não

há nada de especial em perder sua virgindade num banheiro.”

- “Eu não estava – nós não estávamos – minha virgindade?” Eu balancei minha cabeça e

fiz um gesto de aversivo. “Esquece. Você está certa – você não quer ouvir. Você nunca

quer. Não quando se trata de Patch.”

- “Está tudo bem aqui?”

Minha mãe e eu nos viramos para encontrar Marcie do lado de fora da porta. Ela

segurava um caldeirão vazio nos braços e atrelou seus ombros se desculpando.

“Desculpe interromper, mas ficamos sem olhos de monstro, também conhecidos como

uvas sem casca.”

Minha mãr colocou um pouco de cabelo no rosto dela, tentando se recompor.

“Nora e eu estávamos terminando. Eu posso ir até a loja rapidinho comprar umas uvas.

Mais laguma coisa que tenhamos pouco?

- “Molho de queijo nacho,” Marcie disse numa tímida voz de ratinho, como se ela

odiasse impor a bondade da minha mãe. “Mas você realmente não precisa se

preocupar. Quero dizer, é só molho de queijo nacho. Não haverá nada para

acompanhar os salgadinhos, claro, e é o meu favorito, mas realmente e

verdadeiramente – não é grande coisa.” Um pequeno suspiro escapou dela.

- “Ótimo. Uvas e molho nacho. Mais alguma coisa?” minha mãe perguntou.

Marcie abraçou o caldeirão e sorriu. “Não, é só isso.”

Minha mãe pescou as chaves no bolso e saiu, cada movimento seu duro e

rígido. Marcie, no entanto, ficou.

- “Você sempre pode enganar a mente dela, sabe. Fazer ela pensar que Patch nunca

esteve aqui.”

Eu voltei os olhos frios para Marcie. “O quanto você ouviu?”

- “O bastante para saber que você está em uma profunda encrenca.”

- “Eu não vou enganar a mente da minha própria mãe.”

- “Se você quiser, eu posso falar com ela.”

Eu soltei um riso. “Você? Minha mãe não pro que você acha, Marcie. Ela pegou você

sob alguma forma equivocada de hospitalidade. E provavelmente para provar alguma

coisa para sua mãe. A única razão para você estar vivendo debaixo desse teto é que é

assim que minha mãe pode jogar na cara da sua mãe: ela era a melhor amante, agora

ela é a melhor mãe.” Era uma coisa horrível de se dizer. Tinha soado melhor na minha

cabeça, mas Marcie não me deu tempo de alterar minha declaração.

- “Você está tentando fazer me sentir mal, mas não vai funcionar. Você não vai arruinar

minha festa.” Mas eu acho que vi a oscilação em seu lábio. Com uma inspiração, ela

parecia se recompor.

De repente, como se não tivesse acontecido, ela disse numa voz bizarramente

alegre. “Eu acho que é hora de jogar Bob-for-a-Date.”

- “Bob o quê?”

- “É como pegar maçãs, exceto que cada maçã tem o nome de alguém da festa

atrelado. Quem quer que você tire é seu próximo encontro às cegas. Nós jogamos todo

ano na minha festa de Halloween.”

Eu fiz uma careta. Nós não tivemos essa ideia do jogo de antemão. “Parece brega.”

- “É um encontro às cegas, Nora. E já que você está de castigo pela eternidade, o que

você tem a perder?” Ela me puxou para a cozinha, em direção à gigante banheira de

água com maçãs vermelhas e verdes flutuando nela. “Hey, todo mundo, ouçam!”

Marcie chamou por cima da música. “Hora de jogar Bob-for-a-Date. Nora Grey vai

primeiro.”

Aplausos eclodiram através da cozinha, junto com vaias e alguns gritos e

assobios de incentivo. Fiquei ali, com a boca movendo-se, mas sem emitir palavras,

amaldiçoando Marcie fluentemente em minha mente.

- “Eu não acho que eu seja a melhor pessoa para isso.” Eu gritei por cima do barulho.

“Posso passar?”

- “Sem chance.” Ela me deu o que parecia um empurrou brincalhão, mas foi forte o

bastante para me fazer cair de joelhos em frente à banheira de maçãs.

Eu lancei para ela um olhar de pura indignação. Eu vou fazer você pagar por isso, eu

disse a ela.

- “Puxe o cabelo pra trás. Ninguém quer desagradáveis cabelos dispersos flutuando na

água.”

De acordo, a multidão rugiu um coletivo “Booo!”

- “Maçãs vermelhas correspondem aos nomes dos meninos,” Marcie adicionou. “Maçãs

verdes das meninas.”

Tudo bem! Tanto faz! Apenas acabe logo com isso, eu disse para mim mesma. Não

era como se eu tivesse alguma coisa a perder: começando amanhã, eu estava de

castigo. Não haveriam encontros às cegas no meu futuro, com jogo ou sem.

Eu mergulhei meu rosto na água fria. Meu rosto esbarrou em uma maçã após a

outra, eu não podia afundar meus dentes em nenhuma delas. Eu subi para pegar ar, e

meus ouvidos zumbiam com vaias e assobios zombeteiros.

- “Me deem um tempo,” eu disse. “Eu não tenho feito isso desde os 5 anos. Isso já diz

muito sobre esse jogo!” eu adicionei.

- “Nora não tem um encontro às cegas desde que ela tinha 5 anos,” Marcie disse,

interpretando mal o que quis dizer e acrescentando seu próprio comentário.

- “Você será a próxima,” eu disse a Marcie, encarando-a de joelhos.

- “Se houver próxima. Me parece que você vai ficar sugando o rosto com maçãs a noite

toda,” ela retornou docemente, e a multidão gritou em diversão.

Eu mergulhei minha cabeça na banheira, atirando meus dentes nas maçãs. Água

caiu sobre a borda, encharcando a frente da minha fantasia vermelha de diabo.

Cheguei bem perto de pegar uma maçã com a mão e apertá-la em minha boca, mas

percebi que Marcie desqualificaria o movimento. Eu não estava com disposição para

fazer tudo de novo. Assim como eu estava prestes a subir para pegar outro fôlego,

meus dentes da frente prenderam uma maçã vermelho sangue.

Eu surgi, sacudindo a água do meu cabelo ao som de aplausos e mais aplausos.

Eu joguei a maçã na Marcie e agarrei uma toalha, acariciando meu rosto para secá-lo.

- “E o sortudo que conseguiu um encontro às cegas com nossa rata afogada aqui é...”

Marcie retirou um tubo selado do miolo da maçã. Ela desenrolou o papel que estava

dentro do tubo, e enrugou o nariz. “Baruch? Só Baruch? Ela pronunciava tipo Bar-ooch.

“Estou falando certo?” Ela perguntou ao público.

Nenhuma resposta. As pessoas já estavam indo embora agora que o

entretenimento imediato havia acabado. Eu estava agradecida que Bar-ooch, seja lá

quem ele fosse, parecia ser uma inscrição falsa. Ou isso, ou ele estava muito

envergonhado de ter um encontro comigo.

Marcie me encarou, como se esperasse que eu conhecesse o rapaz.

- “Ele não é um dos seus amigos?” perguntei a ela enquanto eu torcia as pontas do

meu cabelo na toalha.

- “Não. Achei que fosse um dos seus.”

Eu estava a ponto de imaginar se esse seria mais um de seus jogos bizarros,

quando as luzes da casa piscaram. Uma vez, duas vezes, então elas se apagaram

completamente. A música desapareceu no silêncio assustador. Houve um momento de

confusão assustada e, em seguida, a gritaria começou. Perplexos e confusos no início,

aumentando a nota para arrepiar os cabelos de terror. Os gritos antecederam o

barulho inconfundível de corpos sendo jogados contra as paredes da sala.

- “Nora!” Marcie chorou. “O que está acontecendo?”

Eu não tive a chance de responder. Apenas uma força invisível me fazia recuar um

passo, paralisando-me. Uma energia fria e nítida enrolava o meu corpo. O ar estalava e

flexionava com o poder de vários anjos caídos. Sua súbita aparição na casa da fazendo

era tão tangível como uma rajada de vento ártico. Eu não sabia quantos eram, ou o que

eles queriam, mas eu podia senti-los entrar mais profundamente para dentro da casa,

espalhando para preencher todos os quartos.

- “Nora, Nora. Saia para brincar.” Uma voz masculina cantou. Estranha e

assustadoramente falsa.

Eu dei duas respirações superficiais. Pelo menos agora eu sabia o que eles

queriam.

- “Eu vou te achar minha querida, meu bichinho,” ele continuou a cantarolar em uma

voz fria.

Ele estava perto, bem perto. Eu me rastejei atrás do sofá da sala, mas alguém

chegou antes de mim no esconderijo.

- “Nora? É você? O que está acontecendo?” Andy Smith me perguntou. Ele sentava

duas cadeiras atrás de mim em matemática e era amigo da Marcie, namorado da

Addyson. Eu podia sentir o calor de seu suor transpirando.

- “Quieto.” Eu o instruí suavemente.

- “Se você não vier até mim, eu vou até você.” O anjo caído cantou.

Seu poder mental me cortava como uma faca quente. Engoli em seco enquanto

ele se sentia dentro da minha mente, sondando todas as direções, analisando meus

pensamentos para determinar onde eu estava escondida. Levei paredes e mais paredes

para detê-lo, mas ele passava por elas como se eu tivesse as construído de poeira.

Tentei me lembrar de cada mecanismo de defesa que Dante havia me ensinado contra

invasão de mente, mas o anjo caído se moveu muito rápido. Ele sempre estava dois –

perigosos – passos a frente. Um anjo caído nunca teve esse efeito em mim antes. Havia

apenas uma maneira de descrevê-lo. Ele estava dirigindo toda sua energia mental em

mim através de uma lente de aumento, ampliando o efeito.

Sem aviso, um brilho laranja queimou minha mente. Uma grande fornalha de

energia explodiu pela minha mente. Eu sentia que o calor disso derreteria minhas

roupas. Chamas crepitavam através do tecido, limpando minha pele com um tormento

quente. Em uma agonia inimaginável, eu me enrolei em uma bola. Eu coloquei minha

cabeça entre os joelhos, rangendo os dentes para não gritar. O fogo não era real. Tinha

que ser um engana – mente. Mas eu realmente não acredito nisso. O calor fervia tanto,

que eu realmente tinha certeza de que ele tinha acendido fogo em mim.

- “Pare!” Eu finalmente chorei, me lançando para o exterior e me contorcendo no chão

– qualquer coisa para sufocar as chamas devorando minha carne.

Naquele instante, o calor ardente desapareceu, apesar de eu não ter visto a

água que com certeza tinha apagado ele. Eu deitei de costas, meu rosto banhado de

suor. Doía respirar.

- “Saiam todos,” o anjo caído comandou.

Eu quase havia esquecido que tinham outras pessoas na sala. Eles nunca

esqueceriam isso. Como poderiam? Eles entendiam o que estava acontecendo? Eles

sabiam que isso não era encenado para a festa? Eu rezei para que alguém fosse buscar

ajuda. Mas a casa da fazenda era muito remota. Levaria tempo para trazer ajuda.

E a única pessoa que poderia ajudar era Patch, e não havia como eu alcançar

ele.

Pernas e pés se embaralhavam pelo chão, correndo para a saída. Andy Smith se

esquivou de trás do sofá e saiu freneticamente pela porta.

Eu levantei minha cabeça apenas alto o bastante para ver o anjo caído. Estava

escuro, mas eu vi uma silhueta imponente, esquelética e seminua. E dois olhos

selvagens e brilhantes.

O anjo caído com peito nu do Devil’s Handbag e da floresta me observou. Seus

hieróglifos desfigurados pareciam contrair e relaxar sobre sua pele, como se fosse

ligado por fios invisíveis. Na verdade, eu tinha certeza que elas se moviam conforme

sua respiração. Eu não podia tirar meus olhos do seu ferimento, pequeno e bruto em

seu peito.

- “Eu sou Baruch.” Ele pronunciou Bar-rewk.

Eu fugi para o canto da sala, fazendo uma careta de dor.

- “Cheshvan começou, e eu não tenho um vassalo nephil.” Ele disse. Ele manteve seu

tom coloquial, mas não havia brilho em seus olhos. Nenhum brilho, nenhum calor.

Tanta adrenalina fez minhas pernas se sentirem inquietas e pesadas. Eu não

tinha muitas opções. Eu não tinha força o suficiente para passar por ele. Eu não poderia

lutar com ele – se eu tentasse, ele chamaria seus colegas e eu estaria em desvantagem

em segundos. Eu amaldiçoei minha mãe por ter expulsado Patch. Eu precisava dele. Eu

não poderia fazer isso sozinha. Se Patch estivesse aqui, eu saberia o que fazer.

Baruch traçou sua língua da parte de dentro do seu lábio. “A líder do exército

do Mão Negra, e o que eu vou fazer com ela?”

Ele mergulhou na minha mente. Eu o sentia fazer isso, mas eu estava impotente

para evitar isso. Eu estava muito exausta para lutar. A última coisa que eu sabia, era que

eu tinha rastejado obedientemente e deitado nos seus pés como um cachorro. Ele

chutou minhas costas, olhando predatoriamente para mim. Eu queria negociar com ele,

mas meus dentes estavam cerrados com tanta força, que era como se minha

mandíbula tivesse sido costurada.

Você não pode discutir comigo, ele assobiou hipnoticamente na minha mente. Você

não pode me recusar. O que quer que eu mande, você deve fazer.

Eu tentei sem sucesso impedir a entrada da voz dele. Se eu pudesse quebrar

esse controle, eu poderia revidar. Era minha única chance.

- “Como é a sensação de se um nephil novo?” ele murmurou numa voz fria e de

desprezo. “O mundo não é lugar para um nephil sem um mestre. Eu vou te proteger de

outros anjos caídos, Nora. De agora em diante, você pertence a mim.”

- “Eu não pertenço a ninguém.” Eu cuspi, as palavras saindo de mim com um esforço

extenuante.

Ele exalou, lento e deliberado. Saiu como um castigo assobiado entre os dentes.

“Eu vou te quebrar meu bichinho. Apenas veja se não vou.” Ele rosnou.

Eu olhei para ele. “Você cometeu um grande erro vindo aqui esta noite, Baruch.

Você cometeu um grande erro vindo atrás de mim.”

Ele sorriu, um flash de afiados dentes brancos. “Eu vou gostar disso.” Ele deu

um passo mais perto, poder irradiando dele. Ele era quase tão forte como Patch, mas

ahavia uma ponta sanguinária em seu poder que eu nunca tinha sentido com Patch. Eu

não sabia há quanto tempo Baruch tinha caído do Céu, mas eu sabia que, sem sombra

de dúvidas ele havia se entregado ao mal, de todo coração.

- “Faça seu juramento de fidelidade, Nora Grey.” Ele ordenou.

CAPÍTULO

21

NÃO IA FAZER O JURAMENTO. E NÃO IA PERMITIR QUE ELE TIRASSE PALAVRAS DA

MINHA BOCA. Não importava quanta dor ele impusesse sobre mim, eu ia ficar forte. Mas

uma defesa resistente não seria suficiente para suportar isso. Precisava de uma

ofensiva, e rápido.

Compense os truques da mente dele com os seus, ordenei a mim mesma.

Dante havia me dito que os truques da mente eram a minha melhor arma. Ele tinha

dito que eu era melhor nisso do que quase todos os Nephils que ele conhecia. Eu tinha

enganado Patch. E ia enganar Baruch agora. Criaria minha própria realidade e colocaria

com tanta força dentro da cabeça dele, que ele não ia sabr o que tinha golpeado ele.

Apertando os olhos fechados para bloquear os cantos corruptos de Baruch

ordenando que eu fizesse o juramento, me lancei para dentro da cabeça dele. Minha

maior segurança vinha de saber que eu tinha consumido o devilcraft hoje de manhã.

Não confiava na minha própria força, mas o devilcraft me convertia em uma versão

mais forte de mim mesma. Incrementava meus talentos naturais, incluindo minhas

aptidões para truques mentais.

Voei pelos corredores escuros e torcidos da mente de Baruch, plantando uma

explosão depois da outra. Trabalhei o mais rápido que pude, sabendo que se

cometesse um erro, dava ele uma razão para pensar que estava contruindo seus

pensamentos, se deixasse uma evidencia da minha presença...

Escolhi a única coisa que sabia que poderia deixar Baruch alarmado. Nephilin.

<< O exército de Mão Negra. >> Pensei explosivamente na cabeça de Baruch. Enchi

seus pensamentos com uma imagem de Dante entrando rapidamente na casa, seguido

de 20, 30, ou 40 nephilins. Coloquei a imagem do olhar enfurecido e os punhos

apertados dos soldados em seu subconciente. Para deixar mais convincente, fiz com

que Baruch visse os seus homens sendo arrastados pelos nephilins.

Apesar de tudo isso, senti a resistencia de Baruch. Ele se manteve colodo no

mesmo lugar, não reagindo como deveria por estar rodeado de Nephilins. Temi que

ele suspeitasse que tinha alguma coisa errada e fui em frente.

<< Se meche com a nossa líder, meche com a gente também, com todos nós. >>

Lancei as palavras venenosas de Dante na mente de Baruch. << Nora não vai jurar

lealdade agora. Nem agora, nem nunca. >>

Criei uma imagem do Dante pegando um poker lareira, e fundindo nas

cicatrizes das asas de Baruch. Coloquei a imagem bem nítida dentro da cabeça dele.

Escutei Baruch cair de joelhos antes de abrir os meus olhos. Ele estava de

quatro, com os ombros encolhidos. Uma expressão de choqu dominava suas feições.

Seus olhos estavam vidrados e saliva saia do canto da boca dele. Suas mãos se

deslizaram para as costas, agarrando o ar. Ele estava tentando tirar o poker lareira.

Exalei de alívio. Ele tinha caído. Tinha acreditado no meu truque da mente.

Uma figura se moveu perto da porta.

Fiquei de pé, e peguei o verdadeiro poker lareira. Levantei sobre o meu ombro

me preparando para dar um golpe, quando Dabria entrou no meu campo visual. Na

semiescuridão, seu cabelo brilhava como um branco glacial. Sua boca era uma linha

severa.

- Fez um truque mental nele? - Adivinhou. - Genial. Mas temos que sair daqui agora. -

Ela me disse.

Quase ri, fria e incrédula.

- O que você tá fazendo aqui?

Ela caminhou sobre o corpo imóvel de Baruch.

- Patch me pediu que te levasse para um lugar seguro.

Neguei com a cabeça.

- Você tá mentindo. Patch não te enviou. Ele sabe que você é a última pessoa com

quem eu iria. - Apertei mais forte o poker lareira. Se ela desse outro passo, colocaria o

objeto nas cicatrizes das asas dela. E como Baruch, ela ficaria em um estado próximo

ao coma, até que encontrasse uma maneira de tirar ele das costas dela.

- Ele não tinha muitas opções. Entre perseguir os outros anjos caídos que incadiram a

sua festa e apagar a memória dos seus amigos cheios de pânico que estão correndo

pelas ruas enquanto conversamos, diria que ele está um pouco preocupado. Por acaso

vocês não tem uma palavra como código secreto para situações como essa? -

Perguntou Dabria sem quebrar a sua fria compostura. - Quando estava com Patch, nós

tínhamos uma. Confiava em qualquer um enviado por Patch.

Não tirei meus olhos dela. << Palavra de código secreto? >> Ai meu Deus, Ela

era boa pra se enfiar debaixo da minha pele.

- Na verdade, nós temos um código secreto. - Eu disse. - É Dabria é uma sanguessuga

patética que não sabe quando seguir em frente. - Cubri minha boca. - Oh. Acabo de

notar por que o Patch esqueceu de compartilhar o nosso código secreto. - Minhas

palavras estavam cheias de desdém. - com você.

Os lábios dela se apertaram ainda mais.

- Ou me diz para que você veio de verdade, ou vou colocar essa coisa tão fundo nas

suas cicatrizes, que vai ser o seu novo e permanete apendice. - Eu disse.

- Não tenho que suportar isso. - Disse Dabria, girando. Segui ela pela casa vazia até o

caminho da entrada.

- Sei que você está chantageando Pepper Friberg - Eu disse. Se ela tinha ficado

surpresa, ela não demonstrou. Seu caminhar não se sobressaltou. - Ele pensa que Patch

está chantageando ele, e está fazendo tudo o que pode para colocar Patch no caminho

mais rápido para o inferno. Os créditos vão pra você, Dabria. Você diz que ainda ama o

Patch, mas tem um bem engraçado de demonstrar. Por sua causa, ele tá correndo

perigo de ser exilado. Esse é o seu plano? Se você não pode ter ele, ninguém vai ter?

Dabria apertou um botão em uma das suas chaves e as luzes do mais exótico carro que

eu já vi se ascenderam.

- Que é isso? - Perguntei. Ela me deu uma olhada condescendente.

- Meu Bugatti.

Um Bugatti. Ostentoso, sofisticado e único da sua classe. Exatamente como

Dabria.

Ela foi para detrás do volante.

- Talvez você queira tirar esses anjos caídos da sua sala de estar antes que a sua mãe

volte. - Ela fez uma pausa. - E deveria verificar a validade das suas acusações.

Ela comçou a fechar a porta, mas eu abri rapidamente.

- Você tá negando que tá chantageando Pepper? - Perguntei enojada. - Eu vi vocês

dois discutindo atrás do Devil's Handbag.

Dabria enrrolou um cachecol em volta da sua cabeça, jogando as pontas sobre

os seus ombros.

- Não deveria escutar atrás das portas, Nora. E Pepper é um arcanjo que você deveria

manter distância. Ele não joga limpo.

- Eu também não.

Ela olhou fixamente para mim.

- Não que seja da sua conta, mas Pepper me procurou aquela noite porque ele sabe

que eu tenho conexões com o Patch, e incorretamente pensou que eu o ajudaria. - Ela

ligou o carro, apertando o acelerador para apagar a minha resposta.

Olhei enojada para ela, sem acreditar que sua interação com Pepper tinha sido

assim,tão inocente. Dabria tinha um sólido registro de mentiras. E ainda por cima, não

gostávamos uma da outra. Ela era a desagradável lembrança de que Patch tinha estado

com alguém antes de mim. Não seria tão irritante se ela ficasse no passado que era

onde ela pertencia. Ao invés disso, ela continuava a aparecer como o vilão com

múltiplas vidas de um filme de serial killer.

- Não é uma boa juíza de caráter. - Ela disse, colocando o Bugatti em marcha.

Saltei para frente, colocando as mãos no capo. Não tinha terminado com ela ainda.

- Quando se trata de você, não me equivoco. - Gritei sobre o motor. - Você é uma

daninha, traiçoeira, egoísta, egocentrica narcisita.

- A mandíbula de Dabria se apertou visivelmente. Ela tirou alguns cabelos soltos do

rosto, saiu do carro e caminhou até mim, até ficar na mesma altura que eu.

- Quero limpar o nome de Patch também, sabe? - Disse com sua fria voz de bruxa.

- Agora essa é uma frase digna de Oscar.

Ela me olhou fixamente.

- Disse a Patch que você era imatura e impulsiva e que não podia esquecer o ciúme do

que ele e eu tivemos para fazer esse trabalho.

Minhas buchechas coraram e peguei o braço dela com força antes que pudesse evitar.

- Não fale para o Patch nada sobre mim de novo. Ou melhor, não fale mais com ele, e

ponto.

- Patch confia em mim. Isso deveria ser suficientemente bom para você.

- Patch não confia em você. Ele está te usando. Ele te tem em uma cadeia, mas ao final,

você é descartável. E assim que você não for mais útil, acabou.

A boca de Dabria se apertou em algo feio.

- Já que estamos dando conselhos uma a outra, aqui vai o meu. Me solta. - Seus olhos

se transformaram em advertência.

Ela estava me ameaçando.

Estava escondendo alguma coisa.

Ia desenterrar o segredo dela e ia fazê-la cair.

CAPÍTULO

22

DEPOIS DE TIRAR A POEIRA DA ESTRADA QUE O CARRO DE DABRIA LEVANTOU,

EU CORRI PARA DENTRO. Minha mãe estaria em casa a qualquer momento e não só

teria que dar muitas explicações sobre o fim da festa, mas também precisava me

desfazer do corpo de Baruch. Se ele realmente acreditava que eu o tinha acertado com

um poker lareira nas cicatrizes das asas, deixaria o corpo dele em um estado quase de

coma por algumas horas a mais, e então seria bem mais fácil de mover ele. Finalmente,

um golpe de sorte.

Encontrei Patch na sala, abaixado perto do corpo de Baruch. O alívio se

apoderou de mim quando o vi.

- Patch! - Exclamei, enquanto corria.

- Anjo. - Seus rosto estava cheio de preocupação.

Ele se levantou, abriu os braços enquanto eu me epertava neles. Me abraçou

forte. Assenti com a cabeça para acalmar qualquer preocupação qu ele pudesse ter

sobre o meu bem estar e engoli o nó na minha garganta.

- Estou bem. Não estou machucada. Enganei a mente dele para que pensasse que

estava tendo um ataque dos Nephilins. E fiz ele acreditar que tinha afundado um poker

lareira nas cicatrizes dele.- Deixei escapar um suspiro trêmulo. - Como sabia que os

anjos caídos tinham acabado com a festa?

- Sua mãe me expulsou, mas não ia te deixar sem proteção. Montei guarda na rua.

Tinha uma grande quantidade de carros vindo na diração da sua casa, mas pensei que

fosse por causa da festa. Quando vi o povo saindo correndo pela porta como se

tivessem visto um monstro, vim o mais rápido que pude. Tinha um anjo caído fazendo

guarda do lado de fora da sua porta, que pensou que eu tinha aparecido para roubar.

Não preciso dizer que tive que apunhalar ele, e alguns outros, nas cicatrizes das asas.

Espero que sua mãe não note que eu peguei alguns galhos das árvores do lado de

fora. Funcionaram perfeitamente como estacas. - A boca dele se torceu com travessura.

- Ela vai estar em casa a qualquer momento.

Patch assentiu.

- Eu cuido do corpo. Pode fazer com que a eletricidade funcione? A caixa de fuzíveis

está na garagem. Verifique se algum dos interruptores desligou. Se cortaram os fios da

casa, vamos ter muito mais trabalho em nossas mãos.

- Estou indo. - Me detive na metade do caminho para a garagem e voltei. - Dabria

apareceu. Veio com uma historinha que você tinha pedido pra ela me tirar da casa.

Acha que ela podia estar ajudando eles?

Para minha surpresa, ele disse: - Eu liguei pra ela. Ela estava por perto. Persegui

os anjos caídos e pedi pra ele te tirar daqui.

Fiquei sem palavras, tanto por não acreditar quanto por irritação. Não sabia se

estava mais chateada por que a Dabria tinha falado a verdade, ou por que ela estava

certamente seguindo o Patc, já que estar "por perto" era disícil de conseguir já que

minha rua era de 1 KM de comprimento, e nossa casa era a única no caminhoe acabava

em um beco sem saída no bosque. Provavelmente ela tinha um dispositivo de

rastreamento nele. Quando ele tinha ligado para ela, provavelmente ela estava

estacionada a uns 30 metros atrás e estava usando um binóculo.

Não duvidava que Patch tinha sido fiel a mim. Do mesmo modo, não duvidava

que Dabria esperava mudar isso.

Calculando que agora não era o momento certo para começar uma discussão,

disse a ele: - O que vamos dizer a minha mãe?

- Eu... eu vou me encarregar disso. - Patch e eu demos a volta e vimos a imagem

parecida com um rato perto da porta. Marcie estava ali contorcendo as mãos. Como se

pressintisse o quão fraca isso a deixava, ela deixou as mãos caírem para os lados.

Tirando o cabelo dos seus ombros, levantou o queixo e disse com mais confiança em si

mesma: - A festa foi idéia minha, o que faz disso tanto minha bagunça quanto sua. Vou

dizer a sua mãe que alguns perdedorea apareceram de penetra na festa e começaram

os móveis. Fizemos a única coisa responsável: acabamos com a festa.

Eu notei que Marcie estava se esforçando para não olhar o corpo de Baruch deitado de

bruços sobre o tapete. Se não o via, não podia ser real.

- Obrigada Marcie. - Eu disse, e disse sério.

- Não soe tão surpresa. Estou nisso também, você sabe. Não sou... quero dizer... sou... -

Ela respirou fundo. - Sou uma de vocês.

Abriu a boca para dizer algo mais, mas logo fechou. Não a culpava. 'Não

humana', eram palavras difíceis de pensar, quanto mais falar em voz alta.

Uma batida na porta principal fez com que eu e Marcie dessemos um pulo.

Trocamos um breve olhar de incerteza antes que Patch falasse.

- Finjam que nunca estivemos aqui. - Disse, lançando Baruch nos ombros e saindo pela

porta traseira.

<< E anjo? >> Acrescentou falando na minha mente. << Apague a memória de

Marcie de ter me visto aqui essa noite. Temos que manter o nosso

relacionamento em segredo. >>

<< Vou fazer. >> Respondi.

Marcie e eu fomos abrir a porta. Acabei de girar a maçaneta quando Vee entrou

se apressando, soltando a mão de Scott.

- Sinto chegar tarde. - Anunciou Vee. - Tivemos uma pequena emerg... - Ela

compartilhou um olhar secreto de cumplicidade com Scott e os dois caíram na risada.

- Distração. - Concluiu Scott por ela. Vee se ventilou com a mão.

- Pode falar isso outra vez?

Quando Marcie e eu simplesmente nos olhamos em um silencio sombrio, Vee

olhou em volta, se dando conta pela primeira vez que a casa estava vazia e destruida.

- Espera. Onde está todo mundo? A festa não pode já ter acabado.

- Tivemos uns penetras na festa. - Disse Marcie.

- Estavam com máscaras de Halloween. - Eu expliquei. - Podia ter sido qualquer um.

- Começaram a destruir os móveis.

- Mandamos todo mundo pra casa. - Acrescentei.

Vee examinou os danos muda em um estado de comossão.

<< Penetras na festa? >> Scott falou na minha mente, claramente ele não estava

engolindo as minhas habilidades de atuação e estava percebendo que tinha mais coisa

na história.

<< Anjos caídos. >> Respondi. << Um em particular fez todo o possível para me

fazer jurar lealdade. EStá tudo bem. >> Acrescentei rapidamente quando vi o rosto

dele se contorcer de ansiedade. << Ele não conseguiu. Preciso que você tire Vee

daqui. Se ela ficar, vai começar a fazer perguntas que não vou poder responder. E

tenho que limpar tudo antes que a minha mãe volte pra casa. >>

<< Quando vai contar pra ela? >>

Estremeci, a pergunta direta de Scott me pegou com a guarda baixa.

<< Não posso contar a Vee. Não se quero manter ela a salvo. UM conselho que estou

te pedindo pra levar em conta também. Ela é minha melhor amiga, Scott. Nada pode

acontecer com ela. >>

<< Ela merece saber a verdade. >>

<< Ela merece mais do que qualquer pessoa, mas agora, o mais importante pra mim é

a segurança dela. >>

<< O que você acha que é mais importabte pra ela? >> Scott disse. <<Ela se preocupa

com você e confia em você. Mostra a ela o mesmo respeito. >>

Não tinha tempo para discutir. << Por favor, Scott. >> Supliquei.

Ele me deu uma longa e considerável olhada. Me dei conta que ele não estava

contente, mas também notei que ele ia me deixar ganhar essa batalha, pelo menos por

agora.

- Acabei de ter uma idéia. - Ele disse a Vee. - Vou te compensar. Vamos ver um filme.

Você escolhe. Sem influenciar sua opinião, mas tem um novo filme de super heróis que

quero ver. Tem criticas ruins, o que é sempre um sinal de que o filme vai ser bom.

- Deveríamos ficar e ajudar Nora a limpar esse desastre. - Disse Vee - Vou verificar

quem fez isso e vou ensinar boas maneiras para essas pessoas. Talvez um peixe morto

possa ser encontrado dentro dos armários deles. E ´melhor que fiquem de olhos em

seus pneus, por que eu tenho uma faca que está sempre anciosa para furar algumas

borrachas.

- Tire essa noite de folga - Disse a ela. - Marcie vai me ajudar a limpar, não é, Marcie? -

Coloquei meu braço sobre seu ombro e falei muito docemente, mas tinha uma nota de

arrogancia que subtraia das minhas palavras.

Vee capturou meu olhar, e compartilhamos um momento de entendimento.

- Bom, isso não é muito generoso da sua parte? - Vee disse a Marcie. - O coletor fica

debaixo da pia. Os sacos de lixo também. - Ela deu um soco no ombro de Marcie. -

Divirtam-se, e não quebrem muitas unhas.

Quando a porta se fechou atrás deles, Marcie e eu nos jogamos contra a parede. Ao

mesmo tempo demos um suspiro de alívio.

Marcie sorriu primeiro.

- Sorte minha, azar o seu.

Eu limpei minha garganta.

- Obrigada pela sua ajuda essa noite. - Disse a ela, e honestamente eu estava falando

sério. Pelo menos uma vez na vida, Marcie tinha sido... amável, me dei conta com um

susto. E ia compensar ela apagando sua memória.

Ela desgrudou da parede, tirando o pó das mãos.

- A noite ainda não terminou. O coletor fica debaixo da pia?

CAPÍTULO

23

A MANHÃ SEGUINTE CHEGOU RÁPIDO. A BATIDA NA JANELA DO MEU QUARTO

serviu como um despertador, dei a volta para ver Dante atrás do vidro, agachado sobre

o galho de uma árvore, me chamando para fora. Levantei os 5 dedos sinalizando que

sairia nesse número de minutos.

Tecnicamente estava de castigo. Mas não imaginava que a desculpa serviria

para Dante.

Lá fora, o ar escuro da manhã tinha o fresco sabor do outono e friccionei

minhas mãos com força para esquentá-las. A lua ainda estava no céu. Ao longe, uma

curuja piava lastimadamente.

- Um carro sem placa e com equipamento de radar passou várias vezes pela sua casa

essa manhã.- Dante me disse, soprando as suas mãos. – Tenho quase certeza de que

era um policial. Cabelos escuros e alguns anos mais velho do que eu, pelo que pude

perceber. O que você acha disso?

- Detetive Basso. O que eu fiz dessa vez pra estar no radar dele?

- Não. – Disse, pensando que agora não era o momento para contar a minha

vergonhosa história com a polícia local. – Provavelmente era o final do turno dele e ele

tava procurando alguma coisa para matar o tempo. Não vai atrapalhar ninguém

passando dos limites de velocidade aqui, isso você pode ter certeza.

Um sorriso irônico torceu a boca de Dante.

-

Não em carros, de todo jeito, estrela do atletismo. Está pronta pra isso?

-

Não. Isso serve de alguma coisa?

Ele se abaixou e amarrou o cadarço do tênis.

-

É hora do trabalho. Você já sabe o que tem que fazer.

Eu sabia, e muito bem. O que Dante não sabia era que meu trabalho também

consistia em fantasiar que eu estava jogando facas, dardos e outras coisas em suas

costas enquanto corria pelo terreno de bosque, seguindo ele até o fundo da nossa

isolada aérea de treinamento. O que era para ficar animado, verdade?

Quando estava completamente ensopada de suor, Dante me fez realizar uma

série de estiramentos com a intenção de me deixar mais ágil. Tinha visto Marcie fazer

alguns desses mesmos exercícios em sua casa. Ela já não estava mais na equipe de

líderes de torcidas, mas aparentemente manter a habilidade de abrir as pernas era

importante para ela.

-

Qual é o plano pra hoje? – Perguntei, sentada no chão com as minhas pernas

abertas em um amplo V. Me dobrei pela cintura, descansando a minha cabeça no

joelho, sentindo uma dor no tendão.

- Possessão.

- Possessão? – Repeti desconcertada.

- Sim, os anjos caídos podem nos possuir, é justo que nós possamos possuir eles

também. Quer melhor guerra do que ser capaz de controlar mente e corpo do seu

inimigo? – Continuou Dante.

- Não sabia que possuir anjos caídos era uma opção.

- Agora é... agora que temos o devilcraft. Nunca antes tínhamos sido o suficientemente

fortes. Tenho treinando um grupo seleto de Nephilins, inclusive eu, em segredo.

Dominar essa habilidade vai ser um ponto importante na guerra, Nora. Se pudermos

fazer isso com êxito, vamos ter uma oportunidade.

- Você tem treinado? Como? – A possessão só era possível durante o Cheshvan. Como

podiam estar treinando durante meses?

- Temos treinado em anjos caídos. – Um sorriso malvado brilhou em seus olhos. – Te

disse, somos mais fortes do que nunca fomos, um anjo caído vagando sozinho, não

pode enfrentar um grupo dos nossos. Temos recolhido eles das ruas pela noite e

levado para o centro de treinamento que o Hank organizou.

- Hank estava envolvido nisso? – Parecia que os segredos dele nunca iam deixar de

aparecer.

- Escolhemos os solitários, os introvertidos, os que nós achamos que ninguém vai

sentir falta. Os alimentamos com um protótipo especial de Devilcraft, que faz com que

seja possível a possessão por curtos períodos de tempo, mesmo não sendo Cheshvan.

E então praticamos neles.

- Onde estão agora?

- Detidos no centro de treinamento. Estamos mantendo uma vareta de metal

encantada com devilcraft cravada nas cicatrizes das asas dele quando não estamos

praticando com eles. Isso os deixa completamente imobilizados. Como ratos de

laboratório a nossa disposição.

Tinha certeza de que Patch não sabia de nada disso. Tinha que contar a ele.

- Quantos anjos caídos têm detidos? E onde fica o centro de treinamento?

- Não posso te dizer o endereço. Quando estabelecemos o centro, Hank, Blakely e eu

decidimos que seria mais seguro se mantessemos em segredo. Com Hank morto,

Blakely e eu somos os únicos nephilins que sabemos onde fica. É melhor assim. Se

relaxa com as regras, acaba conseguindo traidores. As pessoas fazem qualquer coisa

por ganancia, incluindo trair a sua própria raça. É a natureza dos nephilins, do mesmo

jeito que é a natureza dos humanos. Estamos eliminando a tentação.

- Você vai me levar ao centro de treinamento pra praticar? – Estava ccerta de que havia

um protocolo pra isso também. Teria que ir com os olhos vendados, ou apagariam a

rota da minha memória. Mas talvez pudesse encontrar uma maneira de evitar isso.

Talvez Patch e eu pudessemos encontrar o caminho para o centro de treinamento

juntos...

- Não é necessário. Trouxe um dos ratos de laboratório comigo.

Meus olhos se cravaram nas árvores.

- Onde?

- Não se preocupe... a combinação de devilcraft e a vareta nas cicatrizes das asas

manteve ela cooperando. - Dante desapareceu atrás de uma rocha, mas logo voltou

arrastando um anjo caído do sexo feminino, que não parecia ter mais de 13 em anos

humanos. Suas pernas, eram dois palitos sobresaindo uma calça curta para fazer

ginástica, não podiam ser mais grossas que meus braços.

Dante jogou-a, seu corpo frouxo caiu na terra como um saco de lixo. Desviei o

olhar da vareta saindo das suas cicatrizes nas costas. Sabia que ela não podia sentir

nada, mas a imagem fez que os cabelos na parte de trás do meu pescoço ficassem

eriçados de todas as maneiras.

Tinha que lembrar que ela era o inimigo. Agora eu tinha uma participação

pessoal na guerra: me negava a jurar lealdade a qualquer anjo caído. Todos eram

perigosos. Até o último deles tinha que ser detido.

- Uma vez que eu tirar a vareta, você só vai ter 2 segundos antes que ela começa a

brigar. Este devilcraft em particular tem um efeito medianamente curto e não

permanecerá em seu corpo. Em outras palavras, não baixe a guarda.

- Ela vai saber que eu tô possuindo ela?

- Oh, ela vai saber. Ela tem passado por isso umas cem vezes. Quero que você a possua

e ordene algumas ações por alguns minutos para que você se acostume com a

sensação de manipular um corpo. Me avisa quando você estiver pronta pra sair do

corpo dela, porque eu vou deixar a vareta a postos.

- Como vou entrar no corpo dela? - Perguntei, com meus braços ficando arrepiados.

Me sentia fria, não só pelo frio no ar. Não queria possuir um anjo caído. Mas ao mesmo

tempo, precisava dar ao Patch a maior quantidade de informações possíveis de como

funcionava o processo. Não podíamos resolver um problema que não

compreendíamos.

- Ela vai estar fraca por causa do devilcraft, o que vai ajudar. E já entramos no

Cheshvan, o que significa que os caminhos para possessão estão abertos de par em

par. Tudo o que você tem que fazer é enganar ela com a mente. Ter o controle dos

pensamentos dela. Fazê-la acreditar, que ela quer que você a possua. E quando ela

baixar a guarda, tudo vai ficar muito fácil. Você vai voar pra ela rapidamente. Vai ser

sugada pro corpo dela tão rápido que você nem vai perceber a transição. Em seguida,

você vai estar no controle.

- É tão jovem.

- Não deixe que isso te engane. É tão astuta e perigosa como o resto deles. Pegue...

tome um pouco de devilcraft, que vai fazer a sua primeira tentativa um pouco mais

fácil.

Não peguei o frasco imediatamente. Meus dedos formigavam com desejo, mas

os mantive dos meus lados. Já tinha tomado muito devilcraft. Tinha prometido pra mim

mesma que ia parar e que eu falaria a verdade pra Patch. Até agora, não tinha feito

nem uma coisa nem outra.

Olhei o frasco com o líquido azul brilhante, e uma fome feroz pareceu roer

atravez do meu estômago. Não queria o devilcraft, mas ao mesmo tempo, precisava

dele desesperadamente. Minha cabeça girou, me fazendo sentir tonta sem ele. Tomar

só mais um pouco não poderia ser tão ruim. Antes que pudesse me deter, estendi a

mão e peguei o frasco. Minha boca já salivava.

- Deveria tomar tudo?

- Sim.

Inclinei o frasco, com o devilcraft queimando pela minha garganta. Tossi e

cuspi, desejando que Blakely pudesse achar uma maneira de fazer o líquido com um

sabor melhor. Seria útil também se pudesse minimizar os efeitos secundários.

Imediatamente depois de beber a dose, senti uma forte dor de cabeça. A experiencia

me dizia que só iria piorar com o passar do dia.

- Pronta? - Perguntou Dante.

Não fui rápida em assentir para afirmar. Dizer qque tinha pouca vontade de

possuir a menina era muita subestimação. Eu tinha sido possuída uma vez... por Patch,

em uma tentativa desesperada de me salvar de ser assassinada por Chauncey Langeais,

um parente perdido faz muito tempo, que não sentia nenhum afeto familiar por mim.

Enquanto ficava alegre por Patch ter me protegido, a violação que tinha sentido ao ser

possuída, não era algo que quisesse experimentar outra vez. Ou fazer alguem mais

passar por isso.

Meus olhos percorreram a menina. Ela tinha sofrido com isso, centenas de vezes

antes, e aqui estava eu a ponto de fazê-la passar por tudo isso outra vez.

- Pronta. - Disse pesadamente por fim.

Dante tirou a vareta das cicatrizes das asas da menina, com cuidado para que

suas mãos não tocassem a parte de baixo embebida com o líquido azul brilhante.

- Em qualquer momento. - Murmurou com advertência. - Se prepare. Seus

pensamentos emitirão impulsos magneticos. Assim que você sentir a atividade mental,

você entra na cabeça dela. Não perca tempo tentando convencer ela que da possessão.

O silêncio flutuava, espesso e tenso. Dei um passo para mais perto da menina,

tentando me esforçar para detectar qualquer informação mental. Os joelhos de Dante

estavam dobrados, como se ele esperasse poder começar a agir a qualquer momento.

Um ganido agudo de um cervo, cruzou a escura extensão por cima da gente. Um fraco

sinal de energia apareceu no meu radar, e essa foi toda a advertencia que tive, antes

que a menina se lançasse pra cima de mim, mostrando os dentes e com as unhas

prontas pra arranhar, como um animal selvagem.

Nossas costas se chocaram contra a terra. Meus reflexos eram agudos e eu girei

sobre ela. Me lancei sobre os seus pulsos, esperando fixa-los por cima daa cabeça dela,

mas ela se safou de mim em uma única manobra. Deslizei sobre a terra, ouvindo-a

aterrissar a alguns metros de distância. Olhei pra cima, bem a tempo de vê-la voar no

ar, vindo pra cima de mim.

Me enrolando como uma bola, girei para fora do seu alcance.

- Agora. – Gritou Dante. De rabo de olho, o vi levantando a vareta, se preparando para

atacar a menina caso eu falhasse.

- Fechei meus olhos, me focando em seus pensamentos. Podia senti-los zumbindo de

várias maneiras, como insetos frenéticos. Afundei na cabeça dela, triturando tudo que

encontrava na minha frente. Juntei seus pensamentos em uma massa gigante e

sussurrei um hipnótico: Me deixe entrar, me deixe entrar agora!

- Muito mais rápido do que esperava as defesas da menina se fundiram. Justo como

Dante tinha dito, me senti deslizando para ela, como se minha alma tivesse sido

sugada por um poderoso campo de força. Não ofereceu resistência. A sensação era

como um sonho, tonto, escorregadio e borrado nas bordas. Não houve um momento

para definir quando senti a mudança, simplesmente pisquei e vi o mundo de um

ângulo diferente.

Estava dentro dela, corpo, mente e alma, possuindo ela.

- Nora? – Perguntou Dante, cerrando os olhos para mim com ceticismo.

- Estou dentro. – Minha voz me deu um susto; ordenei a resposta, mas tinha saído em

outra voz. Mais alta e mais doce do que podia ter esperado de um anjo caído. Por

outro lado, ela era tão jovem...

- Está sentindo alguma resistência? Alguma reação dela? – Perguntou Dante.

- Sacudi minha cabeça negando. Não estava pronta para me ouvir falar com a voz dela

outra vez. Por mais que Dante quisesse que eu praticasse dando ordens ao corpo dela,

eu queria sair.

- Me apressei para completar uma pequena lista de exercícios, ordenando ao corpo do

anjo que corresse a uma curta distância, que saltasse de um galho de uma árvore caída,

que desamarrasse e amarrasse de volta os cordões do seus sapatos. Dante estava certo,

eu tinha todo o controle. E sabia que em algum lugar lá no fundo, estava arrastando

ela contra a vontade de seus movimentos. Poderia ter ordenado que ela apunhalasse a

si mesma nas cicatrizes das asas que ela não faria nenhuma objeção, só iria obedecer.

- << Já fizz.>> Falei na mente de Dante. << Agora vou sair. >>

- Um pouco mais. – Ele acrescentou. – Você precisa de mais prática. Quero que isso

seja pra você como sua segunda natureza. Realize os exercícios uma vez mais.

- Ignorando o pedido dele, ordenei que o corpo dela que expulsasse o meu, e outra

vez, a transição foi tão fácil quanto abrupta.

Xingando baixinho, Dante colocou de novo a vareta nas cicatrizes das asas do

anjo. Seu corpo desabou, como se ela estivesse morta, seus braços e pernas batendo

no chão em angulos raros. Queria parar de olhar, mas não podia. Fiquei me

perguntando, como tinha sido sua existencia na terra antes. Se alguém procurava por

ela. Se alguma vez seria livre de novo. E quão sombria deveria ser sua perspectiva.

- Isso não durou o suficiente. - Me disse Dante, claramente chateado. - Você não me

ouviu dizer pra praticar os exercícios mais uma vez? Sei que é um pouco incomodo no

começo...

- Como funciona? - Perguntei. - Dois objetos não podem ficar no mesmo espaço ao

mesmo tempo. Então, como funciona a possessão?

- Tudo se resume ao domínio quantico, função de onda e dualidade partícula-onda.

- Não tive teoria quantica ainda. - Eu disse com um toque de rancor. - Traduz pra uma

língua que eu consiga entender.

- Pelo que posso dizer, tudo é demais. Funciona a um nível subatômico. Dois objetos

podem sim existir no mesmo lugar ao mesmo tempo. Não estou certo de que alguém

realmente possa entender como isso funciona. É simplesmente assim,

- É tudo o que você pode me dizer?

- Tenha um pouco de fé, Grey.

- Bom, vou te dar um pouco de crédito. Mas quero uma coisa me troca. - Disse,

olhando para Dante astutamente. - Você é bom com vigilância. né?

- Você pode fazer pior.

- Tem um arcanjo picareta vagabundeando pelo bairro, chamado Pepper Friberg.

Dizendo ele, que um anjo caído está chantageando ele, e tenho quase certeza de que

sei quem é. Quero que você me traga a evidência que preciso para pegar ela.

- Pegar ela?

- As mulheres podem ser muito astutas também.

- O que isso tem a ver com liderar os Nephilins?

- Isso é pessoal.

- Certo. - Disse Dante lentamente. - Me diga o que eu tenho que saber.

- Patch me disse que alguns dos anjos caídos aí fora podem chantagear Pepper por

muitas coisas - páginas do Livro de Enoch, vislumbres do futuro, perdão total de um

crime passado, informação considerada sagrada e secreta, ou mesmo ser elevado a

anjo guardião - a lista do que um arcanjo pode prover, pode continuar, imagino.

- O que mais Patch disse?

- Não muito. Também quer encontrar o chantagista. Sei que ele tem seguido pistas e

seguindo pelo menos um suspeito. Mas tenho quase certeza de que ele está

bisbilhotando nos lugares errados. Na outra noite, vi a ex dele conversando com o

Pepper atrás do Devil's Handbag. Não consegui escutar o que diziam, mas parecia

confiante. E Pepper parecia furioso. Seu nome é Dabria.

Me surpreendeu ver uma sombra de reconhecimento nublar a expressão de

Dante. Ele cruzou os braços sobre o peito.

- Dabria?

Gemi.

- Não me diga que também a conhece. Eu juro, ela está em todas as partes. Se você me

disser que acha que ela é charmosa, vou chutar a sua bunda bem na beira de um

precipício imenso.

- Não é isso. - Dante sacudiu a cabeça, a pena se arrastando por seu rosto. - Não quero

ser a pessoa que vai te contar isso.

- Me contar o que?

- Conheço Dabria, não pessoalmente, mas... - A compaixão em sua voz se afundou. Ele

me olhou como se estivesse a ponto de me contar uma notícia horrível.

Eu tinha sentado sobre um tronco caído para contar minha história pra ele, mas agora

já estava de pé.

- Só me diga, Dante.

- Tenho espiões trabalhando pra mim. Gente que contratei para manter um olho nos

anjos caídos influentes. - Confessou Dante, quase arrependido. - Não é um segredo

que Patch é altamente respeitado na comunidade dos anjos caídos. Ele está sempre

pronto, é inteligente e ágil. É um bom líder. Os anos como mercenário, deram mais

experiencia a ele do que a maioria dos meus homens e eu temos juntos.

- Você tem espionado o Patch? - Disse. - Por que não me contou?

- Confio em você, mas não descarto a possibilidade de que ele exerça algum tipo de

influencia sobre você.

- Influencia? Patch nunca tomou decisões por mim, sou capaz de fazer isso sozinha.

Estou no comando dessa operação. Se quisesse enviar espiões, teria feito eu mesma. -

Disse, minha irritação parecendo evidente.

- Bom ponto.

Caminhei até a árvore seguinte, de costas para Dante.

- Vai me dizer por que está divulgando tudo isso?

Ele suspirou com relutância.

- Enquanto espíava Patch, Dabria apareceu mais de uma vez em nosso radar.

Cerrei meus olhos. Desejando poder dizer a ele que parace por ali mesmo. Não

queria ouvir mais nada. Dabria seguia Patch para todos os lados, eu sabia disso. Mas o

tom da voz de Dante, sugeria que ele tinha notícias muito mais devastadoras para

oferecer, do que me dizer que Patch tinha uma acusadora que por acaso era sua

magnífica ex.

- Faz duas noites, eles estiveram juntos. Tenho evidencia. Muitas fotos.

Apertei minha mandíbula e de a volta.

- Quero ver.

- Nora...

- Posso lidar com isso. - Retruquei. - Quero ver essa prova que seus homens, meus

homens, conseguiram.

Patch com Dabria. Busquei na minha memória, tratando de determinar em que

noite isso poderia ter acontecido. Me sentia desesperada, ciumenta e instavel. Patch

não tinha feito isso. Havia uma explicação. Daria a ele o benefício da dúvida. Já

tínhamos passado por muitas coisas, para que eu voasse da pra cima da primeira

conclusão que aparecesse no meu caminho.

Tinha que manter a calma. Seria um absurdo julgar ele tão rápido. Dante tinha

fotos? Bem. Analisaria por mim mesma.

Dante pressionou seus lábios juntos, então assentiu.

- Vou enviar elas para a sua casa hoje a tarde.

CAPÍTULO

24

PASSEI PELA ROTINA DO DIA, MAS FIZ TUDO MECANICAMENTE. Não

conseguia tirar a imagem de Patch e Dabria juntos da minha cabeça. Não tinha

pensado em perguntar os detalhes pro Dante, e agora minhas perguntas sem

respostas pareciam fazer buracos no meu cérebro. Estiveram juntos. Tenho

fotos.

O que isso significava? Juntos, como? Seria ingênua por perguntar? Não.

Eu confiava em Patch. Estava tentada a ligar pra ele, mas, não fiz. Eu ia esperar

até ver as fotos. Se fossem culpados... eu saberia de imediato.

Marcie entrou na cozinha, e se sentou na borda da mesa.

- Estou procurando uma companheira de compras para hoje, depois da

escola.

Empurrei minha taça de cereal. Estava perdida nos meus pensamentos a

tanto tempo, que já não tinha mais nenhuma possibilidades de salva-lo.

- Sempre saio para fazer compras as quintas a tarde. – Disse Marcie. – É

como um ritual.

- Quer dizer uma tradição. – Eu corrigi.

- Preciso de um novo casaco pro outono. Algo quente e de lã, mas

elegante. – Disse, franzindo o cenho ligeiramente em contemplação.

- Obrigada pela oferta, mas tenho muito exercício de trigonometria para

fazer.

- Ah, vamos. Você não fez tarefa a semana toda, por que começar agora?

E eu realmente preciso de uma segunda opinião. É uma compra importante. E

justo quando você estava começando a agir com naturalidade. – Murmurou.

Levantei da minha cadeira e coloquei a minha taça de cereal na

geladeira.

- As adulações sempre me convencem.

- Vamos nora, não quero discutir. – Ela se queixou. – Só quero que você

venha fazer compras comigo.

- E eu quero passar em trigonometria. E ainda por cima, eu to de castigo.

- Não se preocupe, eu já falei com a sua mãe. Ela teve tempo para se

acalmar e voltar a razão. Você não está mais de castigo. Vou esperar por 30

min. Depois da aula. Isso vai dar tempo suficiente para você terminar

trigonometria.

Cerrei meus olhos especulativamente para ela.

- Você ta brincando com a mente da minha mãe?

- Sabe o que eu acho? Que você está com ciúmes de que sua mãe e eu

estejamos unidas.