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Quando Jessica Packwood descobriu que ela era uma princesa vampira Romena,
ela teve o maior choque da sua vida adolescente. Acontece que essa era a parte fácil.
Agora, casada com o Príncipe Lucius Vladescu, ela deve clamar seu trono e convencer a
nação vampira de que ela está pronta para ser sua rainha. Porém Jess não consegue nem
pedir uma comida descente para seus serviçais romenos de seu castelo, quiçá lidar com
mortos-vivos desonestos que amariam vê-la fracassar.
E quando Lucius é acusado de assassinar um vampiro Ancião e fica preso sem o
sangue que ele precisa, Jessica se encontra sozinha, lutando pela sobrevivência dos dois.
Desesperada para limpar o nome de seu marido e libertá-lo, Jess pede ajuda de
sua melhor amiga Mindy Stankowicz e do misterioso primo italiano de Lucius, Raniero
Lovatu. Entretanto ambos estão escondendo segredos sombrios. Pode Jess descobrir em
quem confiar – e como subir ao poder – antes que ela perca tudo, tudo, incluindo o
vampiro que ela ama?
Repleto de romance, mistério e perigo, a tão esperada continuação de Jessica’s
Guide to Dating on the Dark Side mostra que às vezes uma princesa deve fazer por
merecer seu “felizes para sempre” – com uma estaca afiada na mão.
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— Mãe?
A neve rodopia ao redor dela, e ela está de costas para mim, seu corpo
envolto em um manto vermelho brilhante. Carmesim... A cor de Mihaela.
A rainha que uma vez governou os Dragomirs se parece com um
respingo de sangue contra a extensão de branco, e ainda assim ela é tão forte e
substancial como as rochas pontiagudas dos Cárpatos que se levantam da
solitária montanha romena onde sempre nos encontramos.
Eu passo na direção dela, sem entender. Por que ela não volta para me
cumprimentar?
— Mãe?
E então Mihaela Dragomir se vira seu rosto obscurecido pela capa. E em
suas mãos ela segura um objeto, algo que ela aperta contra o peito do mesmo
jeito que uma freira abraçaria uma cruz. Mas Mihaela não é uma humilde e
piedosa freira, e essa coisa... Não era nenhuma relíquia sagrada.
Uma estaca... Uma estaca manchada de sangue...
A estaca de Lucius, que ele usou para destruir o seu tio e que ele uma
vez quase usou para...
— Não! Nunca!
Debatendo, lutando contra algo que parecia pressionar contra meu
peito, eu lutava para sentar e abri meus olhos para ver piscando a luz do fogo
contra a pedra, e por um segundo eu não tinha certeza de onde eu estava.
Aos poucos, porém, meus arredores ficaram familiares, eu estava na
casa de Lucius, nossa casa. Em nossa cama. Essa pressão no meu peito... Não
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foi... Era apenas os cobertores pesados sempre necessários em seu — nosso
enorme — frio quarto, mesmo com um fogo ardendo na lareira.
Respirando fundo, estendi o braço e pousei a mão sobre seu ombro,
tranquilizando-me que estava tudo bem. Enquanto Lucius estivesse comigo,
eu estaria bem.
Ainda assim, as imagens do pesadelo volaram correndo.
A estaca, que eu não tinha visto desde a noite que Lucius pressionou os
dentes contra a minha garganta e me recriou como um vampiro...
Por que eu sonhei com isso? E por que minha mãe biológica que nunca
iria me prejudicar a segurava?
Eu comecei a sonhar com Mihaela de volta na Pensilvânia, e aqueles
sonhos tinham tornados mais frequentes desde que me casei com Lucius e me
mudei para a Romênia. Era como se minha mãe, destruída logo após meu
nascimento, estivesse tentando me proteger enquanto eu tentava dificilmente
seguir seus passos e tornar-me uma governadora, com base em um diário que
ela tinha deixado para me ajudar. Um presente de casamento póstumo para
guiar-me enquanto eu aprendia a ser uma princesa.
Meu coração começou a bater mais rápido novamente. Eu estava
aprendendo? Eu estava tentando...
Contorcendo de volta, sob os cobertores, me movi para Lucius na
enorme cama que, como ele confessou certa vez, ele provavelmente esperava
que o Ancião Vladescu tirasse a minha vida, removendo convenientemente
sua noiva Dragomir do poder e permitindo que os Vladescus tivessem
domínio incontestável sobre ambas nossas famílias. Eu chutei os lençóis, uma
espécie de natação, através deles, de repente, impaciente para estar ao lado
dele.
Tudo em sua casa — nossa casa — parecia tão grande às vezes.
Incluindo os fardos.
Lucius dormia ao seu lado, de costas para mim, e eu me pressionei
perto de suas costas, sentindo o frescor de seu corpo. Eu compartilhava essa
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frieza, também, uma vez que ele tinha me mordido, selando o nosso destino e
um pacto de décadas de idade que tinha decretado o nosso casamento no
interesse de parar uma guerra entre as nossas famílias rivais. Pressionando-me
mais apertado contra o meu marido, — quão estranho que isso ainda soava —
Eu escutei sua respiração constante, que sempre me acalmou quando eu ficava
nervosa. Lucius não estava com medo. Ele prosperou em governar os clãs. Isso
foi o que ele tinha nascido e sido criado para fazer.
Ou será que ele se preocupava, às vezes?
— Lucius?—Levantei-me no cotovelo e balancei-o suavemente,
necessitando ver seus olhos escuros e ouvir a sua voz profunda e
tranquilizadora. — Lucius?
— Sim... Sim? — ele murmurou. Ele rolou de costas e procurou—me
sob as cobertas, que eram caras e pesadas e me fez sentir falta dos lençóis
macios e gastos de flanela da minha cama, na Pensilvânia. Mas como poderia
uma princesa pedir flanela? — Sim, Jessica...?
Descansando minha mão em seu peito, senti como subia e descia tão
devagar que eu me perguntava se ele já tinha caído no sono. Mas eu não podia
deixar de perguntar num sussurro, para que os guardas fora de nossa porta
não ouvissem,
— O que significa se um vampiro sonha com uma estaca?
Lucius não respondeu, e eu percebi que ele estava dormindo,
provavelmente definitivamente exausto de mais um dia de luta para unir as
nossas obstinadas famílias para que eu fique deitada e aninhada contra ele
novamente. Em resposta à pressão do meu corpo, ele se virou e me puxou para
perto, para que eu pudesse sentir todo o comprimento do seu corpo poderoso
de guerreiro contra a meu, como um escudo à minha volta.
No alto da montanha romena, no coração de um castelo confuso que eu
supostamente governava, mas onde eu ainda me perdia nos corredores
retorcidos, a noite ficou muito quieta. Mesmo o fogo crepitante pareceu ficar
mais calmo. Depois de alguns minutos para forçar-me a esquecer o pesadelo,
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eu comecei a cair no sono novamente, quando de repente Lucius murmurou,
quase sussurrando, sua respiração gelada no meu pescoço,
— Traição.
Eu endureci em seus braços. Ele estava respondendo a minha pergunta
ou apanhado em seus próprios sonhos? Seus próprios pesadelos?
Mesmo que fosse o último, o que não era exatamente reconfortante, será
que meu marido tem deslealdade e traição em sua mente? E Lucius, como
todos vampiros, colocaria grande estoque em sonhos...
— Traição. — Eu disse a palavra em voz alta, tentando me certificar de
que era mesmo o que eu ouvi dizer. — Traição.
Ao som da minha voz, que era suave, mas audível o suficiente para
quebrar o silêncio profundo da montanha, Lucius, parecendo ficar inquieto,
passou o braço forte e cheio de cicatrizes mais apertado em torno de mim,
então eu estava presa em seu peito.
Peguei a mão dele e puxei para me dar algum espaço para respirar. Ele
não a soltou, embora, e eu tentei movê-lo novamente. Contra a ponta dos meus
dedos, eu podia sentir outra cicatriz — um profundo X na palma da mão que o
marcou como meu, cortado em sua carne na cerimônia de nosso casamento —
e seu anel de casamento na mão esquerda. Sua mão dominante. O que ele
tinha usado para segurar a estaca quando ele me segurava de uma maneira
muito diferente, nesse mesmo castelo, não há muitos meses antes.
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De todas as câmaras sombrias no castelo Vladescu sem contar as
masmorras subterrâneas, é claro, o que servia como um tribunal tinha de ser o
pior.
Como todos os salões abaixo do solo, este tinha uma lareira com um
fogo ardente, mas as chamas pareciam mais infernais do que alegre. Lançavam
assustadoras sombras que se deslocavam sobre as paredes de pedra cinza e
definitivamente não fazia muito para aquecer a decoração gritante, que
consistia em um semicírculo de bancos de testemunhas, um local usado no
chão de pedra, onde o acusado estaria, e uma longa mesa, onde me sentei ao
lado de Lucius em uma cadeira com superfície dura e espaldar reto. Os
Anciões esperavam em assentos semelhantes em ambos os lados de nós, todos
os dez vampiros mais velhos sentados notavelmente quietos.
Movendo-me em minha cadeira, eu tentei — e falhei — ficar mais
confortável.
Eu deveria processar as pessoas que desenharam o castelo My Little
Pony Crystal Rainbow que eu brincava no jardim da infância. Eles me levaram a
acreditar que os castelos eram preenchidos com arco-íris, cupcakes e móveis
cor de rosa. Não de pedra e fogo, e... Sangue.
Voltando um pouco para o lado, tentei encontrar os olhos de Lucius,
mas ele estava olhando para frente, obviamente preocupado. Ele também
estava muito quieto, exceto a mão esquerda, que distraidamente coçava o
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queixo direito, onde tinha uma pequena cicatriz. Eu sabia que significava que
ele estava escondendo a tensão, e as borboletas em meu estômago ficou pior.
Se Lucius está tenso, como eu posso sequer imaginar lidar com isso?
Meu marido parecia sentir que eu estava ficando muito nervosa, e ele
moveu seus olhos apenas o suficiente para me lembrar:
— Não se surte Jess. Nós já conversamos sobre isso. É parte de nossos deveres.
Bem, Lucius nunca tinha usado a frase "surte", mas nós havíamos
discutido como minhas novas responsabilidades incluíam estabelecer a justiça,
e às vezes sentenciar...
— Que o acusado se apresente.
Eu pulei quando o repentino comando de Lucius ecoou pelas paredes, e
virei com o coração apertado ao ver que tínhamos estado acompanhados por
um vampiro que estava no fundo da sala, mãos algemadas e cabeça baixa.
Ele é um assassino, eu me lembrei quando minha boca ficou seca. Um
grupo de testemunhas o viram destruir meu tio Constantin Dragomir. E o que eu
estou fazendo é como servir em um júri. Os seres humanos comuns fazem isso o tempo
todo!
Olhei à minha esquerda, buscando a garantia de que não estaria sozinha
para decidir o destino do prisioneiro que foi arrastando em direção a esse
ponto pálido no chão. Mas meu tio Dorin — o único Ancião que eu
considerava um aliado não estava lá, — e acabei encontrando o olhar de
Claudiu Vladescu, que sorriu. Talvez pelo pânico crescente que deve ter
estado aparente no meu rosto, ou talvez com a perspectiva de ouvir o
depoimento sobre um assassinato.
Meu estômago ficou enjoado. Claudius era como seu irmão mais velho,
Vasile — outro vampiro perverso e maldoso, que Lucius destruiu.
Embora eu sabia que estava me contorcendo de forma demasiada para
uma princesa, virei-me para olhar Lucius novamente, exatamente quando ele
disse, com uma voz firme que eu não poderia imaginar convocar se eu tivesse
que falar,
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— Conte sua história para este júri, Dumitru Vladescu, e nós vamos
decidir se você merece misericórdia ou punição.
Eu deveria ter dado a minha atenção para o vampiro que estava prestes
a lutar por sua vida, mas eu continuei assistindo meu marido, que tinha estado
nesse círculo apenas alguns meses antes e, felizmente, foi considerado inocente
da morte de Vasile. Felizmente, a maioria dos Ancies — não Claudiu, é claro,
— acreditavam que Vasile atacou primeiro, dando a Lucius outra escolha
senão defender-se.
Eu nunca me deixei pensar sobre o que poderia ter acontecido nesse
julgamento, e fiquei feliz por não saber sobre isso até muito tempo depois que
o veredito havia sido proferido.
Continuei estudando Lucius. Como ele pode suportar estar nesta sala,
deixado para conduzir tudo sozinho e friamente? E se o veredito de hoje for culpado, ele
não teria que...?
— Fale, — Lucius pediu ao seu familiar. — Esta é a sua chance de salvar
sua existência.
Eu ouvi comando e compaixão na ordem de Lucius, mas o meu sangue
frio, de repente era como gelo. Uma existência pode realmente acabar hoje. Eu não
sou apenas parte de um júri. Eu sou o juiz, e Lucius seria...
Dedos agarrando minha cadeira, eu finalmente me forcei a enfrentar
Dumitru Vladescu, que levantou a cabeça, para que eu pudesse ver seus olhos
escuros e assustados, porque se ele fosse considerado culpado...
— Não!
Eu não tinha certeza se eu gritei alto, mas a minha cadeira guinchou
quando eu pulei, o que provavelmente afogou a minha voz de qualquer
maneira. — Desculpe-me, — eu murmurei, inclinando minha cabeça. — Eu...
Eu preciso sair. Eu não me sinto bem...
Eu não conseguia olhar para Lucius quando eu tropecei do seu lado. E
eu certamente não olhei para Claudiu ou para os outros Anciões, que estariam
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muito cientes da razão pela qual a garota americana criada por vegans saiu
correndo da sala, quase tropeçando em seu longo vestido formal.
— Desculpe-me. — Os Anciões puxaram suas cadeiras para que eu
pudesse passar por trás deles. — Desculpe...
Eu sabia que eu estava — de novo — ferindo Lucius e minha chance de
ganhar uma votação crucial de confiança mais tarde nesse ano, quando o mais
influente Vladescu e membros do clã Dragomir se reuniam em um grande
congresso de verão de vampiros. A votação que poderia elevar Lucius e eu
como rei e rainha. Mas eu não podia ficar lá, mesmo se deixando—nos
condenados ao fracasso.
Eu praticamente corri passando pelo prisioneiro, não olhando para ele,
para qualquer um. Mas, quando eu corri para a porta, eu chamei a atenção de
um vampiro que eu não tinha notado antes, mesmo que eu deveria ter
esperado que ela assistisse ao julgamento do assassino de seu pai. Minha
prima Ylenia Dragomir, 18 anos, como eu, pequena e vestindo preto, sentou-se
sozinha em um canto, misturando-se nas sombras, como se ela não quisesse
que ninguém visse o seu rosto enquanto ela ouvisse a história do assassinato
de seu pai contado em detalhes.
Eu não tinha certeza de qual veredito o prisioneiro teria, mas eu nunca
me senti tão culpada como quando saí daquela sala, desapontando não apenas
o meu marido, mas o primeiro amigo que fiz na Romênia.
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— Não seja tão dura consigo mesma, Antanasia, — Meu tio Dorin
pediu. Ele pairou perto da minha mesa, torcendo as mãos nervosamente, a
simpatia em seus olhos.
— Eu... Eu não fiz um esforço muito forte para assistir ao julgamento,
também.
— Sentar em julgamentos não é para todos, sabe?
— Claudiu parecia bem com isso, — eu disse miseravelmente. — E
Lucius foi muito bem!
Pelo menos, ele agiu bem, que era o que realmente contava.
— Sim, bem, Vladescus são lendários pelo seu sangue frio, — Dorin me
lembrou. — Todos têm gelo em suas veias. E alguns, como Claudiu, salivam só
em pensar em infligir alguma punição. Nós Dragomirs, por outro lado,
tendemos a ser um pouco... — Ele não conseguia encontrar a palavra certa,
mas eu podia terminar a frase com bastante facilidade.
Mole. Submissa. Covarde?
Mas era tão ruim querer evitar terminar com uma vida?
Empurrei-me em pé da minha enorme cadeira de escritório, que havia
pertencido a minha mãe de nascimento. A camisola de seda que eu tinha
mudado em uma tentativa desesperada de fazer as pessoas acreditarem que eu
realmente estava mal continuou fazendo minha bunda escorregar no assento
de couro, e quando eu empurrei de volta, meus pés pendiam, então eu me
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senti ainda mais como uma criança brincando de ser uma princesa. Uma
garota envergonhada.
Pelo menos uma Dragomir — Mihaela — nunca se esquivava de um
julgamento.
Exagerei, com o pijama?
— Acho que não há nada que eu possa fazer agora, exceto tentar me
redimir na reunião de amanhã com os Anciões, — eu disse, olhando
melancolicamente para um livro enorme que estava aberto sobre a minha
mesa. — Posso pelo menos tentar fazer alguns pontos inteligentes quando
discutirmos este orçamento.
No entanto, eu não tinha muita esperança nisso, também, enquanto eu
fazia a varredura das colunas de números que supostamente representavam
quanto Lucius e eu pretendiamos gastar para governar uma mudança, em um
infinito e louco reino de vampiros que eu nem sabia que existia até
recentemente.
Eu caí na minha cadeira, pensando, C laro, eu sou um mathlete1, mas eu
também sou uma adolescente que apenas no ano passado trabalhou por
gorjetas de três dólares, não milhões de euros em impostos!
E que nem sabia que vampiros arrecadavam impostos?
— Dorin? — Fechei o livro de contabilidade com um baque, porque
minha preocupada e distraída mente ficava saltando para frente para uma
reunião ainda maior que teria lugar mais tarde nesse ano, tornando-se
impossível concentrar-se em números. — Como é realmente o congresso
vampiro, afinal? Tenho dificuldade em imaginar este evento, onde o meu
destino e de Lucius será decidido.
— Oh Deus... — Dorin recuou e torceu as mãos novamente, mas desta
vez ele parecia feliz e nostálgico sobre uma semana que eu temia. — O
congresso é mais um evento! Os Vladescus e Dragomirs mais proeminentes de
todo o mundo se reúnem, e enquanto os negócios são conduzidos, é claro, é
1 A mathlete é uma pessoa que compete em competições de matemática em qualquer nível ou qualquer
idade. O termo é uma junção das palavras matemática e atleta.
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também uma oportunidade para nós socializarmos. Festas todas as noites por
uma semana inteira, com a melhor comida e música. No passado, as fazendas
eram belamente decoradas, o suficiente para rivalizar com o seu casamento!
Seus olhos praticamente brilhavam, e eu desejei poder ficar animada
com a perspectiva de centenas de meus parentes errantes em torno do castelo.
— Então, é basicamente uma enorme reunião de família mortos-vivos?
— Sim. — Dorin assentiu. — Isso vem sendo realizada a cada ano desde
que o pacto que decretou o seu casamento foi assinado, unindo os nossos clãs.
E este ano será ainda mais especial, pois celebramos a paz duradoura
alcançada em seu casamento. — Ele sorriu ainda mais calorosamente. — Sua
mãe foi anfitriã do primeiro Congresso, pouco antes de sua destruição. Ela
estaria tão orgulhosa de vê-la assumir esse papel.
Eu escorreguei no banco novamente e empurrei-me de volta para cima.
Como eu poderia alimentar e entreter oitocentos vampiros quando eu
não podia nem pedir o jantar da cozinha para mim e Lucius? Eu iria estragar
todo o evento, e os meus parentes ririam quando eles lançassem seus votos de
"não" na votação de confiança no último dia. Eu estava condenada a me
arruinar no meu próprio partido, e arruinar o futuro de Lucius, também.
— Vai ser um desastre, — eu admiti em voz alta, pela primeira vez.
— Antanasia! — Eu olhei para cima para ver Dorin pressionar um dedo
sobre os lábios, me calando e apontando para a porta.
Eu soube imediatamente que tinha feito um outro erro. Emilian, a jovem
guarda, que estava sempre colocada fora da sala sempre que Lucius não
poderia estar comigo, nunca deveria me ouvir queixar-me ou mostrar
fraqueza. Servos — mesmo aqueles fiéis, — eram notórios fofoqueiros, de
acordo com meu marido, que tinha tratado com "subalternos" a sua vida
inteira, enquanto eu estava empilhando esterco em uma fazenda.
Se Emilian dissesse a alguém que eu estava prevendo o desastre no
congresso, a palavra que se espalharia como fogo, seria que eu não conseguia
nem sequer planejar uma festa.
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Dorin e eu olhamos um para o outro, ambos provavelmente pensando a
mesma coisa. Que a única coisa que fiz foi regiamente atrapalhar.
Como Lucius estava se saindo no julgamento sem o meu apoio?
E minha prima Ylenia, a quem eu também abandonei, chorando atrás de seus
óculos de lentes grossas?
— Vamos voltar para o orçamento, — eu suspirei, abrindo a
contabilidade de novo e falando mais calmamente. — Eu acho que eu estou
traduzindo o romeno errado, porque me parece que Lucius quer gastar
sessenta e cinco mil euros em coelhos no próximo ano.
— Eu tenho um gosto por lebre, mas eu nunca poderia consumir o valor
de mais de cinquenta mil euros em um período de doze meses.
Eu gelei ao ouvir o som inesperado de uma voz grave e masculina e
senti meu tio apreensivo, também, quando nós dois giramos para ver Lucius
encostado no batente da porta, braços cruzados.
E, embora ele só fez uma piada, seu rosto parecia perturbado, talvez
porque eu tinha admitido a minha ignorância muito alto, afinal das contas, ou
talvez por causa do que ele acabara de fazer no julgamento ...
— Lucius?
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— Estou surpreso de ver você aqui, Dorin, — Lucius observou, em
seguida, olhou por cima do ombro para enfrentar Emilian. — Esti Demis. —
Meu romeno parecia estar piorando, mas eu sabia que era um comando. "Você
está despensado." Não que eu já tenha usado.
Ele empurrou-se para fora da moldura da porta e entrou na sala,
andando para a direita até o meu tio sem realmente cumprimenta-lo ou a mim.
— Sua presença era necessária em um julgamento, Dorin, — ele disse,
pairando sobre o vampiro mais baixo. — Você se esqueceu da data?
Lucius não estava sendo rude, ele nunca foi rude, mesmo com os
funcionários, mas era óbvio que ele estava muito descontente com meu tio,
que lambeu os lábios e balbuciou: — Sim, bem... Eu... Eu estava atrasado, e
então eu ouvi que Antanasia não estava bem...
Lucius não disse qualquer coisa quando Dorin andou. Ele não
precisava. Era óbvio que a próxima vez que um vampiro estivesse em
julgamento, era melhor a bunda de Dorin estar em seu assento.
Eu joguei meu olhar para meu tio pedindo desculpas enquanto ele se
movia em direção à porta, curvando-se ligeiramente e dizendo para nós dois,
— Estou indo agora. — Ele olhou para Lucius por permissão. — Se estiver
tudo bem.
Lucius não tentou impedi-lo, e me perguntei de novo, por que os meus
dois melhores aliados não se tornam amigos? Por que Lucius não podia
perdoar Dorin por sua fraqueza, que aos olhos de Lucius é pior do que a
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insubordinação? "Perigoso," que chamava o instinto de Dorin para a auto-
preservação. "Perigoso para todos, acima de tudo para Dorin!"
Eu queria entender isso, mas eu não entendi. Tentar sobreviver parecia
bastante razoável para mim. — Eu vou falar com você mais tarde, — eu disse a
Dorin quando ele nos deixou sem sequer um adeus.
Então, quando a porta se fechou atrás de meu tio, Lucius moveu—se
para mim, ainda sem uma palavra, eu me preparei para o nosso confronto. Ele
tinha que saber que eu estava fingindo.
Mas ele não mencionou o pijama, ou o julgamento. Ele apenas me
tomou em seus braços e me cumprimentou como sempre fazia quando
estávamos sozinhos: com um beijo.
Aliviada, mas de alguma forma nervosa, eu passei meus braços em
volta do seu pescoço, e o beijo se tornou mais intenso.
Eu queria aproveitar esse momento raro e privado, mas mesmo
enquanto eu sentia a pressão de seus dentes contra a minha garganta, eu
encontrei-me alcançando as suas mãos, procurando por algum pequeno traço
pegajoso de sangue — eu tinha medo que meu marido, que estava
murmurando "Eu te amo" em meu ouvido de novo e de novo, tivesse acabado
de verter sangue, porque eu sabia que havia uma chance de que ele não tivesse
sido apenas júri e juiz, mas carrasco, também.
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— Lucius, que aconteceu esta manhã? — Eu perguntei em voz baixa.
Ele não respondeu. Ele tinha ficado muito calmo novamente, já que
bebeu de mim, e brincava distraidamente com o meu anel de noivado, girando
em torno de meu dedo muito fino enquanto me segurou no sofá no meu
escritório.
— Lucius? — Ergui a cabeça fora de seu ombro para ver o seu rosto:
suas maçãs do rosto salientes e nariz, reto e aristocrático, a mandíbula forte
que faz lhe parecer mais velho do que é. Como a maioria das meninas da
Escola Woodrow Wilson, incluindo a minha melhor amiga, Mindy
Stankowicz, eu tinha estado atraída por ambos e intimidada por sua muito
madura boa aparência. E ele parecia ainda mais como um príncipe guerreiro
desde que voltou para a Romênia. — Lucius?
— Sim? — Ele finalmente se virou para me olhar. — Eu sinto muito... Eu
estava perdido em pensamentos.
— O que aconteceu hoje? — Repeti, embora eu tivesse certeza que eu
sabia, apenas a partir do olhar em seus olhos. A infelicidade que ele finalmente
revelou totalmente.
— O veredito foi culpado, — ele disse. — Não havia dúvida. Nenhuma
dúvida na mente dos Anciões.
Meu coração se afundou. — E você? Você tem alguma dúvida?
— Eu não posso permitir dúvida, — ele disse. — Se eu tivesse mesmo
uma pequena parte, eu não poderia ter realizado a sentença. Minha mão
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poderia ter hesitado, e eu teria causado a agonia do prisioneiro ainda mais. Eu
apenas nunca quero ser cruel. — Sua carranca aprofundou. — E se os Anciões
tivessem percebido a hesitação da minha parte, eu teria me machucado — nos
machucado — por parecer fraco.
— Então, você realmente fez...? — Eu não poderia nem mesmo dizer
isso.
Mas Lucius podia. — Sim, Antanasia. Eu o destruí. A lei é clara.
Destruição é punível com a destruição. E destruição de um Ancião deve ser
respondida por ninguém menos que o membro do clã com mais alto escalão.
— Seus olhos endureceram um pouco. — Além disso, nós dois sabemos que eu
sou mais adequado para destruir com tão pouca dor possível. Tenho treinado
desde a infância para usar uma estaca de forma eficiente. Execução não é uma
tarefa para ser passado para um servo, como lavanderia.
— Eu sinto muito... — Para o pobre assassinado Constantin Dragomir, e
minha órfã prima Ylenia, e o preso também. E, para Lucius, que eu não deveria
ter deixado...
— Lamento, também, Jessica. — O uso do meu antigo nome me disse
que Lucius também estava lutando por dentro. Ele lutou contra o uso de
"Jessica" na Pensilvânia, insistindo que eu era "Antanasia." Mas ultimamente
ele tinha passado a me chamar de Jess em privado. Eu pensei que ele
especialmente utilizava o apelido quando ele sentia falta de apenas ser um
adolescente americano, como eu fiz várias vezes. A maioria dos dias, eu só
queria poder viver no apartamento acima da garagem dos meus pais adotivos,
casada, mas ainda um tipo de crianças. Mas eu não podia sequer ligar para
mamãe e papai, que estavam em uma viagem de pesquisa em uma parte
remota da América do Sul.
Eu sabia que eles estavam viajando para evitar o seu novo "ninho
vazio", e eu entendi isso, mas eu gostaria de falar com eles, embora eu
soubesse o que minha mãe antropóloga cultural diria sobre o julgamento. —
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Você tem que aprender a viver de acordo com as normas duras da sua nova
cultura. Lucius advertiu você...
Lembrei-me algo do meu diário da minha mãe biológica, também: —
Como uma princesa você vai ser chamada para testemunhar a destruição.
— Eu odeio Estado de Direito,2 — eu murmurei.
Pela primeira vez naquele dia, Lucius sorriu. — Princesa! Nós
concordamos que o estado de direito é o que é mais necessário neste reino, não
tinhamos?
— Sim, mas...
— Não há, mas! — Ele ficou sério novamente. — Nossos clãs têm
ignorado as nossas próprias leis por muito tempo. Mesmo nos últimos dez
anos, o que você chamaria de linchamentos tem sido mais comum do que os
julgamentos, entre os vampiros. E as leis protegem os governantes também. —
Seu sorriso voltou. — Veja o quanto eu aprendi na América, com a sua
Constituição e sucessão ordenada de líderes e de licenciamento interminável e
regras?
— Eu sei, — eu concordei. — As leis são boas. Mas eu simplesmente não
poderia estar lá para aplica-las hoje.
— Por favor, não seja tão dura consigo mesma, — ele disse. — Você foi
criada entre os gatinhos por vegans. — Então ele fez uma rara admissão: — Foi
difícil, mesmo para mim, levantado por assassinos em uma dieta de violência.
— Mas você fez isso.
2 Estado de direito é uma situação jurídica, ou um sistema institucional, no qual cada um é submetido ao
respeito do direito, do simples indivíduo até a potência pública. O estado de direito é assim ligado ao
respeito da hierarquia das normas, da separação dos poderes e dos direitos fundamentais. Em outras palavras, o estado de direito é aquele no qual os mandatários políticos (na democracia: os eleitos) são
submissos às leis promulgadas. Nota da revisora: Nesse caso a Jessica quis falar sobre a situação em que
a aplicação das leis são necessárias.
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— Sim, e vou fazê-lo novamente. E você vai aprender a ficar ao meu
lado quando você se acostumar com esta cultura, da mesma maneira como me
acostumei com a sua.
Minha voz caiu para um sussurro. — E se eu não puder?
Lucius sorriu. — Eu costumava perguntar a mim mesmo essa mesma
pergunta, quando encarava as lentilhas cozidas de sua mãe. “E se eu
literalmente não puder levantar o garfo hoje?” E ainda assim eu fiz isso,
Jessica.
Meus olhos se arregalaram. — Você não pode comparar o julgamento
de hoje e a caçarola de lentilhas.
Mas Lucius arqueou uma sobrancelha e riu. — Você não o provou?
Então ele se levantou e eu o vi transformar, como sempre fazia de
cônjuge ao governante. Por que eu não poderia fazer esse truque? — Lamento,
mas eu preciso ir agora, — ele disse, inclinando-se para me dar um beijo
rápido. — Eu preciso me preparar para a reunião com os Anciões de amanhã.
Meu coração se afundou novamente. — Onde Claudiu irá mencionar
meu surto...
— Não se preocupe Jessica, — Lucius pediu. — Você está crescendo tão
linda para se preocupar tanto. Eu prometo a você, eu vou lidar com Claudiu.
— Lucius... — Eu sabia qual seria a resposta, mas eu não poderia deixar
de perguntar, pela centésima vez. — Tem certeza de que não devemos adiar a
votação de confiança? Talvez esperar um ano, então eu tenho algum tempo
para impressionar os Anciães?
Mas ele já estava balançando a cabeça. — Os títulos de rei e rainha são
protetores, como a lei, — ele me lembrou. — Elas têm infinitamente mais força
do que o príncipe e a princesa e quando você é tão jovem quanto nós somos,
tentando dominar duas nações de vampiros cruéis, você precisa de qualquer
vantagem para se proteger. O maior risco especialmente para você seria adiar
a votação. Eu não posso deixa-la vulnerável quando eu sei uma forma de
proteger você.
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Eu tive que admitir que eu não queira ser vulnerável. — Ok.
Ele me beijou de novo, então foi até a porta e, convocou Emilian para
volta ao seu lugar, deixou-me sozinha com um monte de livros romenos
empoeirados que eu não sabia ler, papéis que eu não tinha certeza se deveria
assinar, e preocupações que eu não sabia como lidar. Então eu fiz a última
coisa que eu provavelmente deveria ter feito, como uma princesa.
Peguei meu celular, fui me esconder no banheiro mais próximo e
disquei um familiar número internacional, desesperada para ouvir uma voz
mais ainda familiar.
22
— Claro, cada mulher deve ser financeiramente independente, mas não
há nada de errado com amar um cara que tem alguns dólares no banco ou uma
Mercedes na garagem, só para constar.
— Sim, totalmente, — eu disse muito alto.
Meio envergonhada, eu deslizei para baixo no meu lugar e olhei em
volta para ver se alguém na sala de aula me ouviu falando para eu mesma
sobre o muito interessante artigo da Cosmo3— Homem Rico, Homem Pobre:
Porque não amo um cara com dinheiro? — Mas para minha sorte, todo mundo
estava ocupado ouvindo Dr. Wayne Prentiss falando e falando sobre os chatos
slides de arte italiana que ele estava passando enquanto ele vagava pela parte
de trás da sala escura, como fazia a cada semana.
Eu deslizei ainda mais, até que eu estava praticamente deitada no chão.
Estúpida sociedade da faculdade (Stupid community college) "exigências
curriculares fundamentais." Eu percebi que Fundamentos da Arte
Renascentista seriam mais fáceis que "humanidade", mas eu odiava a aula, que
acabou por ser tudo sobre... Itália! E todas as pinturas italianas e caras nus de
mármore me fizeram pensar em... Italianos. E eu não queria pensar sobre os
italianos. Nem mesmo nos sapatos italianos. Eu nem sequer como macarrão
mais.
Eu tentei duramente calar a voz do Dr. Prentiss, mas ele manteve o blá-
blá-blá atrás de mim, dizendo a todos nós, "artistas contemporâneos ainda
3 Cosmo é uma revista, como a nossa revista NOVA aqui no Brasil.
23
tentam — e fracassam inevitavelmente — imitar a maneira na qual
Michelangelo imbuí à forma masculina um sentido de grandeza.”
Houve um flash de luz, e eu olhei para cima para ver outro slide de um
cara italiano pelado. Um cara com um corpo perfeito. Eu conhecia um corpo
como aquele...
Pare de se lembrar dele!
Eu segurei o caderno em branco que eu estava usando para esconder a
minha revista, um pouco mais para cima, para bloquear a tela, mas quando eu
virei a página para terminar "Homem Rico, Homem Pobre”, que eu
concordava totalmente, depois de ver minha melhor amiga muito feliz casada
e em um castelo, fiquei face a face com um anúncio para Versace. E grande
surpresa! Outro cara italiano muito— muito —pelado.
Ele estava, tipo, em todos os lugares, com seus peitorais duros e seus
abdominais com 6 quadradinhos.
Eu não quero fazer isso, mas eu continuei olhando para esse anúncio, e
era como se eu tivesse hipnotizada e caísse de volta no tempo, no fim do verão
e na Romênia e no fantástico casamento onde Jess Packwood se transformou
na princesa Dragomir Antanasia Vladescu após transformar-se em um
vampiro, é claro. O casamento onde eu meio que mudei, também, e não em
um bom sentido.
Eu ainda podia ver como tudo começou de uma maneira muito clara no
meu cérebro. Percebi que eu não me lembrava de nada que estudei nos livros,
então eu estava matando todas as minhas aulas no Líbano Valley, mas eu não
poderia esquecer uma única palavra da conversa, não importa o quão duro eu
tentasse.
— Você gostaria de dar um passeio, Mindy Sue? Ver o luar comigo,
sim?
Eu estou, tipo, balançando e balançando a cabeça ao mesmo tempo,
assim meu cérebro está andando em círculos, porque eu não entendo a
maneira louca de Raniero Vladescu Lovatu de fazer perguntas e dizer-lhe o
24
que fazer ao mesmo tempo. É a resposta certa, sim? Ou não? Eu mesmo sei
como eu quero responder? Eu quero "ver a luz da lua" com um sugador de
sangue, tatuado que está incrivelmente quente em seu smoking, com seus
compridos cabelos castanhos ondulados puxados para trás em um rabo de
cavalo para que você possa realmente ver seus muito diferentes, olhos
cinzento-verdes?
Raniero não espera por uma resposta de qualquer maneira. Ele sorri, —
ele está, tipo, sempre sorrindo— e pega a minha mão, e sua pele é muito fria,
como da Jess é agora. Mas a pele de Raniero é escura de passar tanto tempo na
praia, que também lhe deu este corpo incrível de surfista.
Começamos a andar, deixando a recepção, e eu olho por cima do meu
ombro e vejo Jess dançando com Lukey na grande clareira que ele pagou, tipo,
um milhão de dólares para decorar apenas para fazê-la feliz por uma noite, e
eu tenho muita certeza de que estou cometendo um GRANDE erro, mas eu
vou com Raniero, porque há apenas algo sobre ele, nessa noite ...
Meu coração começou bater mais rápido bem ali na sala de aula, e eu
realmente não tinha certeza se eu estava ficando doente pela memória ou
animada, como eu tinha ficado naquela noite, quando eu tive meu primeiro
beijo real naquelas montanhas onde Jess me disse que era Carpathi algo. Um
beijo que começou logo após eu e Ronnie colocarmos os pés nesse caminho
escuro e assustador pela floresta e continuamos indo todo o caminho de volta
para o castelo gigante que ainda estava acesa com algumas velas para o
casamento. Tudo tinha sido, como, se pegando fogo naquela noite. E Raniero
parecia melhor do que o modelo Versace em seu smoking e fora de sua camisa.
Esses músculos... Que grande erro... Aquela manhã seguinte... Aquele verão
inteiro!
— Oh, Deus!
Eu gritei para fora porque eu mal podia suportar essas memórias, mas
também porque a minha revista foi, de repente, arrancada de meus dedos, e eu
25
pulei para cima na minha cadeira bem a tempo de ouvir o Dr. Prentiss contar
toda a história para toda classe,
— Parece que Melinda descobriu uma forma masculina que lhe
interessa mais do que o David de Michelangelo!
Então, meu rosto ficou vermelho beterraba quando meu professor
levantou minha Cosmo e girou devagar para ter certeza de que cada pessoa
pudesse ver o modelo quase nu, e é claro, rir como uns loucos para mim. Foi
uma maravilha que alguns deles não fizeram xixi nas calças, eles riam tanto.
E antes que eu pudesse dizer a todos que eu não estava babando em
cima daquele cara, — eu realmente não estava — Dr. Prentiss bateu a revista
na minha mesa e disse apenas para mim, — Encontre-me depois da aula,
Melinda.
— Sim, eu sei o que fazer, — eu resmunguei, deslizando de volta na
minha cadeira de novo.
Todos os meus professores daquela estúpida faculdade estavam sempre
pedindo para me ver depois da aula. E isso nunca foi para dizer: — Bom
trabalho, Mindy! — Eles só não conseguiam perceber que eu nunca tinha sido
tão feliz em estudar para começar e agora eu não conseguia pensar em nada.
Fiquei tão perto do chão quanto possível até que meu rosto começou a
arrefecer, então eu me sentei novamente, cruzei os braços sobre a minha mesa,
e enterrei meu rosto, não me importando que todo mundo soubesse que eu
totalmente tinha desistido, até mesmo fingido prestar atenção na arte
renascentista e suas "fundações".
ITALIANOS ESTÚPIDOS!
E quando eu pensava que eu tinha sido humilhada, tanto quanto
possível, o meu telefone que eu esqueci de desligar começou a fazer um
barulho, e pelo tempo que eu consegui fazê-lo calar, toda a turma riu de novo
do meu tema de toque, Olá Kitty e Dr. Prentiss soou como se fosse a última
gota, quando disse: — Melinda, por favor! — eu vi que tinha duas mensagens.
26
Um de um vampiro italiano que só não iria desistir, que dizia:
— Buongiorno4, Mindy Sue!
E uma de uma princesa romena que devia estar tendo um dia ruim,
também, porque tudo o que ele dizia era
.
4 Bom dia
27
—Desembuça Jess, — eu disse a ela. — Parece que você está em uma
caverna ou algo assim!
Um milhão de milhas de distância, na Romênia, Jess continuava a
sussurrar. — Eu não estou em uma caverna. Eu estou no banheiro. E eu não
posso falar mais alto.
Eu segurei meu Motorola rosa longe da minha orelha e dei-lhe um
aperto, porque não havia nenhuma maneira de eu ter ouvido direito. — Você
está, tipo, no vaso sanitário? Porque isso é apenas nojento.
—Eu não estou no banheiro, — a princesa Jess disse, um pouco mais
alto. — Estou no banheiro para que o meu guarda-costas não possa ouvir tudo
que eu digo.
Eu me sentei em um banco fora do escritório do Dr. Prentiss, que estava
em um prédio feio cheio de mobília barata. —Você é uma princesa em um
maldito castelo, — eu a lembrei. — Se você quer privacidade, vá para uma
torre... Ou algo assim. Não se esconda no banheiro!
Houve um grande e longo silêncio, então eu pensei que a ligação tinha
sido cortada, como fazia metade do tempo que eu falava com Jess. Esse era o
único problema de Jess por toda a vida. Sua parte da Romênia estava mais
presa no passado do país Amish. Eles nem sequer têm shoppings onde ela
morava. Eu balancei meu telefone novamente. — Jess, você está aí?
— Yeah. — Ela parecia super chateada. — Quero dizer, sim.
— Então o que há de errado? — Eu perguntei. — O que há com a
mensagem de careta?
28
Como é que a minha melhor, — vamos enfrenta-lo, minha única, —
amiga parecia apenas em ser a única coisa que eu sempre quis ser na minha
vida inteira, que era realeza?
Bem, isso e um cabeleireiro das estrelas.
— Estou apenas tendo um dia difícil, — ela disse. —Houve este
julgamento, e Lucius voltou agindo de forma estranha, me beijando como um
louco, mesmo sem falar como tudo tinha dado errado e que toda a coisa vai
estragar a nossa chance de ser rei e rainha...
Eu não queria rir dela, mas sério, esse foi um dia difícil? Ela estava se
escondendo de seus servos para que ela pudesse reclamar como o
incrivelmente e quente príncipe rico, que estava casada queria dar uns
amassos em seu castelo? E caramba, ela poderia não ser rainha e apenas ficar
presa em princesa pelo o resto de sua vida!
Sim, eu queria, tipo, chorar.
Para mim!
Eu tinha um cara que podia ter sido praticamente um príncipe — e um
realmente rico, — mas desistiu de tudo para... Surfar!
— Ei, Jess, — eu meio que a cortei. — Isso vai fazer você se sentir
melhor. Eu tenho um D no meu trabalho de Pensamento Crítico sobre a
reciclagem, porque meu professor disse que eu não poderia citar Elle5 como
uma fonte acadêmica. Então toda minha aula de arte riu de mim, porque eu fui
pega olhando para um cara italiano seminu, e agora...
Eu tenho esse louco sentimento que alguém estava me observando, e eu
olhei para cima e vi o Dr. Prentiss em pé na porta de seu escritório. Ele estava
com os braços cruzados, e eu não poderia dizer se ele estava rindo de mim ou
pronto para me matar. Provavelmente ambos. Isso parecia ser como todo
mundo da faculdade olhava para mim.
Ele descruzou os braços e estralou seus dedos, e eu disse: — Ei, Jess, me
desculpe, mas eu tenho que ir.
5 Elle é uma revista Americana
29
Ela deu um grande suspiro, eu podia ouvi-la da Romênia e disse: — Eu
acho que tenho que ir também. Meu amigo Ylenia supostamente virá a
qualquer minuto.
Eu me levantei e comecei a seguir o hediondo blazer de tweed do Dr.
Prentiss em seu escritório. — Ok, vamos nos falar mais tarde.
— Min! — Ouvi Jess tentar me impedir de desligar. — Você não
gostaria de vir aqui por um tempo, não? Eu vou pagar por tudo...
Eu não tive uma chance de responder, porque eu já estava clicando no
desligar do telefone. Era tarde demais para parar a minha mão. E o que eu
poderia ter dito, afinal? — Sim, Jess, eu vou largar a faculdade e ir para a
Romênia?
Mas poucos minutos depois, quando o Dr. Prentiss girou sua tela de
computador ao redor para que eu pudesse ver todas as minhas notas em todas
as minhas aulas, — o maior grupo de 60 e 65 anos, provavelmente na história
da comunidade das faculdades, — eu comecei a pensar que a Romênia não
poderia ser uma ideia tão ruim.
— Você tem que se concentrar, — ele repetia, mais e mais.
— Sim, — eu meio que concordei, olhando através dele para um grande
cartaz emoldurado da estátua David de Michelangelo e pensando, eu poderia
ficar longe dos italianos nus na Romênia?
Porque eu conhecia um italiano seminu, que pelo menos, odiava aquele
lugar.
E quando o meu professor disse, — Você entende que está falhando,
não, Melinda? — Eu só balancei a cabeça, mal ouvindo, porque a ultima coisa
que Jess disse finalmente afundou no meu cérebro, e eu me senti ainda mais
como uma solitária perdedora.
Eu poderia lidar com Jess ter um marido que a levou para longe de
mim. Ele era um cara, e ele nunca tomaria o meu lugar.
Mas será que ela realmente tem uma nova amiga?
30
Eu fechei o meu preto e luxuoso celular Vertu Signature — edição
padrão para a nobreza Vladescu — e suspirei quando cheguei na porta do
banheiro.
Eu tinha certeza que Mindy não tinha ouvido o meu convite
desesperado antes que ela desligasse o seu celular coberto de cristal rosa, que
eu poderia imaginar tão claramente como minha melhor amiga de olhos
castanho-claros e cabelos castanho ondulado. Ou talvez Min não queria ouvir
sobre passar as férias de inverno em uma montanha sombria com os vampiros,
porque ela foi pega na excitação da faculdade, com novos professores e
"pensamento crítico" e... Italiano seminu? Sério, porém, quem iria escolher
passar as férias em um lugar que realizava execuções?
Puxando forte, eu abri a porta e saltei para encontrar-me cara a cara
com uma menina que tinha uma cabeça cheia de cachos quase negros, uma
boca que era um pouco demasiado ampla para ser classicamente bonita, e
olhos escuros que estavam meio escondidos atrás de óculos de lentes grossas.
Uma garota que parecia —descontando os óculos — muito parecida
comigo.
31
— Eu te trouxe um pouco de sopa, — Ylenia Dragomir disse, tirando
uma garrafa térmica de uma enorme bolsa pendurada em seu ombro. Pelo
menos, a bolsa parecia enorme em minha prima. Na verdade, provavelmente
não era nem metade do tamanho da cópia de Louis Vuitton com acabamento
de pele falsa de leopardo de Mindy. — Eu pensei que isso poderia ajudar a
fazer com que você se sentisse melhor.
— Obrigada. — Eu aceitei o recipiente, sem estar certa se deveria falar
para Ylenia que eu não estava realmente doente, porque estávamos nos
tornando amigas. Eu sei o que Lucius aconselharia: “Não confie em ninguém...”
— Coma um pouco, — ela sugeriu, antes que eu pudesse me decidir a
admitir a verdade.
Eu tirei a tampa e cheirei, tentando não fazer uma careta por causa do
odor estranho. — Isso tem um cheiro... Ótimo, — eu menti mais um pouco. —
Delicioso!
— É ciorba di pui, — Ylenia explicou. — Sopa azeda de frango com
limão. É muito saudável!
— Foi você quem... Cozinhou isto? — Eu perguntei, parando, levando-
nos à parte de meu escritório que funcionava como uma sala de estar.
Ylenia me seguiu e se empoleirou na ponta de uma cadeira enquanto eu
me sentava no sofá novamente. — Sim! — Ela sorriu e encolheu os ombros. —
Aqueles de nós que ainda são Dragomirs, e não Vladescus, não tem um monte
de criados para preparar a comida. Nós aprendemos a cozinhar!
32
Ela estava rindo, mas eu me senti mal. Eu deveria pedir para Lucius
para gastar algum dinheiro daquele orçamento para reformar e contratar
funcionários para o velho castelo da minha família, que era pateticamente
sustentado por turistas que pagam para ficar embasbacados?
Ylenia deve ter percebido que sua piada não tinha graça para mim. —
Hey, eu estava só brincando, — ela disse. — Eu sinto que tenho sorte de ter um
lugar para viver agora que meu pai se foi. Eu não tinha nenhum outro lugar
para ir, e foi gentil você e Dorin me darem um quarto.
Pobre Ylenia. Sua mãe havia abandonado a família quando ela era uma
garota pequena, e seu pai havia lhe enviado para o colégio interno durante a
maior parte de sua infância. Até que ele perdeu sua escassa fortuna em um
mau negócio com Dumitru Vladescu, o que levou a uma luta até a morte. Ela
não era apenas órfã, mas também pobre e desabrigada, e eu me senti culpada
por pensar que a minha existência era difícil. Eu tinha pais, e Lucius.
Eu coloquei a garrafa térmica e a tampa virada sobre a mesa de mogno.
— Então, você quer falar sobre o julgamento? Embora eu entenda se você não
quiser.
— Não, tudo bem. — Minha prima se inclinou e derramou uma boa
dose do líquido amarelado na tampa, empurando—a na minha direção. — O
julgamento foi difícil. Lucius trouxe à tona toda a história do assassino do meu
pai, e foi duro ouvir isso. Mas agora eu sinto que a justiça foi feita.
Eu tomei um gole da sopa e me forcei a não fazer careta. — Como que
Lucius o fez falar?
Ylenia alisou uma ultrapassada saia longa sobre seus joelhos. — Ele é
Lucius. Como alguém não daria informações sob aquele olhar? Seu marido era
intimidante quando criança, e quanto mais velho ele fica, mais poderoso ele
parece ficar.
Eu dei outro gole e de repente a sopa não parecia tão estranha quanto a
maior parte das coisas que ela havia acabado de dizer.
33
Eu sou uma estranha em meu próprio casamento. Ylenia havia conhecido
Lucius antes mesmo que eu soubesse que ele existia. Eles haviam frequentado
esses congressos de verão enquanto eu estava criando bezerros para o 4-H e
nadando no lago Conewago enquanto Mindy se sentava na margem, não
querendo tocar na água suja.
— Ylenia? — De repente eu precisava saber se eu era também a mais
covarde, das duas primas Dragomir. — Você ficou para...?
Ela claramente entendeu a pergunta antes que eu pudesse terminar, e
ela negou com a cabeça, então seus cachos, uma versão dos meus, mas com
mais frizz, tremiam. — Não! Eu não podia assistir àquilo, mesmo que para ver
meu pai vingado.
— Eu também não poderia estar lá, — eu então admiti. — Eu
simplesmente não podia.
Ficamos em silêncio por quase um minuto, enquanto eu terminava a
sopa, porque apesar de não amar o gosto, eu realmente sentia fome pelo que
parecia a primeira vez em semanas, depois de ter confessado aquilo. Eu nunca
havia tido uma amiga próxima, exceto por Mindy, e eu precisava de uma
agora que ela estava tão longe. Dorin era ótimo, mas ele era meu tio. E Lucius
– enquanto meu amor eterno – também era um cara. Havia coisas que ele não
podia entender ou conversar como uma garota poderia.
— Eu deveria ir agora, — Ylenia eventualmente disse. — Você parece
cansada.
Eu estava começando a ficar sonolenta. Ambas nos levantamos. — Sim,
eu acho que estou.
— Claro. — Ylenia fechou a tampa da garrafa térmica e me entregou. —
Você pode terminar isto mais tarde. Dorin disse que você odeia tentar pedir
comida da cozinha.
Lucius definitivamente teria franzido a testa para aquele comentário,
mas eu não me importava naquele momento. Eu tenho uma amiga aqui, que
entende pelo que eu estou passando. — Obrigada.
34
Então Ylenia me guiou para a porta e usou seu romeno fluente para
pedir a Emilian para me escoltar até meu quarto, porque eu estava ficando
além de cansada. Eu estava exausta, e ansiosa para chegar ao único lugar
naquele castelo onde eu me sentia mais segura e mais em casa – pelo menos,
até mais tarde naquela noite.
35
Para: nightsurfer3@freeweb.net
De: LVVladescu@euronet.com
Raniero,
Saudações instantâneas do coração da Romênia, onde a chegada da “banda
larga” está tornando muito mais fácil ficar em contato – e, portanto, no controle – de
todos os meus longínquos parentes e reinos. (Refiro-me especialmente a você,
“nightsurfer3”, já que não se pode ficar "jogando" mais longe do coração frio e
selvagem dos Cárpatos do que nas “suaves” areias do Sudeste da Califórnia, pode-se?)
Supondo que você ainda não tenha sido arrastado pelas “deliciosas ondas” das quais
você fala com tanta reverência – você não realmente prova aquela água, não é Raniero?
– Eu escrevo, primeiramente, para investigar como você esteve desde nosso último
encontro, em meu casamento. (Eu irei reafirmar que foi uma honra tê-lo ao meu lado –
e o fato de que você se dignou a usar calças, ao invés de “shorts”, foi uma fonte de
grande apreço de minha parte. Apreço – e um pouco de alívio).
Também vou admitir: sua falha em responder ao meu convite por escrito de ser
meu padrinho me fazendo esperar. Ainda assim eu não pedi a mais ninguém para ficar
ao meu lado no caso de você falhar em aparecer. Eu apenas não poderia pensar em
ninguém em quem eu confiasse o suficiente para preencher esse papel significativo, mas
eu confiava em você, Raniero, para fazer a coisa certa tanto quanto eu confiei em você
ficando nas suas mãos naquele momento crucial quando você podia ter terminado
nosso treinamento – para não mencionar a minha existência – numa piscina de sangue
nas masmorras Vladescu.
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E é essa fé inabalável que eu tenho em você que também me compele a escrever
hoje.
Os próximos seis meses são cruciais para o meu futuro como líder dos clãs
unidos recentemente. Meu objetivo é pressionar por um voto de confiança na
convocação de julho e por uma coroação antes do fim do ano.
Você me conhece bem o suficiente para entender metade de meus motivos. Eu
nunca escondi que buscava o poder e estou confiante que eu tenho a visão e a
capacidade para liderar os clãs para fora dos períodos negros nos quais nossas famílias
parecem estar irrevogavelmente presas, socialmente, educacionalmente e
tecnologicamente. (Honestamente Raniero, nós somos os únicos Vladescus nascidos
nobres que sabem, com certeza, que Bluetooth não é uma apavorante doença específica
de vampiros que envolve falta de oxigênio nas gengivas? Eu temo que isso seja
verdade.)
Além das minhas ambições pessoais, porém, eu gostaria de acelerar este
processo pelo bem de Antanasia. Ela está admiravelmente se esforçando para se
transformar de uma adolescente humana em uma princesa vampira, mas ainda assim o
caminho é difícil para ela. Ainda mais difícil do que eu havia antecipado quando me
casei com ela.
Eu fui egoísta, Raniero, em meu desejo de torna-la minha. E agora, para
protegê-la, eu preciso colocar mais peso em seus ombros, pressionando por uma
coroação com antecedência para que eu, sobretudo, possa ascender ao trono. Como
nosso impiedoso, mas inegavelmente astuto Tio Vasile sempre observou: “Príncipe” é
para “REI” o que “filhote” é para “LEÃO”. E pode-se chutar um filhote, mas
“NINGUÉM“ chuta um “leão”.
Então irmão, o que você me diz? Você irá temporariamente – ou
permanentemente! – abandonar sua prancha, engavetar seus textos budistas e se
tornar novamente o “sábio guerreiro” que seu próprio nome, Raniero, destina a ser?
Você irá assumir seu lugar como meu braço direito? Não existirá nenhuma
consequência terrível como você teme. O passado é passado. Suas “filosofias” não lhe
ensinam isso?
37
Acrescentarei que aliviaria minha mente saber que mais alguém na Romênia que
não sofre do contágio da covardia cuidará de Antanasia. Ela forja alianças com vampiros
que parecem inofensivos, mas cujas próprias fraquezas representam ameaças que ela não
pode reconhecer. Ela instintivamente procura os suaves gatinhos de quando foi criada lá
— e aqueles não possuem garras. (Na verdade, equiparar Dorin Dragomir a um gato
recém-nascido é insultar a impetuosidade dos gatinhos de todos os lugares. E é claro,
você se lembra do caráter de Ylenia Dragomir...).
Espero ansioso por sua resposta, não estou exigindo sua presença aqui, como
seria de meu direito, mas pedindo como um amigo.
Lucius
P.S. Você sabia que a tradição diz que o “padrinho” não é um segundo homem
para o noivo, mas sim um guardião da noiva? Acredite em mim irmão, eu não deixaria
esta responsabilidade – mesmo que simbolicamente – com um vampiro em cujo
autocontrole eu não confiasse. Na verdade, se eu acreditasse que você representa o
menor risco para Antanasia, eu destruiria até mesmo você, meu mais próximo amigo,
sem misericórdia, antes que eu deixasse você chegar a menos de 100 milhas de nossa
casa. Você não pode ter fé em si mesmo?
P.P.S. Traga Mindy se quiser!
38
Eu estava deitada na cama lendo a revista Celebrity World para
esquecer como eu fui praticamente reprovada fora da comunidade da
faculdade quando meu telefone tocou. Eu quase não atendi, porque
honestamente, se Jess ia me dizer como ela estava chateada com Lucius pelo
que ele estava comprando para ela algo como uma tiara de ouro sólido ao
invés de platina que ela queria, eu ia gritar tão alto que ela escutaria da
Romênia, mesmo se a conexão fosse cortada.
Mas quando eu abri o telefone, não reconheci o número então eu
respondi.
— Sim?
— Buonasera6 Mindy Sue. — Havia um monte de estática na linha. Ou
talvez fosse o vento. Ou ondas no fundo. — Ciao7!
Bati Celebrity World contra minha cabeça. — Oh Deus, Raniero... Sobre
o que você está ligando? — Puxei o telefone longe e verifiquei o número
novamente. — E que telefone é esse?
Eu poderia tipo, ouvir Raniero Vladescu Lovatu sorrindo no seu
pacifico caminhar hippie. — Estou de pé, com os pés na areia quente,
observando o por do sol mais bonito, com muitas cores, e eu penso em você,
porque você é muito bonita e colorida sim?
Ignorei totalmente o elogio. E eu tentei duro realmente, não imaginar
Raniero em pé na praia em seu calção verde-oliva de surf, aquele tipo
6 Boa noite
7 Olá.
39
pendurado em seus quadris, talvez com algumas gotas de água em seu largo,
musculoso, moreno peito nu. O braço que segurava o telefone estaria dobrado,
por isso seus bíceps seriam como uma perfeita rocha dura... Rocha, e seus
dentes seriam tão brancos... Não Mindy! Concentre-se na cabana no fundo! A
maneira como os dentes mudam!
— Sério Ronnie, você conseguiu um telefone novo? — Perguntei,
porque não era como se ele arrumasse nada novo. — O que há com o número
estranho?
— Eu não sei de quem é esse telefone, — ele disse. — Estava passando
por uma toalha de praia, vi um telefone, pensei em você e liguei.
Pensei que ouvi errado — ele estava sempre se atrapalhando no inglês,
para o passado e o presente, especialmente fazendo uma grande mistura — e
me sentei na cama.
— O que? Isso é tipo, roubar!
— Não roubar — ele disse, como se eu fosse louca. — Eu estou
pedindo. Assim como eu permito os outros pegarem emprestado de mim. Há
muita preocupação sobre quem é o dono do que neste mundo. Mas se isso a
faz se sentir melhor, vou deixar a manga na toalha, eu acabei de comprar o
jantar.
Eu desabei novamente. É claro que ele não iria comprar um telefone
novo. Foi um milagre que ele gastou tipo, 45 centavos em uma manga, apesar
de sua família ter um zilhão de dólares.
— Honestamente Raniero, eu não me importo se você dá o seu fruto a
distância. Estou tendo um dia realmente ruim, então porque você não me diz o
que quer?
— Eu não quero nada. — Ele queimava mais alguns estranhos minutos
em mais filosofia. Eu podia imagina-lo dando de ombros largos, ombros nus.
— Eu só pensei em você e liguei. —Eu simplesmente via seus olhos verdes-
acinzentados recebendo toda tristeza, enquanto ele me dava um pouco de
40
piedade. — Estou triste em escutar que você está infeliz, porém, há algo que eu
possa fazer para ajudar, não?
— Não! — Sentei-me novamente e cruzei as pernas. — Não, a menos
que você possa consertar meu cérebro antes que eu saía reprovada da
faculdade em cerca de dois dias.
Ele ficou realmente quieto. Tudo o que ouvi foi o vento. Então ele disse:
— Eu acho que você vai ser feliz se deixar a faculdade, porque eu acredito que
estar nela não é o seu sonho.
— Você não sabe quais são os meus sonhos — eu disse, ficando brava
com ele. Talvez o meu sonho fosse ter um namorado que teria pelo menos
tentado conseguir um emprego se não usar seu fundo de garantia. E aquele
que se levanta por mim quando eu precisar. E que iria pelo menos oferecer me
morder, mesmo que eu não queira isso, porque isso significava compromisso
para os sanguessugas. — Você não sabe meus sonhos afinal!
— Talvez não. — Havia um encolher de ombros novamente. Ele sempre
foi brilhante no encolher de ombros quentes. — Mas eu acho que você deseja
ser uma estilista de cabelos.
— Sim, tipo, para as estrelas — eu disse a ele pela milionésima vez. —
Mas isso é uma fantasia estúpida que não vai acontecer. Se eu vou para
alguma beleza manca aqui da escola, vou acabar cortando cabelo no
MasterCuts no shopping, trabalhando para gritar com criança pequena, e eu
nunca sequer vou conhecer um cara decente com um futuro, como eu teria
conhecido na faculdade.
Oh Deus. Tudo saiu errado. Eu não tive a intenção de machuca-lo,
porque em um monte de aspectos ele era um cara decente. Ele era doce.
Muito doce...
Mas como de costume, Ronnie não se importava com nada, se eu
coloca-lo para baixo ou falar sobre outros caras. — Você gostaria de vir aqui?
— O escutei sorrindo novamente. — Não há luz do sol, e sempre tem espaço
para você, embora talvez não para todos os seus sapatos! E eu tenho certeza
41
que pode encontrar um lugar para estudar beleza aqui, muito perto das
estrelas que deseja conhecer.
O que eu poderia dizer sobre isso?
É claro que eu adoraria ir para a mundialmente famosa Ashton
Academy de Estética em Hollywood, onde praticamente cada estilista sempre
em destaque em HairStyle Celebrity tinha estudado, mas eu não tinha dinheiro
para chegar à Califórnia, e muito menos para pagar a mensalidade se eu
entrasse na escola. Eu não seria capaz de comprar uma manga para o almoço.
E na hora que eu chegasse lá, ele provavelmente iria para o Taiti como ele
sempre estava falando.
Não, se eu fosse viajar para qualquer lugar, seria para visitar Jess,
porque ela graças a seu marido rico pode pagar.
— Melinda, você está aí? — Ronnie perguntou. — Você está pensando
na minha oferta, sim?
Eu não lhe respondi, porque eu estava “considerando”, de repente, a
Romênia onde eu sabia que Raniero não queria ir, por algum motivo ele não
gostava daquele país. “É muito frio para mim mesmo,” ele me disse. “Muito,
muito gelado e traiçoeiro”.
Havia mais do que gelo e estradas ruins, no entanto. Eu quase fui
reprovada na alta escola de inglês também, e eu não consegui metáforas e
coisas assim como Jess e Lukey faziam, mas eu tenho somente que olhar no
rosto de Raniero para saber que ele estava falando muito mais do que sobre o
tempo, quando ele disse que o lugar era “gelado” para ele.
— Hum, eu estou realmente pensando em visitar Jess por um tempo —
eu finalmente disse. — Pausa de inverno começa em poucos dias, e ela se
ofereceu para me levar para lá.
Ouvi o vento e as ondas por cerca de 15 minutos, alguns pobres
sugadores minutos totalmente desperdiçados e então pela primeira vez desde
que conheci Ronnie ele parecia super, super infeliz. — Eu desejo que você não
faça isso.
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— Bem, eu acho que vou. — Eu praticamente fiz minha mente naquele
momento. Eu tive que cortar essa coisa entre nós. Essa coisa que me falando e
sonhando que o mundo é mais sem—teto, sem emprego, sem ambição, Nova
Era, de caras mortos-vivos de cabelos compridos. O sanguessuga cuja pior
falha foi o jeito que ele deu de ombros quando eu lhe disse: — Eu realmente
não acho que isso está funcionando Ronnie.
Eu sabia que ele não acreditava na luta e tem um braço cheio de
tatuagens de paz para provar isso. Mas ele não poderia ter pelo menos lutado
por mim? Oferecido mudar, só um pouco?
— Eu tenho que ir — eu disse a ele.
A última coisa que eu ouvi antes de cortar a ligação, era um vampiro de
pé em uma praia ao pôr do sol me dizendo: — Eu te amo muito Mindy Sue.
Enfiei o telefone debaixo do meu travesseiro, como seu eu pudesse
extinguir essas palavras, o que não significava nada. Raniero amava tudo e a
todos.
Até mesmo os insetos, que ele não mataria mesmo que rastejasse em você
naquele apartamento nojento em Lancaster, onde ele ficou por um tempo.
Se eu tivesse sido realmente especial, ele teria lutado e mudado por
mim.
ESTUPIDO, ESTUPIDO VAMPIRO ITALIANO!
43
De: nightsurfer3@ freeweb.net
Para: LVVladescu@ euronet.com
Lucius é bom ouvir sobre você! Mas eu acho que a partir de suas palavras que
você secretamente inveja o primo que você é muito bom em chamar de irmão, que só
agora está acordando, ao meio-dia, pensando apenas em comer um abacaxi fresco e nem
mesmo precisa tomar banho antes de ir para o oceano para o dia. Ser um rei tem muitos
fardos em comparação, sim?
Estou triste em ouvir suas preocupações. Imploro a você, não perca suas
energias regias temendo por Raniero, que faz o gosto das ondas do Pacifico
ocasionalmente. O que é um pouco de água contaminada por peixes para quem jantou
no chão de terra do calabouço Vladescu, minha pobre cabeça sofredora esmagada até a
sua presente vacuidade pelo salto de sua bota? (LOL!)
Como você, eu brinco muito, eu acho que, como um príncipe. Você é amável
para entrar na minha provocação e não remover o que sobrou da minha cabeça pela
pura diversão de fazê-lo. Então agora eu fico sério, sim?
Lucius... Eu não entendo essa “fé” que você tem em mim. É equivocada, não?
Você sentou-se a mesa quando os Anciões decidiram minha sorte, meu destino.
Você sabe o que eu sou. O que tenho feito. Você viu o olhar em meus olhos quando eu
me ajoelhei acima de você, estaca na mão!
Gostaria de ajuda-lo. Quero pagar o que devo a você, e para você se tornar rei,
porque enquanto eu não compartilho mais seu desejo de poder mundano, eu acredito
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que você não possui um poder muito raro e não mundano dentro do seu coração.
Compaixão. Sim? Algo novo para um vampiro governante, e muito necessário!
É lamentável, porém, que estou começando a aprender a encontrar essa
qualidade dentro de mim, mesmo espreitando em seu casamento para ter um vislumbre
de seu Tio Claudiu. Então, estou feliz em dizer, acalmá-lo para voltar a dormir estou
cavalgando as ondas constantes, observando o pôr do sol tranquilo e respirando
profundamente, respirações pacíficas.
Vamos deixar esse vampiro raivoso e indisciplinado intacto novamente, sim?
Certamente não devemos permitir que ele fique em qualquer lugar perto de sua
esposa! Eu vi seu olhar para Princesa Antanasia quando você falou seus votos, e eu
acredito que você iria destruir qualquer um que constitua uma ameaça para ela. Eu
prefiro muito mais que um vampiro morto não seja eu!
Lamento Lucius que eu não possa fazer mais do que ficar longe da Romênia. Se,
porém, você deve sempre desejar deixar a pressão de sua vida real para trás, até mesmo
por alguns dias, saber que enquanto minha casa é humilde, a vista é agradável. E a
porta nunca está trancada... Porque não há porta realmente. Apenas uma cortina de
chuveiro com peixes nela. Coloque de lado e entre!
Ritmo Lucius... Paz!
Raniero.
Eu esqueci alguma coisa e assim “P.S”. Para você também. Tenho medo do que
por uma volta – por uma vez – você está errado meu futuro rei. Mindy Sue não é para
Raniero. (Eu acho que ela ficaria surpreendida quando voltar para América ao saber
que eu não uso smoking todos os dias!) Somos opostos que se atraem muito, embora, eu
espero pacientemente que ela perceba que as roupas não são tão importantes. Não há
tempo, sim? A não ser, naturalmente, que essa menina muito doce venha a prejudicar
em sua casa, para eu entender que ela planeja viajar para lá sem mim.
Quem, eu me pergunto mais precisa de proteção Lucius? Uma Princesa
Vampira corajosa o suficiente para introduzir em seu castelo de olhos abertos ou uma
jovem inocente que é cega para o mal e apenas pretende tornar o mundo bonito, um
cabelo de cada vez? (Esta é a coisa que eu mais amo sobre ela. Isso e sua obsessão por
sapatos. Como pode ser isso, quando eu próprio não tenho mais que um par? Mas é
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verdade!) você poupou minha vida por duas vezes, mas a questão é algo para meditar,
não?
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— LUCIUS, ACORDA! — Eu gritei. Lágrimas escorriam pelo meu rosto,
e eu balancei seu ombro tão duro quanto eu poderia, mesmo que eu soubesse
que poderia machuca-lo mais. Se ainda fosse possível feri-lo, porque ele tinha
que ser... — Acorde! Por favor, acorde!
O sangue dele... Nas folhas... A estaca descartada entre nós...
Levantei minhas mãos para o meu rosto. O sangue em mim.
Agarrei seus ombros novamente, sacudindo-o de modo que tem sangue
em todo o lugar.
— Lucius, NÃO!
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— JESSICA, NÃO deixe as lembranças de um pesadelo enervar você
agora, — Lucius pediu calmamente. — Você não tem nada a temer de
fantasmas conjurados por seu subconsciente. Estou obviamente vivo e bem. —
Ele sorriu. — Você não vai se livrar de mim tão facilmente!
Sim, obviamente, ele estava bem. Ficamos sozinhos na antecâmara onde
sempre esperavamos antes das reuniões com os Anciões, dando-lhes uma
oportunidade de reunir antes de fazermos a nossa entrada, e Lucius estava
ajustando a gravata, que cobria seu peito intacto e não perfurado. E ainda...
— Era tão vívido, — Eu disse a ele novamente. Mais do que apenas um
pesadelo. Uma visão. Uma alucinação. Eu senti a estaca na minha mão, e o sangue
pegajoso nos meus dedos, porque eu tinha sido a única que tinha empunhado a arma...
Estou ficando louca com o stress?
Eu tentei sorrir, também, mas não podia. A última coisa que eu
lembrava –lucidamente — beber a sopa quente, estranha e cair no sono, então
acordar para encontrar Lucius com um buraco... Eu tinha sido acordada.
Lucius deve ter visto a perda insuportável, culpa e confusão que eu
ainda não podia sentir horas depois de eu estar gritando na nossa cama,
porque ele tomou meus ombros, equilibrando-me, mas atreveu-se a brincar.
— Eu poderia ter advertido você sobre os perigos de comer canja de
galinha azeda antes de dormir. É o suficiente para induzir pensamentos
desagradáveis em plena luz do dia — muito parecido com o sorvete de tofu do
seu pai! Se você quiser algo comestível, basta levantar qualquer telefone, discar
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seis, e dizer: "Häagen—Dazs”. A velha que responde vai entender, pois é um
comando que emiti muitas vezes.
— Jessica — Lucius tornou-se sério e soltou meus ombros após dar-lhes
um aperto mais. —Tente colocar de lado o sonho, pois temos que encarar a
realidade — agora mesmo.
E, de repente, com algum comando que eu nunca vi ser emitido, a porta
se abriu e eu enfrentei a minha terceira reunião formal com os Anciões — sem
contar uma reunião na casa de carne Western Sizzlin, onde eu conheci todos
eles e onde eles tinham batido em Lucius até um passo de perder sua vida.
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Enquanto eu caminhava para o meu lugar na ponta da longa mesa, eu
fiz o meu melhor, como sempre, para lembrar quem era quem entre um bando
de vampiros que pareciam de uma maneira muito semelhante, como se a
passagem das centenas de anos que muitos deles já haviam vivido usava-os
para a uniformidade de cinza, como pedras em um rio.
Claro que eu reconheci Dorin, que me deu um sorriso tranquilizador. E
Horatiu Dragomir, a quem eu sempre soube que tinha perdido a mão em
alguma guerra travada quando catapultas eram tecnologia de ponta. E, havia
um lugar vazio onde meu tio Constantin teria sentado...
Lucius, que havia me seguido, puxou minha cadeira, e como ele me
ajudou a deslizar, eu reconheci Flaviu Vladescu sentado ao lado de Claudiu, e
minha pele se arrepiou. Aqueles dois estavam entre os vampiros que tinha
batido em Lucius naquela noite terrível no Líbano County, quando os Anciões
haviam tentado forçar um príncipe rebelde de repente se casar comigo e
cumprir o pacto.
Meus olhos corriam para Lucius, que estava calmamente tomando o seu
lugar próprio, e eu não conseguia entender como ele poderia lidar com
Claudiu e Flaviu todos os dias e nunca mostrar que ele desprezava. Porque ele
tinha que odiá-los. Tive que por muito tempo para vingança.
Olhei para as mãos fortes de Lucius, e eu também não conseguia
entender como ele permitiu a seus tios vencê-lo, porque eu não tinha dúvida
de que Lucius poderia esmagar qualquer um de seus parentes mais velhos.
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Mas é claro que ele tinha sido levado a aceitar a punição de pessoas idosas e
não revidou contra seu tio Vasile até ele, diretamente, desafiá-lo a lutar.
Então eu olhei para Claudiu, que tinha um sorriso estranho nos lábios
finos, e que interrompeu Lucius assim como ele começou a chamar a reunião à
ordem, dizendo para mim, como eu temia: — E como está você, Princess?
Estamos todos muito preocupados com sua saúde, e esperando por um
relatório completo sobre a doença que levou você a partir do julgamento mais
importante deste século!
Antes que eu pudesse recuperar o suficiente para responder eu fui
congelada no lugar por Lucius que falou por mim, emitindo um comando de
duas palavras que mudaria tudo.
— Silêncio, Claudiu.
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— LUCIUS, VOCÊ honestamente silencia o seu tio? — Claudiu
perguntou, parecendo genuinamente surpreso. — E nesse tom?
Eu também estava chocada. Lucius sempre estava no controle nas
reuniões, mas eu nunca o tinha visto dirigir-se a um dos Anciões tão
rispidamente. Mas tinha sido claro que Claudiu estava debochando de mim, e
o Príncipe Vladescu estava deixando todo mundo saber que isso não ia
acontecer.
Ele está me protegendo de novo. Eu deveria dizer algo por mim mesma...
Mas eu não disse, e Lucius falou de novo, com menos severidade, mas
de uma forma que ainda não deixou espaço para discussão. — Você falou sem
pedir reconhecimento, Claudiu. E o nosso costume — nossa lei — demanda
que você peça autorização a mim ou Antanasia.
— Eu meramente indaguei sobre a saúde de sua esposa, — Claudiu,
entretanto protestou. —Você me pediu repetidamente para aceitar um
Dragomir como meu superior, e ainda quando eu faço uma proposta amigável,
você está descontente!
— Descontente por sua falha em cumprir a lei, — esclareceu Lucius. —
Eu me fiz claro neste fórum: agora somos uma cultura que cumpre a lei.
— Lei! — Claudiu bufou, abruptamente deixando de lado todo o
fingimento de sua preocupação por mim — e ousando confrontar Lucius
diretamente também. — Você fala com muita frequência em lei, Lucius! No
passado, Vasile permitiu-nos falar à vontade. Ele não se preocupava com a lei.
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— Você fala com muita frequência, ponto, — Lucius advertiu seu tio.
Ele se recostou em seu assento, como se ainda estivesse totalmente à vontade.
Mas eu podia ver a tensão se construindo em sua mandíbula. — E Vasile não
está mais no comando aqui. Então eu sugiro que você se acostume com a nova
liderança.
—Por quanto tempo? — Claudiu murmurou, sacudindo a cabeça.
Sua voz era suave — mas apenas alta o suficiente para ter certeza que
todo mundo ouviu.
Sentei-me chocada e em silêncio. Os outros vampiros ficaram quietos
também, mas quando eu procurei em seus rostos, vi excitação, não
preocupação. Apenas Dorin parecia preocupado como eu.
— O que você acabou de dizer? — Lucius exigiu, sua voz caindo uma
oitava. —Ou você deseja esconder suas palavras, como um covarde?
— Lucius... —Ouvi-me fazer uma tentativa de esforço em interferir, mas
ninguém nem mesmo reparou em mim. Seus olhos estavam todos trancados
em Lucius e Claudiu, cujas bochechas cinzentas ficaram um pouco rosa
quando ele disse:
— Muito bem Lucius. Vou falar, pois tenho mantido silêncio por muito
tempo.
Então ele se virou em seu assento para apontar para mim, e parecia que
o mundo inteiro paralisou enquanto Claudiu Vladescu expressou o que todos
os Vladescu — e talvez alguns dos Dragomirs — naquela mesa provavelmente
acreditavam que era verdade. Eu acreditava que era verdade.
— Ela não está pronta para governar, Lucius. Ela nem mesmo pode
fazer justiça!
Não...
Eu sabia que a Rainha Mihaela Dragomir teria distribuído alguma
justiça bem naquele momento, mas eu fiquei congelada, observando Lucius,
cujos olhos estavam ficando completamente pretos, assim como na noite em
que tinha me mantido prisioneira no castelo e quase perdeu o controle.
53
Claudiu parecia distraído, entretanto. Ele estava muito ocupado
expressando sua própria raiva reprimida para reconhecer que o jovem
vampiro que ele tinha controlado por muito tempo já não estava mais sob seu
domínio — e estava ficando com raiva também.
— Lucius! — A voz de Claudiu de repente tremeu. — Eu aceitei
Dragomirs nesta mesa, como Anciões, por quase vinte anos agora. Mas eu não
posso, e não VOU, aceitar um como meu soberano. NUNCA! — Ele virou os
olhos semicerrados para mim. — Especialmente não uma garota que nada sabe
sobre liderança.
Houve um silêncio completo na sala enquanto suas palavras morriam.
E, em seguida, Lucius se levantou, e eu vi de novo o príncipe guerreiro
que tinha invadido o meu castelo ancestral jurando derrotar os Dragomirs. Só
que desta vez, ele estava protegendo um Dragomir — o que apenas fez o seu
poder mais ameaçador conforme ele seguia em direção a seu tio, presas
expostas.
Claudiu levantou-se também, e eu vi que todo o seu corpo começou a
tremer. Talvez com raiva — ou talvez porque ele finalmente entendeu o que
ele provocou no meu marido.
Eu queria correr entre os dois vampiros e implorar-lhes para se acalmar,
mas eu não podia, em parte porque Lucius estava quase estranhamente
composto enquanto ele se inclinava para Claudiu e alertava, mostrando
aqueles dentes que poderiam ser tão bonitos e tão ameaçadores:
— As palavras que você fala são traição. Retire-se, e seja grato de eu não
destruí-lo, antes que você possa até mesmo enfrentar o julgamento que lhe são
devidos nos termos da legislação que EU VOU ACATAR, mesmo que eu esteja
fortemente inclinado a eliminar a sua existência, e a visão de você testar a
minha determinação de parar a minha mão.
Claudiu hesitou por um momento.
— Parta agora, — Lucius rosnou novamente.
54
— Tudo bem. Eu irei, — Claudiu finalmente concordou. Mas enquanto
ele saia da sala, ele ainda se atreveu a virar-se e rosnar: — Isto não acabou
Lucius.
Os dois vampiros se encararam por um longo momento.
E quando Lucius finalmente falou, de todas as palavras que ele proferiu
durante a reunião, nenhuma parecia mais agourenta, de alguma forma, do que
as que ele disse agora, com sua fachada calma completamente restaurada e
suas presas no lugar: — Na verdade não mesmo, Claudiu.
Enquanto seu tio esgueirava-se para fora da porta, Lucius tomou o seu
lugar de novo e olhou ao redor da mesa, silênciosamente desafiando qualquer
outro vampiro a desafiá—lo, e eu tive a sensação de que todos os outros
Anciõesse sentiram da mesma forma que eu.
O que acabara de passar entre Claudiu e Lucius... Não se tratava apenas
de Lucius proteger a mim ou o meu direito de governar. Estava enraizado
muito, muito no passado, tanto na rixa entre clãs e em um rancor pessoal entre
dois vampiros poderosos: um que havia tentado treinar um príncipe para
obedecer às ordens dos Anciões, e o príncipe, que tinha crescido demasiado
forte para ser controlado.
E julgamento ou não julgamento, não havia terminado.
55
Para: nightsurfer3@freeweb.net
De: LVVladescu@euronet.com
Raniero,
Obviamente, eu estou desapontado com a sua decisão de permanecer na
Califórnia, especialmente quando as coisas ficam mais complicadas na Romênia.
Eu pareço ter o inconveniente de uma pequena revolução em minhas mãos. A
revolta de um, o que me leva a encarar a perspectiva infeliz de um julgamento por nada
menos do que traição. E nós dois sabemos como isso deve acabar — para Claudiu.
Honestamente, lidar com nossos tios Vladescu não é diferente de montar as
suas amadas, espancadoras ondas. Precisa-se esforço para lidar com Vasile até a
enorme, inevitável quebra, só para se virar e descobrir que Claudiu está surgindo no
horizonte, e depois dele, Flaviu.
Eu poderia usar, se não um soldado, um surfista experiente aqui.
E enquanto ainda não é a emissão de uma ordem direta, eu reitero que é hora de
você parar de correr do passado. Você é um guerreiro, Raniero, e você sabe que um dia
terá que iniciar o ataque ao inimigo que é você mesmo — e a este campo, onde as suas
memórias têm tal fortaleza. Se quando essa batalha for concluída, você optar por
retornar à sua vida na praia, eu respeitarei essa decisão. Eu aceitarei que você é o
número um no mundo com Budista, vegando, pacífico—como—o—seu—mar vampiro
Vladescu (o genro que Ned Packwood, sem dúvida, secretamente deseja que se junte a
seu pequeno exército de cordeiros, galinhas, e bezerros, em vez de mim – assim como eu
56
não hesito em consumir meus colegas recrutas!). Mas até que o confronto ocorra, você
não está apenas se escondendo atrás de suas tatuagens e se acovardando nas ondas?
E você não é um a se acovardar, irmão.
Lucius
P.S. Claro que eu protegerei Melinda, quando ela chegar aqui. Mas não a
impressionaria mais, se você fosse a pessoa a executar essa tarefa? Preferencialmente
enquanto usa calças?
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—VÔO QUATRO – SETE - TRÊS para Bucareste agora embarcando os
passageiros prioritários.
Eu chequei meu bilhete pela milionésima vez, porque eu nunca tinha
viajado como prioridade na minha vida. As quatro vezes em que eu estive em
um avião, eu tinha assentos horríveis com vista para a asa.
Mas nope, lá estava ele, o meu lugar bem na frente, onde Jess prometeu
que me dariam uma bebida antes mesmo de decolar. Eu seria capaz de me
esticar em uma cadeira reclinável, bebericando um suco de laranja recém-
espremido, enquanto todos os outros arrastavam suas malas de volta para os
lugares mais baratos.
Levantando, eu peguei a alça da bagagem de mão da minha Gucci-
genérica – aquela que eu não gostaria que se perdesse se a minha bagagem
fosse para Roma, ou algo assim, porque você pode misturar os dois lugares — e
fui em direção ao avião.
Em poucas horas, eu estaria, assim, a mil milhas de distância do
Lebanon Valley Community College, que eu abandonei antes mesmo de
começarem as provas finais.
Qual era o ponto de tentar um F+?
E eu estaria muito longe para ouvir minha mãe gritando novamente
sobre como eu desperdicei alguns milhares de dólares de ensino e que eu
deveria apenas esquecer o imprestável que a fazia lembrar demais do
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vagabundo do meu pai — e que ela odiaria ainda mais se ela soubesse que ele
era um vampiro, pelo amor de Deus.
Eu estaria em um castelo cheio de servos, desabando em uma cama
enorme e comendo metade dos Tastykakes8 que eu estava levando para Jess
porque você não pode encontra-los na Europa por algum motivo.
E acima de tudo, eu estaria em um país que assustou o meu ex-
namorado até o último fio de cabelo, embora ele fosse morto-vivo, como
metade das pessoas na Romênia. Eu tinha certeza de que Ronnie nem sequer
me ligaria lá, porque ele me mandou mensagem tipo umas vinte vezes me
implorando para ficar em casa — e depois simplesmente desapareceu.
Finalmente.
Eu dei à senhora o meu bilhete e arrastei a minha mala pelo túnel em
direção ao avião.
Sim, era tudo de primeira classe para mim pelas próximas duas
semanas. De primeira classe e livre de caloteiros-sanguessugas.
Bati com a minha bagagem de mão sobre a abertura e vi aqueles
grandes assentos de couro me esperando.
Então como é que eu não estava mais animada?
8 marca registrada para uma linha de salgadinhos fabricados pela empresa Tasty Baking.
59
— NÃO FOI tão terrível, — Dorin insistiu. Mas ele estava torcendo as
mãos gordas e oscilando em torno de minha mesa. — Eu já vi incidentes piores
nas reuniões dos Anciões!
Eu tinha minha cabeça enterrada nas mãos, mas olhei para cima para
dar-lhe um olhar cético. — Sério? Você já viu algo pior do que um dos
vampiros mais poderosos cometendo traição ao diretamente dizer à princesa
que ela é incapaz de governar? Algo pior do que a maneira que eu nem sequer
me defendi?
— Você está sendo muito dura consigo mesma. — Ylenia entrou na
conversa de seu lugar no sofá. —Você só está se reunindo com os Anciões há
alguns meses. Você não pode lutar contra eles!
Eu lhe atirei um olhar agradecido. — Você está certa. Eu não sei como
eu poderia.
Então me virei de volta para Dorin, que estava procurando em sua
memória por algo pior do que motim. — Houve uma vez, anos atrás, quando
dois Vladescus estaquearam um ao outro, bem no salão de reuniões. — Ele
acenou com as mãos. — Não que eu tenha olhado! Mantive minha cabeça
baixa nessa vez!
Eu suspirei. Sim, claro que ele abaixou. Porque nós somos Dragomirs.
— Lucius disse que vai haver outro julgamento, — eu disse com
tristeza. —Essa traição é punida com destruição. —Como quase tudo no
mundo dos vampiros.
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—Onde está o menino? — Dorin olhou em volta como se Lucius
pudesse estar escondido em um canto — como se isso fosse alguma vez
acontecer. Então meu tio serviu a todos nós um pouco do chá que Ylenia havia
pedido. — O que ele está fazendo?
— Você conhece Lucius. — Eu tomei um gole, desejando que eu
pudesse tomar chá sempre que eu quisesse. Isso me lembrava de estar em casa
com meu pai, que respondia a cada crise com camomila. Infelizmente, eu
sempre esquecia a palavra romena " ceai," e na vez em que eu tinha tentado
ferver a água por mim mesma, a velha cozinheira me enxotou para fora da
cozinha, praticamente gritando comigo. — Ele queria um tempo sozinho para
andar em seu estúdio e ler seus livros de direito. — Olhei para minhas
próprias prateleiras, cheias de livros da minha mãe biológica. —Eu deveria
estar lendo a lei, também.
— Eu posso traduzir para você, — Ylenia ofereceu. — Apenas me diga o
que você precisa saber.
Eu tentei sorrir. — Obrigado. — Mas será que eu mesmo sei o que eu
precisava saber?
—Tente não se preocupar, Antanasia, — ela acrescentou. — Parece que
Lucius já cuidou de tudo.
— Sim, ele foi relativamente feroz, — Dorin confirmou, com um
estremecimento. — Se eu fosse Claudiu, eu estaria cuidando das minhas
costas!
—Sim... — Me corrigi, tentando soar mais "real". — Quero dizer, sim,
claro que Lucius assumiu o controle. — Eu caí atrás da minha mesa enorme,
que também havia sido trazida da propriedade Dragomir, na época quando eu
estupidamente estava entusiasmada com a ideia de ser uma princesa.
— Nós deveríamos ir agora, — observou Dorin, e eu olhei para o meu
relógio, surpresa ao ver que era quase meia-noite. —Antanasia terá um dia
agitado amanhã. — Ele olhou para Ylenia. — E nós temos um longo caminho
até em casa.
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Pousei minha xícara de chá, percebendo que eu fui grosseira por mantê-
los até tão tarde. — Por que vocês não ficam aqui esta noite? — Eu ofereci. —
Há dezenas de quartos. —Talvez centenas? — E esse negócio de descer a
montanha é tão perigoso no inverno.
Dorin e Ylenia trocaram olhares, e ambos pareciam aliviados. — Se você
tem certeza, — disse Dorin. Ele empalideceu um pouco. — Se Lucius não se
importar...
— Sim, está tudo bem, — eu prometi a eles. Eu posso não ser capaz de
lutar contra os meus inimigos, mas eu podia pelo menos proteger meus
amigos da queda de um penhasco. —Por favor, fiquem. —Eu me dirigi a
Dorin. —Você sabe onde os quartos de hóspedes são.
—Sim, obrigado, Antanasia, — ele concordou. — Estou muito
familiarizado com o castelo!
— Muito obrigada, — Ylenia acrescentou.
— Não tem problema. —Levantei e me senti quase zonza,
provavelmente porque eu não tinha comido nada desde aquela manhã. E eu
tive uma vontade súbita de ver Lucius. Parecia que eu estava sempre nervosa
naquele castelo, mas naquele momento, estava se solidificando em um mal-
estar poderoso, quase como uma... Premonição.
Mas eu não acredito em premonições. Acredito?
De repente, eu não tinha certeza.
—Ylenia? Será que você poderia dizer ao Emilian que eu quero ir ao
escritório do Lucius?
— Você tem certeza que não deveria ir direto para a cama? — ela
sugeriu. — Você parece muito esgotada.
— Não, eu realmente quero ver Lucius. — Eu preciso vê-lo.
—Ok, — ela concordou, mas com um olhar estranho no rosto. — Se
você tem certeza. —Ela foi comigo até a porta e se dirigiu a Emilian, —
Prendere Princesa Vladescu Antanasia al principe della Biblioteca.
62
Eu deixei meus parentes com uma rápida troca de boas-noites, e
enquanto Emilian e eu fizemos o nosso caminho através dos corredores
escuros, as minhas preocupações pareciam crescer a cada passo que eu dava.
Mas quando cheguei ao estúdio de Lucius e abri a porta, meu marido não
estava andando, como eu esperava. Um fogo queimava na lareira, o seu laptop
estava aberto sobre a sua mesa, e seu troféu de basquete brilhava em sua
estante.
Mas Lucius não estava em lugar nenhum para ser encontrado.
63
EU NÃO CONSEGUIA DECIFRAR os livros de Direito romenos da
minha mãe, mas eu poderia ler o diário que ela tinha deixado para mim, e
mesmo que eu estivesse incrivelmente grogue, peguei o livrinho, na esperança
de encontrar algo que iria aliviar o medo estranho que estava começando a me
sufocar.
Onde está Lucius?
Esticando-me na cama com a minha cabeça em direção ao fogo, deitei-
me, lendo de lado, porque eu senti como se eu nem mesmo pudesse me sentar.
E a minha curiosa mistura de cansaço e preocupação esmagadora fez das
palavras um borrão nas páginas.
"Não confie em ninguém..." "Sangue é ambos vida e uma parte inevitável da
morte, para os vampiros..." A palavra estranha " blestemata", escrita ao lado de um
símbolo ainda mais estranho desenhado nas margens ...
Onde eu tinha visto isso antes? E por que Mihaela escreveu aquilo em romeno?
E então aconteceu, assim que eu perdi completamente o foco e minhas
pálpebras começaram a se agitar fechadas.
Eu vi a estaca novamente. Depositada bem na frente da minha cara na
cama.
Recuando, eu apertei os meus olhos fechados.
NÃO. NÃO ESTÁ LÁ! Eu NÃO estou ficando louca!
Senti meu peito subindo e descendo duramente, mas eu me recusei a
abrir os olhos. Recusei-me a deixa-los me enganar novamente. Mas, é claro, eu
tive que olhar...
64
E quando eu o fiz, a estaca tinha sumido. E de alguma forma, porque eu
estava tão incrivelmente cansada, eu fechei os olhos novamente e caí em um
sono que deve ter sido muito, muito profundo, porque quando acordei, minha
cabeça estava no meu travesseiro. E Lucius estava ao meu lado, dormindo, nós
dois em cima das cobertas. Ele usava calça jeans e uma camiseta, como se
estivesse esgotado, também, e não tivesse sequer se preocupado em tirar a
roupa antes de vir para a cama.
Eu verifiquei o seu rosto pela luz do fogo e ele parecia bem, mas eu
envolvi meu braço em torno dele de qualquer maneira, assegurando-me que
não havia sangue no peito dele, como da última vez que a estaca tinha
aparecido tão vividamente diante dos meus olhos. Mas mesmo o sentindo
respirando não era suficiente para espantar a sensação persistente de que algo
estava errado. — Lucius...
Eu estava prestes a acordá-lo quando houve uma batida na nossa porta,
e seus olhos se abriram de imediato, como se ele não estivesse dormindo
depois de tudo. Ele era geralmente rápido em acordar a qualquer barulho
estranho, mas naquela noite eu realmente dei um solavanco para trás com a
rapidez com que ele reagiu. — Lucius?
A batida soou novamente, e ele se levantou, dizendo-me calmamente,
mas com firmeza: — Fique aqui.
Sentei-me, confusa. — Você está esperando alguém?
— Não. Eu não estou.
Isso me preocupou mais. E enquanto ele ia até a porta, ele olhou por
cima do ombro e agravou os meus medos. — Não se mova, a menos que eu
disser para você fazê-lo. Mas se eu disser para você sair do quarto, você sabe
para onde ir. E rapidamente.
Não foi até que ele abriu a porta que eu percebi que Lucius estava
vestido e alerta porque ele pensou que alguém poderia estar vindo por nós. Ou
por mim.
65
Claudiu. Talvez com outros Vladescus que ele reuniu. Eles vão terminar a
conspiração que Lucius não ia efetuar. Eles vão me destruir, porque eles não podem
viver sob o domínio Dragomir. Isso é o que ele está pronto para fazer.
Eu mal tive tempo para ficar aterrorizada, entretanto, antes que eu
ouvisse a voz familiar de Emilian e tomasse uma respiração profunda,
calmante.
—... este mort, — Eu ouvi Emilian dizer.
— Unde? Cum? — Lucius respondeu.
Eu peguei as palavras "onde" e "como" — mas nada mais.
Um momento depois, Lucius fechou a porta e voltou para a cama. Mas
ele não foi para o seu lado. Ele se sentou ao meu lado e pegou minha mão,
dizendo: — Você precisa se vestir, Antanasia.
Eu procurei o seu rosto, mas era quase como se houvesse tanta coisa
acontecendo na cabeça dele que eu não conseguia acompanhar, e meu medo
voltou para assustar.
Ele usou o meu nome formal, também. — Por que devo me vestir?
Os olhos de Lucius eram impossíveis de ler, mas sua boca desenhou-se
para baixo em uma das carrancas mais graves que eu já tinha visto enquanto
ele me informou, — Claudiu está destruído. Precisamos ir. Agora.
66
Agarrei a mão de Lucius enquanto fazíamos o nosso caminho pelos
corredores, indo em direção ao hall de entrada, onde o corpo de Claudiu
esperava. Mesmo em uma crise, nós não nos apressamos, porque a realeza
nunca corria, e quando passamos por uma das espessas janelas pelo caminho,
eu tive um segundo para perceber que já era madrugada.
Eu dei uma olhada para o rosto de Lucius. Quão tarde era quando ele saiu?
Onde ele estava? E como eu nem mesmo o senti deslocar-me na cama e colocar minha
cabeça no travesseiro?
Eu queria perguntar todas essas perguntas, mas ele parecia muito
preocupado, e, claro, Emilian e o guarda a quem Lucius raramente se
preocupava em usar juntos, estavam atrás de nós, então eu fiquei quieta.
Foi Lucius que falou primeiro, quando nós viramos outro canto. Ele
olhou para os guardas, ordenando, — Ramaneti acolo9.
Eles pararam em suas trilhas, e ele levou-nos mais alguns passos para
frente, então se inclinou para falar comigo em privado. — Eu preciso liberar a
sua mão agora. Você vai parecer forte parada por si mesma.
Eu balancei a cabeça. — Eu entendo.
Os olhos escuros de Lucius encontraram os meus, como se ele estivesse
tentando sustentar-me. —E pode haver muito sangue. Esteja preparada para
isso.
9 Fique ai
67
Eu balancei a cabeça novamente. —Eu sei. —O diário da minha mãe
biológica me avisou. — Sangue é... Uma parte inevitável da morte, para os
vampiros. — Eu vou ficar bem.
Prometi a ele, mas quando contornei a esquina para o enorme hall de
entrada, onde Lucius já havia chamado o primeiro prisioneiro em uma guerra
que ele tinha declarado em minha família, eu pressionei a minha mão contra a
minha boca e nariz, e não em vista do corpo, mas, ao cheiro.
68
Vários dos Anciões já estavam lá, e no começo eu não conseguia nem
ver Claudiu, porque eu era baixa e os vampiros mais antigos, que formaram
um círculo que seguiu a curva das paredes, eram quase uniformemente alto,
com a exceção de Dorin, a quem vi parecendo nervoso e ainda mais pálido do
que o habitual, com seu casaco preto abotoado até sua garganta.
Ylenia estava lá, também, agasalhada como Dorin, e no começo eu não
conseguia descobrir por que eles estavam na propriedade de madrugada. O
nosso castelo era tão grande, como uma cidade auto-suficiente, que os
AnciõesVladescu vagavam à vontade e, muitas vezes permaneciam por
semanas. Mas meus parentes Dragomir quase nunca dormiam lá.
Então eu lembrava vagamente de convidá-los para passar a noite. Eu
estava extremamente cansada que eu quase não lembrei de fazer a oferta.
Forçando-me a puxar minha mão no meu rosto, eu dei ao meu tio e
minha prima um pequeno aceno de cabeça quando os Anciões se separaram
para dar lugar a Lucius e a mim, embora eu tenha me espremido através deles
antes que eles cerraram as fileiras novamente.
—O que aconteceu aqui?—Lucius perguntou, indo diretamente para o
centro do chão e ajoelhando-se. Não tenho certeza sobre o meu papel, eu parei
perto e lutei ainda mais difícil para não ofegar quando o familiar — e desta vez
repugnante cheiro — ficou ainda mais forte.
Sangue.
69
Desde que me tornei um vampiro completo, Eu, como todos os
membros dos mortos-vivos, haviamos desenvolvido um nariz afiado para o
sangue. O cheiro dele era tão distinto, para os vampiros, como impressões
digitais ou DNA. E o sangue de Claudiu fedia como... Claudiu.
Enquanto o sangue de Lucius tinha um cheiro doce e inebriante,
Claudiu cheirava a decadência para mim. Como se ele já tivesse apodrecido
antes que fosse destruído. O cheiro quase tomava todo o salão.
Ainda assim, eu dominei meu reflexo tempo suficiente para, finalmente,
olhar para o tio de Lucius, e embora eu queria ser forte naquele momento, eu
era tanto o produto de uma bondosa família vegan como eu era uma princesa
vampira, provavelmente ainda mais vegan do que vampiro e eu cobri minha
boca novamente quando eu vi o corpo que estava na sombra do meu marido.
Então eu olhei do cadáver para Lucius, que estava ajoelhado ao lado de
seu tio, e aquela vontade de vomitar se intensificou quando me lembrei de
como Lucius tinha ameaçado publicamente a vida Claudiu apenas um dia
antes.
70
—Alguém fale, — Lucius ordenou, olhando de um Ancião para outro.
— Como isso aconteceu?
Ninguém ofereceu uma resposta, e Lucius deixou o silêncio demorar,
continuando a análise de cada rosto, mesmo quando ele enfiou a mão sob a
cabeça sem vida de Claudiu, embalando-o em um gesto que eu não entendia
muito bem.
Será que Lucius respeitava — mesmo amava — seu tio, de uma forma?
Mas Claudiu o bateu quando era mais jovem, e desafiou—o...
Eu não queria, mas eu não podia me impedir de olhar para o cadáver de
Claudiu novamente. Ele quase parecia que estava dormindo, até Lucius
suavemente rolou-o de costas e eu pude ver que a estaca tinha entrado.
Eu encontrei-me contando. Um, dois, três feridas. Há uma grande
quantidade de sangue fresco no chão, o corpo...
Com a mão livre, Lucius fechou os olhos de Claudiu, que havia estado
abertos e terrivelmente vago, mas o gesto pouco fez para tornar a cena menos
terrível.
Cobri minha boca com a mão mais uma vez, frustrada de como eu
poderia beber o sangue, que tinha sido parte do meu casamento, ainda sim, eu
mal conseguia aguentar o mero sinal de ver isso.
Não passe mal. Você pressionou suas mãos sobre uma ferida como essa uma
vez, de volta no celeiro de Jake Zinn, na esperança de salvar Lucius. Você pode fazer
isso. Você viu uma abundância de animais mortos na fazenda.
71
—Quem o encontrou? — Lucius finalmente exigiu, quando ninguém
respondeu à sua primeira pergunta. Ele permaneceu de joelhos, parecendo não
notar o acúmulo de sangue em volta dele, manchando a calça. — Alguém
pode, pelo menos, responder a isso.
— Eu, Lucius. Eu o encontrei. — Virei-me para ver meu tio Dorin dando
um passo à frente, toda a cor rosa em suas bochechas foi drenada, e sua mão
direita estava balaçando. — Ylenia e eu estávamos saindo de madrugada e nós
o encontramos aqui.
Lucius olhou meu tio por um longo momento, sua expressão ainda mais
sombria.
Não, uma parte de mim protestou. Você não pode ficar com raiva de Dorin
apenas para estar no lugar errado na hora errada! Isso não é justo!
Mas eu não protestei, porque, embora eu queira proteger o meu tio, eu
sabia que era ainda mais importante não mostrar qualquer divisão entre mim e
Lucius. Ele sempre dizia que apresentar uma frente unida era fundamental.
Ou eu estava com medo de falar porque eu poderia dizer a coisa errada?
E como poderiam todos estar tão calmos? Havia um corpo lá. Não era
alguma cena de crime da TV. Era real.
Eu mantive minha mão apertando minha boca. Este é o meu mundo.
Lucius enfiou a mão por baixo de Claudiu e gentilmente descansou a
cabeça de seu tio novamente no chão, levantando-se e, embora o ferimento
tivesse sido no peito de Claudiu, os dedos do meu marido estavam manchados
de sangue, exatamente como eles deveriam ter estado após a execução, que
tinha realizado em menos de dois dias antes.
— Alguém envie os funcionários para limpar e preparar o corpo, — ele
ordenou para os anciões em geral. — Vou ficar aqui até que eles cheguem, e
nós iremos nos reunir no fim da tarde na sala de reunião. — Ele olhou
incisivamente para Dorin, que se encolheu. — Espero que todos aqui
compareçam. Cada Ancião.
Dorin assentiu. — Sim, claro.
72
Tentei dar a Dorin um olhar simpático, mas sua cabeça já estava
curvada, com os olhos escondidos.
Parecia que não havia mais nada a dizer, então, como se seguindo o
exemplo de Dorin, nós todos curvamos a cabeça, oferecendo a Claudiu um
momento espontâneo de respeito silêncioso. Enquanto permanecíamos em
silêncio, Flaviu se adiantou e colocou seu casaco sobre o corpo, em seguida,
tomou o seu lugar entre os outros novamente.
Eu pensei que provavelmente devesse fechar meus olhos, mas não o fiz.
Eu assisti Lucius através dos baixos os cílios quando ele olhou para seu tio, sua
expressão ilegível novamente.
— Desculpe-me?
Todos se viraram na direção da baixa e hesitante voz, para ver Ylenia
ainda de pé contra a parede.
O quê?
—Umm... Eu não quero interromper, mas a estaca não foi encontrada,
não foi? — perguntou ela.
Nós todos olhando para ela, e ela ficou vermelha e ajeitou os óculos, e
eu tendo a noção clara de que ela desejava não ter falado, quando eu meio que
desejei ter dito alguma coisa. Qualquer coisa. Eu era uma princesa e deveria ter
ficado ao lado de Lucius. Então todos nós viramos para a porta gigantesca que
levava para quando ele guinchou aberto sobre suas dobradiças antigas e
alguém se juntou a nós, exclamando quando ela entrou no círculo de
vampiros, claramente não entendendo o que estava escondida sob o casaco a
seus pés, — Santo Toledo! Eu cheguei, tipo, em um momento ruim?
73
Para:LVVladescu@euronet.com
De: nightsurfer3@freeweb.net
Lucius, meu amigo,
No início deste dia, a uma hora da tarde, prestes a ordenar um burrito delicioso
bean no Terrible Taco, o restaurante mais famoso que está localizado muito
convenientemente perto do meu próprio domicílio, sinto um toque dado sobre o meu
braço nu.
— Sim? — Eu olho esperando encontrar um turista em busca de aulas de surf
(eu tenho um pequeno negócio de boca a boca em educação surf, você sabia?
Infelizmente, nunca me lembro de pedir o pagamento — que eu acho que ajuda no
comércio. Isso é um ciclo vicioso, não?).
Mas não é um turista. É um vampiro, que olha atentamente para a mão que eu
desprezei e diz: — Você é Vladescu Lovatu, não? — (Eu sou tão famoso quanto o
Terrible Taco! LOL, mas com o rosto triste.)
Meu novo amigo — que usa muitos piercings para dizer ao mundo que ele não
teme nada, nem mesmo Raniero! — Não esperou pela minha negação de identidade.
Ele está muito ocupado me oferecendo parabéns pelas muitas conquistas nos campos da
morte, desmembramento, etc
Você pode imaginar que este não é o tipo de louvor que eu desejava, por isso
agradeço-lhe as suas amáveis palavras e alcanço a minha comida. Toda via, antes que
eu possa ir embora, meu fanático e equivocado jovem me diz: — Você ouviu falar de
Claudiu, né, cara?
74
Eu paro e eu quase derrubo um burrito muito bom aos ouvir as palavras
seguintes, que eu cito para você: — Esse cara está torrado, cara.
Lucius... Esta história é verdadeira? Claudiu foi destruído? Se sim, quando?
Porque nós estivemos em correspondência esta manhã, várias vezes, e você não falou
nada.
Eu não acredito na preocupação, mas eu admito que esta notícia abala a minha
paz, só um pouco.
Estou muito ansioso para a messaggio em que você ri de mim e aconselhar: —
Não ouça os vampiros jovens que mal podem falar por causa das argolas de prata que
impedem suas tolas línguas! — Prevejo, também, o longo paragrafo em que você
expressa seu descontentamento com burritos de feijão, barracas de qualquer tipo, e
lugares em que as pessoas dizem "cara" e não se envergonham. Se você quiser, eu vou
me dar palestras e poupá-lo do problema, LOL!
Embora por favore,... Responda presto, Lucius, se isso não for difícil.
E se você não se importa de me dizer... Melinda Sue está ai, no meio desta
possível, se não provável morte e destruição?
Raniero
75
Eu e Jess encolhidas na grande cama do meu quarto, desistindo
totalmente de desempacotar minhas malas. Nós tentamos fingir que
estávamos bem, mas a mão de Jess começou a tremer quando ela tentou
descompactar o saco com todos os meus sapatos, então apenas sentou-se ao
lado do vestido preto que eu trouxe caso acontecesse algo extravagante.
Eu dei a esse vestido um olhar muito triste. Pena que a fantasia de que
alguma coisa seria um funeral. —Eu realmente sinto muito que isso aconteceu
agora, — disse Jess. Mordendo a unha, que era um hábito que eu sabia que ela
estava tentando parar. Apesar de que eu não iria lembra-la. Ela tem o
suficiente em sua mente sem se preocupar com sua manicure.
Um dos vampiros antigos tinha sido morto. Quando entrei na porta, eu
achava que era, tipo, um cão morto no chão, e eu estava totalmente confusa
sobre o porquê de Lucius estar coberto de sangue. Quando eu finalmente
compreendi o que estava acontecendo... Que era como a primeira vez em que
eu meio que entendi porque Jess poderia pensar que ser uma princesa não era
tudo o que estava errado, até estar nos livros de histórias.
— Você está bem? — eu perguntei a ela. Seus olhos cansados e com
grandes círculos escuros em baixo deles, e ela era muito fina. Eu estava feliz
que trouxe as tastykakes.
— Eu que deveria estar perguntando isso — Ela me deu um olhar
realmente preocupado. — E eu entendo se você quiser voltar atrás e ir para
casa.
76
Ela disse isso, mas eu conheço minha melhor amiga, e ela quer que eu
fique. —De jeito nenhum, Jess, — eu disse a ela. — Eu não estou deixando
você agora!
Jess olhou aliviada. — Eu honestamente acredito que você está a salvo
aqui. — Mas ela ainda me deu mais uma chance para voltar atrás. — Mas eu
realmente entenderei se você quiser ir embora.
Puxa, eu meio que queria. Então eu pensei sobre ficar um tempo com
minha mãe me chateando todos os dias para conseguir um trabalho no
McDonald’s ou KFC, porque ela vai começar a me cobrar aluguel, e de repente
a alternativa não me parece tão ruim. Não seria como qualquer um desses
vampiros antigos – e vamos encarar, um deles é culpado por assassinato – que
me incomodam. — Jess? — Eu disse. — Tenho que te dizer algo.
—Sim?—Ela ficou com raiva de si mesma e tentou novamente, porque
ela estava tentando tornar seu discurso mais real. — Sim?
—Eu meio que fui reprovada na escola, — confessei. — Eu realmente
não tenho qualquer outro lugar para ir agora, porque minha mãe está
chateada. Se eu voltar para casa, eu tenho que pagar apenas para viver no meu
estúpido quarto.
Jess piscou cerca de dez vezes, ela estava quase tão surpresa com a
minha notícia como por um vampiro morto em sua casa. — Uau... Eu sinto
muito. Eu acho que você teve uma queda aproximada também. Me desculpe se
eu estava ocupada demais reclamando sobre a minha vida para realmente
ouvir os seus problemas.
Dei de ombros. —Está tudo bem. Eu realmente não conseguiria alcançar
o que estava acontecendo com você, também Eu pensei que você estava sendo
meio chorosa. Até hoje.
— Yeah. Sim. — Jess ficando assustada sussurrou: — Eu estou
realmente preocupada com Lucius.
Foi a minha vez de piscar. —Por quê? — Eu não poderia imaginar
alguém que eu me preocuparia menos.
77
Mas Jess ficou ainda mais silênciosa, mesmo que o único vampiro
dentro de uma milha era seu guarda-costas pessoal, Emilio. v Lucius teve uma
briga com Claudiu ontem, na frente dos Anciões. Uma luta feia.
Eu não era uma calculadora, mas eu podia pelo menos colocar dois e
dois juntos. — Oh, uau. Sinto muito, Jess. — Então eu tive que perguntar: —
Você não acha que Ele poderia ter...
— Não. — Ela balançou a cabeça. — De maneira. Nenhuma. — Mas
seus olhos estavam desesperados. — Você acredita nisso, certo?
Eu levei um segundo para pensar. Eu tinha visto Lukey golpeando
Frank Dormand contra um armário, e eu sabia que ele não era nenhum santo.
Mas eu também o vi em seu casamento, e não havia nenhuma maneira dele
estragar o que ele tinha com Jess por matar outro vampiro. Além disso, se
Lucius ia matar alguém, ele não iria escondê-lo. Ele faria isso evidente então
estaria lá e lhe diria por quê. E você provavelmente vai acabar dizendo: "Claro
Lucius. Eu entendo!"
Último mas não menos, Jess precisava de mim para acreditar nela. Eu
fiz a minha mente, ali mesmo. — Eu acredito em você, Jess. Lukey é totalmente
inocente.
Eu estava feliz por poder dizer isso e porque parecia significar muito
para ela. Ela até tentou sorrir. — Eu tenho certeza que ele vai ficar bem, certo?
— Oh, sim, definitivamente. — Tentei sorrir também. Mas eu não tinha
certeza sobre isso em tudo.
Então, nós duas ficamos em silêncio e apenas ficamos lá estando
chateadas com nossas vidas.
Depois de um minuto, porque nós nunca poderiamos calar a boca por
muito tempo, Jess olhou para mim como se eu fosse algum problema de
matemática que ela queria resolver. Tal como a equação mundial mais triste de
álgebra. — O que aconteceu no Lebanon Valley, afinal? Você nunca foi do
Honors Club na escola, mas você nunca reprovou em qualquer coisa.
78
Eu corei e quase desejei que nós estivessemos falando sobre vampiros
mortos novamente. — Eu não sei. Eu simplesmente não conseguia pensar lá.
Eu queria falar para Jess sobre Raniero. Eu realmente queria. Mas não
havia nenhuma maneira que eu poderia dizer a uma princesa que se casou
com o cara que tinha acabado de dominar a cena de um assassinato que eu
tinha passado todos os entardecer de um mês com o único vampiro que
poderia chorar ao ver sangue, e talvez fugir, porque ele odiava violência. A
violência era a única coisa que ele odiava.
Eu nunca teria um verdadeiro príncipe — não por estar na realeza,
infelizmente, a única coisa que Ronnie nunca colocou o pé — mas eu queria
mais do que um pobre, preguiçoso, pacifista da Nova Era que não poderia
levantar-se para mim. Mesmo que ele foi o melhor beijo do mundo, com olhos
que me deixava louca.
Jess me conhecia bem o suficiente para ler a minha mente, no entanto.
Ela inclinou a cabeça, tentando ver o meu rosto. —Min... O que aconteceu com
você e Raniero? No meu casamento?
Eu sabia que teria que dizer a ela em breve – teria contado a ela meses
atrás — mas eu ainda estava feliz quando alguém bateu na porta. Até que a
pessoa pôs a cabeça dentro Uma cabeça coberta com ondas que eram como de
Jess, só frizzier, como eles precisavam de um encontro com um produto com
silicone. E ela usava uma camisa roxa que era a assinatura colorida de Jess.
Essa garota nova era como Jess, também — que não era realmente culpa dela.
Ainda assim, eu não pude deixar de pensar, esta garota é uma imitação
da Jess. E eu conheço imitações!
Cruzei os braços sobre minha camiseta Anna Sui-sósia e observei Elaine
ou Elainey, seja qual for o nome dela, balbiciando e gaguejando uma desculpa
no seu caminho para o meu quarto como se estivesse arrependida de sua
existência — mas não vou impedir de tentar agradar a uma princesa.
Então... Esta era a nova amiga de Jess.
79
— Ylenia, esta é minha melhor amiga, Mindy.
Minha prima deu alguns passos hesitantes para o quarto e sorriu
timidamente. — Olá. Prazer em conhecê-la. Eu ouvi muito sobre você.
Mindy assentiu, mas não sorriu. — Yeah. Eu ouvi coisas sobre você,
também.
Olhei para Min, surpresa, pela saudação fria.
Então me virei para Ylenia. — Eu acho que você e Dorin vão para
reunião, huh?
— Bem, eu não vou estar presente, claro. — Ela olhou para Mindy, o
estranho ainda maior, para esclarecer. — Desde que eu não sou uma anciã.
Mas sim, Dorin precisa ir. Obviamente.
— Então, você realmente encontrou o corpo? — Mindy perguntou. Ela
estava inclinando a cabeça para minúscula Ylenia poderia ter apostado um
vampiro de seis pés de altura. — Isso deve ter sido horrível.
Ylenia estremeceu, um traço que parece comum a todos os Dragomirs
da mesma forma que uma sobrancelha arqueada cinicamente marcava os
machos Vladescu. — Sim. Foi terrível. Mas Dorin realmente viu Claudiu
primeiro, e ele tentou me virar, antes que eu pudesse ver demais. — A voz
dela ficou um pouco grossa com emoção. — Eu acho que ele sabia que iria me
perturbar ver o corpo, dado o que aconteceu com meu pai há tão pouco tempo.
— O pai de Ylenia foi destruído, — eu expliquei, para benefício de
Mindy. — Esse foi o julgamento que eu estava falando.
80
— Sinto muito sobre seu pai, — Mindy disse a minha prima. — Meu
pai se foi, também. É uma merda.
Ylenia piscou um pouco mais. — Seu pai morreu...?
— Não, ele acabou de sair, — disse Mindy categoricamente. — Mas ele
é, tipo, um perdedor desempregado de qualquer maneira, por isso não é
grande coisa, eu acho.
Mindy tinha passado tanto tempo na fazenda de meus pais que eu às
vezes esquecia o desajeitado pai dela, que quase nunca ligou de onde quer que
ele passava caindo em qualquer momento.
— Minha mãe me deixou assim. — Ylenia superou Mindy em termos de
disfunção familiar. — Eu não a vi em anos.
— Desculpe — disse Min. — Isso é péssimo para você também.
Ylenia encolheu os ombros. — Está tudo bem. Eu comecei a frequentar
uma escola boa na Inglaterra por causa disso. Pelo menos até que o dinheiro
acabou. — ela conseguiu sorrir para mim. — E agora eu tenho sorte de viver
na casa da família Antanasia, já que ela mora aqui.
Mindy não parece ter nada a dizer e, embora a dinâmica estranha entre
elas estivesse fazendo um dia ruim, pior ainda, eu tinha que perguntar para
Ylenia, — Você quer sair com a gente? Ou com Mindy, porque eu tenho que ir
me preparar para a reunião em breve.
Meu senso de mau agouro semipermanente aprofundou novamente
com a ideia do ajuntamento. Lucius ameaçou Claudiu. Todo mundo os viu
lutar. Ouviu os dois declarar: "Isso ainda não acabou”.
— Na verdade, eu queria falar com você sobre isso, — disse Ylenia. —
Eu sei que nada têm a dizer no que acontece nos conselhos, mas eu pensei que
poderia apenas sugerir, — ela levantou as mãos — não que eu tenha o direito
de sugerir alguma coisa para uma princesa...
— Ylenia, somos amigas, — eu a lembrei. — E eu poderia usar uma
sugestão agora.
81
— Bem, imagino que Lucius tem pensado nisso, mas no caso ele não tê-
lo — talvez você deva pedir a todos os anciões para produzir suas estacas.
— O quê? — Mindy soltou a pergunta antes que eu pudesse.
— Isso é como o assassino de meu pai foi condenado em última
instância, — Ylenia explicou para nós duas, pois é claro que eu tinha perdido o
julgamento. Ela olhou para Mindy, no entanto, supondo que eu entendesse o
que ela disse em seguida. — Todo vampiro macho tem uma estaca que é
presentiada a ele por seu pai, na realização de masculinidade.
Lembrei-me, então, outra coisa da revista da minha mãe. — Uma estaca,
como o sangue, é distintivo a seu portador... — E eu sabia que tinha Lucius
tinha apenas uma estaca.
Virei-me para Mindy, também, para coloca-la em termos que ela
entende. — Certo Ylenia. Uma estaca é como um... Um presente de bar
mitzvah.
Mindy franziu a testa. — Isso é um presente bastante torcido.
— Talvez, — concordou Ylenia. — Mas vampiros mais masculinos, em
especial, os nobres, vai usar a estaca apenas quando a arma for necessária.
Torna-se como uma extensão do próprio braço. — Ela fez uma pausa. — E
uma estaca nunca é “equivocada”.
Eu balancei a cabeça, compreendendo. — Então você está dizendo que
se um dos anciões destruído Claudiu, o seu sangue seria a sua arma.
Ylenia acenou com a cabeça também. — Sim. O cheiro de sangue de
meu pai estava na estaca do seu assassino. Ele era inconfundível.
— Isso está ficando um pouco estranho, — Mindy interrompeu. — Sem
ofensa.
— É estranho, — eu admiti. E, no entanto, simplesmente é exigindo que
toda a produção de uma estaca pode ser uma forma eficaz de encontrar o
assassino. Ou pelo menos ajudar a defesa de Lucius, cuja participação seria
limpa.
82
— Tenho certeza de que Lucius tem pensado nisso, — acrescentou
Ylenia novamente. — Mas, a chance de que ele está distraído – e de luto — eu
pensei em oferecer a sugestão para você.
Eu não tinha certeza se Lucius estava de luto, mas ele definitivamente
estava distraído. — Obrigada.
— Eu só quero ajudar, — disse Ylenia. Então, ela olhou para a porta. —
Eu vou indo agora.
— Obrigado, — eu repeti. — Vamos sair mais tarde. Nós três.
Ylenia se iluminou. — Isso seria bom.
Quando ela saiu, comecei a ajudar Mindy desempacotar novamente. Eu
me senti um pouco melhor, mas ela tinha ficado muito quieta. Ela começou
movendo seus sapatos de sua mala para o chão amplo, do armário de porta
dupla, que parecia que não poderia ser grande o suficiente para mantê-los
todos.
Eu não disse nada, também. Eu estava preocupada que eu estava sendo
afetada por um vestido iria parecia perfeito para uma festa, que
provavelmente, não aconteceria.
Como eu estou preocupado sobre Lucius?
Onde ele estava ontem à noite?
De repente, Mindy interrompeu meus pensamentos com uma pergunta
que eu nunca tinha pensado em perguntar antes. Mas quando eu ouvi sua voz,
fiquei realmente intrigada.
— Aquela garota Ylenia... — Ela disse quase de improviso. — Ela é,
tipo, um vampiro de verdade, certo? Tipo, seus dentes crescem e ela bebe
sangue? Assim como você começou a fazer depois de Lukey mordeu você.
Eu me virei para olhá-la. — Sim, eu penso assim.
— Hmm... — Mindy ajoelhou-se para organizar seus sapatos mais
ordenadamente. — Eu me pergunto quem diabos mordeu ela?
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Para: nightsurfer3@freeweb.net
De: LVVladescu@euronet.com
Raniero
Eu irei deixar de expressar meu espanto ao saber que outros jovens vampiros
deficientes foram para a praia. (Isto está sendo uma tendência? Eu sei que nós não nos
desfazemos em luz solar, mas não deve haver limites de exposição para os seres que
governam o lado escuro do universo? Pode alguém induzir-nos enquanto estão fedendo
a loções com perfume de coco?) E eu também adiaria a palestra sobre burritos, que é,
como você preve, inevitável para informar que a notícia é verdadeira. Claudiu foi
destruído.
Eu imagino que esta inteligência inspira em você as mesmas emoções
conflitantes que eu experimentei com a perda de um tio que era sem escrúpulo e que
nos atormentou tanto, muitas vezes com um sorriso de prazer em seus lábios e, no
entanto, que era tão ferozmente, orgulhosamente um Vladescu. Ou talvez você não
veja nada, mas sua crueldade neste momento em sua própria existência.
Quanto a quem cometeu o ato... Que é ainda indeterminado, e um assunto que
eu prefiro muito mais para discutir cara a cara.
Imagino que você tem poucas malas a fazer, mesmo para uma estadia
prolongada, o que deve fazer a sua viagem muito mais fácil em seus músculos, se não
sua mente.
84
L
P.S. Melinda chegou de forma bastante dramática, como é seu jeito cativante.
Tenha certeza de que vou protegê-la. Embora eu reitero que o trabalho seria melhor
feito pelo segundo do trono vestido com calças.
P. P.S. Você vai notar que eu não quis mesmo abordar o uso da palavra “cara",
um curso que vou continuar a seguir. Dói-me o suficiente para escrever o termo uma
vez, aqui, sem nunca levantá-la novamente.
85
Lucius andou em seu estudio, as mãos fechadas atrás das costas e
cabeça baixa, sem dúvida remoendo tudo, nós – ele – acabamos de ler em voz
alta todos os livros antigos que delinea o que fazer quando um vampiro for
destruído, porque não havia nenhum policial para os mortos-vivos.
Sentado no sofá de couro, eu segui o seu progresso para trás e para
frente, contando cada vez que ele pisou em uma marca escura sobre o tapete
turco. A mancha de sangue, que nenhuma quantidade de lavagem parecia
capaz de remover. Era como se o tio de Lucius — Vasile – quem Lucius tinha
destruído naquele local — se recusasse a nos deixar.
E então, assim que ele deu o quinquagésimo quarto passo na mancha,
Lucius se virou para mim, arqueou uma das sobrancelhas escuras, e sacudiu-
me, sugerindo a pergunta que eu não conseguia descobrir como perguntar sem
fazer parecer que eu duvidava da sua inocência. O que eu não fazia.
— Não gostaria de perguntar onde eu estava ontem à noite, Jessica?
86
— Não. Lucius — eu prometi a ele. — Eu não preciso perguntar.
Ele sorriu e se aproximou para sentar perto de mim. Mudei-me para
fazer o quarto para ele, mas ele agarrou a minha mão, prendendo-me ao seu
lado. — Isso é interessante, porque eu vi a questão em seus olhos por pelo
menos uma hora.
Eu ruborisei. — Lucius, não!
— Está tudo certo, — ele tranquilizou-me. — Como os outros, você me
viu ameaçar Claudiu. E, ao contrário dos outros, quem será o suspeito com
base apenas nisso, você veio a este escritório tarde e me encontrava fora.
Senti meus olhos se dilatarem. — Como é que você sabia?
Lucius sorriu novamente. — Eu não a segui em segredo, Jessica.
Quando voltei para a cama e despedi Emilian e ele apenas mencionou que
você esteve me procurando aqui e não me encontrou. — Ele tornou-se sério. —
E você nem sequer me sentiu mudar você na cama, então eu imagino que não
tem ideia de quando eu me juntei você.
— Sim... Sim, eu dormi muito na noite passada. — Depois de ver uma
outra estaca na cama. Aquela sensação horrível de premonição voltava a me
assustar, e eu tentando negar-lhe provimento.
Mas isso não ajudou quando Lucius acrescentou: — O fato de eu ter
destruído antes... — Seu olhar moveu para a mancha no tapete. — Incluindo
outro dos meus tios, um ato para o qual fui julgado... Estou certo de que
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nenhuma dessas coisas ajuda a acalmar as suspeitas de ninguém sobre minhas
ações na noite passada.
— Então, onde você estava? — Eu perguntei. — Não porque eu não
confio em você. Mas se os anciões estão indo para fazer perguntas, eu deveria
saber.
Lucius apertou minha mão. — Tem certeza que você confia em mim? —
Seus olhos nublados. — Porque eu te avisei, nesta mesma sala, que eu sempre
serei um príncipe vampiro, e sempre traiçoeiro. Estou certo de que é a palavra
exata que eu usei, pois me lembro daquela noite mais vividamente do que
qualquer outra, como foi o pior — e o melhor — de minha existência até agora.
Eu olhei nos olhos incrivelmente escuros de Lucius, onde eu tinha visto
aspectos ainda mais escuros de seu coração refletido. Eu sabia que ele era
capaz de coisas que me fez tremer tanto em boas e más maneiras. Ele era
definitivamente capaz de destruir outro vampiro, e não hesitaria em fazê-lo...
Ele nem sequer piscou, permitindo-me procurar em sua alma.
Mas Lucius só destruiria outro vampiro se isso fosse inevitável, justo e
legal de acordo com o código que ele espera melhorar e estabelecer em nosso
reino.
— Eu confio em você, Lucius, — Eu disse a ele. — Não importa onde
estava na noite passada, eu sei que você não destruir Claudiu.
Havia muito mais coisas que deveria ter falado antes de ir se encontrar
com os anciões, mas esqueci tudo, inclusive da sugestão de Ylenia sobre a
chamada para um show de estacas, quando Lucius se inclinou para frente e me
beijou, dizendo: — Obrigado por sua fé, Jessica. Temo que pode ser a única
confiança que possuo agora, e vou precisar dela nos dias que virão.
— Mindy acredita em você, também, — Eu disse a ele. Parecia bobo
quando eu disse isso, porque realmente, o que significa o seu apoio? Ela não
era nem uma vampira, muito menos uma anciã.
Mas Lucius sempre gostou de Min, e ele parecia grato. — Ela tem um
bom coração. — Ele sorriu ironicamente. — Talvez ela possa falar em meu
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nome, se eu precisar do que os americanos chamam de testemunha de caráter.
Tenho certeza que ela iria garantir os anciões que eu arrebento — apesar de
eles não têm ideia do que isso quis dizer.
— Oh, Lucius... — Eu estava rindo, mas também com medo ao lembrar
de um possível julgamento, e eu me inclinei mais perto e o beijei.
Nós paramos de falar então, mas era como se estivéssemos ainda
falando à medida que continuamos a nos beijar, carinhosamente, mas
profundamente. A cada poucos segundos, puxavamos para trás para ver nos
olhos do outro, e eu fiquei tão envolvida em seus braços, e assim me perdi na
sensação de seus lábios contra nossa silênciosa, mas intensa comunicação, até
que eram dias antes eu percebi que ele nunca me disse onde ele tinha estado
naquela noite.
E aí já era tarde demais para lhe perguntar qualquer coisa.
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— E assim foi acordado que nós vamos sepultar10 Claudiu daqui a cinco
dias? — Lucius perguntou aos Anciões. Ele fechou a agenda de couro que
usava nas reuniões porque quando tentou trazer um laptop enervou alguns
dos vampiros mais velhos que estavam acostumados com papiros e tinteiros.
— Nós estamos de acordo sobre isso?
— Sim, sim. — O murmúrio de concordância podia ser ouvido ao redor
da mesa e acenaram com a cabeça.
Eu soltei meu fôlego, e senti como se o estivesse segurando por horas.
Eu não tinha percebido como estava tensa até que a reunião começou a
aparentar estar se concluindo sem nenhum incidente. Talvez sem Claudiu, os
Anciões fossem menos propensos a causar problemas.
Eu olhei para Lucius.
Ou eles estavam com medo de que o que aconteceu com Claudiu
pudesse acontecer com eles se eles discordassem? Havia definitivamente um
silêncioso senso de desconfiança naquela sala.
— Eu agradeço todos vocês por virem em um prazo tão curto — Lucius
acrescentou. — Antanasia e eu vamos mantê-los informados a medida em que
definirmos o próximo passo no inquérito deste crime.
Minha respiração ficou mais estável, e eu consegui dar um sorriso
trêmulo para Dorin, que parecia compartilhar meu alívio, sem dúvida porque
Lucius não o tinha colocado em seu lugar. Ou talvez ele só estivesse feliz que
10 No original a expressão “inter”. No Michaelis a definição foi enterrar ou sepultar, mas realmente fiquei
na dúvida, pois não li as partes anteriores do livro pra poder entender direitinho e pra ficar coerente.
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ninguém mais tinha sido assassinado. A pauta toda girou em torno de
tranquilizar os Anciões de que iríamos realizar uma investigação profunda e
decidindo quando enterrar Claudiu, porque tivemos que deixar tempo para a
notícia sobre sua destruição se espalhar por todo o caminho das fofocas, já que
não havia nenhum jornal, muito menos CNN ou um site para os mortos-vivos.
Lucius sento-se de volta e começou a dizer — Nós terminamos.
Mas é claro que meu alívio havia sido prematuro.
— O que exatamente esse “inquérito” vai acarretar? — Flaviu Vladescu
perguntou. — E quem, precisamente, vai conduzi-lo?
Oh, não.
Eu troquei um olhar com Flaviu e meu coração se afundou. Ele sempre
foi ofuscado por seu irmão mais velho Claudiu, mas ficou claro que agora era
a vez de Flaviu evoluir, assim como Claudiu tinha ganhado poder após a
morte de Vasile. Já o vampiro com nariz de papagaio quebrado se sentou um
pouco mais reto e tamborilou com seus finos e nodosos dedos na mesa como
seu irmão costumava fazer. E Vasile antes dele.
Eu tive um lampejo de desconfiança. Existe uma chance de que Flaviu
tenha algo a ver com a destruição Claudius? Olhei para o jovem vampiro
saboreando seu novo status ao tentar parecer aflito e pareceu possível.
— Como vocês sem dúvida sabem, as nossas leis sobre punição são
extensas, — Lucius fez lembrar seu tio. — Mas a investigação tem sido
virtualmente ignorada. A suspeita só tem sido suficiente para desencadear
multidões para promover “justiça”. — Ele olhou para mim. — Antanasia e eu
gostaríamos de estabelecer um protocolo mais moderno e empírico. Pedimos
apenas por tempo para discutir o que deve ocorrer a seguir para que possamos
submetê-lo à sua votação.
Embora eu odiasse chamar atenção para mim, balanço a cabeça para
apoiar este plano. Nós definitivamente concordamos que a justiça vampira
colocou demasiada ênfase na obtenção de vingança e levar suspeitos a
julgamento – e à estaca — o mais rápido possível. E coisa mais próxima à
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polícia eram vampiros que soavam mais como caçadores de recompensa,
escolhidos por suas naturezas especialmente cruéis.
— Tenha certeza de que a destruição de Claudiu não vai ficar sem
resposta, — Lucius acrescentou.
Mas Flaviu não parecia tranquilo. Ele parecia furioso, e olhou ao redor
da mesa em busca de apoio. — Nenhum de vocês é corajoso o suficiente para
falar o que todos nós estamos pensando? Que é que a pessoa que afirma
acreditar na "lei" foi o último visto lutando.
Senti meu medo borbulhando dentro de mim e lutava para mantê-lo sob
controle. É desta forma que isto começou ontem.
— Tenha cuidado se você está prestes a fazer acusações, — Lucius
interrompeu, com um afiado olhar de advertência para o tio. — Este não é o
momento ou o lugar. Eu prometo a vocês, vamos determinar quem cometeu
esse ato.
— Como? — Flaviu pressionou para obter detalhes. — O que este
processo "empírico" implica?
Embora Lucius estivesse abrindo a boca para responder, não tínhamos
um processo ainda, e imaginei toda a situação saindo do controle, assim como
tinha acontecido com Claudiu. Foi provavelmente por isso que, embora eu
quase não tenha falado uma palavra durante qualquer uma das minhas
reuniões com os Anciões, eu deixei escapar: — A primeira coisa que
pretendemos fazer é convocar cada Ancião para produzir sua estaca.
Flaviu pareceu chocado ao me ouvir falar, mas ele intromete-se e
pergunta, muito rapidamente, — Quando, Antanasia?
Eu não havia pensado nisso, mas eu tinha que dizer alguma coisa. E era
provavelmente melhor o quanto antes. — Amanhã. Nós nos encontraremos
aqui, neste mesmo horário.
Houve um silêncio mortal na mesa. Eu pensei que eles estavam todos
chocados que eu finalmente anunciei algo.
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Então, de repente, em vez de despedir-me — ou rir mesmo, como eu
meio que esperava — ouvi murmúrios de aprovação e vi cabeças movendo em
concordância.
Apesar das circunstâncias terríveis, eu senti uma onda de alívio que
beirava orgulho.
Eu finalmente fiz algo certo como uma princesa, e eu olhei para Lucius
por sua aprovação. Mas quando encontrei seus olhos, percebi que ele não
achava que a minha sugestão era tão boa. E embora ele publicamente me
apoiasse dizendo: — Vamos fazer isso como Antanasia decretou, e nos
encontrar amanhã ao anoitecer, — Eu sabia pelo jeito que ele coçou seu queixo
antes de adicionar, mais uma vez, — reunião encerrada, — que eu realmente
atrapalhei desta vez.
Eu só não consegui descobrir como, porque parecia que meu – bem, o
plano de Ylenia — para determinar quem tinha destruído Claudiu era a prova
de tolos o bastante.
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