L

P.S. Não há necessidade de arrumar qualquer dos seus pertences de judeu. Meu

alfaiate está preparando um traje para que você vista no funeral, onde você pode ser

chamado para servir como meu representante — no equivalente fúnebre de um

padrinho — como há uma forte possibilidade de que a minha presença vai ser

impossível.

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— Obrigada por trazê-los, — diz Jess, realmente quieta. Sua cabeça

estava inclinada e ela passou o dedo na cobertura de seu butterscotch

krimpets11 favorito. — Eu fico realmente com fome aqui às vezes.

Me estendi em todo o colchão grande onde estávamos sentadas de

pernas cruzadas, como costumavamos sentar na cama de Jess na Pensilvânia, e

peguei outro pacote de chocolates pequenos. — Como você pode ficar com

fome aqui? Os servos não conseguem qualquer coisa que você quer?

Jess olhou para cima e seus olhos estavam vermelhos e cansados. — Eu

não sei como falar com o cozinheiro. Então, às vezes se Lucius não está por

perto, eu simplesmente não como. É mais fácil.

Eu olhei para ela como se ela fosse louca. — Jess, você tem que comer!

— Ela parecia pequena para um tamanho seis. Talvez quatro o que era muito

pequeno para ela. — Eu sei. — Mas ela ainda pegou na cobertura.

Eu a olhei por um segundo, então, perguntei: — Você não está ainda

chateada com essa reunião, não é?

— Você não viu o rosto de Lucius quando eu resolvi fazer um show de

participação, — disse ela novamente. — E então, quando todo mundo tinha

ido embora, ele ficou todo distante e disse: — Precisamos conversar mais

tarde. — Ela me olhou com olhos tristes. — Nunca é bom quando um cara diz:

“Precisamos conversar.”

11 É um bolinho pronto confeitado..

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Sim, isso era verdade, quando as meninas dizem também. Eu disse isso

toda vez que eu terminei com Raniero. Mas Jess e Lukey não vão terminar. Ela

afastou as krimpets e deu um grande suspiro. — Eu não sei o que eu fiz de

errado.

Você ouviu aquela sua prima. Isso é o que você fez de errado. Eu queria

dizer isso, mas eu não disse. Eu só vi a minha melhor amiga, que eu conhecia

desde que éramos crianças, pensando que, apesar de nós nunca termos sido

populares, ela sempre teve muita confiança. Era estranho como ser uma

princesa e ter um marido que a maioria das garotas mataria para ter estava

sugando tudo o que fora. Sério, onde estava a menina que havia colocado um

vestido preto sexy e marchou para o baile de inverno e roubou Lucius

Vladescu da cheerleader mais diabólica do mundo?

— Eu estou falhando nisso. — Ela mergulhou as mãos em seus cachos.

— A coisa toda. É tão frustrante.

— Jess, ao contrário de sua crença, você nunca falhou nem em uma

prova, — eu a lembrei. — Você vai ser uma princesa incrível. Você só precisa

de um pouco de tempo.

— Eu não tenho tempo, — disse ela. — Esse é o problema.

Estendi o braço e apertei os ossos do joelho dela. — Jess...

— Sinto muito despejar tudo isso em você, Mindy, — acrescentou. —

Mas eu estou realmente me esforçando. — Então ela tem essa expressão

estranha em seu rosto e perguntou, de maneira mais suave, — Você acreditaria

em mim se eu dissesse que eu comecei a ver as coisas às vezes?

Eu parei de lamber o chocolate dos meus dedos. — O quê?

— Eu acho que estou tendo alucinações. Por causa do stress.

Eu deixei cair meu Tastykake espalhando migalhas sobre o cobertor de

veludo. — Hum... O que você está vendo?

Jess me olhava, como se ela queria ver a minha reação quando ela disse:

— Uma estaca. Eu vejo uma estaca. E eu juro que é REAL. Eu não penso muito

sobre isso, num primeiro momento, mas...

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Uau. Eu não era um psiquiatra, mas eu acreditava em sonhos e visões.

— O que você pensa que isso significa?

— Nada, exceto que eu estou exausta. — Ela tentou rir

despreocupadamente. — Mas Lucius diz, pelo menos, eu acho que ele disse,

que o sonho de uma estaca... Significa traição.

— Traição... — Eu não conhecia círculo de vampiros de Jess muito bem,

mas eu entendo as pessoas, mortos-vivos ou não, e imediatamente um monte

de caras me veio à cabeça. Mas eu não tive a oportunidade de citar nomes,

porque alguém bateu na porta, e Lucius veio sem sequer se preocupar em

verificar se estávamos decentes. Ele provavelmente tinha outras coisas em sua

mente.

— Peço desculpas por interromper o seu reencontro, Melinda Sue. Ele

veio até a cama e estendeu a mão. — Mas está ficando muito tarde, e eu

preciso da minha esposa. — Ele arqueou uma sobrancelha para Jess, como

Raniero costumava fazer para mim. Foi, assim, uma coisa dos Vladescu. O

Lucius e Ronnie eram realmente iguais de uma maneira. — Se você estiver

pronta?

Jess descruzou as pernas e me lançou um olhar como, aqui vamos nós!

Mas ela disse a Lukey, — Sim... Sim, eu estou pronta.

Em seguida, ele a ajudou a sair da cama, e quando ela se levantou, ele

fechou os olhos e se curvou e beijou o topo de sua cabeça, e era a coisa mais

doce que eu já vi. Quero dizer, tinha sido intenso quando eles se casaram.

Havia faíscas voando por toda parte. Mas quando ele fez isso... Era a coisa

mais romântica que nunca tinha visto. Então ele abriu os olhos e me disse,

assim como Jess tinha, — Tenho certeza de que você está completamente

segura, Melinda. O que está acontecendo aqui, não tem nada a ver com você.

Mas vou deixar o guarda de Antanasia, Emiliano, em sua porta. — Ele baixou

os olhos para Jess. — Porque você estará segura comigo.

Eu quase suspiro. Ele é tão protetor. Eu quero tanto um cara como ele!

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Jess olhou para Lucius e assentiu. — Ok. — Então ela me disse: — Boa

noite, Min. Obrigado novamente por vir e ficar. — Ela me deu um olhar

particular. — E, por favor, não se preocupe com essas coisas que eu mencionei.

Estou apenas cansada e dizendo coisas estúpidas.

— Claro, Jess, — eu disse a ela. Mas eu não iria esquecer nada do que

ela disse. Na verdade, eu estava indo pesquisar "estacas" em

DreamSymbol.com assim que eu encontrasse um computador. — Boa noite

pra vocês.

— Durma bem, — disse Lucius. — E diga a Emilian se você precisar de

alguma coisa.

— Definitivamente, — eu prometi a ele. Quer dizer, eu sempre quis ter

um criado, ainda que Jess não.

Então eu peguei meu cupcakes e lambi o invólucro de plástico e assisti o

príncipe e a princesa, Lucius e Jess, sairem pela porta, e eu sabia que sem

sequer um pouquinho de dúvida que eu tinha razão ao dizer a Jess que Lukey

era inocente. Porque, só a partir do jeito que ele beijou sua cabeça e segurou

sua mão, eu sabia com certeza que Lucius nunca correria o risco de estragar o

que tinhamos juntos.

Mas alguém estava causando problemas para os dois, e ele estava

começando a me irritar.

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— Lucius você queria falar? — Eu o instigo enquanto fazíamos nosso

caminho, tão longo no silêncio, através do castelo escuro, de mãos dadas. Ele

está muito quieto...

— Logo, — ele disse suavemente. Ele ainda parecia preocupado, e eu

fiquei mais preocupada.

Esta vai ser uma conversa ruim. E por que eu disse a Mindy que eu

estava tendo alucinações? Eu não quero que nem mesmo a minha melhor

amiga saiba disso.

Continuamos andando pelos corredores, que estavam iluminados

apenas pelo luar que entrava pela janela ocasional, e como de costume deixo

Lucius liderar. Achei que estávamos indo em direção ao nosso quarto, no

entanto, e quase não prestava atenção ao percurso.

Mas depois de cerca de cinco minutos de virar esquinas cegas e

tropeçando a pequenos passos, aparentemente inúteis por toda parte em nossa

casa, percebi que nós não estávamos indo para o nosso quarto, que não deveria

ser uma caminhada de mais do que dois minutos do quarto de Mindy até o

nosso. E apesar de eu não pensar que havia qualquer motivo para sussurrar,

perguntei baixinho: — Para onde vamos?

Ele não respondeu, mas apertou minha mão. Seus dedos estavam tensos

ao redor dos meus.

— Lucius? — Eu me aventurei novamente, depois de cerca de mais três

minutos virando esquinas, durante o qual eu tenho a sensação que estávamos

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descendo, embora esses pequenos passos eram tão aleatórios que era difícil

dizer com certeza.

Eu não queria estar com medo, eu estava com meu marido que iria me

proteger com sua própria existência, mas parecia estar ficando mais escuro nos

corredores, e também cheirava a mofo, como esta fosse uma área onde os

poucos vampiros já se aventuraram. — Onde estão...?

Antes que eu pudesse terminar, porém, ele nos parou, eu mal conseguia

ver em frente ao meu nariz, uma porta muito estreita. Parecia quase como uma

fenda na pedra preta. Como a tampa de um caixão, pregado na parede. O mais

fraco raio de luz penetrou para fora aos nossos pés, como se Lucius tivesse

estado lá antes e iluminado o que esperava lá dentro.

Algo sobre aquele brilho pálido era ameaçador, como as chamas

infernais na sala do tribunal, e eu realmente tentei soltar nossos dedos e dar

um passo atrás.

Ele segurou—me, porém, e disse: — Tenho algo que eu preciso te

mostrar, Antanasia. — Ele fez uma pausa e depois acrescentou com o que

parecia relutância, — Algo que eu deveria ter-lhe mostrado a muito tempo,

talvez antes mesmo de casar comigo.

Então, antes que eu pudesse dizer mais nada, ele estendeu a mão, abriu

a porta, e conduziu-me através do portal, alto e magro com uma mão

tranquilizadora na base da minha espinha, que não me impediu de ofegar e

recuar enquanto eu chorava baixinho, — Lucius... Que lugar é este?

100

Como americana que não podia sequer nomear seus bisavós com

segurança, eu ainda achei difícil de entender o quão distante voltava à

linhagem vampira de Lucius. Ainda que eu tivesse assinado em meu

casamento a espessa genealogia que ele tanto valorizava, acrescentando meu

nome a uma enorme lista de mortos-vivos que datava milhares de anos atrás,

eu nunca tive a ideia de uma família que media o tempo em milênios e que

incluía membros vivos que poderiam ter esfregado os cotovelos com

Aristóteles, ou Henry VIII, ou Hannibal enquanto ele cruzou os Alpes.

Não, os conceitos vampíricos de história, legado, e primogenitura não

bateram realmente em casa até que eu vi essa herança medida em estacas.

— Lucius, isso é... — Surpreendente? Inacreditável? Repugnante?

— Sim, a câmera de Miza, a sala de estacas e todas essas coisas, — ele

concordou, sem dúvida lendo a minha mente, como eu às vezes achava que ele

poderia fazer. — São todas essas coisas e muito mais para mim.

A sala era pequena, apenas grande o suficiente para dois ou três

ocupantes e uma mesa em seu centro, mas o que faltava em tamanho, a câmara

de compensou em armamento. Quase cada centímetro da parede tinha um

suporte que por sua vez sustentava uma estaca, apontandopara baixo, de

modo que o quarto inteiro parecia o maxilar superior de um grande tubarão

branco. Talvez mais assustador. Eu meio que senti como se estivesse sendo

comida viva enquanto me aventurei um passo em frente, nervosa, mas curiosa,

também.

Estou em um museu de destruição.

101

— Cada uma dessas estacas pertencia a um homem Vladescu que foi

destruído, — explicou de Lucius, parando por trás de mim e descansando uma

mão no meu ombro.

— Ao mesmo tempo, cada arma era um bem mais valioso. — Ele

alcançou passando por mim e apontou para um pequeno pedaço de papel

amarelado sob uma das estacas. — Veja o nome do proprietário, bem como a

data da sua destruição.

A sala era iluminada apenas por duas velas, e inclinei-me mais perto,

tentando ler, mas o nome estava escrito em algum precursor há muito perdido

de cirílico, e eu não conseguia nem chegar perto de decifrá-lo. Eu reconheci o

número, no entanto: 53. d.C.

Eu também reconheci a mancha distintiva que correu até a metade da

arma, que me disse que quem tinha possuído aquela estaca a tinha usado,

provavelmente mais de uma vez.

Hipnotizada, eu debaixo da mão de Lucius e comecei a olhar mais de

perto cada artefato, seguindo as datas à medida que lentamente subiam 358,

765, 822...

Embora exercido em diferentes épocas, as armas em si não mostraram

evolução. Cada uma era nada mais do que uma peça bruta de madeira afiada.

Era como se o desenho foi tão eficaz que não havia nenhuma razão para

atualizá-lo. Eu vacilei, olhando para uma linha de pontos manchados.

Qualquer delas seria capaz de realizar o trabalho.

Então parei e olhei mais de perto, comparando um grupo da Idade

Média. No entanto, havia pequenas diferenças. Desenhos esculpidos no que

serviu como cabo. Iniciais embutidos. Ranhuras desgastadas por antigos

dedos, nos tempos ainda mais violentos, quando os vampiros teriam mantido

suas estacas com eles constantemente.

Lucius ficou parado e em silêncio, permitindo-me explorar, e eu me

movi para a direita, não tenho certeza como eu me sentia de estar no meio de

tanta história e tanto sangue velho.

102

E então, quando eu estava prestes a terminar a coleção bizarra, eu li,

com uma dose aguda de ar Valeriu Vladescu, ao lado de uma data próxima ao

primeiro aniversário do Lucius, meu olho foi capturado por um outro nome

familiar, próximo à estaca apenas envolta em vidro.

O quê?

Virei-me para Lucius, perplexa. — Porque a estaca de Raniero está aqui?

Ele está vivo. Ele foi seu padrinho de casamento.

Lucius deu um passo na minha direção. — Essa é uma história para

outro momento. Uma longa história, que vou relatar quando tivermos algumas

horas de folga na noite de algum inverno igualmente longo.

Eu lancei outro olhar sobre o nome Raniero Vladescu Lovatu e sua

pacífica estaca, que estava coberta de sangue, e abri minha boca para insistir

que eu quero a história agora.

Mas quando me virei para Lucius, ele estava alcançando a minha mão

de novo, e a expressão em seu rosto me fez decidir esperar. E mesmo que eu

houvesse imaginado então o que ele realmente queria me mostrar na sala, meu

coração bateu mais forte enquanto ele me levou para a mesa, que sustentava

um recipiente preto brilhante que parecia um pequeno caixão dentro do caixão

que tínhamos entrado.

Eu sabia o que estava sob a tampa da caixa antes que ele a abrisse, e eu

olhei para meu marido. — Então este é o lugar onde você sempre mantém?

Ele balançou a cabeça, seu cabelo brilhante brilhando a luz das velas. —

Sim, Antanasia. Geralmente é aqui.

O seu uso do meu nome "oficial", embora estivéssemos sozinhos me

pareceu estranho, como fez sua ênfase no "normalmente", e eu ergui minha

cabeça, ficando ainda mais agitada. — Porque, Lucius?

Por que você esta me mostrando isso agora? O que isso tem a ver com

qualquer erro que cometi na reunião?

— É incomum para uma vampira usar uma estaca, — continuou ele,

respondendo a minha pergunta inacabada em sua habitual maneira indireta.

103

— Se você pudesse ler cirílico, você saberia que não há nomes femininos sobre

estas paredes. — Ele pousou a mão na caixa. — Mas estes são tempos novos, e

você é minha igual Antanasia. Você pode ser convidada a agir como tal, de

uma forma que seus antecessores, com exceção de sua mãe biológica, nunca

teriam sonhado em fazer. Mihaela foi a primeira a governar como uma

verdadeira rainha, e você tem a sua força dentro de você.

Eu balancei minha cabeça e recuei novamente, não gostando de onde a

conversa estava indo. — Não, Lucius. Eu realmente não poderia sonhar em

fazer qualquer coisa com uma estaca, não importa o que minha mãe fez.

Mas Lucius estava balançando a cabeça, me contradizendo. — Sim,

Antanasia. Se algo acontecer comigo, você precisa saber onde isso está e se

acostumar com a sensação dela em sua mão. Se você precisar dela, você não

vai querer recuar ou hesitar. — Fez uma pausa, depois acrescentou: — E existe

outra razão porque você precisa ver isso agora.

Então, quando eu ainda estava processando o que ele estava tentando

dizer, — por que eu estou indo de repente de princesa que não pode nem

mesmo ir a um julgamento para aulas de empunhar estacas? —Ele levantou a

tampa da caixa, e meu nariz enrugado sob o ataque de um muito poderoso e

reconhecível cheiro, que me fez calar por mais de uma razão.

Era o cheiro de decomposição. De podridão.

Do sangue de Claudiu.

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— LUCIUS, você tem CERTEZA que não tem ideia do porque sua

estaca tem sangue de Claudius? — Eu perguntei pela décima vez. Eu sentia

como se aqueles dentes de tubarão estivessem aproximando de mim, mordendo

minha pele. — Você tem certeza que não sabe quem fez isso?

Claro que discutimos os possíveis suspeitos, os principais deles, Flaviu

e outros Anciões descontentes, que incluíam a maioria dos velhos vampiros.

Porém, eu não parava de me questionar repetidamente.

Eu estou com medo dele esconder mais coisas de mim? Não está me contando

tudo?

— Eu prometo a você, Jessica, — Lucius disse novamente. — Eu vim

aqui, pouco antes da reunião do planejamento do enterro de Claudius e fiz a

descoberta. Eu não sei mais nada do que você.

Mas ele sabia mais que eu, a reunião, eu o fitei, sentindo que não apenas

medo de que alguém estava obviamente tentando enquadrá-lo, mas um

pouco... Traído. — Por que não me disse sobre isso antes? E por que veio aqui

primeiro?

Lucius mexeu a mão pelo cabelo, como ele se sentia culpado. — Eu

achava que você tinha o suficiente para se preocupar, com a ameaça de caos na

reunião. Se eu tivesse dito que a minha arma estava suja com o sangue

Claudius.

Eu ruborizei. — Você pensou que eu ia surtar, e talvez fazer algo

estúpido.

105

—Por favor, não faz isso soar como se eu não confiasse em você. —

disse ele. —Eu só queria poupá-la do conhecimento, e da pressão, que eu não

achei que você precisava naquele momento.

— Porque você não confiaria em mim com a verdade. — Minha

indignação desapareceu e minhas bochechas ficaram excepcionalmente

quentes para um vampiro, que eu pensei sobre como iria de bom grado seguir

o conselho de Ylenia, sem sequer falar com Lucius. — E eu fiz algo estúpido de

qualquer maneira, insistindo que todos apresentassem suas estacas.

— Não. — Lucius balançou a cabeça. — Você pensou que a ideia era

boa, uma que iria justificar-me. Este problema é minha culpa por negar

informações a você. Se eu tivesse dito a você sobre a estaca imediatamente,

você saberia que eu queria um tempo para investigar. — Seus olhos

demonstraram sofrimento. — O erro foi meu.

Lucius e eu nos entreolhamos, e apesar de que ele estava aceitando a

culpa pela crise, ele também admitiu que nós realmente não fôssemos iguais

ainda. Seríamos algum dia? Eu o forçaria a manter um segredo? Pensei na estaca

que eu tinha visto na nossa cama, que parecia tão real quanto qualquer

daqueles que nos rodeiam. E ele nem sabe como eu estou realmente sofrendo um

colapso...

— Por que você ainda vem aqui após a morte do Claudiu? — Perguntei

de novo. Minha voz soou apertada em minha garganta. — O que você está

verificando? Ou buscando?

— Um dos anciões foi destruído em nossa casa — Lucius cruzou os

braços sobre o peito, como se ele estivesse me desafiando para disputar a sua

lógica. — Eu pensei que a melhor maneira de me fortalecer, para melhor

protege-la, seria ensiná-la a se defender.

De novo, eu preciso de proteção.

Estudei seu rosto à luz das velas pequenas. Sua mandíbula forte, com a

cicatriz eu não podia ver naquela sala escura. Suas maçãs do rosto salientes,

sombreados pela luz do fogo e pela barba curta, como ele precisava fazer a

106

barba. E os seus olhos, que eram tão doces e ternos... E tão bem treinados para

esconder as coisas. — Você ia me dizer que estava carregando uma estaca...

...que você usou antes para me matar? Que eu nunca mais vi desde aquela

noite?

— Sim, — prometeu Lucius. — Eu teria lhe dito.

Nós encaramos um ao outro por um longo tempo, num silêncio muito

estranho. Estávamos tentando, com os nossos olhos, tampar uma fenda que se

abrira aos nossos pés. Era como se a estaca horrível, que ainda era visível na

caixa aberta, tinha mergulhado e criado um abismo entre nós.

Estaria sempre entre nós?

— Por que nunca me mostrou esse quarto? — Eu finalmente perguntei.

— Por que escondeu isso de mim, também?

— Olhe ao seu redor, — Lucius disse, sem tirar os olhos de mim ou

descruzar os braços. — Você já está mergulhada em um mundo de violência.

Você se casou com a violência. Eu não queria chocá-la com uma lição

desnecessária em quão brutal a sua nova família é, e na medida em que nós

Vladescus temos consagrado a agressão. Ainda não.

Oh, os milhões de pensamentos e emoções que correram através de

mim quando ouvi a explicação dolorosa Lucius de porque ele me manteve fora

dessa câmara. Família era extremamente importante para ele. E ainda, ele veio

aprender na América que a violência não era a única forma de manter ordem.

Ele estava lutando, também, para compreender uma nova forma de vida, e me

senti mal por ele. Eu tinha vergonha, do mesmo medo, que ele novamente me

julgou muito fraca para lidar com a minha nova vida, mesmo que eu fosse

muito fraca.

Sim, nós temos muitos desafios a nossa frente.

Olhei para a estaca, que demonstrava o maior problema.

Como poderíamos explicar isso para os Anciões? Por que eu segui a

ideia de Ylenia, que parecia tão horrível agora, porque os vampiros mais

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velhos iriam sentir o cheiro do sangue, também, e acreditariam que Lucius era

o responsável?

— Jessica? — Eu olhei para cima para ver Lucius pegar para as minhas

mãos e senti seus dedos se fechar em torno dos meus. Senti o X marcado em

sua palma da mão esquerda e isso ajudou a nos conectar de novo, como

aconteceu em nosso casamento, quando tínhamos ambos cortado nossas mãos

e nosso sangue se misturaram. — Eu tinha outras razões para não querer

mostrar-lhe esta sala, — confessou. — Razões egoístas. — Seus olhos tristes

com pedidos de desculpas. — Você acha que eu estou ansioso para lembra-la

daquilo que uma vez eu quase fiz a você? Você pensa que eu estava com muita

pressa de rever aquela noite, à sombra dos momentos mais sombrios todos os

meus antepassados?

— Lucius... — Segurei suas mãos mais apertado e lutei por palavras,

porque eu pensei, muito, muito sobre aquela noite. Eu ainda podia sentir a

maneira como a ponta de sua estaca esteve pressionada debaixo do meu peito,

e como seus dentes tinham perfurado a minha pele de uma maneira muito

diferente, poucos minutos mais tarde. — Não se esqueça de que esta noite

também foi uma das melhores da minha vida. Você disse que eu era o melhor

para você.

— E o pior, — ele me lembrou.

— Foram ambos, — eu insisti. — Ambos.

Foi à primeira vez e eu nunca pensei que os dois eventos que tiveram

lugar naquela noite, a maneira terrível Lucius ameaçou me destruir, e no

momento bonito quando ele me fez essencialmente sua pela eternidade, como

um conjunto harmonioso, em vez de dois eventos chocantemente separados.

Pela primeira vez, eu os vi como indivisível, como o símbolo yin-yang que

Raniero usava em seu braço. — Talvez tudo isso tinha que acontecer do jeito

que aconteceu, para que nós estarmos juntos, — disse ele. — Talvez a estaca

seja uma boa parte da nossa história.

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Lucius sorriu tristemente. — Você vai me perdoar se eu tiver

dificuldade, neste momento, vendo uma arma ensanguentada que eu quase

usei em você, e que tem se voltado contra mim, agora, como qualquer tipo de

prenúncio de finais felizes.

Então, ele soltou as minhas mãos e soprou as velas, e ouvi o estalo da

tampa da caixa e da raspagem de madeira contra a pedra, enquanto, ele

levantou sua estaca para fora da mesa para leva-la de volta ao nosso quarto. E

apesar de ele inicialmente queria recuperá-la para me proteger, eu sabia que

não ia dormir mais fácil com essa coisa no quarto.

Não era um presságio de alguma coisa boa. Pode até ser o instrumento

de destruição de Lucius. Sua própria arma, usada contra ele.

Minha garganta apertou, e eu quase não podia respirar, como se

inesperadamente lembrei a nossa lei, conforme descrito por Lucius. "A

destruição deve ser respondida com a destruição" , e "A destruição de um Ancião deve

ser respondido pelo membro mais graduado do clã..." O que significava que, se

Lucius realmente foi declarado culpado pela destruição Claudiu, seria de se

esperar...

PARE JESSICA! Isso NUNCA chegará a esse ponto. Lucius não deixará isso

acontecer!

Ainda me senti muito doente quando o segui até a porta, sabendo que

eu estava me enganando, minutos atrás, sobre a estaca. Que eu começara a me

iludir meses antes, quando tinha prometido a Lucius que estava pronta para

ser uma vampira para sua eternidade.

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Sinceramente, não sinto medo sobre estar no castelo da Jess até meia-

noite, quando eu estava totalmente sozinha em minha cama, e completamente

sem Tastykakes, e o fogo estava ficando menos brilhante, e eu comecei a me

perguntar se o vampiro bonitinho chamado Emilio continuava bem fora do

meu quarto, porque eu não o escutei fazer barulho.

Joguei as cobertas, eu andei na ponta dos pés até a porta, destranquei o

ferrolho, e abri a porta, apenas uma fresta.

Emilio quebrou a atenção. — Deseja alguma coisa...?

— Hum, não. — Eu fechei a porta, feliz de que ele ainda estava lá.

Mesmo que ele seja um vampiro. Eu tranquei o ferrolho. — Obrigada de

qualquer forma, — eu falei.

Então, por estar no lado seguro, eu fui para o outro lado do quarto

verificar se as janelas estavam trancadas também, mesmo que meu quarto esteja

no quinto andar, olhando para frente do castelo, tive uma bela vista do grande

vale que parecia que ia engolir todo o lugar. Eu sabia que os vampiros

realmente não voam como morcegos, como nos filmes, eles surfam, mas eu não

estava aceitando nenhum risco.

Quando cheguei à primeira janela e olhei para fora, vi que estava

nevando. Flocos grandes e gordos caíam através da janela e todo o caminho

para o chão. Inclinei a minha cabeça contra o vidro, olhando para o pequeno

círculo de luz que marcou fora da porta da frente, certo do local onde Claude

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foi — destruído, — era palavra no qual os vampiros sempre usavam. Não

matou, e sim — destruídos.

Então eu pensei que eu vi algo se mover fora da luz, e eu pisquei duas

vezes.

Estava escuro lá embaixo, mas era alguém andando na neve?

Isso foi...?

De jeito nenhum!

Eu pisquei novamente, e a pessoa ou vampiro tinha ido embora, e eu me

movi rapidinho para verificar todas as fechaduras, duas vezes, depois pulei na

cama e puxei as cobertas até o queixo, pensando que talvez alguma coisa

naquele lugar realmente faz você alucinar, porque eu estava começando a ver as

coisas também.

111

EU DESCANSEI MINHA cabeça contra o peito de Lucius, tentando

desfrutar do ritmo lento e do embalo do cavalo, de como ele escolheu seu

caminho através da neve que tinha caído durante a noite. Porém, as perguntas

ainda não respondidas me mantiveram acordada a noite toda, arruinando o que

deveria ter sido um passeio de madrugada pacífico e profundo para o silêncio

da floresta Carphathian.

Como o sangue de Claudius foi parar na estaca de Lucius? Como vamos explicar

isso? Porque nós não podemos...

— Lucius? — Eu comecei a me preocupar novamente e ouvi ecos de

Dorin na minha voz. — O que vamos dizer aos Anciões?

— Tente não se preocupar agora, Jessica. — Ele passou o braço em volta

da minha cintura.

Claro que eu era uma amazona boa o suficiente para ter meu próprio

cavalo, mas Lucius queria que cavalgássemos juntos naquela manhã e, nem

mesmo se deu ao trabalho de selar uma das poucas éguas gentis em um

estábulo, ele preferia ter passeios ligeiramente selvagens. — Vamos dizer-lhes o

pouco que sabemos, — disse ele.

— Apenas como já discutimos. — Ele cheirou as costas do meu pescoço,

sussurrando: — Assim, por agora, como não podemos fazer mais, vamos

apenas curtir estarmos juntos, certo?

— Eu vou tentar. — Entretanto eu não entendia como ele poderia

desfrutar de tudo naquele momento, e eu me contorcia dentro da minha

112

jaqueta, porque sentia muito frio. Não a temperatura fria ou indiferença

vampírica, mas assustadoramente frio.

Talvez nós podemos apenas continuar cavalgando em outro país. A Moldávia é

perto, e ninguém nos procuraria lá.

Cavalgamos em silêncio por cerca de vinte minutos, até que eu comecei a

ter esperança de que talvez nós realmente estivéssemos indo para a fronteira,

quando de repente a égua saiu de debaixo de uma copa de árvores grossas para

uma clareira cinzenta e sombria e me dei conta de onde estávamos. E, assim

como eu tinha feito na noite anterior, quando Lucius tinha me mostrado a sala

cheia de estacas, eu me apertei de volta, desta vez para me equilibrar contra o

corpo de Lucius, porque este lugar...

Finalmente vê-lo, me fez recuar de uma maneira diferente.

113

OS PORTÕES DE FERRO PRETO do cemitério, onde ambas as nossas

famílias foram enterradas ficava em relevo inóspito contra a neve, e eu fiquei

para trás, mesmo quando Lucius desfez a trava e estendeu a mão, dizendo:

— Por favor, Jessica. Não há nada a temer aqui.

Mas ali é...

O que eu poderia fazer, no entanto, exceto dar um passo relutante em

frente e juntar-se ao príncipe que estava me chamando? E logo que eu passei o

portão, vi que a morte espelha a vida no reino dos vampiros. Eu nem sequer

tenho que perguntar qual dos dois maiores mausoléus, obviamente os túmulos

da realeza, pertenciam aos Vladescus e qual pertencia aos Dragomirs.

O Vladescus, os reis e rainhas, pelo menos, descansados em uma sublime

estrutura de picos de pedra pretos e mármore, que ecoou o castelo gótico que

eu podia ver iminente sobre nós.

E os meus pais... Eu sabia que sem perguntar que seus corpos estavam

dentro da menor cripta de mármore, mais suave branco que vi na frente da

lateral do cemitério.

Eu parei o meu caminho, e Lucius parou também.

— Mesmo na morte, nós sempre estivemos separados, — disse ele com

serena reverência. — Como os vampiros, que são separados dos humanos, e

forçados a enterrar os nossos corpos neste lugar escondido no alto das

montanhas. Mas dentro deste cemitério, dividimos a nós mesmos, também. Sua

família está longe de ser minha, como se nunca poderemos dividir a terra. — Ele

114

olhou para mim. — Isso parecia natural para mim antes de me apaixonar por

você.

Eu nunca me cansei de ouvir Lucius me lembrar de que seu amor por

mim tinha apagado o ódio pela minha família que foi, provavelmente,

incorporado em seus genes. Porém, eu não queria enfrentar isso. Agora não.

— Eu não quero ir mais adiante. — Eu disse a ele, não me movendo

quando ele começou a avançar novamente.

Ele parou e eu olhei seu rosto, e pensei que ele ia protestar e coagir-me a

andar mais perto de ambos os túmulos das famílias. Ele estava me empurrando

para as criptas, para enfrentar a perda dos meus pais e do nosso possível futuro,

desde a noite de volta da Pensilvânia, quando ele me mostrou sua apreciada

genealogia. E ele ficou atrás de mim, uma das mãos apoiada sobre meu ombro,

como quando eu assinei meu nome em nosso casamento, dando mais um passo

mais perto deste local.

Mas naquele momento, eu finquei nos meus calcanhares. — Não perto,

— eu insisti. — Não hoje.

Eu já estou enfrentando muito. Eu não posso encarar, de frente, a ruína de meus

pais. Ou o que pode acontecer a nós também, porque embora tenhamos uma chance para

a imortalidade, ela também pode acabar aqui.

Lucius parecia pronto para protestar por mais um segundo, então ele

concordou. — Claro. Em seu próprio tempo.

Talvez nunca. Talvez, com o julgamento não conseguiria comparecer e a

justiça eu não poderia entregar... Talvez nunca.

— Por que estamos aqui? — Perguntei-lhe, procurando seu rosto. Eu

estaria evitando olhar para mausoléu da minha família. — Por que hoje?

Olhos de Lucius não ofereciam muito conforto. Eles eram tão sombrios

como... As sepulturas em que nós encontravamos, e ele segurou minhas mãos

nas suas, então eu pensei sobre o meu casamento novamente. Ficamos como

uma noiva e noivo. Porém, eu não queria pensar sobre isso em um cemitério,

também.

115

— Você sabe, Antanasia, — disse ele, — o que nós enfrentaremos, nas

próximas horas, e talvez semanas, pode ser muito ruim mesmo. — Ele apertou

as minhas palmas das mãos e seu olhar me ligou além das criptas que ele não

tinha medo de olhar. — E até descobrimos quem destruiu Claudiu, você vai

precisar ser tão firme e forte como estas pedras em torno de nós, filha da

formidável Mihaela Dragomir.

Eu sabia que Lucius amava simbolismo e parábolas, mas eu odiava

naquele momento. Eles são uma droga. E eu sentia quase vergonha de ser

comparada a minha mãe poderosa, porque estava começando a ser óbvio que

eu não era como ela.

— Não podemos demorar algum tempo? — Eu sugeri. — Adiar a

reunião, pelo menos? Não seria como fugir.

Lucius balançou a cabeça, apesar de tudo. — Não, Jessica. Estamos

tentando criar uma nova ordem entre os vampiros. Nós concordamos que

precisamos decidir as leis. Como seria se eu tentasse fugir da própria estrutura

que estamos a estabelecer?

Eu odiava, também, que eu concordei, em teoria, que os nossos clãs

precisavam se atualizar.

— Um governante que desafia as suas próprias leis não é um príncipe,

mas um tirano, — Lucius acrescentou. — E nós não queremos ser tiranos,

correto?

— Eu não tenho certeza, agora. — Lágrimas começaram a picar meus

olhos.

Por que Lucius Vladescu tem que escolher agora para abraçar o regime

democrático de direito? Na Pensilvânia, ele falava incessantemente sobre

realeza e autocracia e como — camponeses — precisava de uma — mão firme.

— Mas minha família o mudou. Nós ensinamos um príncipe a dobrar a sua

própria roupa e mudou tudo.

Lucius sorriu, como se soubesse no que eu estava pensando. Em seguida,

tirou-me de perto e pediu, — Chore agora, Jessica, deste modo não ocorre

116

quando sou conduzido, pois não há fiança em nosso mundo. Claro que serei

detido quando o crime é a destruição e as provas tão condenatórias. Essa é a

nossa lei, também.

— Claro, — eu concordei, estava fazendo todo o sentido. Mas em minha

cabeça, eu ouvia suas palavras. Levado... Ele vai ser levado de mim...

Eu estava aterrorizada por ele. Será que ele está, de novo, em um círculo

desgastado no tribunal? Será que vai chegar até esse ponto? E uma pequena

parte de mim estava com medo de eu mesma. Com medo de ficar sozinha,

tentando governar sem ele. — E se não pudermos descobrir quem realmente fez

isso? — Eu perguntei, dificilmente capaz de me expressar.

Lucius segurou meu queixo. — Nós vamos encontrar a verdade. A

verdade é sempre é revelada no final.

Minha família havia lhe dado uma televisão também...

— Não estamos em Law & Order, — eu o lembrei. — E eu não sei nem

como começar a procurar a verdade, especialmente se você não estará livre para

me ajudar.

Lucius sorriu novamente. — Sua inteligência era uma das primeiras

coisas que eu amei em você, Jessica. Isso e sua habilidade em tirar o esterco fora

cocheiras, — ele brincou. Seus olhos obscureceram um pouco. — E, como

ambos sabemos, eu tenho experiência para melhor ou pior, na vasta na área de

conspiração diabólica. Tenho fé completa que, juntos, vamos determinar quem

destruiu Claudiu. Eu posso realmente ser bem servido pelo encarceramento,

visto que eu não tenho nada, mas o tempo para pensar e desvendar o esquema.

— Tanto para o voto de confiança e nossa coroação, também, — eu

consegui dizer, enxugando uma lágrima que caiu. — Eu acho que está realmente

condenado!

Lucius deslizou as mãos para segurar meus braços e parou de sorrir. —

Vamos nos preocupar em provar a minha inocência primeiro e a coroação para

mais tarde. Mas eu não desisti da esperança em nenhum caso.

117

Meu queixo começou a tremer, e eu não conseguia controlar meu choro.

— Oh Lucius... — Eu enterrei minhas mãos debaixo do casaco e comecei a

chorar intensamente, e quando fiquei sem lágrimas, ele pegou meus braços

novamente e pela primeira vez desde o nosso casamento me repeliu, só um

pouco, ele já estava me forçando a estar sobre meus próprios pés, ainda que eu

não estivesse nem perto de estar pronta.

— Antanasia, — ele disse suavemente, mas com firmeza. — Eu sei que é

difícil de você encarar este lugar hoje. E eu não pretendo ser mais sábio que

você. Mas eu sei alguma coisa de sofrimento, e aprendi há muito tempo, tanto

por ter sofrido violência e por antecipação, que o medo é o pior tipo de cova,

porque enterra a pessoa viva. Peço-lhe, como seu marido, não se coloque em

um túmulo prematuramente, pois, como todos aqui atestam, o tempo para isso

vem em breve.

Eu estava muito chateada pela sabedoria naquele momento, e suas

palavras não se destruíram por dentro. —Vamos agora,— eu disse, ainda não

olhando para a cripta branca que subiu acima a neve branca. Ou negra, para

essa questão. —Eu realmente gostaria de deixar.

—Claro. — Ele olhou para o céu. — Parece que outra tempestade está

prestes a cair, não é?

— Sim, parece, — eu concordei, sem se preocupar em olhar para as

nuvens, também. Eu não precisava. Havia sempre algum tipo de tempestade

naquelas montanhas.

Voltamos em silêncio, enquanto o vento aumentou e chegou à casa da

mesma forma que começou a nevar ainda mais forte do que o habitual, o que

estava dizendo algo nos Carpathians. Mesmo o mais selvagem dos cavalos de

Lucius parecia se espremer em suas cocheiras, eles sabiam que ia ser ruim.

—Lucius. Princesa.

A voz baixa veio das sombras no estábulo sombrio, assustando-me e a

égua que Lucius estava levando a sua cocheira. Ela recuou e quase me derrubou

118

tanto como Lucius, e virei-me para encontrar um vampiro que eu não esperava

ver, talvez nunca mais, e que deve ter chegado na calada da noite.

Lucius, porém... Não parecia surpreso.

119

— RANIERO. — LUCIUS DEIXOU CAIR às rédeas e estendeu a mão

para o primo que ele chamava de irmão. — É bom vê-lo, embora eu não

esperasse encontrar você aqui.

O retorno do surfista hippie, eu não o via desde o nosso casamento,

chegou mais perto, tirando as mãos dos bolsos para aceitar o aperto de mão de

Lucius. — Eu dormi nos estábulos na noite passada, — disse ele em seu sotaque

italiano, misturando os tempos verbais como sempre fazia. — Cheguei muito

tarde e não desejava incomodá-lo. — Ele olhou para mim. — Eu ouvi você

vindo para o cavalo esta manhã, mas tinha preguiça de sair de debaixo do meu

cobertor e dizer Olá.

— Eu acredito que você estava preguiçoso. — Lucius sorriu mostrando

os dentes. — Mas eu também acho que você dormiu aqui, porque você prefere

não entrar no castelo. Você desejava evitar o destino o máximo de tempo

possível.

Raniero sorriu, mas não era exatamente a expressão calma e

despreocupada que ele usou quase sempre em nosso casamento. — Eu não ligo

muito para opulência mais.

— Não, você parece ter largado isso juntamente com o seu gosto por

calças.

O sorriso de Raniero estava um pouco mais caloroso do que um gracejo,

embora seu corpo deva ter congelado, pois ele estava de fato vestindo uma

desbotada bermuda de cor azeitona e uma camiseta marrom que anunciava

120

algo chamado Taco Terrível. O Godzilla, semelhante ao desenho de taco no

peito esmagando uma vista da cidade, voando alface por toda parte.

Os vampiros eram frios por natureza, mas não éramos os ursos polares e

precisávamos mais do que uma Camiseta em uma nevasca. Eu olhava para seus

braços nus. Aquelas tatuagens não iriam mantê-lo aquecido, também.

Sobre o que são aquelas tatuagens? E por que não ele quer entrar?

De repente eu me lembrei de algo que eu não tinha pensado desde que

fui distraída pelo sangue de Claudiu sobre a estaca de Lucius. E por que a arma

de Raniero se aposentou e está coberta com sangue?

— Hum, eu não quero ser rude, — eu disse, interrompendo o que era

obviamente uma conversa que apenas os dois homens compreendiam

totalmente. — Mas por que, exatamente, Raniero está aqui, afinal? — Eu

perguntei a Lucius.

Ele chegou a tomar a liderança da égua novamente. — Sinto muito que

deixei de dizer-lhe que ele iria se juntar a nós. Fiquei um pouco preocupado que

ele pudesse desafiar minha ordem de vir, o que teria me colocado na difícil

posição...

—...Da necessidade de me destruir por insubordinação, — Raniero

terminou a frase. — E assim eu realizo o favor de responder a intimação do

Príncipe Lucius. — Ele virou para mim, e eu honestamente não poderia dizer se

ele estava brincando quando ele acrescentou: — Eu prefiro muito mais não

forçar meus melhores amigos a me matar assim diretamente. É o meu desejo de

não fazer nenhum mal!

Eu estava ficando cada vez mais confusa. — Então, por que...?

Lucius bateu na garupa da égua, mandando-a para sua cocheira. —

Antanasia, nós dois sabemos que a lei é clara. — Eu serei detido. — E, embora

você esteja crescendo em seu papel — Sim, claro — você precisa de proteção, —

disse ele. —Mais do que Emilian pode oferecer. — Seu olhar moveu a Raniero,

que estava relaxado, mãos nos bolsos novamente. — Eu confio em Raniero para

cuidar de você.

121

Eu estava apavorada com a ideia de que Lucius poderia realmente ser

preso. Mas quando olhei para Raniero, eu quase ri. Ele estava indo me

proteger? Porque ele era menos terrível do que o taco em sua camisa.

Então eu pensei na estaca aposentada, e meus olhos tentaram seguir suas

estranhas tatuagens na escuridão. Havia algo lá... E talvez algum método na

loucura de Lucius.

— Antanasia, você se importa se eu falar com Raniero enquanto

caminhamos? — Lucius olhou entre nós dois. — Haverá muitas oportunidades

para que vocês possam conhecer um ao outro, mas esta pode ser a única chance

que tenho de falar com ele rapidamente, usando uma expressão americana. E

no café da manhã, nós podemos discutir tudo o que provavelmente irá

acontecer a seguir.

Em seguida, Lucius bateu a mão no ombro de Raniero e começou a guia-

lo em direção ao castelo, ele não quis entrar, por alguma razão, ambos vampiros

conversando em uma mistura daquilo que parecia ser romeno, italiano e inglês,

com talvez um pouco de alemão jogado em boa medida.

Segui nas trilhas que eles deixaram na neve, meus olhos viajaram

novamente e outra vez nas costas retas de Lucius, o longo casaco escuro e os

cabelos pretos nítidos caídos aos ombros de Raniero, completamente e

impropriamente curtos, bagunçados, ondulados, cabeleira queimada pelo sol. O

contraste era grande, mas suas cabeças estavam inclinadas juntas, e eles se

comunicavam com facilidade na mistura de linguagens, e não havia dúvida de

que eles eram iguais fisicamente. Raniero era apenas uma sombra menor, talvez

por causa da maneira como ele se portava, mas ele compartilhava a mesma

constituição muscular definida de Lucius.

Ainda assim, eu não poderia imaginar Raniero me protegendo como

Lucius faz.

Puxei meu casaco mais apertado contra o aumento da tempestade.

122

Eu não poderia imaginar Lucius não estar ali para me proteger, em

primeiro lugar. Eu não conseguiria governar sem ele. Gostaria de ser destruída,

se não literalmente em pelo menos figurativamente, como uma princesa.

Quando chegamos perto o suficiente do castelo para vê-lo claramente

através da neve, eu vi um movimento numa das janelas e olhei para cima para

ver a Mindy assistindo um de nós três, e a expressão em seu rosto...

Foi como se um de nós já fosse um fantasma.

123

Eu assisti novamente o de café da manhã em silêncio, enquanto Lucius e

Raniero continuavam a conferir em suas línguas confusas.

Os criados iam e vinham e serviam o café preto e doce que Lucius

preferia e serviam chá para mim e Raniero. Por hábito eu peguei um pedaço de

pão que foi servido quase todos os dias na tradição romena. Mas eu realmente

não comia nada. Era como se eu tivesse ficado entorpecida lá fora na neve.

Entorpecida e hipnotizada.

Uma e outra vez, encontre-me estudando essa bagunça rodopiante de

tatuagens que me fizeram lembrar de um jogo que eu costumava jogar quando

era criança: Encontre os objetos escondidos nesta foto.

Raniero pousou a mão sobre a mesa, não comendo, também, e graças aos

anos de convivência com um pai hippie retrocesso, eu era capaz de selecionar

—a um, — escrito em Devanagari, e os caracteres chineses para —paz, — e a

mão aberta dos jainistas, que prometeram, como Raniero, para não fazer mal.

— Antanasia?

A voz de Lucius me trouxe de volta à realidade, e eu percebi que ambos

os vampiros estiveram me observando atentamente enquanto eu olhava para o

braço do Raniero.

— Sim?

— Raniero, como sempre, ofereceu uma sugestão muito boa, — disse

Lucius.

124

Olhei para o cara de camisa de taco e não acho que eu lhe pediria algo

tão simples como as direções, se eu visse ele na rua. A menos que eu quisesse

encontrar uma praia com acesso público ou um bom burrito.

Então eu olhei mais perto o seu rosto. Ou havia uma faísca nova em seus

olhos?

Quem é ele?

— Qual é a sugestão?

— Você está interessada em estabelecer regras na lei, sim? — Raniero me

perguntou. — E você também deseja se estabelecer no poder — tem autoridade,

sim?

Eu assenti com cautela. — Sim...

— Então eu acho que é melhor se você for a única a determinar que

Lucius seja detido, e em seguida, fiscalizar o processo pelo qual ele é levado

embora.

Eu deixei cair o pão que eu tinha estado triturando e olhei para os dois

em descrença. E eu pensei que o plano de minha prima, sobre as amostras de

estacas, era ruim. Mas eu poderia dizer pelo olhar no rosto de Lucius, que era

exatamente como estava para acontecer. Ainda assim, eu tinha que protestar. —

Você está brincando, certo? Eu não poderia ordenar isso!

Mas Lucius balançou a cabeça. — Raniero está certo, Antanasia. Os

Anciões irão perceber que você é poderosa — e entenderão o quão sério somos

sobre a adesão à lei, se você fazer valer a minha detenção. Haverá uma votação,

é claro, mas você deve ser aquela que controla o que se segue.

Eu balancei minha cabeça. — Mas…

— Você necessita provar si mesma hoje como soberana, — Lucius

insistiu. — Como seus compatriotas americanos diriam: As rodinhas estão

saindo. E agora.

De repente, tive uma memória muito viva de bater minha bicicleta

quando meu pai me deixou andar pela primeira vez sem aquelas duas rodinhas

125

de apoio. Eu bati direito em uma árvore ao lado de nossa casa. — Eu não sei,

Lucius...

— Não há realmente nenhuma escolha, — ele disse. — Quer você goste

ou não, você está chegando ao poder, esta tarde. — Seus olhos suavizaram,

como ele poderia dizer aquilo, eu não poderia me imaginar falando palavras

que o levariam de mim, mesmo se ele estava indo mais longe do que as

catacumbas sob o nosso castelo.

Especialmente se ele estava indo lá.

— É apenas simbólico, Antanasia, — disse ele encorajador. Ele foi

definitivamente lendo minha mente. — Você pode fazer isso. Você irá se sentir

mal, mas é para nós, realmente. Para sua proteção e nosso futuro.

Eu não acho que eu poderia fazer o que ele estava pedindo. Mas não

havia nada que eu pudesse dizer — especialmente desde que Raniero estava

nos observando — exceto — Okay. Eu vou emitir o comando.

Então eu afundei no meu assento, não diferente de Raniero.

Meu primeiro ato como uma princesa de verdade vai ser ordenar que

meu marido seja amarrado e levado embora.

E mesmo que eu tinha um muito para me preocupar, eu notei que Mindy

— que era definitivamente animada e apaixonada por um bom pão romeno

para o café da manhã ainda mais do que eu costumava ser, quando eu ainda

comia — não se juntou a nós na mesa.

126

Lucius e eu estávamos na ante-sala onde sempre esperamos antes dos

conselhos com os anciões, e eu estava consciente de que estes seriam nossos

últimos momentos particulares… Até quando?

— Não fique tão preocupada, — ele sussurrou. E embora nós geralmente

usássemos este espaço para nos preparar para olhar e agir como líderes, pelo

menos, na medida em que eu jamais consegui, Lucius me tomou em seus

braços. — Nós não iremos ser separados por muito tempo, — prometeu. — E

lembre-se, também, que agora se você pensar em termos de eternidade,

algumas semanas não são nada.

Eu descansei contra ele, querendo chamar a sua força. O tempo —

realmente seria semanas? — Passaria lentamente. E ainda teria semanas

também para não gostar nada, quando eu tentava imaginar como nós

descobriríamos quem destruiu Claudiu antes de um julgamento tornar-se

inevitável. — Eu odeio isso.

Ele moveu para inclinar meu queixo para cima com o dedo indicador

torto. — Você é uma princesa agora, — ele me lembrou, soando ao mesmo

tempo terno e um pouco difícil. — Não há mais tempo para lágrimas.

— Eu sei. — Eu balancei a cabeça. — Eu prometo que não vou chorar de

novo. Não até que eu esteja sozinha na cama esta noite.

— Confie em Raniero, — insistiu ele. — Eu sei que ele não parece muito

um salvador, mas sua aparência pode ser enganosa. Ele é um vampiro de

muitos talentos, muitos dos quais podem ser úteis nas próximas semanas.

Descontando, é claro, sua capacidade de ficar empolgado sobre “esculpir” uma

127

onda. — Ele começou a sorrir, mas logo ficou sério. — E com exceção de você,

ele é o único vampiro em quem confio. O único.

— Eu gostaria que houvesse tempo para você me contar sobre ele.

— Eu receio que não temos esse luxo. — Lucius olhou para as portas que

se abririam a qualquer segundo agora, então encontrou os meus olhos

novamente. — E eu acho melhor se Raniero determinar o que ele quer revelar

sobre si mesmo. Pois ele tem uma forte inclinação para a privacidade. — Ele

me puxou para mais perto.

— Só confio minha fé nele, Antanasia, e deixe-o ajuda-la.

Eu senti minha garganta apertar, porque eu sabia que estávamos

correndo contra o tempo. — Eu te amo, — eu disse. — Eu te amo tanto.

— Eu também te amo, Jessica. — Os braços de Lucius ficaram ainda mais

apertados em torno de mim. — Eu te amo para a eternidade e vamos resistir a

esta pequena e temporária tempestade.

Eu balancei a cabeça como se eu realmente acreditasse, e ele se inclinou e

roçou os lábios contra os meus, e se afastou, então eu estava de pé ao lado dele

mas completamente sozinha. Endireitando os ombros e puxando os punhos, ele

se transformou de marido a governante, e provavelmente em breve em

prisioneiro, e sua voz era ainda mais firme quando ele me disse: — É hora de

você realmente assumir o seu papel como princesa. E eu tenho plena fé que

você terá sucesso além de todas as expectativas — especialmente a sua própria.

Então, no silêncio deixado que eu precisava saber se eu teria a coragem

de reunir com os anciões sem Lucius, as portas se abriram.

128

Os anciões já estavam reunidos na mesa, e antes de cada um vi uma caixa

semelhante à que esperava na cadeira de Lucius. Até o meu tio Dorin tinha um

pequeno recipiente de pinheiro, embora eu não podia sequer imaginá-lo usando

uma estaca para fazer kebabs.

Conforme eu puxei a minha cadeira perto da mesa, eu olhei para o meu

marido, que já estava pedindo ordem a reunião. — Gostaria de não perder

tempo, — ele disse. — Eu vejo que todos vocês trouxeram suas armas, vamos

continuar.

Minha garganta parecia se apertar fechando assim que eu mal podia

respirar.

Eu quero perder tempo. Eu quero fugir com você e viver como Raniero, em uma

cabana na praia.

Mas isso não ia acontecer. Lucius já estava balançando a cabeça para a

esquerda, para Flaviu, que sem palavras abriu a caixa diante dele e fez sua

participação, batendo-a sobre a mesa com uma garantia de proclamada

inocência. Um momento depois, Horatiu Dragomir seguiu o exemplo. Depois

foi a vez de Dorin, e eu vi suas mãos tremerem, mesmo que sua estaca estivesse

completamente limpa. Nem uma gota de sangue sobre ele, porque ele era um

corredor, e não um lutador.

Gosta de mim? Porque eu não tenho certeza mais...

Por isso fui ao redor da mesa, abrindo caixas, mãos pálidas chegando nas

estacas e batendo contra a madeira. Era como assistir a uma onda muito triste

que pulava em cima de mim antes de ir para o outro lado para alcançar Lucius.

129

NÃO! Eu queria gritar quando era sua vez. Precisamos de mais tempo!

Mas tudo que eu podia fazer era assistir com horror como o vampiro que

eu amo essencialmente condenou-se a si mesmo.

Nesse momento Lucius abriu a caixa diante dele e bateu sua própria

estaca para baixo com tanta confiança como qualquer um dos outros Anciões,

todos os vampiro na sala ofegaram, e o ar se encheu de vozes romanas que

soavam chocadas e indignadas e... Acusadoras.

130

— Explique isso, Lucius! — Flaviu exigiu, elevando-se. — Isso é

claramente sangue do Claudiu!

Sim, definitivamente era. Eu lutei muito contra a vontade de cobrir o

nariz novamente. O sangue estava seco, mas ainda fresco suficiente para que o

cheiro permeasse pelo quarto.

— De fato, é sangue de Claudiu, — Lucius concordou calmamente. —

Isso é óbvio.

— Então como ele foi parar lá? — Flaviu chorou. Ele permaneceu em pé e

seus olhos brilhavam, como se ele mal conseguisse esconder sua alegria sobre

sua ascensão no poder – e na queda abrupta de Lucius, aparente. — Você está

confessando, Lucius?

— Agora, agora, Flaviu. — Dorin fez uma rara interjeição. — Tenho

certeza de que o príncipe Lucius tem uma boa explicação para isso. — Meu tio

deu a Lucius um sorriso, trêmulo de esperança. — Você tem, não tem Lucius?

Mas Lucius balançou a cabeça. — Não, eu não sei como o sangue de

Claudiu chegou ali, mas vou encontrar a explicação. — Então ele trancou olhos

com cada Ancião, acrescentando: — E a justiça será feita. Não só pela destruição

de Claudiu, mas para esta tentativa óbvia de me destruir.

Flaviu caiu em sua cadeira, como se ele estivesse irritado. — Mas este

exercício foi concebido para determinar quem destruiu meu irmão! — Ele

apontou para mim e eu me encolhi. — Sua própria esposa sugeriu isso!

Senti meu rosto avermelhado.

131

— Sim, e se Antanasia e eu queríamos esconder algo, não teríamos

seguido este rumo de ação, — Lucius lembrou a todos. — E ainda fizemos

chamadas para uma amostra de armas.

Minhas bochechas ficaram ainda mais quentes. Pelo menos, eu fiz.

— E eu vim antes de você e de bom grado mostrar minha própria estaca,

— acrescentou. — Porque eu sou inocente e isso será provado.

— E nesse meio tempo? — Flaviu perguntou com um sorriso de escárnio.

— Nós fazemos o que? — Ele abordou Lucius. — Com todo o respeito, será

difícil justificar deixando você solto nesta propriedade! — Ele apelou para os

outros. — A evidência parece justificar uma votação sobre a detenção do

Príncipe Lucius, vocês não concordam?

Houve um silêncio longo e tenso, durante o qual eu olhei ao redor da

mesa. Todos pensam que ele é culpado. Exceto, talvez, Dorin.

Mas, mesmo meu tio não me olhava nos olhos novamente. Ele mexeu

com a caixa que continha sua estaca, fechando-a com os dedos desajeitados.

E quando eu finalmente virei para Lucius novamente, percebi que meu

momento chegou. Ele estava me dispondo com os olhos para falar — e me

tranquilizando que eu poderia fazer o que havíamos discutido. Ainda assim, a

minha voz tremia quando eu disse, muito baixo, — Flaviu está certo sobre as

provas.

Eu nunca tinha feito mais do que exercer o cargo de tesoureira 4—H, e as

palavras se sentiram estranhas em meus lábios quando eu acrescentei: —

Vamos votar agora.

Eu sabia que os anciões ficaram chocados ao me ouvir assumir o

comando e perceber que Lucius realmente iria cumprir a lei. No entanto, para

todos a sua insistência de que o que estávamos fazendo era certo, eu não

conseguia olhar para o meu marido quando eu disse, — Aqueles que acreditam

que Lucius Vladescu deve ser detido até que seja justificado ou julgado, levante

a mão esquerda e digam “Sim”. Aqueles que acreditam que ele deve andar

livre, levantem a sua direita e falem não.

132

Com a exceção de Flaviu, que levantou, provisoriamente a mão

esquerda, porque todo mundo sabia que se ele fosse finalmente absolvido, o

príncipe Lucius se lembraria de como este voto foi para baixo. Mas as provas

contra ele era tão condenáveis que um por um os anciõess disseram, — Sim.

Mesmo Dorin parecia não ter escolha, embora ele começou a levantar a

mão direita. Mas foi só porque ele era um raro vampire destro e, muitas vezes

ficava confuso quando votar. Então ele se conteve e levantou a sua esquerda,

que tremia como uma folha.

— É unânime, — eu disse miseravelmente, quando cada mão foi para

cima. — Lucius Vladescu será preso.

Eu pensei que era mais uma vez prova de sua coragem que Lucius não

parecia chateado ou com medo. Ele me olhou principalmente com orgulho.

Mesmo que eu não conseguisse parar de me sentir como uma traidora,

especialmente porque eu me levantei e ordenei os guardas, usando as palavras

que ele me ajudou a memorizar: —Intrati, gardieni12

Fiquei aliviada que eles realmente vieram ao meu comando, e ainda

perto de vomitar quando Lucius levantou, virou-se e ofereceu suas mãos,

estendeu atrás das costas. Eu pensei ter ouvido um guarda murmurar um

pedido de desculpas quando amarrou os pulsos de Lucius com uma corrente de

ferro.

E quando o antigo cadeado foi deslizado no lugar, os anciões —

incluindo Flaviu — sentaram novamente.

Percebi então que a estratégia de Raniero tinha sido a correta. Tínhamos

balançado seu mundo. Um príncipe estava obedecendo a lei, quando não

atendia seus objetivos. Isso provavelmente nunca tinha acontecido em toda a

história brutal no reino dos vampiros. Lucius e eu fechamos os olhos, e embora

eu queria usar o meu novo poder para libertá-lo, eu me forcei a dizer: — Luati-l.

Leve-o daqui.

12 Vide, Guardas.

133

Ele me deu outro aceno, assegurando-me que eu tinha feito tudo certo.

Então, com a cabeça erguida, ele se virou para os anciões e disse: — Não se

esqueçam disto. Estamos todos regidos pela lei agora, e eu me apresentei,

voluntariamente, para provar que entramos numa nova era. — Seus olhos se

estreitaram de uma maneira que tornava difícil acreditar que ele era realmente

um prisioneiro, no entanto. — E lembrem-se, também, quando eu estiver

vindicado, que a punição para quem destruiu Claudiu sera rápida e dura —

também de acordo com nossas leis. — Uma dica de seu antigo self autocrático

surgiu. — Eu prometo a vocês que quando eu for juiz, eu não vou esquecer este

momento, também.

Ele me olhou mais uma vez pouco antes do guarda abrir a porta,

permitindo que Lucius saísse primeiro, intocado. Príncipe Vladescu poderia ter

sido obrigado a se submeter a fazer um ponto, mas não havia nenhuma maneira

que ele teria ficado para ser arrastado ou mesmo ser conduzido com suavidade.

Eu fiquei lá em silêncio impotente.

Mesmo depois que seus passos morreram, eu fiquei de pé, porque os

meus joelhos tremiam tanto que eu tinha medo que de cair se eu tentasse sentar.

Mas antes que eu pudesse dizer — reunião suspensa,— Flaviu interrompeu,

levantando a mão direita não— dominante, que sinalizou um pedido para falar.

Não! O pânico tomava conta de mim. Nós não planejamos isso. Eu estou

sozinha!

Mas mesmo eu entendia que eu tinha de reconhecer o vampiro que

provavelmente foi inclinado a trazer todo o meu mundo ao chão, talvez até em

detrimento da existência de seu irmão.

Eu sabia que sua estaca estava limpa. Mas eu também sabia que Flaviu

Vladescu era simplesmente desagradável, e capaz de fazer coisas que eu não

podia sequer contemplar, por razões que eu não poderia imaginar.

Mas o que eu podia fazer senão deixa-lo fazer ainda mais danos?

134

Sentei-me no meu quarto folheando a revista Catwalk, mas eu poderia

muito bem ter lido sobre a arte na faculdade, porque eu não conseguia me

concentrar em nada. Eu mal podia sequer pensar sobre os problemas de Jess,

porque em algum lugar naquele castelo havia um cara de bermuda...

Olhei para a porta pela milionésima vez. Não que eu queira que ele venha

para mim! Eu NÃO!

E foi só eu sendo uma total desajeitada — eu não estava em alguma

grande corrida — quando alguém finalmente bateu e eu caí da cama e meio que

me rastejei — porque meus pés estavam totalmente emaranhados nos dois

milhões de lençois de algodão para responde-la. — Já Vou! — Eu gritei. Eu

chutei livre das folhas estúpidas e levantei sob meus pés. — Eu estarei ai!

Eu levei um segundo para endireitar o meu cabelo — não que importasse

como me visse — e puxei a porta e...

VAMPIROS ESTÚPIDOS!

135

Deus, ele estava uma bagunça.

Uma bagunça quente, muito quente.

Quando eu abri a porta, Raniero foi relaxando contra a parede com as

mãos nos bolsos do pior de seus quatro pares de shorts, e ele estava sobre a,

absolutamente, pior de suas cinco camisetas — a com o taco assustador sobre

ele — e seu cabelo estava um desastre ainda maior do que a última vez que eu o

tinha visto, no verão. Era como se ele não tivesse nem pensado em cortar essas

longas ondas castanhas como luzes do sol. E o seu necessário cavanhaque

moldado, também, ainda mais que o habitual.

Ele tirou as mãos dos bolsos e cruzou os braços. Seus músculos ainda

estavam bem, no entanto. Eu finalmente olhei para seu rosto realmente. E assim

era o seu nariz, com uma pequena colisão no mesmo, como se ele tivesse batido

muitas vezes surfando. E os seus lábios que estavam todos rachados pelo sol. E

aqueles olhos cinza—esverdeados que estavam, como, furando os meus...

— Hey, — eu disse finalmente, porque ele não disse uma palavra. Ele

apenas olhou para mim com esses olhos. Esses surpreendentes, sexy, com olhar

reles. Eu sabia o que era, então por que eu estava tendo dificuldade para falar?

Cruzei os braços, como ele. — O que, hum... O que você está fazendo aqui?

Raniero ainda não disse nada. E quando ele finalmente falou, foi, assim, a

primeira vez que eu ouvi soar perto de louco. — Disse-lhe muitas vezes para

não vir aqui. Isso é perigoso. E ainda assim você veio.

Eu meio que desviei o olhar, não sei como eu me sentia sobre a maneira

como ele estava falando comigo. Quer dizer, eu sempre quis que ele fosse mais,

136

como, forte, mas... — Jess precisava de mim, — eu disse. Eu olhei para ele

novamente. — Então, por que você está aqui?

Por mim? Será que você me segue?

Não que eu queira isso!

— Lucius me chamou, e desafiar um príncipe Vladescu é punível com a

destruição, — disse ele. — E assim eu obedeço.

— Oh. — Poucos dias atrás, eu iria ri. Mas de repente eu não tinha tanta

certeza que era uma piada. — Então, você tinha que vir porque você não quer

ficar em apuros?

Ronnie se manteve relaxado contra a porta, mas seus olhos se tornaram

de uma cor estranha. Uma cor escura que eu nunca tinha visto antes. — Você

realmente acredita que eu estou com medo de perder minha vida, Mindy Sue?

— perguntou ele. — Eu venho contra meu melhor julgamento, somente então

eu não causarei dificuldades para Lucius. Não quero forçar lhe a escolher entre

fazer cumprir as leis que são importantes para ele e destruir quem ele considera

um irmão. Não é bom dar aos amigos escolhas difíceis. Especialmente quando

eles já enfrentam dificuldades.

Abrace-me com mais força. Então, ele veio por Lucius e para salvar a sua

própria bunda. — Sim, eu entendo.

Ronnie deu um passo mais perto, e fiquei surpresa com a forma como ele

encheu a porta inteira. Ele parecia maior do que ele costumava ser. E não tão

feliz.

— E, claro, eu venho por você, Mindy Sue.

De todas as coisas estúpidas, a estupidez era o quanto eu queria abraça-

lo logo em seguida. Eu queria pular com aquele estúpido vampiro italiano que

eu tinha sentido tanta falta e dizer-lhe como eu estava feliz em vê-lo. Eu queria

beijá-lo novamente. E tocar em seu cabelo bagunçado, e sentir a sua boca contra

a minha.

Mas eu estava realmente feliz por não ter feito nada, quando ele disse

exatamente o tipo de coisa protetora que eu sempre quis ouvir — Eu vim aqui

137

porque eu estou preocupado com você. Eu não posso dormir em paz sabendo

que você está neste lugar perigoso — seguido pela pior coisa que ele nunca

disse. — E eu também gostaria de lhe dizer que você está certa. Nós não somos

bem um casal, sim? Eu vou cuidar de você como um amigo, e não vou falar com

você de amor novamente. É a melhor maneira, como você já disse por várias

semanas.

Era como se um grande balão tivesse batido em meu coração. — Oh, com

certeza.

Olhamos um para o outro por mais alguns pares de minutos, e mesmo

que eu tenha terminado com ele um milhão de vezes — uma pessoalmente e

999, 999 mais vezes por telefone — nunca realmente me senti como o fim certo,

até ele dizer: — É bom que façamos isso bem claro agora. E ambos concordam.

— Sim, definitivamente.

Então ele estendeu a mão e fechou a porta com a mão manchada de tinta,

e eu estava lá como uma idiota, não tendo certeza do que tinha acontecido.

Tudo o que eu sabia era que Raniero finalmente concordou em terminar comigo

direito quando ele quase começou a agir como eu sempre quis que ele a agisse.

Legal, e resistente e forte.

Isso era o que toda garota queria, certo?

138

— Flaviu está certo, — eu consegui dizer, embora eu quase não ouvisse

as minhas próprias palavras. Eu quase senti como se meus ouvidos zumbissem,

eu estava tão assustada.

Ele viu e provavelmente, cheirou meu medo, assim como nós todos

cheiravamos o sangue na estaca de Lucius. Olhei para cadeira de Lucius, mas é

claro que estava vazia. Então olhei para Dorin, que não ajudava em nada, e eu

não tinha escolha a não ser voltar para Flaviu, que disse: — Nós não

estabelecemos as condições de confinamento. Existem leis que regem a

detenção, também.

Ele parecia indignado com esse descuido, mas eu vi um brilho diferente

em seus olhos. O olhar de um lobo que vai para matar.

Eu não sabia o que dizer, então o deixei continuar falando, mas eu sabia

que era um erro.

— O assassino de Constantin Dragomir foi mantido em confinamento

solitário com uma dieta restrita de pão e água, — continuou ele, apelando para

cada um dos Anciões. — Nós determinamos que esta fosse à lei em um crime

capital, envolvendo uma pessoa idosa. — Sua voz parecia captura-los. — E este

Ancião era o meu irmão — e aquele que Lucius ameaçou publicamente.

Confinamento solitário? Dieta Restrita?

Minha cabeça começou a girar. Lucius não havia me preparado para isso.

Eu nem sequer sei se Flaviu estava dizendo a verdade, porque eu nunca li todos

os livros de direito. Lucius tinha cometido um erro? Se ele tivesse subestimado

Flaviu, que estava exigindo: — Bem, Princesa? O que você acha?

139

— Mas... Lucius nem sequer foi formalmente acusado, — gaguejei,

porque eu não podia permitir que ele fosse detido assim. Eu não seria capaz de

vê-lo.

E sem sangue, ele... — Eu não acho que...

Mas eu não tinha certeza do que pensei, e pedi para Dorin. — Isso foi

realmente o que aconteceu com o assassino de Constantin?

Dorin tinha parecido em conflito, mas seu rosto ficou ainda mais branco

quando ele confirmou: — Sim Antanasia. Aquela era a determinação da lei.

— É verdade, — um dos outros — Horatiu?— acordado.

Eu levei um segundo para tentar pensar, mas eu não podia. Eu

simplesmente não podia.

— Bem, Princesa? — Flaviu novamente pressionou para o meu decreto.

— A destruição de um Vladescu será tratada como a destruição de um

Dragomir, agora que você está no comando?

Não havia nada que eu pudesse fazer. Eu era a princesa mais impotente

do mundo. Não só tinha Flaviu rapidamente transformado a nossa própria

Regra de Direito contra nós, mas ele tinha trazido milhares de anos de jogos de

ódio Vladescu e Dragomir. Eu não poderia ter favoritos. Não se eu estava indo

criar o verdadeiro reino unido imaginado Lucius.

E assim, embora eu soubesse que eu estava potencialmente condenando

o vampiro que eu amava, eu me vi dizendo: — Se esta é a lei, então Lucius será

detido em isolamento, com apenas pão e água. Assim como assassino de

Constantin Dragomir.

Eu estava tão nervosa que eu nunca sequer considerei que eu poderia

colocar isso em votação. Talvez poderia ter convencido alguns dos Anciões para

certamente apoiar Lucius, pelo menos, ter o sangue que ele precisa, e poupá-lo

de um destino que alguns disseram que era pior do que a destruição.

Eu apenas consenti a pressão de Flaviu de enganar-me a tomar uma

decisão que eu nunca poderia desfazer. Eu vou ter menos tempo ainda para

encontrar o verdadeiro assassino.

140

Lucius vai precisar de sangue. Eu poderia ter de chama-lo para o seu

julgamento antes de ter provas para exonera-lo. E eu não vou poder visita-lo e

obter sua ajuda.

Frustrada, eu finalmente disse: — reunião suspensa. — E embora eu

devesse sair em primeiro lugar, eu não conseguia colocar as pernas para

trabalhar, então eu quebrei o protocolo.

Dizendo-lhes: — Vocês estão dispensados.

Foi a coisa mais imponente que eu já disse aos Anciões, mas eu tinha

certeza que todos eles sabiam que eu só tinha falado dessa forma porque eu

precisava estar a sós para que eu pudesse enterrar meu rosto e chorar.

Dorin fez uma tentativa fraca para ficar, dando um tapinha do meu

ombro. — Antanasia... Eu sinto muito.

Mas dei de ombros fora de seu toque. — Por favor. Basta ir.

Eu ainda estava sentada com a cabeça em meus braços talvez uma hora

mais tarde, quando senti uma mão muito mais forte apertar meu ombro. O

aperto era tão poderoso e reconfortante que eu nem sequer pulei, mesmo que

eu não tinha ouvido ninguém entrar na sala, porque por uma fração de segundo

pensei que Lucius de alguma forma voltou. Que a coisa toda de detenção tinha

sido uma brincadeira ou engano.

Mas quando eu virei o meu rosto para ver o meu ombro, eu não

encontrei o brilhante anel de casamento de Lucius, mas um redemoinho de

tinta. E o vampiro que me segurou disse baixinho: — Antanasia... Devemos

falar, sim? — Eu finalmente encontrei o símbolo escondido e

subconscientemente percebi, escondido entre todos os seus turbilhão tatuagens.

O mesmo —b— Cyrillic 13 que eu tinha visto no jornal da minha mãe, desenhado

ao lado da palavra romena blestemata14.

Uma palavra, e um símbolo, reservado para os vampiros, que foram

condenados.

13 Cirílico é derivado do grego escrita uncial , agravado por ligaduras e consoantes do antigo alfabeto

Glagolitic e Old búlgaro para sons não encontrados em grego.

14 Condenado

141

O estudio de Lucius estava perto da sala de reunião, e por isso, levei

Raniero lá para falar.

Sentei-me na cadeira de Lucius, e quando eu a puxei encontrei a mesa e

tela em branco de seu laptop vindo a vida, revelando que ele nunca

desconectou do seu e-mail. Houve uma série de mensagens lá... Que não eram

meus negócios, mesmo que sejamos casados. — Você quer alguma coisa? — Eu

ofereci a Raniero. — Você está com fome?

— Não, grazie, — disse ele, para meu alívio. Eu não poderia enfrentar

falhar em mais uma coisa naquele dia, mesmo que só era encomendar o chá. —

Você está muito cansada, — ele observou. — Talvez você não deseje falar esta

noite.

— Estou cansada, mas eu nunca vou dormir. Nós também podemos

conversar.

— Foi mal hoje. — Era uma afirmação, não uma pergunta.

— Sim... Sim, foi mal, — eu disse. — Eu...

Mas Raniero levantou a mão. — Você não precisa me dizer o que

aconteceu. Eu ouvi tudo, da ante-sala.

Senti meu rosto corar, mas Raniero balançou a cabeça. — Não se sinta

mal. Você fez muito bem em lidar com Flaviu para quem não cresceu entre

vampiros. Ele é muito escorregadio, sim?

— Sim, — eu concordei. — E eu perdi totalmente meu controle, e agora

Lucius não terá qualquer sangue.

142

— Si, esta é a sua maneira consagrada pelo tempo de compelir o acusado

a confessar, — Raniero explicou. — É o que muitos chamariam de tortura, mas

os vampiros chamam de ação muito razoável. — Ele me deu um olhar

reconfortante. — Mas Lucius é forte, como você sabe. Você não deve se

preocupar. E eu acho que não há maneira que você poderia ter evitado isso por

ele. Ele quer, acima de tudo, seguir a lei. Ele aprovaria sua ação.

Eu não conhecia Raniero bem, e tinha razões para confiar e desconfiar

dele. Mas ele tinha sido um vampiro mais do que eu tinha, então eu perguntei-

lhe com um nó frio no estômago, — Quanto tempo ele pode ficar sem beber

sangue? O que realmente acontece, porque eu só ouvi histórias...?

— Quero ser honesto com você, — disse ele. — Apesar de Lucius ser

forte, ele vai começar a ficar muito cansado dentro de alguns dias, porque ele é

acostumado a beber com frequência. E, mesmo antes de passar uma semana, é

possível que ele vai começar a escorregar no que os romenos chamam Luat e a

Língua inglesa chamam limbo.

Sua resposta me surpreendeu. Eu pensei que Lucius teria muito mais

tempo. Semanas ou mesmo meses. E meu estômago virou gelo quando eu

perguntei, — O que realmente isso significa? Luat? É como um coma?

— Não, não um coma. Algo diferente. — Raniero encontrou os meus

olhos com um olhar firme. — Os vampiros que voltam dizem que é um reino de

sonhos terríveis, entre existência e a escuridão eterna. Há morto-vivo que

permanece lá para sempre, incapaz de voltar mesmo depois de ser fornecido

sangue de novo. E aqueles que voltam quase sempre são alterados. Louco,

muitas vezes, ou à beira da insanidade. — Seus olhos pareciam ficar ainda mais

escuros, mas ele continuou a dar-me a informação nua e crua. — É raro que o

vampiro retorne todo, inalterado!

Eu não disse nada. O fogo crepitava na lareira, mas não parecia aquecer o

ambiente.

— Você deve ter o cuidado de beber o suficiente, também, Antanasia,

durante a separação com Lucius, — Raniero me lembrou. — Eu sei que você

143

não vai querer, mas você deve. Seu corpo ainda não precisa o montante que

Lucius vai exigir, mas você é um vampiro agora, e necessita de sangue.

Eu estava sentada com um vampiro que foi marcado como não confiável,

mas eu encontrei-me confidenciando: — Eu só bebi uma vez antes de Lucius. —

Eu me lembrei de estar em pé na garagem dos meus pais derramando sangue

na minha garganta. Eu tinha estado zangada com Lucius por me dizer que eu já

sabia que era verdade — que eu não estava pronta para ser uma princesa — e

eu peguei um copo que ele sempre carregava e bebi tudo, dizendo-lhe que eu

era um vampiro. — Desde então, só estive com ele.

Isso faz parte de ser casado. Compartilhar somente o sangue um do

outro.

— Não é errado beber para sobreviver, — Raniero prometeu. — Se você

está separada por mais de alguns dias, você deve beber o sangue disponível

aqui, nos porões, e não se sentir culpada. Não é bom para você ser fraca pelo

Lucius. E ele não gostaria que você se arriscasse

Eu balancei a cabeça. — Ok. — Mas eu me sentiria culpada.

— Você não fez o destino do seu marido, — Raniero também me

assegurou novamente. — É uma cultura cruel que faz isso e há uma boa chance

de que ele será liberado antes que você precise mesmo se preocupar, sim?

Minha voz estava estrangulada. — E se ele não for?

— Lucius é forte, — Raniero repetiu. — Duvido que ele tenha medo de

fantasmas em sonhos. — O vampiro misterioso sorriu, mas era outro sorriso

triste, muito diferente do seu sorriso feliz no nosso casamento. — Se ele não

teme Raniero Vladescu Lovatu quando aquele vampiro terrível detém uma

estaca em seu peito, ele não vai temer os demônios em suas próprias fantasias.

Lembrei, então, como Lucius tinha recentemente me incentivado a não

temer os meus sonhos.

— Você tem o poder de chamar para o seu julgamento, — observou

Raniero.

144

— Não! — Eu balancei minha cabeça, horrorizada com a sugestão. —

Todas as evidências apontam para a culpa de Lucius agora. Eles o condenariam

em poucos minutos!

E ele seria destruído imediatamente. Eu não podia sequer suportar o

pensamento, a responsabilidade, a perda. — Eu iria mata-lo! — Olhei para

Raniero como implorando por sua aprovação, porque uma parte de mim sabia

que Lucius, um tomador de risco sem medo, poderia dizer. — Lucius é forte, —

acrescentei, talvez tentando me convencer. — Ele vai lutar contra esse limbo. Eu

não posso chamar para um teste, até que tenhamos provas para salvá-lo.

Raniero encolheu os ombros, como se a decisão não fosse monumental.

Como se a escolha de vida-ou-morte não fosse nada. Ele parecia ser como

Lucius dessa forma, também. — Talvez você esteja certa.

Eu poderia dizer, porém, que ele não estava convencido. Que ele estava

pensando sobre o que Lucius provavelmente faria.

Nós ficamos tranquilos então, apenas dimensionamento uns aos outros,

até que o fogo apareceu alto na lareira e eu disse: — Eu acho que é hora de me

dizer quem você realmente é, Raniero.

Ele arqueou uma sobrancelha, um maneirismo Vladescu. — Lucius disse

que...?

— Quase nada.

— E você quer saber...?

— Tudo. Conte-me tudo.

Raniero balançou a cabeça, e embora ele tenha se sentado mais duro do

que o surfista Eu o conheci, parecia que estava fugindo de alguma forma, eu

reconheci o filósofo quando ele disse: — Então, devemos começar pelo começo,

sim?

E a história que ele me disse... Foi mais complicada e terrível do que eu

imaginava, mesmo quando ele tinha mencionado, quase de improviso, segurar

uma estaca no coração do meu marido.

145

— Eu nasci em uma vila fora de Tropea, Itália, em vista do Mar

Tyrrhenian, numa das famílias mais ricas do mundo dos vampiros, — Raniero

começou.

— Era muito amado pelos meus pais. Adorado especialmente por minha

mãe, que é irmã de Valeriu Vladescu, o pai de Lucius.

Eu já conhecia a conexão familiar. Embora eles chamem o outro de

irmão, Lucius e Raniero eram primos. Embora, eu não soubesse muita coisa. —

Como foi que sua mãe acabou na Itália?

— Minha mãe não é como a maioria dos Vladescus, — explicou. — Ela

deseja uma vida mais pacífica do que pode ser encontrado na Romênia. Ela é

como eu, e não gosta de Violenza. E assim, em uma idade jovem, ela se mudou

para Calabria, onde há vários vampiros — mas muitos risos, também. A cultura

diferente, sim? Foi lá que ela conheceu meu pai, Alrigo Lovatu, e eles se

casaram.

Eu já tinha um milhão de perguntas, mas o deixaria falar.

— Logo depois, eles tiveram um filho, a quem nomearam Raniero, e por

muitos anos, estivemos muito felizes e nada queriam. Menos que todo o amor.

— Ele olhou para mim novamente. — Nós somos incomuns para Vampiri. Nós

amamos muito, como você e Lucius fazem.

— Então o que aconteceu?

Ele deslocou-se no sofá e apertou as mãos contra o couro, como se

estivesse preparando-se para más notícias, e eu me tensionei também. —

146

Quando tinha apenas oito anos, os Anciões chegaram à nossa porta e disseram

à minha família que era o tempo.

— O tempo para...? — Meu coração doeu por ele, porque eu já

adivinhava a resposta.

— Me levar de minha família e viajar para a Romênia, onde seria

treinado como tenente — possível sucessor para um príncipe vampiro que

nasceu no mesmo ano que eu. Um príncipe que mostra muita promessa e estava

sendo educado para liderar os clãs. — Ele me lançou um olhar significativo. —

E preparado para se casar com uma princesa.

— E seus pais o deixaram ir? — Eu perguntei, incrédula. Meus pais de

nascimento tinha me dado, também — mas para um tipo de família, para me

salvar.

E a dor que eu vi nos olhos de Raniero... Era um contraste chocante com

a doçura, a expressão em êxtase, que ele tinha usado a primeira vez que eu o

conheci.

— Minha mãe lutou muito bravamente, — disse ele. — Lembro-me de

chorar, pois ela conhecia a Romênia. Conhecia os Anciões. Mas no final, meu

pai concordou que é nosso dever de servir o mundo dos vampiros. — Um

clarão de raiva atravessou seu rosto. — Talvez o meu pai também fosse

ambicioso e queria estar perto dos vampiros mais poderosos da Terra? Pois

embora os Lovatus fossem mais ricos que o Vladescus, o nosso nome não é tão

temido e famoso. Até que eu fui doado.

Eu respirei surpresa. Os Lovatus eram mais ricos do que o Vladescus? Eu

não poderia imaginar isso. Mas, claro, que não era o ponto da história. — O que

aconteceu quando você chegou à Romênia?

— Meus novos tios começaram a minha formação. — Raniero não tenta

esconder a amargura em sua voz. — Eu fui forçado a lutar contra Lucius, e

espancado quando eu deixava de viver de acordo com as expectativas de um

guerreiro, mesmo que fosse uma criança. — Seu olhar acendeu para mim

novamente. — Mas você conhece esta história.

147

— Sim, — eu disse suavemente. — Lucius me disse que ele foi espancado

frequentemente.

Raniero assentiu. — Si. Mas Lucius foi criado assim, desde o nascimento,

e nunca soube ser tocado suavemente. E ele é estóico por natureza. Ser batido a

baixo — flagelos e cicatrizes — somente o fez fica mais forte e mais decidido a

lutar mais.

Eu tinha orgulho do meu marido, mas eu queria chorar por ele como eu

fiz a primeira vez que ele admitiu ser espancado e como eu queria chorar por

Raniero agora. — E você?

Ele agarrou o braço do sofá que os nós dos dedos esbranquiçaram. — Eu

cresci fisicamente forte, mas com raiva.

Outra tempestade de inverno interminável Carpathian estava no auge, e

o vento correu para baixo da chaminé de modo que o fogo resplandeceu,

fazendo-me saltar. Ou talvez fosse o olhar no rosto de Raniero.

Ele não falou por um minuto, e eu o deixei olhar para longe. Seu peito

subia e descia, e eu pensei que ele poderia até estar praticando alguma técnica

de meditação, tentando se acalmar. Quando ele finalmente encontrou os meus

olhos novamente, ele fez parecer menos agitado, embora eu soubesse que o pior

da história ainda estava por vir. Eu tinha visto sua estaca...

— Raniero? — Eu finalmente incitei, embora com cautela. — Como você

conseguiu a tatuagem em sua mão? A que não é um símbolo para a paz?

148

Raniero olhou para sua mão como se ele nunca tivesse visto isso antes —

ou talvez a odiava. Ele virou seus dedos para trás e para frente, estuda-los como

se fossem seus inimigos mortais. Então, ele levantou os olhos novamente, e eu

vi que ele não estava mais com raiva. Apenas atormentado e confuso.

— Eu não sei, inteiramente, o que aconteceu, — disse ele. — Há um

ponto onde tudo parecia tornar-se loucura. Quando a pressão tornou-se demais

que se tornou dor.

Meu peito apertou. Eu sabia o que era. Fiquei assustada sob a pressão,

também. Sonhei tão vivamente que eu jurei que feri Lucius...

— Comecei a sentir menos capaz de me controlar. — Raniero sorriu o

sorriso mais amargo que eu já vi. — E ainda assim, eu estava me tornando

exatamente o que eles desejavam. O maior guerreiro. Astucioso e vicioso, e

quando estava com 15, os Anciões decidiram que Lucius e eu treinássemos

bastante e eu era útil de outro modo. Dado um novo propósito.

— A finalidade de um...?

— Si. — Raniero domina suas emoções e me deu um olhar firme. —

Estou despachado para viajar pelo mundo, encontrar e trazer rebeldes vampiros

à justiça.

Recuei um pouco, então me senti mal. Mas eu sabia do que ele estava

falando. Lucius havia descrito esses vampiros para mim quando ele explicou

como a —Justiça— funcionava.

— Eu fui enviado como o que você chamaria de um caçador de

recompensas, — esclareceu Raniero, usando o termo que tinha passado pela

149

minha mente quando Lucius tinha lido os livros da lei para mim. — E

ordenaram que destruísse aqueles que não viriam de bom grado ao julgamento.

Eu mal ouvi a minha próxima pergunta, eu estava tão relutante em

perguntar. — Quantas vezes isso aconteceu?

Os olhos de Raniero estavam cheio de remorsos. — Você está começando

a conhecer a nossa raça. — Ele fez uma pausa. — Há alguns que dizem que eu

não era um caçador de recompensa, mas um assassino. Quando Lucius fala de

acabar com o linchamento como a principal forma de justiça vampiro, ele fala

de mim e outros gostam de mim. Eu era aquela multidão, mas eu trabalhei com

tanta eficiência que eu não precisava de assistência. Eu era uma “multidão” de

um.

O vento rugia em torno do castelo, e eu olhava para Raniero, não tenho

certeza se eu estava horrorizada ou aliviada ao saber a verdade sobre ele.

Provavelmente um pouco de ambos. O vampiro que agora não mataria um

inseto tinha tomado muitas vidas.

Eu reconhecia que a história não estava completamente terminada, no

entanto. — Por que levar sua estaca fora?

Ele passou a mão pelo cabelo, num gesto que também me fez lembrar

Lucius. Lucius está com frio nesta tempestade terrível? Será que ele tem um

fogo? Ou ele está tão profundo no castelo que ele ainda não sabe que todo o

lugar está praticamente balançando no vento?

— É confuso para mim mesmo, mesmo agora, — disse Raniero. — No

verão dos meus dezesseis anos, voltei para a Romênia para o congresso de

vampiros...

Eu vacilei em sua menção à reunião em que Lucius e minha aptidão para

governar seria votada, se chegarmos tão longe.

—...E é claro que eu estou infeliz por ver aqueles que me transformaram

em algo que eu não queria ser. Quem torceu-me até que eu não sabia quem ou o

que eu era. — Ele parecia ainda mais confuso quando ele revivia a memória. —

E uma noite, tudo deu errado.

150

— Errado?

— Si. — Ele me respondeu, mas foi perdido em pensamentos. — Um

momento eu estava com raiva — mas no controle. E no seguinte eu comecei a

fazer coisas que eu não entendia. Muitas coisas erradas... — Ele balançou a

cabeça, parecendo perplexo. — Finalmente, nem mesmo sei o que eu fiz, eu

destruí um vampiro sem razão. — Ele encolheu os ombros, como o ato tinha

significado nada no momento. — Eu simplesmente o vi, tirei a minha estaca, e

destruí pela emoção de fazer isso. — Ele franziu as sobrancelhas e franziu a

testa mais profundamente. — É como se eu assistisse a coisa toda. Parecia

sonho, mas foi real. Uma allucinazione que eu acordei para descobrir que

verdadeiramente aconteceu.

Meus próprios dedos apertaram os braços da cadeira de Lucius. Lutei

com o romeno, mas eu reconheci a palavra italiana que acabara de utilizar.

Alucinação. Eu tremia como o barulho das janelas ao vento. Será que a

pressão deste lugar realmente faz você ficar louco?

— Eu nunca experimentei nada como isso, — disse ele. — Eu era um

assassino, mas nunca sem ordem dos Anciões.

— E destruir sem provocação é o maior crime, não é?

— Si, — Raniero confirmou. — Tenho a sorte que aqueles que

testemunharam meu ato não me destruíram naquela noite.

— Então por que você ainda...? — Vive.

— Lucius dissipou a multidão, pois, embora ele fosse jovem, os vampiros

já ouviam o seu comando. E no meu julgamento, ele pediu pela minha vida e

teve energia suficiente para ganhar o meu alívio da destruição. — Ele ergueu a

mão. — Ao invés disso, fui marcado como blestemata. Um vampiro que será

destruído sem sequer a promessa de um julgamento se eu cometer outro ato de

violência. — Ele deixou cair sua mão. — Claro, nenhum vampiro marcado

como tal viveu muito tempo, pois violência gera violência em nosso mundo,

mas eu sou grato a Lucius por sua misericórdia. Eu não merecia isso,

especialmente dele.

151

Eu estava um pouco confusa com a compaixão de Lucius, também. —

Sim, porque você lutou com o outro até que sangrou. Como é que você

acabaram “irmãos”?

Raniero finalmente sorriu de novo, mais genuinamente. — Você não

entende. Nós fomos forçados a lutar. Mas os Anciões sabiam que, na verdade,

isso iria forjar uma ligação entre nós. Quando não estamos lutando, nós rimos,

com a boca sangrando, sobre o nosso triste destino. — Seu sorriso cresceu mais

quente. — E nós somos rebeldes juntos, também — especialmente quando

eramos muito jovens. Não fomos facilmente controlados, e gostávamos de criar

problemas para os nossos tios.

Eu consegui meu primeiro sorriso pequeno do dia. Eu podia imaginar

Lucius como uma criança travessa. Eu estava contente que ele tinha um amigo.

Meu sorriso morria rapidamente. E como seria se Lucius não tivesse

conhecido a amizade? Teria ele se tornado como seus tios? A luz nos olhos do

meu marido estaria ausente e sua disposição de sacrificar pelos outros? Ele seria

frio e incapaz de amar até mesmo a mim?

Percebi então que a infância de Raniero havia sido roubada e passei em

meu nome, também. E de repente, quando eu percebi o vínculo que existia

entre esses dois vampiros muito diferentes, eu também entendia o sacrifício que

Raniero estava fazendo para voltar à Romênia. — Você sente como se estivesse

arriscando tudo para vir aqui, não é? Que você pode perder o controle

novamente, ou ser sugado para a violência que já começou. É por isso que você

vive, surfando e meditando na praia.

— Eu sigo um novo caminho, sim. — Ele encolheu os ombros. — Mas vir

para cá é o que eu devo a Lucius, que não acredita que eu irei perder o controle

novamente. Ele acredita que eu possa ajuda-la tanto, sem me tornar um

vampiro que destrói arbitrariamente — ou destrói a todos.

Estudei os olhos preocupados de Raniero. — Você não tem fé em si

mesmo, quando você está aqui com lembretes terríveis de sua infância, não é?

152

Ele não disse nada por um segundo. — Acho que a questão, princesa, é

se você tem confiança em mim. Para você segurar o trono agora. Você pode me

dispensar ou recorrer a minha ajuda como o desejo de Lucius, pois eu vou

admitir que entendo como encontrar e punir, o pior de nossa raça.

Eu balancei a cabeça, entendendo claramente a minha escolha. Eu confio

no Raniero para não romper? Eu já tinha o visto ficar agitado naquela mesma

noite. E se a sua sede de sangue voltar e ele se aproximar de mim — ou Mindy

ou outra pessoa?

Como o vento rugia em torno de nós, um pensamento terrível me

atingiu. E se ele perder o controle e fazer algo terrível, eu serei a responsável

por destruir meu primeiro vampiro – ou vampiros. Seu ato — e suas

consequências — estarão em minhas mãos, porque eu egoistamente quero ele

para salvar Lucius em vez de deixa-lo solto para seguir o seu caminho.

— Tenho muito em que pensar. — Fiquei, assim o fez, também. — Eu

preciso de tempo, mas eu não tenho, tenho? Eu não sei quão rapido Lucius irá

ficar fraco.

Raniero assentiu. — Sim, você tem escolhas a fazer, e rapidamente. —

Mudou-se para a porta. — Vou aguardar a sua decisão sobre mim.

— Raniero? — Eu o parei quando ele alcançou a maçaneta. — Mindy...

— Não se preocupe, — ele tranquilizou-me. — Nós gostamos muito um

do outro. — Ele sorriu tristemente. — Embora ela nem sempre pense assim! —

ele fez uma pausa e acrescentou melancólico. — Mas nós concordamos que não

há futuro.

Eu observei como ele não disse, para nós. Era como se ele estivesse

resignado a não ter futuro, se ele fosse pego em um mundo que ele tinha

abandonado. — Tudo bem. Eu só quero que ela esteja segura, sabe?

— Eu desejo também. Ela é a pessoa ou vampiro a quem eu não posso

imaginar sofrendo, mesmo se eu perder qualquer vestígio de sanidade.

Por alguma razão, eu acreditava nisso. — Será que ela sabe sobre seu

passado?

153

— Muito pouco, — admitiu. — Eu tentei me convencer de que o Raniero

velho não existe, e ela não precisa saber dele. De todas as coisas que ele me

disse naquela noite, essa confissão parecia torna-lo o mais miserável. — Claro,

eu estava enganando a mim mesmo e pior ainda, a ela.

— Eu me enganei, também, — Eu disse a ele. — E Lucius, fingindo que

eu poderia lidar com essa vida. Não me sinto tão mal.

— Eu desejo que você não conte a minha história Mindy, — acrescentou.

— Não há nenhuma razão, agora.

— Se você tem certeza que não há nada entre vocês. Porque se houvesse,

eu teria que dizer a ela.

Eu poderia dizer que lhe doía dizer isso: — Estou certo. Não há nada.

Então, quando Raniero torceu a maçaneta da porta, ele voltou mais uma

vez. — Eu me esqueci de lhe contar a história de como eu quase destrui Lucius

– na insistência de Claudiu.

Eu congelei no lugar. — É... Por que isso aconteceu?

Raniero abriu a porta e deu de ombros novamente. — Claudiu apenas

brincou com a ideia de me ver subir ao trono. Porque, como o outro filho único

de um puro-sangue Vladescu, irmã do pai de Lucius, eu sou o próximo na linha

de governar. Mas essa é uma história para outro dia, sim?

Em seguida na linha? E Claudiu...?

Eu estava surpresa demais para falar, e Raniero me deixou com minha

mandíbula entreaberta e muito a pensar, a partir de ensaios de sucessão a fria

revelação de que eu não era a única a ter alucinações nesse castelo... E as

terríveis consequências sofridas pelo primeiro vampiro a ver as coisas.

154

RANIERO

Dos vários luxos que eu, sem dúvida, irei sentir falta (liberdade, luz... Sustento)

como um prisioneiro em minha própria casa, a tecnologia já está se provando como a

mais alta da lista de coisas que eu mais almejo. (Eu propositalmente omiti a companhia

de minha esposa desta lista; palavras como “almejo” ou mesmo “anseio” são

inadequadas para explicar como eu já me sinto por ser forçosamente separado de

Antanasia. Talvez não haja descrição no meu substancial vocabulário?)

Pesando apenas as perdas que eu posso expressar, eu teria que dizer que o e-mail,

a Internet e os diversos “Apps” no meu celular constituem nas minhas mais aborrecidas

privações.

Frequentemente eu me encontro alcançando o meu Vertu Signature 15 com a

intenção de negociar uma ação, verificando o estado dos assuntos globais e, eu irei

admitir, jogando o ocasional jogo de pólo virtual. Então eu me pego lembrando que não

“há barras 16 ” atrás das grades subterrâneas, e eu devo recorrer para a única diversão

disponível, que consiste em chutar a um rato persistentemente agressivo que

aparentemente acredita que ele tem direitos de intruso a este canto triste do mundo. (A

luta pela supremacia continua mesmo aqui. Talvez seja travada com mais fervor quando

as apostas são a única crosta de pão!)

Mais lamentavelmente, eu estou reduzido a clandestinamente passar-lhe um

bilhete, como se nós dois estivéssemos na Woodrow Wilson High School. (E confie em

mim, Raniero, você é afortunado por ter perdido essa experiência. Você pode ter sofrido o

15Vertu Signature é um celular super luxuoso feito de materiais como ouro e titânio.

16Barras aqui significam as barrinhas de sinal do celular.

155

ocasional golpe indução a concussão na propriedade Vladescu, mas pelo menos você

nunca aturou um ano de —Conceitos de Saúde— com o instrutor substituto de E.F. 17

—Vic —Baker. Imagine um curso obrigatório inteiro dedicado a encorajar indivíduos

maduros a escovar os dentes enquanto que economia básica era uma eletiva! Quando o

sistema financeiro norte-americano cair de uma vez por todas, pelo menos os habitantes

terão dentes brilhando para ranger sobre seu destino auto induzido!).

E ainda vou a contragosto admitir que a escola tenha um certo charme, em

comparação com a minha atual acomodação.

Raniero, a situação é feia. Eu não tenho nenhuma ideia de como o sangue de

Claudius veio a manchar a minha arma, mas o enredo se desenrolando, enquanto eu

começo a juntar os pedaços, mostra a promessa de ser convincente, para dizer o mínimo.

Para orquestrar a minha destruição, através de empregar a minha própria

insistência sobre leis contra mim... Isto tem uma certa elegância que eu apreciaria mais

se eu não tivesse acabado de chutar um rato.

Mas enquanto eu reflito, às vezes, ideias saltam fora do meu companheiro

enquanto ele salta fora do meu pé, eu também me pergunto sobre a prudência do

perpetrador em ter me escolhido como primeiro alvo do esquema.

Você e eu fomos educados como caçadores, Raniero, e a primeira lição que o

predador aprende é para derrubar a presa mais fraca primeiro. Então, se alimentando

dessa vítima, a pessoa tem força para perseguir uma caça mais poderosa.

Não quero pintar Antanasia como fraca — embora ela cada vez mais se perceba

como tal — mas nós dois sabemos que eu sou um alvo mais formidável, e vou jogar este

jogo tão implacavelmente como qualquer adversário. (Correndo o risco de expressar

arrogância, mais implacável e mais habilmente).

Então a pergunta é: O vampiro que tenta minar-me é incrivelmente valente e

poderoso, ou simplesmente imprudente? Ou será que a trama está tão distorcida que eu

estou perdendo algo totalmente? Um fim que eu ainda não imaginei?

Estas são as perguntas que precisamos responder — e prontamente, irmão.

17E.F. – Educação Física

156

Eu também preciso de você para—botar a boca no mundo, — silênciosamente,

que se algum dano acontecer para Antanasia durante a minha prisão, eu não só vou

derrubar essas paredes pedra por pedra, mas — uma vez libertado — destruir o Estado

de direito e destruir — com grande satisfação, quem desperta em mim, mesmo a mais

leve suspeita. De fato, se tanto quanto um fio de cabelo na cabeça da minha esposa for

perturbado enquanto eu não posso protegê-la este reino verá retribuição que vai ficar nos

livros de história — para ser lido pelos poucos que permanecem de pé.

Lucius

P.S. Você vai notar que eu escolhi me corresponder com você e não Antanasia.

Enquanto eu não estou autorizado a receber visitantes, não existe atualmente nenhuma

regra administrativa se eu posso me comunicar por escrito. Eu sei que você, como um

especialista no subterfúgio, não terá problemas para a troca de cartas sem chamar a

atenção para essa —zona cinzenta.— Além disso, se eu começar a parecer fraco ou até

mesmo incoerente, eu só iria preocupar Antanasia e distraí-la dos deveres que ela deve

assumir corajosamente agora. É melhor para ela não testemunhar, enquanto eu —

vamos ser franco — inevitavelmente falhar, a minha prisão deve continuar. Em suma, a

sua total discrição em relação à nossa comunicação é solicitada.

P.P.S. Se sua resposta pudesse incluir uma breve atualização sobre a

classificação dentro da NBA, isso seria muito apreciado, também.

157

ALGUÉM ME SACUDIU acordada no que parecia ser o meio da noite, e

eu quase gritei até que eu vi Jess sentada na minha cama. Na verdade, eu quase

gritei, então de qualquer maneira, porque ela realmente parecia como o inferno.

Como se ela não tivesse dormido a noite toda – o que eu mal tinha feito

também, porque não há nada como uma nevasca em uma montanha romena,

mesmo quando você está em um castelo de pedra.

Então me lembrei de tudo o que estava acontecendo e eu me senti mal

por sequer pensar em como o cabelo de Jess estava em nós.

— O que aconteceu? — Perguntei me movendo na cama. Peguei meu

relógio da Hello Kitty e vi que era na verdade sete da manhã, no horário

romeno.

— Como foi a reunião?

— Foi horrível, — disse ela. — Eles levaram Lucius embora, e ele está

sendo mantido em confinamento solitário. — Ela tinha um olhar estranho no

rosto. — E sem sangue, o que eu não esperava.

— Oh, meu Deus, Jess. Eu sinto muito. Mesmo que eu não saiba o que

significa a última parte.

— Ele... Nós... Não podemos durar muito tempo sem sangue, — ela me

disse. — Nós — os vampiros— ficamos em algo pior do que um coma.

Wow, sua vida parecia ficar cada vez mais terrível, e eu nem sabia o que

dizer. Eu só abri espaço para ela na cama, e ela subiu como se fossemos crianças

em uma festa do pijama novamente.

158

Ela mudou de assunto de qualquer maneira. — Eu realmente não vim

aqui para falar sobre Lucius. Eu principalmente queria perguntar-lhe sobre

Raniero. Sobre o que aconteceu entre vocês e o que você pensa dele. Realmente.

Imaginei que não havia mais como esconder essa bagunça. Aquela

quente, quente bagunça. — Eu deveria ter te dito meses atrás, — eu disse. —

Mas eu tinha vergonha por ter deixado a recepção de seu casamento para dar

uns amassos com ele. — Eu fiquei meio vermelha. — Isso não foi legal.

— Está tudo bem, — ela prometeu. Era bom vê-la sorrindo, mesmo que

apenas um pouquinho. — Eu sei como é ser arrebatada por um vampiro em um

smoking.

— Sim, exceto que Ronnie nem sempre usou o smoking. — Eu impliquei

com o design popular no meu cobertor. — Eu também deveria ter te dito que

ele meio que voltou para a Pensilvânia comigo por um tempo. — Olhei para ver

se ela estava chocada – o que ela estava. — Ele ficou um tempo com um bando

de maconheiros que tinham uma banda em Lancaster, e nós saímos — e demos

amassos, muitos.

Eu fiquei triste, maravilhosos calafrios só de pensar nisso. Tinha sido tão

nojento e tão bom.

Os olhos de Jess estavam enormes. — Vocês não... Ele nunca te mordeu,

certo?

— Não, eu não sou nenhum vampiro. — Isso saiu da maneira errada, e

eu dei-lhe o olhar de maiores desculpas do mundo. — Eu não quis dizer isso

como isto soou. Se serve de algo, eu estava brava porque ele nunca nem mesmo

ofereceu.

Mas Jess estava acostumada a me ver enfiar os pés pelas mãos. —Sem

ofensas tomadas.

— De qualquer modo... — Dei de ombros. — Não deu certo.

— O que aconteceu, exatamente?

159

— Puxa, o que não aconteceu? — Eu comecei a listar tudo nos meus

dedos. — Ele não tinha um emprego. Ele não cortava o cabelo. E ele nunca tinha

dinheiro, mesmo que seus pais sejam super-ricos.

— Sim, eu ouvi sobre isso. — Então ela, como, colocando-me sob um

microscópio. — Alguma vez ele pareceu... Perigoso? Como, violento?

Eu tinha um coração meio quebrado, mas eu ainda tive que rir. Por um

segundo. De uma forma triste. — Jess, a pior coisa que ele não fez foi me

defender quando um de seus colegas estúpidos me acusou de roubar pizza da

geladeira, mesmo que eu as tivesse comprado. Eu e o maconheiro começamos

uma briga enorme, e ele me empurrou, e eu fiquei tipo, “Ronnie, você viu isso” e

tudo o que o meu namorado fez foi dizer, em seu sotaque louco, “Sinto muito,

Mindy Sue, mas não posso fazer nada.” Então ele foi embora — e eu fui,

também. E foi isso! — Eu suspirei. — Ele é um vagabundo como o meu pai, de

qualquer maneira. Não ia funcionar nunca.

— Raniero realmente apenas se afastou depois que você foi empurrada?

— Sim. — Fiquei tão envergonhada de dizer isso para uma menina que

se casou com Lucius Vladescu, adulador de Frank Dormands. E eu não entendi

porque Jess disse: — Bom para Raniero. — Ela olhou para mim novamente,

bem de perto. — E você tem certeza de que ele nunca pareceu um pouco

violento?

— Jess, ele nunca nem se ofereceu para me morder. — Peguei um dos

milhões de travesseiros na cama e bati com ele contra o meu estômago. — Isso

foi realmente a pior parte, para dizer a verdade. — Eu dei um grande dar de

ombros estilo Raniero. — Eu acho que ele simplesmente não queria

compromisso.

Eu não tinha certeza do que eu disse, mas era como se Jess tivesse feito

sua cabeça sobre algo e ela disse: — Eu sinto muito que isso não deu certo para

vocês, mas obrigado por me contar tudo. Eu preciso saber quem está vivendo

em meu castelo, agora que Lucius não está aqui para me guiar.

160

— Oh, eu conheço Raniero, Jess, e confie em mim — ele é o cara mais legal

do mundo. Um vagabundo sem ambição, mas bonzinho.

Eu queria sentar lá e falar, talvez pedir pelo café da manhã na cama, mas

de repente houve uma batida na porta, e a próxima coisa que eu soube, de

alguma forma a nova amiga de Jess, Ylenia, estava lá conosco – às esdrúxulas

sete e quinze da manhã, e dizendo, de sua maneira que se desculpava, mas não

se desculpava em absoluto, — Eu não quero interromper, mas eu a segui,

Antanasia. Eu tinha medo de você ter se esquecido de que precisamos planejar

um funeral hoje. Nós deveríamos nos encontrar no escritório de Lucius às sete.

— Oh, Deus, eu esqueci. — Mesmo que ela ainda parecia cansada, Jess

correu para fora da cama como se Ylenia fosse a chefe. — Desculpa Min, —

disse ela. — Falaremos mais tarde. Talvez almoçar, ok?

— Sim, claro. — Mas eu estava avaliando a prima de Jess, que parecia

que ela tinha dormido bem.

— Ei, Jess, — eu disse, antes que ela e sua nova amiga pudessem sair

pela porta. — Se você vai usar o escritório do Lucius, posso usar o seu?

Ela pareceu surpresa, mas disse: — Claro, eu suponho que sim.

Eu observei Ylenia, que estava dando ordens a Emilian em romeno como

se fosse sua chefe, também. — Obrigada. Eu só quero dar um Google em

algumas coisas.

Ou alguém.

Eu só esperava que eu pudesse descobrir como soletrar o nome daquela

garota certo.

161

MEU TIO DORIN estava esperando por nós fora do escritório de Lucius,

e ele pendurou a cabeça enquanto Ylenia e eu nos aproximamos. — Eu sinto

muito sobre Lucius. Eu sinto como se eu fosse responsável...

Era irracional estar zangada com ele por apenas estar dizendo a verdade

– ele não teve escolha, e eu o coloquei em apuros — mas não pude deixar de me

sentir um pouco chateada com a forma como as suas palavras tinham ajudado a

por Lucius em uma posição terrível. Mas é claro que eu disse, — Está tudo bem.

— Eu abri a porta e mudei de assunto. — Eu sei que Lucius tem o livro certo

aqui. Nós só temos que encontra-lo.

— Sim, sim, — disse Dorin. — Vou começar a procurar.

Nós deveríamos estar procurando nas estantes recheadas de Lucius por

algo chamado Carte de Ritual: Nasterea, Moartea, si Casatorie, mas fui para a mesa,

sentei-me, e sacudi o mouse do laptop do Lucius assim seu e-mail veio à tona

novamente. Havia pelo menos seis mensagens datadas da manhã da morte do

Claudiu entre meu marido e alguém com o apelido de nightsurfer3, que tinha

que ser Raniero. Eu não poderia imaginar qualquer outro —nightsurfers— que

ele conhece.

— Eu já o encontrei. — Eu olhei para cima para ver Ylenia puxando um

livro que era quase tão grande quanto ela. Eu meio que esperava que ela

tombasse para trás quando ele caiu em seus braços, mas ela parecia pegá-lo

facilmente e entregou-o a Dorin, que o bateu para baixo sobre a mesa, quase

quebrando o laptop.

162

Eu empurrei o computador de lado enquanto meu tio disse: — O serviço

de sepultamento é realmente muito simples, mesmo para um Ancião. Vampiros

são exagerados nas cerimônias, mas não exageramos na coisa toda de luto. —

Ele suspirou. — E vamos encarar os fatos, para muitos de nós, não a muito de

bom para se dizer, realmente. Os tributos tendem a ser curtos e desajeitados.

Eu perguntei tanto a Ylenia quanto a Dorin, que foram aglomerando-me

um pouco, — Eu suponho que eu estou no comando do tributo?

Minha prima assentiu, e seus cachos balançaram. — Sim, o soberano

reinante deve entregar o tributo a um Ancião. Lucius entregou o do meu pai.

— Não que eu não acredite Ylenia... — Girei minha cadeira para Dorin.

— Mas você tem certeza que eu tenho que fazer o discurso? Não há como sair

disso?

Eu me sentia mal que Claudiu se foi, mas não mudava o fato de que ele

me odiava. O que eu diria? — Eu apreciei a forma como ele não tinha me destruído...

Ainda. Ele parecia contente com apenas sabotar a mim e a Lucius.

Falando sobre o curto e desajeitado.

— Bem, podemos verificar. — Dorin abriu a Carte de Ritual. — Eu

suponho que é possível.

Eu tinha visto o Livro de Ritual: Nascimento, Morte, e Casamento antes do

meu casamento. Eu não tinha entendido nada de romeno na época e não

compreendia muito mais agora. — Vocês terão que lê-lo para mim, — eu

lembrei a ambos.

— Sim, fico feliz por fazer isso, — Dorin concordou. Ele correu um dedo

para baixo do que era aparentemente a página apropriada, traduzindo trechos.

— Vamos ver... Rito do enterro para Anciões... Caixão de ébano... Visualização

ordenada do corpo... Dobrar os sinos... — Então ele parou e franziu as

sobrancelhas, lendo mais de perto, para minha decepção. — Sim, eu receio que

o membro mais alto do clã deva tratar da reunião antes do enterro. E uma vez

que Lucius não vai estar presente, por razões óbvias...

Ele parou, e ele e Ylenia compartilharam olhares desconfortáveis.

163

Meu olhar correu entre eles. — Vocês dois acreditam que ele é inocente.

— Sim, sim! — Dorin acenou — muito rapidamente. Então ele

acrescentou, mais sinceramente, — Lucius não é temerário. Ele não age por

raiva, e ele é ambicioso demais para arriscar o futuro dele – seu — em um

momentâneo, se compreensível, impulso para destruir alguém que desafiou sua

autoridade como Claudiu fez. Lucius iria seguir os caminhos apropriados se ele

quisesse punir um insubordinado!

Não era exatamente a defesa de caráter mais elogiosa do mundo – meu

marido não mataria alguém porque destruiria sua carreira — mas eu sabia que

Dorin só podia ver Lucius como um governante que foi muitas vezes

desconsiderado com ele.

Porque eles não podem ser amigos? Lucius poderia usar outro aliado, também.

— Tenho certeza de que Lucius é inocente, — disse Ylenia, de forma mais

convincente.

Eu dei-lhe um olhar agradecido. — Obrigada. — Então eu me virei

impotente para o livro aberto diante de mim. — Agora, se um de vocês, por

favor, continuasse lendo...

Ylenia e Dorin trocaram um olhar de novo, e meu tio colocou a mão no

meu ombro. — Por que você não vai descansar um pouco? — ele sugeriu.

— Você teve alguns dias um pouco difíceis, — acrescentou Ylenia. —

Dorin e eu podemos traduzir tudo o que você precisa saber e escrever um

resumo, em Inglês. Talvez nós até possamos surgir com sugestões para o

tributo.

— Sim, — concordou Dorin. — Nós podemos cuidar de tudo — e dizer a

Flaviu qualquer coisa que ele deve saber, também.

Eu sabia que deveria ficar com eles, mas eu estava exausta. E para ser

honesta, eu não queria pensar sobre esse tributo... Ou lidar com Flaviu. —

Obrigado. Isso seria ótimo.

164

Eu me levantei para ir, mas Dorin manteve sua mão no meu ombro. —

Você quer que eu peça o jantar, Antanasia? Eu sei que a cozinheira não fala

Inglês.

Eu corei, desejando que eu não tivesse confiado nisso uma vez, na

esperança de surpreender Lucius, eu acabei pedindo um prato romeno

chamado apropriadamente de saramur? De crap.

Lucius tinha rido quando ele tinha visto isto em seu prato. —Realmente,

Antanasia?— ele provocou. — Carpa na salmoura? Você me faz ansiar por lentilhas!

Para os Vladescus não se come os alimentadores inferiores!

Apenas o pensamento de Lucius — especialmente Lucius rindo —

arruinou qualquer apetite que eu poderia ter tido. — Eu realmente não quero

jantar. Eu só estou indo me deitar.

Então eu deixei meus parentes sozinhos para fazer o meu trabalho,

enquanto Emilian me levou de volta ao meu quarto, andando na minha frente,

embora eu soubesse o caminho até lá. O castelo — coberto de neve pesada — e

sem Lucius por perto — parecia extra silêncioso, e quando Emilian virou uma

esquina, de repente eu estava intensamente consciente de que por tê-lo me

levando a lugares em vez de seguir-me, que eu tinha deixado minha parte de

trás exposta. Foi uma sensação assustadora e vulnerável, e quando eu olhei por

cima do ombro algumas vezes, eu poderia jurar que vi uma figura me seguindo

nas sombras.

Ou talvez eu só estivesse alucinando novamente.

165

DE ALGUMA FORMA, SEM LUKEY sobre o caso, acabei sem um

guarda-costas, e isso me levou uma eternidade para encontrar o escritório de

Jess. Eu devo ter tentado cinquenta portas e dizendo, — Princesa? Escritório? —

a vinte meninas que eu imaginei que eram criadas, a maneira como todas

estavam tirando pó e correndo ao redor.

Depois do que pareceu uma hora, eu finalmente abri uma porta e vi uma

mesa gigante com uma imagem muito doce de Ned e Dara Packwood sorrindo

para mim de uma moldura de ouro. O dicionário Romeno-Inglês da Jess estava

lá também, e eu pensei que ela devia carregar isso por aí em seu bolso.

Sentando na grande cadeira, eu me virei para seu MacBook, e só me

levou três tentativas para descobrir a senha do computador dela, que era, duh,

Lucius1!

Quero dizer o nome do marido dela e um número? A única parte que me

pegou foi o ponto de exclamação, o que não era como Jess de forma alguma. —

Ainda não muito complicada, Sra. Vladescu, — eu disse em voz alta.

Alguns segundos depois, eu poderia entrar em cada um dos milhões de

programas em seu Mac — turbinado, — e na Internet, onde me levou algum

tempo para soletrar —Ylenia Dragomir— direito.

Mas eu finalmente consegui, e no começo eu pensei que tinha que estar

errado. Havia muitos poucos resultados, e as únicas coisas que encontrei eram

sobre seu tempo na escola. A Academia Lanier tinha todos os seus anuários

antigos online e havia imagens de Ylenia em cada ano em que ela estava lá.

Parecia-me que ela tentou todas as panelinhas no livro — e nunca se encaixou.

166

Lá estava ela pendurada na borda das Estrelas da Ciência, e depois na parte

inferior de uma pilha de cheerleaders, e em seu primeiro ano — eu imaginei

antes do — dinheiro acabar — parecia que ela desistiu totalmente e apenas saía

com os excluídos e maconheiros, porque ela estava em apenas uma foto e foi

uma foto aleatória de crianças na arquibancada, parecendo chateadas. A galeria

do perdedor. Você poderia simplesmente dizer que metade deles se drogaram

no minuto em que o fotógrafo foi embora. Todos pareciam como os velhos

companheiros de quarto de Raniero para mim.

Deve ter sido um saco para ela, mas não era o que eu esperava encontrar

— como uma foto dela esfaqueando alguém.

— Vamos, Min, — disse a eu mesma.— Faça uma pesquisa pelo menos

uma vez na vida! — E talvez eu realmente deveria ter me esforçado mais na

escola, porque não demorou muito tempo para rastrear um jornal chamado

Splash Romênia! , o que parecia o Enquirer para esta região, e onde eu encontrei

uma outra, imagem muito diferente que tranquei na minha cabeça, sabendo que

eu nunca mais esquecerei isso.

Não era como Ylenia aparentava, exatamente. Foi, principalmente, com

quem ela estava que me fez sugar minha respiração como se eu tivesse acabado

de ser chutada.

Quando a foto estava queimada no meu cérebro, eu surfei sobre o

Amazon, onde eu sabia que duas traças como Jess e Lukey teriam o-compre

com 1 clique, e eu usei o cartão de crédito para comprar um presente para Jess

que ia percorrer um longo caminho em direção a fazer dela uma verdadeira

princesa Romena.

E não era um vestido novo ou tiara ou cetro, como eu teria pensado

algumas semanas atrás.

O que eu comprei para ela por $69,95 dólares — mais $38,00 dólares a

mais para a entrega internacional mais rápida, era poder.

167

LUCIUS

Lamento saber que você sofreu ainda que um pouco de privação em seu cativeiro.

Se eu pudesse tomar seu lugar, eu o faria assim. Eu gostaria muito de meditar com

apenas um rato como companhia! Isso ajuda a pensar sobre as palavras do venerável

Cheng Yen18? —A felicidade não vem de se ter muito, mas de se estar ligado a pouco.

Repito essa sabedoria muitas vezes na minha humilde cabana, lembrand-me que

eu estou muito feliz com quase nada. Melhor, para alguém como eu, areia correndo por,

de outra forma, entre os dedos vazios do que o sangue nas mãos cheias de dinheiro, sim?

Então, novamente, quem é Raniero Lovatu para dizer a um príncipe para anular

os desejos mundanos? Especialmente quando eu durmo tão confortavelmente em uma

cama macia à sua custa? (LOL!)

Claro, eu tenho certeza que você não deseja a sabedoria dos filósofos chineses,

mas por notícias de sua esposa, a quem eu vigio como eu faria com a minha própria vida

— se eu ainda apreciasse isso.

Durma em paz esta noite, Lucius. Antanasia não chora, mesmo diante dos

amigos, e isso diz muito sobre ela, eu acho. Ela é mais forte do que, talvez, você possa

crer, meu irmão.

Você me aconselhou, muitas vezes, sobre o tema da roupa, e assim que eu me

atrevo a oferecer-lhe palavras de consideração, também.

Não desejo essa experiência a qualquer um de vocês, mas você imagina se sua

esposa não vai crescer para preencher seu papel como principessa mais rapidamente

18 Mestra Cheng Yen o venerável Mestre Yin Shun a aceitou como sua discípula, ensinando-a o

compromisso com o Budismo e com todos os seres vivos.

168

quando não sombreada por um carvalho enorme que é Lucius Vladescu? Todas as coisas

se tornam mais fortes na luz do sol e no vento, sim?

É algo sobre a se refletir em suas horas de quieto companheirismo com o seu

amigo rato, não? (Você também pensa em tentar coexistir e não CHUTAR, Lucius?)

Saiba também que eu estou investigando, como você urgiu. Claro que Raniero

vai encontrar o verdadeiro assassino. (Imagino que como um colecionador de provérbios

americanos, você está pensando agora, é preciso um burro para reconhecer outro. E

sentindo confiança! LOL, muito triste.)

Creio até mesmo que eu já respondi a uma das suas perguntas. Há uma boa

razão para o seu inimigo escolher você como sua primeira presa. Ele teme a retaliação

que você planeja, se algo acontecer a sua esposa primeiro. (Estou com medo, só de ler a

sua última messaggio !) E assim, resolvemos uma parte do quebra-cabeça, e

rapidamente.

O maior enigma é, para que fim é esse enredo? E por que nós —dançamos em

torno da discussão sobre o fato de que eu sou o suspeito mais provável, como seu

legítimo sucessor na linha para o trono?

R

169

A MANHÃ DO funeral de Claudiu Vladescu — e do quinto dia de

encarceramento de Lucius — começou de uma maneira que me fez lembrar do

próprio falecido. O dia estava cinzento e frio e úmido, com um cheiro quase

bolorento no ar, como se as poucas pessoas corajosas o suficiente para viver na

dispersão de casas no vale sombreado por nosso castelo estivessem queimando

madeira podre em seus fogões.

Empurrando aberta a janela pesada, inclinei-me para fora e vi a fumaça

ondulando das chaminés que estavam escondidas pelas árvores, e meu

companheiro constante, o medo, agarrou-me ainda mais apertado do que o

habitual.

Humanos de sorte, que vão fazer as coisas humanas normais hoje.

Serei capaz de lembrar as palavras que eu memorizei?

— Jess, você está pronta? — Virei-me para encontrar Mindy entrando no

vestiário. — Está quase na hora, certo?

— Sim... Sim. — Estendi o braço e arrastei a janela fechada antes que

ambas congelassem. Então eu me virei e alisei meu vestido preto, que era longo,

liso, e feito de lã pesada, porque eu teria que caminhar até o local do enterro

depois do meu tributo. — O que você acha?

Min inclinou a cabeça. — Eu acho que é como você deveria aparentar. —

Seu olhar viajou para meus cachos. — Mas vamos fazer alguma coisa com seu

cabelo.

Percebi, então, que ela estava arrastando uma pequena bagagem de mão

de rodas que eu reconheci do meu casamento: o salão viajante de Mindy

170

Stankowicz, que provavelmente era melhor equipado do que a maioria das lojas

de beleza reais. Eu também percebi que ela estava vestida de preto, também, de

alguma forma tinha conseguido conjurar a partir de suas malas um traje

adequado para um funeral. — Mindy, você não tem que vir.

Ela se aproximou e agarrou meus ombros, empurrando-me para a

cadeira na frente da minha penteadeira. — Claro que eu vou apoiar você, Jess.

Você teria me tutelado através de Arte Renascentista e do Pensamento Crítico

se você não estivesse tão ocupada governando um— quase — país, certo?

— Claro. — Enquanto ela agarrou meu queixo para firmar minha cabeça,

acrescentei: — Obrigada.

Mas Mindy já estava trabalhando em sua forma rápida e eficiente. — Eu

vou te dar uma Princesa Grace total. Puxado para trás muito apertado e sério.

— Eu confio em você.

Pensei em Raniero e na decisão que eu ainda não tinha feito. Eu confio

nele? — Min?

Ela puxou meus cachos para a submissão. — Sim?

— Você disse que Raniero nem mesmo ofereceu para torna-la uma

vampira...

Suas mãos pararam. —Sim?

— Será que você teria realmente... Feito isso? Tornar-se uma para ele?

Como eu fiz para Lucius?

Seus dedos cavaram mais duro no meu cabelo. — Eu não sei. Eu

realmente não sei. — Ela deu de ombros e começou a trabalhar novamente. —

Não que isso importe agora. Ele superou a coisa toda.

Eu mal podia me mover, ela tinha minha cabeça presa com tanta força,

mas eu consegui ver o rosto dela, e eu percebi com um choque... Ela o ama.

Mindy Stankowicz claramente não queria, mas ela amava um cara que

ela pensava que era um hippie sem rumo exatamente como seu pai perdedor,

mas que na verdade era o maior vampiro assassino do mundo e segundo na

171

linha para o trono do meu marido — um fato que tinha me mantido acordada

pelas diversas últimas noites.

Raniero secretamente deseja ser rei? É a coisa toda do voto—de—pobreza

pacifista, tudo um ardil? As alegações de fraternidade escondem um coração traiçoeiro?

Ele é um condenado, pelo amor de Deus, e matou sem provocação...

Eu precisava decidir o que, exatamente, eu acreditava sobre o ex de

Mindy. E nesse meio tempo, eu tinha que convencê-la a mantê-lo dessa

maneira. Ex.

— Bem, isso realmente é uma coisa boa que vocês dois terminaram,

certo?

— Yeah. Definitivamente. — Ela não parecia certa, porém.

De repente, suas mãos se moveram ainda mais rapidamente, e alguns

segundos depois ela me virou totalmente para o espelho, e vi que meu cabelo

estava apropriadamente severo para um funeral. Mas meu rosto estava

extenuado, e meus olhos estavam exaustos e assombrados e... Solitários. Eu

precisava de Lucius. Precisava de sangue, mas não podia pôr-me a bebê-lo.

Quão fraco estava o Lucius agora? Raniero previu que ele iria começar a deslizar

em direção ao luat antes de uma semana se passar, e foram cinco dias desde que ele

bebeu.

Lucius era definitivamente forte, mas eu conhecia meu marido, e ele

tinha um apetite enorme por... Mim. Eu subi e toquei minha garganta onde os

dentes dele se afundaram. Sempre pareceu como se ele se segurasse, sem tirar

tanto quanto ele realmente queria. E na Pensilvânia, ele raramente estava sem

uma xícara enorme, mesmo na escola. Poderia o seu corpo — e mente — já

estarem se fechando?

Mindy deve ter pensado que eu estava franzindo a testa para minha

aparência, porque ela disse, — Você está ótima. Sério.

— Meu cabelo está ótimo, graças a você. Mas eu pareço assustada e

cansada. E este dia é tão importante. — Eu me virei para encará-la. — Não se

trata apenas de enterrar Claudiu. Eu preciso provar a todos que estou pronta

172

para liderar, porque muitos dos nobres que eventualmente acabarão votando

em minha aptidão para ser rainha vão estar lá. Eu preciso fazer isso certo por

Lucius.

Eu não poderia nem mesmo deixar-me considerar que nós não

poderíamos ganhar esse voto.

— Ei, Jess! — Min agarrou meus ombros e os sacudiu. — Você é a

menina que levou os geeks de matemática da Woodrow Wilson para as

semifinais regionais — e lembra o ano em que a vaca que você angariou

Stinky19, percorreu todo o caminho para o show da fazenda do estado?

— O nome dele era Sammie, — eu a corrigi. — Só você o chamou de

Stinky.

De uma vez só o absurdo total de nossa conversa — para não mencionar

o quão patético minhas realizações foram, pareceu nos atacar, e todo o meu

estresse veio irrompendo em uma onda de riso histérico que varreu a Mindy,

também. Nós duas rachamos de rir até que eu chorei. Então chorei até que eu

realmente chorei, e Min me abraçou, prometendo, — Vai ficar tudo bem, Jess.

Lucius vai ficar bem. E você vai fazer isso hoje. Você vai.

Não era nem mesmo uma questão de fazer um grande trabalho, eu

percebi. Nós duas provavelmente sabíamos que apenas passar pelo funeral

seria uma vitória. — Eu espero que sim.

Min estava apenas me largando quando alguém bateu na porta, e eu me

recompus o suficiente para chamar, — Entre.

Claro, eram Dorin e Ylenia, chegando para ter certeza que eu iria para o

funeral bem. Mas após eu enxugar os meus olhos de novo, vi que meu tio

estava carregando algo em seus braços, embalando-o como um bebê. Sentindo

ainda mais dor no coração, não querendo mais rir de jeito nenhum, eu olhei

para Min e, mesmo querendo que ela ficasse, lhe disse: — Eu acho melhor você

ir agora. — Porque embora ela estivesse apaixonada por um vampiro e me viu

19Stinky quer dizer fedido, fedorento.

173

derramar e beber sangue no meu casamento, eu não queria que ela me visse

bebendo assim.

174

— EU NÃO SEI... Talvez eu devesse esperar até depois do funeral.

Mas Dorin já estava derramando o espesso, quase preto o líquido em

uma pequena taça de prata que me lembrava a que eu tinha segurado sob meu

pulso aberto antes do meu casamento para que Lucius pudesse beber o meu

sangue na cerimônia. Eu desejava que eles tivessem trazido um copo diferente.

— Não, não, Antanasia, — ele protestou em seu jeito suave. Mas sua mão

tremia enquanto ele derramava, como se ele não tivesse certeza de que isso

estava certo, também. — Eu não acho que é prudente esperar. Você precisa de

força para este dia. — Como se eu me importasse, ele acrescentou: — E esta é

uma maravilhosa safra das adegas. Muitos amariam provar disso!

Eu precisava de sangue, mas eu olhei para o copo com aversão. — Não é

sobre o gosto.

Ylenia adiantou-se então e disse a Dorin, — Dê-nos um momento, por

favor? Você poderia?

— Sim, claro. — Meu tio parecia feliz em recuar a um canto. — Tome o

seu tempo.

Ylenia se aproximou e falou muito baixo para Dorin ouvir. — Ele não

entende o que você está sentindo, porque não acho que alguma vez ele esteve

apaixonado.

Eu continuei encarando o copo, cheio de sangue de um estranho. — Não,

ele não entende.

175

— Mas ele está certo sobre a sua necessidade de fazer isso. — Ela

descansou a mão no meu braço. — Não se sinta mal, Antanasia. Não é errado,

se Lucius não está aqui. Você tem que fazê-lo.

Olhei em seus olhos — a mesma tonalidade que a minha — e vi não

apenas simpatia, mas compreensão genuína, e de repente me lembrei da

questão que Mindy tinha levantado.

Quem mordeu Ylenia?

Por que ela não tinha um parceiro? Porque se ela era totalmente uma

vampira, suas presas liberadas para crescer e mudar pela picada de um macho,

aquele momento era o mais próximo possível do sagrado que os vampiros

tinham. Meu casamento foi um reconhecimento público de Lucius e meu

compromisso, mas o nosso momento particular tinha sido ainda mais

importante. Lucius havia me dito, antes dele mergulhar suas presas em minha

garganta, — Isto é a eternidade, para nós.

A partir desse momento, eu deveria beber só dele, e ele de mim.

— Está tudo bem, — Ylenia prometeu novamente. — Você tem que beber

assim, se você está sozinha. Lucius vai entender. Ele ia dize-lhe para fazer isso.

A compreensão em seus olhos me deu a coragem para alcançar o copo.

— Eu sei. Eu sei que você está certa.

Em seguida, ela recuou, também, e eu levantei a taça rapidamente,

porque eu estava com medo que se eu hesitasse, eu não seria capaz de fazê-lo. E

o sangue tinha um gosto tão amargo e azedo que eu engasguei quando ele

tocou meus lábios. Eu tinha ouvido vampiros falarem sobre safras incríveis que

eles tinham provado, e eu sabia que Dorin tinha provavelmente escolhido entre

os melhores das adegas fabulosas dos Vladescus para mim, mas meus ombros

pesaram quando o sangue passou pela minha língua. Não foi apenas o gosto

que me engasgou, ou a ideia de beber sangue em geral, porque eu fazia isso o

tempo todo. Foi a sensação de que eu estava quebrando meus votos, não

importa o que Raniero ou Ylenia ou Dorin disseram.

Estou traindo Lucius... Novamente. O traindo...

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— Só o engula, — Ylenia sussurrou, tocando meu ombro. — Trague-o se

você precisar. Está tudo bem.

Eu acenei e coloquei o copo contra os meus lábios novamente e fiz o que

ela me disse. Bebi rapidamente, drenando o copo, depois bati com ele na minha

penteadeira e esfreguei a minha mão contra a minha boca. Meus dedos

tremiam, e eu vi o sangue sobre eles.

— Pegue um pano úmido, Dorin, — dirigiu Ylenia. — Agora.

— Sim, sim, — disse Dorin. Um momento depois, ele estava esfregando

minhas mãos limpas, e ambos pareciam entender que eu não queria mais falar.

Caminhamos para a câmara funerária juntos e meu corpo se sentia mais

forte, mas eu não conseguia parar de pensar que eu deveria ter esperado até

após o enterro — confiando meus próprios instintos em meus parentes bem

intencionados necessitando — porque minha cabeça estava uma bagunça sobre

minha primeira aparição diante de uma grande concentração de meus súditos.

177

PARA um cara que todos pareciam odiar, Claudio Vladescu atraiu uma

multidão muito grande. Eu estava no fim da cauda de uma fila de pelo menos

cem vampiros, todos vestindo preto e indo em direção ao caixão para olhar para

ele, como um triste desfile.

Virei-me para verificar o cara atrás de mim.

Bem, para ser honesta, ninguém parecia triste. Talvez apenas um pouco

chateado ao estar gastando o sábado com um cadáver em uma sala enorme e

assustadora.

O salão funeral era como uma igreja, com um teto de altas pontas, mas

não havia estátuas ou qualquer coisa. Só um monte de cadeiras de madeira

alinhadas contra as paredes, e uma mesa de pedra no meio da sala, onde o

caixão está, e uma plataforma de pedra pequena onde eu imaginei que Jess ia se

levantar e falar. Não havia nem mesmo todas as janelas, por isso quase me senti

como se estivéssemos todos soterrados.

Eu não podia acreditar que Jess realmente vai tomar conta de tudo isso.

— Ahã.

O vampiro atrás de mim limpou a garganta, e eu vi que a linha havia se

movido em frente sem mim. Dei um passo em frente, e um segundo depois era

a minha vez de ver Claudiu. Olhei dentro do caixão, e não era tão grave como

eu esperava. Ele parecia muito bem como lá atrás no casamento de Jess. Pálido,

velho, e assustador. Ele estava todo enrolado em um pano preto, como uma

lagarta suja que nunca iria se transformar em algo bom.

— Ahã.

178

Eu atiro ao vampiro atrás de mim um olhar e digo: — Ok, eu estou indo!

— Então eu fui para encontrar um lugar vazio, e quando me sentei eu procurei

na minha bolsa o meu telefone para que eu pudesse desativar a campainha,

porque eu não quero interromper o grande momento de Jess. Não que alguém

alguma vez me ligava. Jess e Ronnie era praticamente os que faziam. E agora

isso parou com Jess.

Eu estava sacudindo ele para mudar para o silêncioso quando, de

repente todo mundo ao meu redor começou a fazer barulho. Todos esses

sanguessugas começaram a tagarelar como se o corpo tivesse sentado ou

alguma grande estrela do rock tinha parado para prestar suas homenagens. Fui

atingida com um caso de nervos por Jess e olhei para cima, esperando ver a

princesa Dragomir Antanasia Vladescu caminhar pelas grandes portas duplas

no final da sala.

Mas Jess não estava lá ainda, e eu fiquei totalmente confusa, porque a

estrela do rock que todo mundo ainda estava enlouquecendo, sussurrando

como uns loucos...

Era o meu ex-namorado, Raniero Vladescu Lovatu.

Parado bem na frente do caixão, sozinho.

Em um terno.

179

Dorin e Ylenia só poderiam ir comigo até o momento antes de se

juntarem a fila para ver Claudiu, então eu estava sozinha do lado de fora que eu

usaria para entrar na sala de funeral.

Meu coração começou a bater mais forte com cada passo que eu tinha

tomado para a câmara, e estava batendo tão rápido que eu estava com medo

que poderia explodir. O coração de um vampiro não deve bater tão rápido.

Limpei minha boca novamente, porque eu não conseguia livrar-me do gosto

amargo, azedo, mesmo que minha língua esteja seca como um osso.

Eu não estou pronta... Eu preciso de Lucius... Necessito de minha mãe para me

dizer que vai ficar tudo bem...

Mas isso não ia acontecer, e de repente, do outro lado da porta, ouvi a

multidão ficar inesperadamente alta, e eu não tinha ideia do que estava

acontecendo, e nem há tempo para saber, porque sem aviso, — eu ainda não

tinha aprendido a sugestão secreta — a porta foi puxada aberta e eu estava

diante de uma multidão que era maior do que eu esperava.

É isso. Minha primeira aparição como princesa desde o meu casamento, quando

Lucius estava comigo.

A conversa parou quando cerca de 200 vampiros levantaram-se por

respeito não por Claudiu, mas para mim. Eu podia sentir o quão curioso

estavam alguns deles, os que não me tinham visto ainda pessoalmente,

enquanto eu olhava para um mar de ternos pretos e pele pálida, tentando tomar

o meu tempo, reunir meus pensamentos dispersos, e encontrar rostos

familiares.

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Mindy, me deu um excessivo e entusiasmado polegar para cima.

Raniero, que estava com as costas contra a parede mais distante, mãos

cruzadas, mas a cabeça ereta.

E eu localizei Ylenia, que me deu um ligeiro e sóbrio aceno de cabeça, me

encorajando, e meu tio Dorin, que se sentou com os outros Anciões.

Eu posso fazer isso — para Lucius, eu disse a mim mesma. Ande até o pódio,

peça um minuto de silêncio, escute os sinos, então fale.

Então eu vi Flaviu Vladescu, que conseguiu fazer uma carranca e sorrir

ao mesmo tempo, como se ele não pudesse esperar para me ver falhar, e minha

mente estava completamente em branco.

181

Todo o mundo dos vampiros estava assistindo Jess, e que era, tipo, a

primeira vez que realmente me atingiu: Puta merda. Ela é realmente, honestamente,

uma princesa.

Claro, ela parecia uma princesa em seu casamento, mas muitas meninas

pareciam. E sim, ela vivia em um castelo e tinha servos. Mas quando essas

grandes portas se abriram e minha melhor amiga ficou em pé sozinha em um

vestido preto simples e todo mundo se levantou, eu sinceramente entendi o que

significava ser real.

E pela primeira vez, tive que dizer que eu estava cem por cento feliz que

ela era a princesa e não eu. Eu não trocaria de lugar com ela por nada nesse

castelo, incluindo os diamantes. Eu tinha certeza que ela tinha, mesmo que ela

não os usasse.

Eu também fiquei olhando para Raniero, que estava de pé contra uma

parede em seu terno parecendo mais quente do que nunca, com as mãos

cruzadas e queixo erguido, como se ele não percebesse que ainda havia

vampiros sorrateiramente olhando para ele também. E enquanto eu finalmente

entendi o que Jess realmente era agora, eu fiquei pensando, o que diabos todos

eles pensam que Raniero é? Porque eu não tinha entendido os sussurros, mas eu

conhecia o som de vampiros surtando quando eu ouvia um. Eles soavam

exatamente como as pessoas surtando.

Ronnie inclinou a cabeça, mas eu vi seus olhos se movendo para trás e

para frente como se estivesse procurando por alguém naquela multidão, e eu

182

comecei a pensar sobre essa imagem na internet, e pela primeira vez desde que

eu o beijei, eu também queria saber, eu tenho certeza de que sei quem ele é?

Então eu olhei para Jess e comecei a suar, porque estava muito claro de

que ela estava pirando também.

183

De alguma forma eu consegui subir ao pódio em um silêncio que era

digno do mausoléu que já estávamos dentro.

E de alguma forma eu me lembrei de pedir um minuto de silêncio,

usando as palavras que eu havia memorizado em romeno. —Vom respecta acum

tacere la marca Claudiu Vladescu trecerea dintr—un teren de curcubeu.

Imediatamente ouvi rumores, como se a minha pronúncia havia ido

longe, e quando olhei para Dorin, seus olhos estavam arregalados de surpresa.

E Ylenia tinha agarrado o braço do vampiro ao lado dela, como se eu tivesse

chocado-a, também.

E se eu não tivesse dito as palavras certas? Mas eu havia memorizado o

script que tinham fornecido.

Vamos agora observar em silêncio para marcar a passagem de Claudiu Vladescu

para o silêncio eterno. Eu tinha certeza que eu tinha dito isso certo, mas quando eu

olhei em volta, ficou claro que algo tinha dado errado. Alguns vampiros

estavam obviamente lutando para não rir. Flaviu estava entre eles, a mão pálida

pressionado contra sua boca e seus ombros tremendo, embora nós estivéssemos

lá para enterrar seu irmão.

Claro que Mindy parecia tão perplexa quanto eu. Ela virou-se as mãos e

boca, — eu não sei.

Eu queria perguntar a alguém o que eu tinha feito, ou melhor ainda

correr para fora da sala, mas eu estava sozinha lá em cima, e tudo que eu podia

fazer era curvar minha cabeça e lutar para lembrar as palavras que eu falei em

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Inglês, porque não havia nenhuma maneira que eu poderia ter memorizado um

elogio romeno inteiro.

Quando olhei para baixo, embora diretamente para o caixão de Claudiu,

não importa que meu discurso cuidadosamente decorado tivesse voado do meu

cérebro.

Porque Claudiu não estava nesse caixa de ébano.

Lucius estava, com um buraco enorme, aberto no peito.

E a última coisa que eu lembrei foi de eu gritando tão alto que o som

ecoou pelas paredes e abafou os sinos que estavam começando a soar sobre o

vale coberto de neve anunciando que um nobre vampiro estava morto.

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